O mosqueteiro riu, concordando e apresentou-se:

                — Sou Neji Hyuuga.

O ladrão retirou das roupas uma garrafa de vinho, exibindo-a com grande orgulho. Relaxado e satisfeito, ele foi buscar dois copos que viu sobre um móvel e serviu generosamente doses em cada um deles, antes de beber do próprio gargalo e limpar a boca com o dorso da mão.

                —Já que estamos nos apresentando, sou Deidara. Á sua saúde, cavalheiros!

Eu bebi um gole ávido do vinho encorpado e morno. Ele desceu por minha garganta como o néctar dos deuses!

Sakura Haruno:

                —Conseguiu carregar a garrafa o tempo todo sem quebrá-la?—Perguntei curioso á Deidara.

                —Confesso que eu tive quer ser um pouco mais lento por isso. —Confessou e Neji arquejou em espanto, o loiro era veloz como um raio e ainda estava lento? Até eu me surpreendi. —Mas valeu à pena. Um vinho como esse não aparece no meu caminho todos os dias!

                O moreno saboreou a bebida por alguns segundos antes de opinar:

                —Não, não é o melhor. —Falou. —Mas é de uma safar boa, realmente. Como conseguiu pegar a garrafa sem que eu percebesse?—Perguntou.

                —Anos de prática e um olhar treinado. — Respondeu sorrindo de forma superior e arrogante.

                Estou bebendo um vinho roubado, pensei com um profundo sentimento de desconforto, mas essa sensação passou ao me lembrar da mesquinharia do proprietário da taverna.

                Seu estabelecimento havia sido praticamente destruído pela briga. Mas mesmo assim, beber seu vinho sem pagar por ele era ir além dos limites da penitencia. Era abuso. Mas... Estou com sede e este vinho é bom demais para ser desperdiçado por peso na consciência idiota.

                Pagarei no dia seguinte, decidi tomando mais um ou dois longos goles da bebida. Poucos minutos depois de beber eu já me sentia mais leve e extremamente cansada. Fechei meus olhos por um momento, só para descansar e despertei sobressaltada.

                Não posso nem pensar em dormir na companhia de dois indivíduos! Devia me concentrar e permanecer em alerta. Meus olhos se focaram no rosto do mosqueteiro moreno, havia algo estranho na face do mesmo, no conjunto de seus traços, mas eu não conseguia identificar o que o deixava estranho, exatamente...

                O jovem foi ficando incomodado sob o meu olhar persistente e observador.

                —O que está olhando?!— A voz dele soou ríspida e hostil.

Agora eu finalmente compreendi o que havia de estranho nas feições de Neji.

                —Seu bigode está se soltando. —Disse sem pensar. —Precisa reforçar a cola.

                Ele ficou vermelho. Muito vermelho, mas eu sabia que era mais de vergonha do que de raiva. O loiro ergueu o corpo e levou a mão a espada antes de falar ameaçadoramente:

                —O está insinuando, afinal?!—Exclamou.

                O ladrão riu de forma descontraída, como um nobre que assiste uma peça de teatro engraçada.

                —Ela tem razão. — Falou Deidara. —Você precisa de uma cola melhor e que não solte quando você suar muito. Pessoalmente, acho que bigodes falsos não valem muito à pena. Dão muito trabalho, provocam coceira, e é sempre muito difícil fazê-los naturais. É mais fácil fingir que se barbeia religiosamente todas as manhãs e todas as noites.

                O mosqueteiro moreno estava petrificado, a meio caminho de se pôr de pé, mas sem forças para concluir o movimento, completamente aturdido em seus próprios devaneios. Eu saltei de minha poltrona, horrorizada e sem saber exatamente o que fazer processando a primeira frase dita pelo ladrão.

                —Ela?—Perguntei, minha voz tremia tanto pelo medo, tanto pela surpresa. —Você me chamou de “Ela”?!

                O homem por sua vez, estava bem tranqüilo e levantou as suas mãos me um gesto conciliatório.

                —Foi só um palpite. —Falou calmamente. —Me baseando na observação de que seus seios escaparam da faixa que os continha. É difícil ver pelas ruas, um homem com um peito como o seu!—Falou apontando para o meu tórax.                

                Eu olhei para baixo e infelizmente Deidara estava certo, a faixa se deslocara durante a nossa louca corrida pelos telhados e becos da capital, mas não a ponto de ameaçar o meu disfarce.

                O suave balançar de meus seios mal podia ter sido notado, especialmente no escuro e naquelas circunstancias. Como um desconhecido adivinhara o meu segredo com tamanha facilidade? Era quase deprimente! E por que Neji usava um bigode falso?! Eu e o moreno trocávamos um olhar repleto de compreensão.

                —Você é uma mulher. —Disse para o mosqueteiro moreno. —Por isso está usando um bigode falso. —Voltei meu olhar ao ladrão que agora esboçava um sorriso indescritível e disse o que já era obvio: — E você também é uma mulher!

                Deidara esvaziou a garrafa de vinho com pouco esforço e a deixou no chão, ao seu lado com ar pesaroso.

                —Eu confesso. —Disse, reconhecendo que era uma mulher. —Ei, você aí morena... — Disse apontando para o mosqueteiro moreno, que pareceu se irritar com o loiro. —Há outra garrafa de vinho por aqui, ou vou ter que me contentar com cerveja pelo resto da noite?

                O mosqueteiro moreno estava perplexo e visivelmente irritado. Ou, melhor, mosqueteira. Ela me olhava como se não conseguisse aceitar o que estava diante dela.

                —Por isso atacou aquele grandalhão na taverna, não é?—Indagou com uma voz doce. —Por que também é mulher?

                Não respondi, ainda tentava me recuperar do choque de descobrir que havia mais dois membros do regimento com o mesmo segredo que eu. Algo dentro de mim pareceu se alegrar e um sorriso imperceptível se desenhou em minha face, que passou despercebido pela outras duas jovens.

                Tenho companheiras agora! Duas! Duas! Alguém com quem conversar, dividir a vida, alguém que me entenderia e nunca me trairia! Não estou mais sozinha, eu sentia uma vontade quase incontrolável de gritar de alegria.

                —Não gosto de valentões que atacam pessoas que não podem se defender. Ele precisava de uma lição. —Respondi amargurada, flashes invadiam a minha mente, e eu em lembrava de quando Konoha, nossa pequena vila portuária foi covardemente atacada por piratas imundos...

                —Confesso que não entendi bem o que deu em você para atacar o homem daquela maneira. Nenhum homem teria se dado ao trabalho de sair em defesa daquela garota. —A voz da jovem morena era amarga, sentida. —Homens... —Disse com desprezo. —Podem murmurar palavras adoráveis em seu ouvido, mas são todos iguais no egoísmo, na estupidez e na teimosia! Acreditam como idiotas, que as mulheres devem ser usadas, nunca protegidas...

                —Quero agradecer por ter me ajudado. Houve um momento em que acreditei que meu fim estava próximo. —Sorri estendendo a mão direita para ela.

                —Não podia deixar você lutando sozinha. —Falou sorrindo e apertou a minha mão com firmeza. —Não naquele confronto. Essa é uma batalha que todas as mulheres devem participar. A luta contra os homens que abusam delas, que as oprimem por julgarem-nas mais fracas.

                Uma risada abafada soou do outro lado do quarto, onde a ladra desistia de encontrar um vinho e vasculhava o armário atrás de outra bebida qualquer.

                —Ah! Todas as mulheres? Francamente!—Exclamou em tom de deboche. Se humor ácido fez a morena revirar os olhos, indignada. —Não me faça engolir mais dessa narrativa melosa, por favor, ou vou acabar vomitando!

                A morena estufou o peito e usando um tom arrogante e superior disse:

                —Um rato de esgoto como você não pode mesmo conhecer o significado da moralidade ou do respeito pela decência humana. Devia continuar sendo um homem! Você se comporta como todos eles!