As férias tinham chegado ao final e estávamos estudando muito no inicio de Agosto. A diretora havia colocado um horário extra para nos prepararmos pro vestibular e quase não tínhamos tempo para nada. O Cebola teve que dividir o horário de trabalho dele com os estudos e nos fins de semana ele ficava com a Monica grudada em seus braços então eu nunca o via. O mês passou voando e já estávamos perto do feriado de Setembro.

A turma estava muito ocupada com os estudos e eu não era diferente. No feriado Karol estava vindo para minha casa, visitar a cidade e Nimbus, seu namorado. Combinamos de fazer uma festinha na minha casa com todos da sala, até mesmo a Carminha e suas seguidoras, já que elas não estavam mais perturbando ninguém. Quando chegou o dia eu estava super feliz por poder relaxar em uma festa, dançar muito e me divertir com meus amigos. Karol tinha chegado um dia antes, e estávamos nos arrumando quando Magá entrou no meu quarto.

- Oi, voce é a amiga dela que veio de Minas, certo?

- Sim, eu me chamo Karol e voce é a que ficou grávida e não pode ir pra lá né?

- Karol, deixa de ser indelicada. – disse jogando uma almofada na cara dela.

- Heheheheheheh, voce é divertida Karol. Sim, eu sou a grávida.

- Desculpa.

- Tudo bem. Eu sei que foi um acidente, mas eu to feliz de ser filho do garoto que eu amo. Isa eu queria sua ajuda pra arrumar meu cabelo pra festa de hoje.

- Claro Magá. Mas acho melhor Karol te ajudar. Ela trabalha em um salão. Faz cada coisa linda.

- Eu tento. Só copio o que vejo nas revistas que minha tia me manda do salão dela de BH. – Karol disse, modesta.

- Sério? Que legal. Deve ser ótimo mexer com cabelo, maquiagem e ainda receber pra isso.

- Um pouquinho, sim. Tenho que admitir.

- Na verdade é ótimo. Eu já vi ela trabalhando. E ainda canta enquanto faz as coisas. Super bem.

- Nem é isso tudo. Hehehehe

- Então eu quero o cabelo meio preso assim – Magali mostrou uma foto de revista pra Karol- só que eu não to conseguindo fazer do jeito que eu vi nessa cantora aqui sabe...

- Ah é fácil. Só preciso de spray, grampos e algum acessório de enfeite.

Depois que Karol terminou o cabelo da Magá, eu fui a próxima vitima dela. Fiz cachos no meu cabelo e coloquei uma flor de lado. Karol fez um rabo de cavalo bem alto e deixou o cabelo dela liso, e como estava grande ficou lindo. Nos arrumamos e esperamos os convidados. Eu estava com um vestido longo florido e um colete jeans e Karol com uma calça jeans skinny e uma blusa preta com brilho, que combinava com seu coturno e suas pulseiras. Só os óculos que não combinavam muito com sua roupa meio roqueira.

- Quem olha assim não acredita que uma roqueira e uma hippie são amigas de infância.

Vimos Nimbus chegando com DC, de ponta cabeça. Assim que ele colocou os pés no chão veio nos abraçar como se não o víssemos a semanas. Típico dele.

- Voces estão lindas. – Nimbus disse nos entregando uma flor num passe de mágica, e deu um selinho em Karol. – Mas voce ficaria mais linda ainda sem esses óculos.  - E ele tirou os óculos dela, e a beijando logo em seguida.

- DC acho que estamos atrapalhando ne? Vamos lá pro quintal.

- Eu não, aqui tá interessante. – respondeu o garoto, olhando com interesse o beijo do casal.

- Eu tão tava pedindo sua permissão. Vem comigo. - E saí arrastando o garoto pela casa.

Eu escutava a turma entrando e o Nimbus com Karol vinham com eles. Todos chegaram no horário combinado. Então começamos a festa regada de musica e diversão. A Carminha veio junto com o Luca, ele lindo de camisa social branca e jeans escuro, e ela parecendo a Blérbie, toda de rosa. Mesmo que eles estivessem juntos eu ainda sentia algo por ele, e me magoava vê-los juntos. De repente nossos olhos se encontraram e eu desviei seu olhar, ao mesmo tempo que meu rosto ficou quente.

- Isa, voce tá bem? Tá vermelha. É febre é? – Monica me perguntou preocupada.

- Não, amiga, tudo bem. É nervosismo mesmo. - Eu saí andando e ela viu o motivo do meu rosto vermelho sentado de mãos dadas pra Carminha.

- Isa, Isa peraí. – ela me puxou pelo braço e me virou para olhá-la.

- Eles estão com problemas, crise de namoro, não sei. Acho que voce deveria conversar com ele, quando estiver sozinho.

- Mas Monica, eu...

- A Magá me disse que a Cascuda disse pra ela que o Quim disse pra ela que o pai dele viu os dois discutindo na padaria.

- Ãh? O que?

- A Magá me disse que a Cascuda disse pra ela que o Quim disse pra ela que o pai dele viu os dois discutindo na padaria.

- Que que o pai do Quim disse que viu?

- Voce não vai me fazer repetir tudo de novo vai?

- Resume por favor.

- Eles foram vistos discutindo na padaria do pai do Quim.

- Sério?

- Sim. Voce deveria tentar voltar com ele amiga. Vou procurar o Cebola. Onde ele se meteu? – e ela saiu procurando pelo namorado.

Enquanto eu via todos dançando e se divertindo na minha casa eu me lembrei do dia em que eu quase o beijei. No aniversário da Magali, e o Cebola atrapalhou tudo. Quando eu entrei no anfiteatro querendo fugir de todos e ele me disse palavras de carinho e me mostrou que gostava de mim. Depois me lembrei do dia em que eu estava na enfermaria e finalmente o beijei com tanta vontade. O dia em que ele me pediu em namoro. E tudo foi passando em minha mente como um flashback. Cada momento mágico e emocionante que eu tive com o Luca. E agora eu não o tenho mais.

Finalmente decidi que quero ele de volta. O namoro dele com a Carminha não anda muito bem e esse é o momento perfeito para eu procurá-lo, mesmo tendo sido ele que pediu um tempo. Quando eu voltei pra varanda, onde todos estavam dançando, vi uma multidão se formando em círculo, cercando algumas pessoas. Sabia que isso viraria confusão.

- Me desculpe eu... e não vi. – Karol dizia com os olhos cheios de lágrimas.

- Não tem desculpas, essa mancha não vai sair nunca mais. E esse vestido é super caro. Voce vai ter que se virar.- Maria Melo respondia, grosseiramente.

- Mas... eu...

- Chega! O que aconteceu Karol?

- Esbarrei nela sem querer, eu não a vi. O Nimbus guardou meus óculos e eu não enxergo muito bem sem eles.

- Essa coisa que se acha a roqueira simplesmente jogou a bebida dela em cima da Maria. – Denise se intrometeu, botando mais lenha na fogueira.

- Tudo bem, a gente pode comprar outro. Eu te ajudo. – disse baixinho pra minha amiga, que estava nos meus braços, chorando.

- Esse vestido é exclusivo. Não existe outro igual, queridinha. Ele não é igual o seu, que pode ser comprado em lojas populares, onde existem milhões de cópias. – E essa foi a pérola da Carminha, que achou um ponto pra me humilhar.

- Não importa o preço, eu pago. - Eu escutei o Nimbus dizendo, tentando contornar a situação.

- Hunf, tudo bem. Depois eu te passo o endereço do meu estilista pra voce ir lá buscar outro. – Maria Melo falou, empinando o nariz e saindo da festa, com a Denise atrás e a turma continuou a festa como se nada tivesse acontecido. Eu me sentei com Karol e fiz com que ela se acalmasse. Nesse momento o Nimbus veio em nossa direção, abraçou Karol e disse que tudo ia ficar bem. Mas eu sabia que não ia ficar bem, pois ele não iria ter o dinheiro suficiente para pagar o vestido.

Eu procurei o Cebola e o vi com a Monica, encostados em um pé de manga. Se beijando. Eu fiquei sem graça quando os vi e estava dando a volta quando ele me chamou.

- Isa, vem cá.

- Eh, eu não queria atrapalhar voces.

- Claro que não atrapalha. Me conta o que aconteceu com a sua amiga? – Monica perguntou.

- Ah, ta tudo resolvido já. E era por isso que eu vim. Cebola, eu posso falar com voce?

- Pode, Isa. Manda ae.

- Em... particular? Desculpa Mo, mas...

- Tudo bem, eu vou pegar um refrigerante. Voce quer, meu bem?

- Ah, clalo... claro. – Então a Monica deu um beijo quente e cheio de paixão no Cê.

- O que a senhorita quer comigo?

- Eu queria saber se voce pode me ajudar a achar um emprego.

- Eu posso ver, mas por que?

- O Nimbus se ofereceu pra pagar o vestido da Maria, mas ele deve ser caro e eu tenho uma parcela de culpa, já que Karol é amiga minha.

- Ora, tudo bem. Eu te ajudo a procurar um emprego, meu docinho. Mas por que pediu a Monica que saísse?

- Foi por que queria saber o que voce acha do namoro entre a Carminha e o Luca. Ela me disse que eles não estão mais se dando tão bem assim, e quem sabe eu não poderia voltar com ele, mas queria a opinião do meu melhor amigo.

Ele ficou sério. Demorou para responder, acho que procurava as melhores palavras não sei. Olhando nos meus olhos ele disse:

- Voce quem sabe. Não acho que deveria investir nele, mas a vida é sua, né? Se voce gosta dele, invista.

- Cebola por que voce tá falando desse jeito? Eu só te pedi um conselho.

- Acho que voce deveria tentar ler nas entrelinhas.

Ele saiu andando e foi encontrar com a Monica. A festa continuou tranqüila até as quatro horas da manha. Todos foram embora e eu fiquei pensando no que o Cebola disse sobre entender as entrelinhas. Do que ele estava falando? Tinha relação com o bilhete que eu recebi? Será que ele sabia quem tinha escrito?