Estava prestes a amassar a carta de novo. Ele esperava mesmo que me dizer que esse tempo todo eu não era nada além de uma substituta da outra ex namorada dele? Respirei fundo e decidi ler até o final.

"Depois que te conheci melhor, vi que os seus olhos não eram a única coisa que você e Emily tinham em comum. Vocês duas eram meigas, divertidas...

Mas você... Tem alguma coisa que não me deixa parar de pensar só em você. O que nós temos, ou tínhamos, é muito mais forte do que qualquer coisa que eu já tive com ela.

Eu sei que provavelmente a carta já está toda amassada, mas se você chegou até aqui, eu agradeço muito."

Virei a carta do outro lado e vi uma frase pequena no canto do papel.

"Se quiser conversar, sabe onde me encontrar."

Não. Eu não vou. Mesmo se eu não for o consolo dele, como, em qualquer circunstância, eu vou poder confiar nele de novo? Ler essa carta só me deixou com vontade de mudar mais rápido daqui. Mas onde eu ia arrumar dinheiro? E pra onde eu iria? E antes de dezoito anos, eu não arrumaria emprego, como iria pagar as despesas?

No meio disso tudo, Pedro abiu a porta sem bater e falou qualquer coisa sobre concertar um vazamento de gás no almoxarifado do salão de tijolos. 

Suspirei, voltei pra realidade, e fui em direção ao salão. Coloquei um tijolo na porta do almoxarifado pra ela não se fechar sozinha e tampei o nariz. O cheiro de gás era muito forte, dois segundos e eu já estava tonta. Estava tudo esfumaçado, então eu não conseguia enxergar muito bem. Fui tateando o ar à procura da máquina com defeito e acabei chutando o tijolo que segurava a porta.

Oh shit.

Tentei abrir a porta pesada de ferro, com toda a minha força, e pra isso tive que usar as duas mãos. Prendi a respiração pra não inspirar todo aquele gás. Eu fui ficando tonta, e mais tonta, e mais tonta, e apaguei.