No carro, dormi e sonhei.

Eu estava no canto de um Grande Salão. E como era grande! Simplesmente enorme, além de extremamente elegante: Um chão branco de mármore, um teto cheio de detalhes sustentado por incontáveis pilares dourados e, no final de tudo, um trono grande e de aparência confortável. No Salão, havia pares dançando ao som de uma música suave e romântica.

Me aproximei dos pares, por pura curiosidade. Todos vestiam roupas muito elegantes, e nem pareciam notar quando eu chegava perto. Sabe aqueles sonhos onde você pode ver tudo e todos, mas não pode interromper em nada e ninguém te nota? Exatamente.

Passei por todo mundo, admirando suas roupas. Até que notei que todos usavam belíssimas máscaras. Um baile de máscaras!

Sorri involuntariamente. Achava que Bailes de Máscaras eram extremamente românticos, como em Romeu e Julieta. Tudo bem que era uma história trágica, mas isso não a impedia de ser linda e romântica.

Continuei passando por todos, até chegar ao trono. Para minha surpresa, havia uma mulher sentada elegantemente lá, com uma expressão de completo tédio. As vestimentas dela eram relativamente simples, mas magníficas e mais elegantes que a de qualquer um no salão. Um vestido tomara-que-caia vermelho, com o corpete simples e apertado e uma saia gigantesca se abria com elegância. Do lado direito, o pano simplesmente caia até encontrar o chão. Porém, do lado esquerdo, se revelavam camadas e mais camadas de tecido ondulado. Usava luvas negras que iam até seus cotovelos, uma gargantilha preta com uma única rosa vermelha no meio e uma coroa dourada delicada, enfeitada com granadas e rubis. Seus longos cabelos vermelhos estavam presos em um coque charmosamente desarrumado.

Seus lábios estavam pintados de batom bem vermelho, o que contrastava com sua pele branca como leite. Usava uma máscara preta e aveludada que tinha detalhes dourados e uma única pena vinho na lateral.

Ela ficou sentada por um bom tempo, admirando tediosamente o Salão, até que um homem de longos cabelos azuis, presos em um rabo de cavalo, veio até ela.

-       Princesa – disse ele, antes de se ajoelhar. A princesa lhe ofereceu a mão e ele a beijou com os olhos fechados.

-       Me concederia a honra de uma dança? – continuou ele, os olhos ainda fechados. O homem estava vestido com elegância, e usava uma máscara azul-escuro com detalhes prateados.

- Claro – respondeu a Princesa calmamente.

Ela se levantou lentamente e ofereceu sua mão novamente ao homem. Ele, por sua vez, colocou sua própria mão em cima da dela e a guiou suavemente até o meio do Salão.

Como se por mágica, todos os casais pararam de dançar e formaram um círculo em volta da Princesa e o azulado. A música também mudou: Ficou mais suave, e só com o piano tocando.

Eles rodavam em velocidade mediana. Apesar de ser simples, a dança era tão bela que me encheu meus olhos de lágrimas. Ao som do piano, eles dançavam em perfeita sintonia, encantando todos que os assistiam no Salão. Nem pareciam tocar o chão, como se flutuassem. Eram um belo par, sem dúvidas.

Assim que a música terminou, o azulado se ajoelhou, começando a abrir a boca para, obviamente, pedir outra dança. Porém foi interrompido por outro homem, sendo este de cabelos negros.

-       Princesa – cumprimentou o moreno da mesma forma que o azulado, se ajoelhando e dando-lhe um beijo na mão – Me daria a honra de uma dança?   

Déjà vu. O Azulado usou essas mesmas palavras. Coisa de sonho? Provavelmente.

O Moreno carregava um sorriso irônico e atraente, enquanto o Azulado mantinha um sorriso caloroso e gentil. A Princesa alternou o olhar entre os dois antes de responder:

- Vamos.

O Moreno usava uma máscara branca com detalhes pretos. Assim que ele segurou a mão da Princesa e o Azulado desapareceu no meio da multidão, uma nova música começou. Essa era bem mais animada.

O Moreno e a Princesa dançavam com rapidez e graça. Era tão lindo de se ver quanto a primeira dança, apesar de extremamente diferente: Na primeira havia uma calma graciosa no par. Na segunda, porém, uma rapidez intensa os cobria. Assim que a música terminou, a Princesa foi em direção ao trono. Porém, o Moreno a conteve, segurando seus ombros. Ele aproximou sua boca da orelha da Princesa e sussurrou:

-       Até mais, Princesa… Elesis-sama.

Ao ouvir isso, tudo pareceu ficar muito claro: A Princesa Ruiva só podia ser eu! Como não notei antes…

Espera. Se eu sou a Princesa…. Quer dizer que o Azulado é Ronan. Aquela calma e elegância só podiam pertencer a ele! E o Moreno… Aquela ousadia sedutora só podia pertencer ao Sieghart.       

Por algum motivo, comecei a me sentir em pânico. Tentei correr até o casal, mas meus pés não saíam do lugar e tudo parecia muito fora de foco. O Salão ficou cada vez mais desfocado, até desaparecer. No seu lugar, havia uma bifurcação.

Um caminho tinha o chão coberto por rosas azuis, safiras, topázios azuis e muitas outras coisas. O outro caminho tinha seu chão coberto por rosas negras, ônix e outros objetos negros. Não sei exatamente o por quê, mas eu não soube que caminho escolher. Refleti por o quê me pareceu horas, mas não consegui me decidir. Me ajoelhei e abaixei a cabeça, deixando algumas lágrimas escorrerem. Até que me decidi. Eu seguiria o caminho...

Eu já tinha tomado uma decisão quando fui arrancada dos meus sonhos por uma chacoalhada violenta.