A semana nem terminou e Jake veio falar comigo sobre a Ellen. Não sei o motivo, mas eu estava com uma grande expectativa.

– Sei lá, Annie... – Jake estava me dizendo que queria terminar com Ellen – A gente não combina em nada.

– Como assim “nada” ? – perguntei - Tem que ter alguma coisa em que vocês dois combinem...

– Exatamente. “Deve ter alguma coisa” e eu não me sinto bem tendo só uma coisa em comum com ela... É melhor a gente terminar logo.

– Você que sabe, Jake – Sorri simpaticamente para ele.

– Sei lá... – Ele disse, me fazendo rir.

– Estou aqui, ok? Não importa qual decisão você tomar, eu vou te apoiar – Sorri simpaticamente – Você sabe disso, né?

– Eu sei – Jake sorriu para mim. Ficou em silêncio por alguns intanstes, pensativo – Vou terminar com ela.

– Qual o motivo oficial? – Perguntei. Por alguma razão fiquei mais animada.

– Não acho certo ficar com ela, se eu não sinto nada.

– Então você não sente mais nada por ela... Por que não disse isso antes?

– Porque eu não queria adimitir isso... Nem para mim mesmo – Ele passou a mão pelos cabelos. Eu adorava o jeito que o cabelo dele ficava quando ele fazia isso.

– Entendi... – Sorri para ele – Mas você tem certeza disso?

– Tenho.

– Ok. Como você vai dizer isso à ela?

– Vou dar “o motivo oficial” – Ele disse sorrindo, fazendo as aspas com os dedos.

– Boa sorte, Jake...

– Obrigado.

– De nada – Sorri abertamente, sem conseguir esconder a minha animação – Amor... tenho que ir agora. Vou sair com a minha mãe hoje...

– Tudo bem, Tchau Ban’Anna – Ele riu.

– Eu te odeio – Eu ri também. Dei um beijo em sua bochecha e me virei para ir embora.

Coloquei os fones de ouvido e coloquei minha música favorita para tocar. Eu estava feliz. Muito feliz. Jake iria terminar com Ellen. Finalmente... O relacionamento deles já estava me dando nos nervos. Era um selinho de “Oi”, um selinho e um abraço de “Tchau”, eles mal se falavam no colégio e isso já estava me irritando. Eu não falei nada porque o Jake parecia estar feliz, mas ainda bem que ele percebeu que não daria certo.

Lógico que eu, sendo uma boa amiga, diria isso para ele se a situação continuasse assim. A alegria me inundava em quanto eu caminhava para casa. Eu continha o sorriso para as pessoas não me achassem maluca nem nada. Cheguei ao apartamento e vi um pequeno papel em cima da mesa do computador. Era um bilhete da minha mãe.

"Annie, eu fui até a casa da sua avó. Eu sei que marcamos de sair, me desculpe, mas seu vô tinha uma consulta no médico e eu havia me esquecido. Se cuida... Tem arroz e feijão em cima do fogão e bife para fritar na geladeira. Beijos, te amo."

Típico. Bufei. Fui até meu quarto e deixei meu material em cima da cama. Tirei os meus tênis e as meias e coloquei um chinelo, para ficar mais confortável. Eu estava um pouco triste, mas nem um pouco surpresa... Não era a primeira vez que minha mã cancelava alguma coisa comigo.

Fui até a cozinha, peguei o pote com a carne na geladeira e coloquei para fritar enquanto esquentava o arroz e o feijão. Aquele silêncio estava me irritando. Peguei o meu celular e coloquei minha playlist para tocar. Meus lábios se moviam, dublando as músicas, enquanto eu terminava de cozinhar.

Sentei no meu sofá com o prato de comida em mãos. Comi tudo rapidamente, somente ao som de Wanted Dead Or Alive do Bon Jovi. Levei a louça para a pia e minha música parou te tocar. Olhei no celular e eu havia recebido uma mensagem. Era Jake.

"Oi Ban’Anna. Está feito. Terminei com a Ellen, ela não ficou muito feliz, mas entendeu e concordou comigo. Desculpa se estou atrapalhando você e sua mãe. Beijos."

Sorri abertamente. Eu era tão boba, sorrindo assim sem motivo. Mas eu estava feliz que eles tinham terminado. Respondi a mensagem dele.

"Oi Jake, não está atrapanhando porque minha mãe furou comigo. De novo. Aiin, que bom que ela entendeu. Você está ocupado? A gente podia ir no Starbucks..."

Coloquei minha playlist para tocar novamente. Resolvi lavar a louça para minha mãe não ficar me enchendo o saco mais tarde. Começou a tocar One and Only da Adele.

You've been on my mind

(Você tem estado na minha cabeça)

I grow fonder every day

(Eu me sinto mais afeiçoada a cada dia)

Lose myself in time

(Me perco no tempo)

Just thinking of your face

(Apenas pensando no seu rosto)

God only knows why it's taken me so long to let my doubts go

(Só Deus sabe porque levei tanto tempo para acabar com as minhas dúvidas)

You're the only one that I want

(Você é o único que eu quero)

Droga. O rosto de Jake veio à minha mente. Aqueles olhos castanhos brilhantes, aquela boca perfeita, o jeito que ele fica quando passa a mão pelos cabelos... Droga. A música começou a fazer sentido.

Eu não queria. Eu não podia estar gostando do meu melhor amigo! Simplesmente não podia. Eu sabia o que aconteceria. Eu ia me machucar. Feio. Fechei os olhos por um momento, tentando afastar esse pensamento. Eu não podia gostar dele, de jeito nenhum.

A música parou. Outra mensagem de Jake.

"Não estou ocupado hoje. A gente pode se encontrar lá às 15:00. Pode ser?"

Respirei fundo, com um leve sorriso nos lábios. Eu sempre ficava feliz quando ia encontrá-lo... Droga. Eu era muito nova para isso. Eu sabi que estava gostando dele, porque era o que todos os sinais apontavam. Droga, eu tinha só 12 anos! Como uma criança consegue se apaixonar assim?

Liguei para o meu pai. Queria saber que horas ele chegaria em casa.

– Alô? – Uma voz grossa atendeu.

– Oi, pai... – Eu disse simplesmente.

– Oi, Annie. Tudo bem?

– Tudo, pai. E você?

– Tudo. Olha, Annie... Estou numa reunião agora. Você pode me ligar mais tarde? – Ele disse com a voz um pouco cansada.

– Tudo bem. Eu só queria saber que horas você vai chegar em casa hoje...

– Só a noite, Annie. Por que?

– Pra você me levar no Starbucks... Mas deixa pra lá. Eu vou de ônibus.

– Tudo bem, filha. Se cuida.

– Ta bom, tchau – Eu disse. Claro que ele iria chegar só de noite. Quando que ele chega cedo em casa? Nunca.

–Tchau – Ele disse, desligando rapidamente.

Eu sei que eu só tinha 12 anos, mas eu aprendi a ser responsável e até independente já faz um bom tempo. Meus pais nunca estavam em casa, então eu fazia minha comida, eu ia aonde eu queria, desde que eu deixasse um bilhete falando que horas eu estaria de volta e só. Não posso dizer que era ruim ter essa independencia, mas às vezes eu sentia falta dos meus pais.

Peguei meu celular e respondi a mensagem de Jake.

"Claro, Jake. Te encontro lá".

Fui até meu quarto para trocar de roupa. Ajeitei um pouco os cabelos e retoquei o meu delineador, numa linha fina. Peguei minha bolsa, minha carteira, meu celular e o fone e saí de casa.

Continua...