Cindy Palmer tinha um namorado e ficou com Jake mesmo assim. Coitado dele e do tal Brian. Eu precisava falar a verdade para meu melhor amigo. Até entrei no MSN para falar com ele sobre isso, mas Jake não estava online. Resolvi então ligar para seu celular e marcar um encontro.

– Alô? – atendeu com voz sonolenta; eu adorava a voz dele assim. Era fofa.

– Oi Jake.

– Oi, Annie. Tudo bem contigo? – ele bocejou, fazendo com que eu bocejasse também.

– Tudo. Acho que eu te acordei, não é? – fiz uma careta. – Foi mal.

– Acordou sim, mas tudo bem. – sua voz já estava um pouco melhor. – O que você quer Annie?

– Eu queria saber se você quer ir ao Starbucks...? – não foi exatamente como quis dizer, mas soou como uma pergunta.

–... Quando?

– Amanhã. – olhei no relógio. Se desse, eu iria querer ir ainda hoje. – A gente pode ir tomar o café por lá.

– Está bem. No de sempre?

– Lógico. Como se já tivéssemos ido a outros! – comentei, e nós rimos. – Que horas é melhor para você?

– Às quatro da tarde. – Jake falou debochado. – Mas acho que você vai querer ir mais cedo, não é?

– É... Acho que um pouquinho mais cedo seria muito bom. Que tal às dez?

– Pode ser... Só você, mesmo, pra me fazer acordar antes das onze em um domingo! – ele riu. – Eu te odeio!

Rolei os olhos antes de comentar:

– Eu sei que você me ama.

– É... Pense o que quiser. – eu ri.

– Então, acho que era só isso.

– Tá legal. Até amanhã, Annie. – ele fez um som de beijo do outro lado da linha.

– Até amanhã, Jake. Beijinhos. – falei, desligando em seguida.

É. Eu poderia ter contado a ele por telefone, mas não gosto de dar notícias ruins assim. Gosto de estar cara a cara com a pessoa.

Ainda mais se essa pessoa for Jacob Novak.

------------------------- FOR YOU -------------------------

Meu celular despertou com Sweet Child O’ Mine — Guns n’ Roses. Eu amava essa música, mas ela começou a me irritar desde que virou despertador. Eram oito horas da manhã e acabei me levantando para fazer a higiene matinal. Escolhi uma roupa e fiquei no quarto ouvindo música até as nove e meia se aproximarem. Então, peguei meu celular, dinheiro, deixei um bilhete e saí.

Quando cheguei ao Starbucks, Jake já estava lá, em uma mesa redonda ao lado da grande vidraça da lojinha. Estranhei o lugar, porque estava vazio demais... Geralmente, parecia que todo mundo de Boston ia tomar café da manhã na mesma franquia.

Sorri para ele, e me sentei à sua frente.

– Bom dia. – me cumprimentou com aquele sorriso perfeito.

– Bom dia. – sorri também. – Dormiu bem?

– Bem eu dormi, mas não muito. Não é mesmo, Annie? – Novak me acusou e riu.

– Me desculpe se eu queria te ver! – rolei os olhos.

– Brincadeira. – Jake piscou um olho. – E aí... Vamos comer o quê?

– Eu quero um brownie.

– Acho que vou comer um muffin hoje...

– Como se você pedisse outra coisa. – zombei.

– Olha quem fala! – nós rimos. – Vou lá pegar nossas coisas então. Você quer um Vanilla Latte, não é?

– Como sempre. – sorri para Jake.

– Ok. Já volto.

Ele se levantou e andou até o caixa para fazer o pedido. Meu coração estava acelerado, parte porque eu estava com ele, parte porque eu teria que contar sobre Cindy e Brian.

Era complicado.

– Voltei! – Novak segurava uma bandeja.

– Percebi. – minha resposta provocou risos. – Hm...

O cheiro delicioso de brownie e café antes do horário de almoço; não existe nada melhor.

Começamos a comer num silêncio agradável, rindo vez ou outra enquanto nos entreolhávamos. Jake terminou o café e ficou me encarando de um jeito estranho.

– O que foi? – perguntei curiosa.

– Pode dizer.

– O quê? – franzi o cenho, surpresa e confusa.

Do que ele estava falando, afinal de contas?

– Você não me chamou aqui só para tomarmos café da manhã juntos. – ele disse sorrindo. – O que você quer Annie?

Ainda o encarei durante alguns instantes, sem saber exatamente como responder àquela pergunta. Querer eu não queria. Precisar eu precisava. Novak não podia simplesmente acreditar num relacionamento que acabaria não dando certo. Cindy tinha um namorado.

Foi apenas um beijo.

– É. Eu queria mesmo falar com você sobre uma coisinha...

– Pode falar. – ele sorriu e me olhou nos olhos.

– É sobre Cindy... – fiz uma careta, virando um pouco o rosto, olhando para o prato.

– O que tem ela? – mesmo sem encará-lo, eu podia sentir a diferença em sua voz.

Seus olhos provavelmente brilhavam agora, logo após ouvir o nome dela.

Isso doeu um pouco.

– Ela tem um namorado. – fitei-o com solidariedade, mas não entendi sua expressão. – O nome dele é Brian...

– Ela o quê?! – Novak pareceu dividido entre a surpresa e o choque.

– Um namorado, Jake. Acho que isso automaticamente faz de você um amante... – ok. Eu não deveria ter dito essa última parte, nem de brincadeira.

– Ah... – ele continuou com a mesma expressão indecifrável, mas seus olhos se semicerraram durante alguns instantes.

– Tá tudo bem?

– Tudo ótimo. – mesmo que tivesse dito sem sarcasmo, sei que ele mentiu. 

– Sinto muito por isso. – segurei sua mão com carinho. – Sei que você gostava dela. 

– Tudo bem. Afinal, não foi nada importante, não é Annie? Foi só uma noite... Só um “lance”. – Jake fez aspas com os dedos, dando ênfase à palavra. 

– Achei que você gostasse da Cindy...? – aquilo também soou como uma pergunta. 

– E eu achei que ela tivesse gostado de mim... 

Pude ver a tristeza em seus olhos, e isso fez meu coração se encolher no peito. Claro que não foi nada demais aquela noite, mas para eleaquele beijo significou alguma coisa... Ou, pelo menos, Novak acreditou que sim. 

– Sinto muito. – falei com sinceridade. 

– Está tudo bem. – Jake sacudiu os ombros. – Seguir em frente sempre, certo? 

– Exatamente. – sorri novamente para ele, e apertei sua mão. 

Novak sorriu de volta e mudei de assunto para que o clima não ficasse pesado. E, mesmo com a mão sobre a dele, mesmo vendo-o sorrir vez ou outra, eu sabia que algo estava errado. E era isso que me fazia dizer bobagens, apenas para vê-lo abrir aquele sorriso perfeito que só ele tem. Consegui manter essa conversa por mais ou menos uma hora. 

– Quer dar uma volta no parque? – sugeri, animada. 

– Desculpa, mas hoje não, ok? – Jake disse um tanto quanto cabisbaixo. – Estou cansado... 

Meu sorriso murchou na hora. 

– Tudo bem... Te vejo amanhã, então. 

– Até amanhã, Annie. – ele deu um beijo em minha bochecha e me abraçou com força. 

– Tchau, Jake. – retribuí o abraço e ele foi embora, me deixando em frente ao Starbucks. 

Não queria voltar para casa, não ainda, não agora. Então caminhei até o parque sozinha, ouvindo músicas pelos fones, até encontrar uma grande magnólia e ficar observando a paisagem, preocupada com Novak. Ele não parecia nem um pouco bem, mas eu tinha certeza de que podia superar. Vou ajudá-lo nisso.

Não sei como, mas Jake vai passar por tudo isso com um sorriso no rosto.

Se Cindy agiu daquele jeito, realmente não o merecia.

Eu estava com dor de cabeça, e acabei fechando meus olhos por um instante, tentando pensar em coisas que não me lembrariam de Novak. Ele não fazia bem à minha saúde, e, ao me dar conta do que estava pensando, acabei rindo de minha ligeira idiotice. Acabei voltando a observar a paisagem.

Era realmente uma bela manhã. Aquela vista, acrescentando Aerosmith era algo perfeito. Apreciei a paz que me invadia.

Sing with me, sing for the years

(Cante comigo, cante pelos anos)

Sing for the laughers, sing for the tears

(Cante pelas risadas, cante pelas lágrimas)

Sing with me, but just for today

(Cante comigo, mas apenas por hoje)

Maybe tomorrow the good Lord will take it away

(Talvez amanhã o bom Senhor leve isso de nós)

Take it away

(Leve isso de nós)

Dream on. Minha música favorita de Steven Tyler. Sentia-me inalcançável quando ficava assim, sem pensar em nada, somente ouvindo minhas músicas e observando uma bela paisagem, na calmaria de uma manhã excelente...

Continua...