Superando escrita por Arline


Capítulo 1
Capítulo 1 - BAILE E HUMILHAÇÃO


Notas iniciais do capítulo

Mais uma fic. Espero que gostem dela tanto quanto de O Peso.
Essa é uma história muito especial pra mim; pois foi através dela que conheci uma das pessoas mais especiais da minha vida; minha Gêmula, Ana Paula.
Desde já, agradeço a ela por toda a paciência e insistência pra que eu não desistisse. Ti ái lóve iú!
Jessi, minha sobrinha postiça... Obrigada pela paciência e pelas ameaças. lóve iú tomém! kkk
Já falei demais! Ao cap!



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BAILE E HUMILHAÇÃO

Hoje seria um dia terrível, pior que os outros e eu ainda não sabia disso. Não ainda...


A hora do baile de encerramento do ano letivo se aproximava e com ela vinha meu nervosismo. Bree, minha irmã mais velha, estava infernizando minha paciência há uma semana por conta dessa droga... Graças a Deus só estudaríamos no mesmo colégio por mais um ano! Apesar de extremamente mandona, nos amamos e ela sempre cuida de mim. Quando éramos menores e as crianças me ofendiam, era ela quem me defendia e eu era grata por isso. É ela também quem guarda meu segredo e nunca foi preciso que eu pedisse que ela não falasse nada.


Aqui estava eu, tentando me esconder em nossa antiga casa da árvore, assim como eu fazia quando minha mãe queria me obrigar a ir às festinhas dos mons... crianças. Não tardaria até que Bree me encontrasse, mas ainda assim, eu tentava...


20 MINUTOS DEPOIS...

— OI! — minha irmã gritou, aparecendo na porta da casa da árvore — Achou que eu não sabia onde você estava?


Soltei um gemido baixo, fazendo com que ela risse e viesse sentar ao meu lado. Por mais que seu lado controlador e irritante falasse alto, ela era extremamente doce, carinhosa e a melhor amiga que alguém poderia ter. Pelo sorriso sapeca que exibia, eu já sabia que ela estava com tudo armado para aquela infeliz noite e eu não teria como escapar...


— Já tenho tudo pronto pra nossa noite e é bom que você desça por livre e espontânea vontade; tenho ótimas recordações dessa casa e não gostaria que papai fosse forçado a destruí-la. — disse ela, num só fôlego.


Fiz uma careta de reprovação e ela riu mais ainda. Se não fosse contra as leis de Deus, eu mataria minha irmã sem dó nem piedade.


— Angela me ajudou a encontrar o vestido perfeito! Vai ficar linda e arrasar!


Minha irmã não era normal... Ela seguiu com seu monólogo e não me espantei quando a ouvi falar o nome de Angela. Mesmo me mantendo afastada das pessoas, ela era uma das poucas que tentava se aproximar e que conseguia manter um diálogo por mais de dez minutos comigo. Sempre gostei dela e nos conhecíamos desde pequenas, mas sempre preferi não manter muito contato.


— Você vai pirar quando vir o vestido. É lindo, muito lindo! Ang vem pra nos ajudar com a maquiagem e cabelo e vamos todas juntas... A noite vai ser incrível!


Permaneci na minha, encolhida no meu canto e ouvindo toda aquela sandice. Aquela história não ia dar certo... Todos sabiam que eu não queria ir... Em todos esses anos consegui escapar, mas pelo visto, hoje seria diferente.


Meu quarto era um mix de salão de beleza com loja de shopping. Minha cama estava abarrotada de coisas... Uma enorme maleta de maquiagem, caixinhas de joias, roupas, sapatos, secadores, pranchas alisadoras e mais um tanto de objetos. Cada vez que via tudo aquilo, um suspiro insatisfeito saía de meus lábios. Angela e Bree adentraram o local, trazendo um enorme espelho que ficava no quarto dela.


Meus pais estavam animadíssimos e a todo instante minha mãe vinha ao meu quarto pra ver se eu já estava "ajeitadinha." Toda aquela animação não se estendeu a mim. Cada vez mais o desânimo me dominava e eu não via saída. Não havia saída.


— Bella, anime essa cara! Vamos começar a te arrumar. Já tomou banho? — Bree perguntou.


Bufei e revirei os olhos. Aquilo não me agradava...


— Já. Posso ser gorda, mas ainda não virei porca. — respondi asperamente.

— Não falei isso! Vou relevar porque sei que está nervosa. — minha irmã não estava entendendo meu estado...


Angela ficou visivelmente sem graça com a situação.


Fui puxada de minha cama e posta em uma cadeira, de costas para o espelho. Eu só me perguntava o porquê de tudo aquilo... A gordura ia continuar no lugar, meu cabelo ia continuar aquela coisa sem sal, minha cara ia continuar a mesma... Me limitei a bufar, emburrar a cara e cruzar os braços.


— Bree, enquanto arrumo os cabelos dela, você cuida da maquiagem? — Angela perguntou, ignorando por completo minha presença.

— Sim. Podemos fazer assim. — minha irmã respondeu e eu bufei.


Elas começaram a sessão de tortura. Meus cabelos eram puxados, alisados e enrolados, enquanto eu sofria com minha irmã tirando os pelinhos de minha sobrancelha... E mais uma vez me perguntei: Pra quê?


Creio que passei horas sentada naquela cadeira. Foram várias pinceladas em meu rosto, lápis, rímel, batom, brilho labial — que Bree chamava de "Gloss" —, sombra... Era tanto raio de pó que cheguei a espirrar várias vezes, fazendo com que elas rissem da minha cara e Angela puxou tanto meu cabelo que duvidei se ainda tinha cérebro... Ela o prendeu com alguma coisa que não fiz a mínima questão de saber o que era e só consegui ver alguns anéis castanho avermelhados caindo por meus ombros.


— Hora do vestido e dos sapatos! — sentenciou minha irmã.


Mais uma vez fui puxada e fiquei de pé, ainda sem poder me olhar no espelho. Elas que fizeram todo o trabalho, desamarraram meu robe, levantaram meu pé pra que o vestido entrasse — Ang proibiu que ele fosse posto pela cabeça pra que não desmanchasse sua obra de arte —, fecharam o zíper, puseram os sapatos e continuei quase inerte, vendo todo aquele circo ser montado.


— Gata, se eu fosse homem, te dava uns pegas fácil, fácil... — brincou Angela, mas não consegui rir.


Bree me virou lentamente, como naqueles programas ridículos de televisão onde as pessoas fazem a transformação de suas vidas... A minha mais parecia um show de horrores!


— Está vendo? — minha irmã perguntou.


Eu via... Uma pessoa completamente diferente de mim, com olhos expressivos por conta da quantidade de maquiagem, a pele perfeita, lábios avermelhados por causa do batom e com uma aparência maior, culpa do tal gloss. Os cabelos dessa personagem desconhecida estavam meio presos, com seus anéis avermelhados caindo por suas costas. Ela trajava um vestido preto e com brilhos, uma faixa destacando seu busto e deixando-a com uma aparência mais magra. Saltos altos completavam o visual, deixando-a ereta, com mais presença. Não era eu. Isabella Marie Swan não era aquela personagem desconhecida, que insistia em se fazer presente no reflexo daquele espelho.


A voz sumiu, não consegui nem pensar no quê dizer. Pude ver a expressão de felicidade que Ang e Bree tinham em seus rostos e notei o espanto e a surpresa em mim mesma. Por mais que quisesse negar, aquela estranha era eu, mas eu não sabia se queria ser ela...


— Você está linda! Acho que nem vou mais a esse baile... Vai roubar toda a atenção! — disse Bree, com um sorriso.


Após mamãe ter feito com que tirássemos umas cinquenta fotos conseguimos sair. Bree estava com um vestido verde de um ombro só, de um tecido leve e suave. Ela parecia flutuar em seus saltos. Angela trajava um vestido vinho com detalhes em vidrilhos, dando um aspecto muito luxuoso ao visual. Seguimos para o carro de minha irmã, já que chegar em minha picape Chevy seria uma vergonha total... Fui calada todo o tempo, com medo de dizer que havia gostado de me ver daquela forma. Foi a primeira vez que me senti bonita, que me senti bem comigo mesma.


De longe já se ouvia a música alta e tremi. Não havia mais como voltar atrás... Bree estacionou seu EcoSport e fui quase empurrada pra fora do carro. Minhas pernas travaram. Fui puxada por entre as pessoas que se aglomeravam no estacionamento até chegar ao grande salão da Forks High. Aquilo mais parecia a visão do inferno! Muita gente, muito barulho, muita bebida — que com certeza entrara escondida —. Aquele tema de cassino era mais cafona do que os anos 80...


Caminhamos por entre as mesas de apostas, as pessoas se acotovelando e querendo matar o oponente pra ganhar um copo extra de refrigerante... O fim do poço, com certeza! Notei alguns olhares sobre mim e me limitei a apenas virar a cabeça de um lado pra outro. Foi então que o vi... Ofeguei com a visão... Ele estava lindo, em um smoking que delineava seu corpo perfeito, os cabelos espetados e aquele sorriso lindo no rosto. Senti o aperto de Bree em minha mão e desviei minha atenção. Ele nunca me notaria.


— Nossa! Você está linda, Bella! — ouvi uma menina falar, mas não sabia quem era.

— Só ela, Emily? — Angela perguntou, divertida.


Ah sim! Emily... Já esbarrei com ela pelos corredores, mas nunca trocamos mais que duas palavras: Bom dia.


— Ang, as três estão lindas! Não achei que Bella viria ao baile esse ano. — ela disse, mas não havia maldade em sua voz, era surpresa mesmo.

— Ah, conseguimos tirá-la da toca. Minha irmã é muito linda pra se esconder.


A conversa rolava e eu não prestava muita atenção ao que era dito. Varri o salão à procura dele e o encontrei. Parado próximo a uma mesa, um copo na mão — e eu duvidava muito que fosse refrigerante —, seu costumeiro sorriso e aquele corpo que me deixava quase babando todas as vezes que o assistia furtivamente na aula de educação física. Ele olhava pra direção oposta a minha, mas subitamente nossos olhares se encontraram e não consegui desviar a tempo. Ele não me notou mesmo assim.


— Bella, Emily está falando. — Bree chamou minha atenção.

— Desculpe, me distraí. — já são três palavras.

— Eu estava dizendo que é muito bom que esteja aqui. Sempre pergunto a sua irmã como você está... Sei lá, nunca conversamos muito, não é?

— Ah! Obrigada pela preocupação. Não é que eu tenha algo contra você, não sou muito falante. — mentira, meu problema era com as pessoas em geral.

— Não tem problema. — disse ela, com um sorriso simpático.


As meninas começaram a se animar com a música e eu não queria prendê-las ao meu lado. Afastei-me e encostei-me em uma parede, de onde eu poderia observar a tudo e procurar por ele, a única razão pela qual eu ia à escola todos os dias. No decorrer das aulas minha mente vagava, meus pensamentos eram todos pra ele, assim como cada suspiro. Minha irmã me alertara a seu respeito, dizendo que ele era um galinha, que só se aproveitava das meninas com quem ficava, mas eu não o enxergava daquela forma. Pra mim, ele era o ser mais perfeito do mundo. Ela sabia de minha paixão platônica por Jacob Black e guardava esse segredo a sete chaves.


Andei sorrateiramente por entre as pessoas e eu parecia invisível. Apesar do meu tamanho ninguém me notava e nem eu os notava, meu foco estava em encontrá-lo. Peguei um refrigerante, o bebi quase que de uma vez e continuei andando sem rumo. Quando dei por mim, estava do lado de fora do salão, indo para a parte dos fundos, onde havia alguns bancos. Sentei-me e apreciei a leve brisa noturna, aspirando o perfume das rosas plantadas nos canteiros próximos de onde eu estava. A noite estava agradável, mesmo com a lua e as estrelas sendo totalmente encobertas por nuvens espessas. Esse era o normal de Forks.


Meus pensamentos foram até ele... Jacob era o garoto mais perfeito que meus olhos já haviam contemplado, sua pele morena era tão atraente a meus olhos, seria certamente um contraste muito bonito com minha pele tão branca. E seus olhos castanhos eram tão cheios de vida, sempre com linhas de riso em torno deles, pois seus lábios constantemente viviam esticados em um lindo sorriso, perfeito com magníficos dentes brancos. Mesmo que eu soubesse que não era uma garota atraente, não conseguia deixar de sonhar, meus devaneios me transportavam pra um mundo onde ele poderia sim me amar, pois eu sabia que quando se ama não importa o que se tem por fora, mas sim o sentimento que te preenche por dentro.


O barulho da música ainda era bem audível de onde eu estava e me assustei quando ouvi passos atrás de mim. Continuei olhando para o nada e esperando pela reprimenda de Bree. Eu tinha certeza que era ela... Sempre com seu jeito protetor e mandão!


— Perdida, moça? — não era Bree... Aquela voz! Ansiei tanto por ouvi-lo dizer meu nome!


Virei-me ainda meio atordoada e o encontrei com aquele sorriso lindo, muito próximo de mim.


— Não... Apenas... Apenas apreciando a noite. — respondi meio hesitante, meio envergonhada.


Ele ficou de frente pra mim e inclinou-se. Meu corpo ficou tenso, esperando, ansiando pelo que ele faria, mas ao vê-lo sentar-se ao meu lado, a tensão duplicou. Estávamos mais perto do que jamais estivemos.


— Não vai aproveitar o baile, Isabella? — meu nome! Ele sabia meu nome!

— Como sabe meu nome? — perguntei um pouco mais confiante.

— Sei tudo sobre você, Bella, irmã da Bree.


Meu coração saltou dentro do peito ao ouvir aquilo. Como ele sabia meu apelido? Abri um amplo sorriso e ele correspondeu, me deixando nas nuvens.


— E isso é bom? — perguntei e ele acenou afirmativamente com a cabeça — Por qual motivo?

— Porque sei que você não é fácil como muitas que andam por aí... É doce e eu gostaria de dançar com você...


Eu sabia que minha irmã estava errada! Jacob não era aquilo que ela pensava e estava ali, me convidando pra dançar! E em pensar que queria ficar enfurnada em casa...


— Vai me dar o fora? Estou criando coragem há um tempão! — ele disse e sorriu.

— N-não! Eu aceito.

— Ok, mas fique lá dentro. Quando a música perfeita começar a tocar, vou até você.


Acenei afirmativamente com a cabeça e o vi partir, me deixando sem ar, com a cabeça girando e tremendo dos pés à cabeça. Deus, e agora? Como vou dançar com ele na frente de toda a escola? Me senti à beira de um colapso e decidi entrar e procurar por minha irmã, pois ficar sozinha naquele momento não era uma boa opção... Me deu medo e com ele veio uma louca vontade de fugir.


Caminhei a passos vacilantes para dentro do salão e me misturei às pessoas, procurando por Bree. Não foi difícil encontrá-la, uma rodinha se formou em volta dela e de outras meninas, que dançavam e riam. Fiquei afastada, observando minha irmã e sentindo uma grande felicidade por tê-la ao meu lado. Quando me viu, ela parou de dançar e veio conversar comigo. Eu sabia que não conseguiria esconder dela o que aconteceu do lado de fora do salão.


— O que houve? Você sumiu... — ela perguntou ainda um pouco ofegante.

— Fui lá pra fora um pouco, a noite está agradável. — respondi e desviei os olhos.

— Pode abrir a boca! O que houve? — tão mandona!

— Jacob veio falar comigo... Me chamou pra dançar e pediu que eu esperasse até que a música certa tocasse... Ele virá até mim.


A expressão de minha irmã, antes séria, tornou-se preocupada. Eu odiava quando ela vinha com sua proteção exagerada, mas a entendia. Sua mão foi até seu cabelo liso e castanho, um pouco mais claros que os meus. Claro sinal de preocupação extrema.


— Bella, já te falei que esse cara não presta, mas acho que só vai acreditar quando ele te fizer algo... — sua voz era angustiada — Não vou impedi-la de dançar e viver sua vida e nem usarei a frase "eu te avisei", mas peço que tome cuidado, não se magoe deliberadamente.

— Há quanto tempo venho suspirando por ele em silêncio? Você sabe que o amo e ansiei por esse momento, não vou desperdiçá-lo agora... Ele foi tão fofo... É impossível que seja como dizem; você não o viu falando comigo...

— Tudo bem, meu amor, não falarei mais nada. — ela sorriu forçadamente e me afastei, deixando-a voltar para suas amigas.


Instantes se passaram e acordes suaves invadiram o ambiente. Meu estômago revirou. Seria aquela a música perfeita? Varri o salão, meus olhos passando por cada rosto, mas sem encontrar o único que fazia minhas pernas bambearem. Casais dançavam abraçados e distingui Bree por entre as pessoas; ela dançava com Quil Ateara e eu jurava que eles tinham algo, mas ela sempre negava. Angela dançava com Ben, seu namorado, e Emily estava com um rapaz que eu não conhecia. Talvez fosse novo na cidade... Desisti de esperar por Jacob, aquela não era nossa música...


Mais músicas tocaram. Eu já tinha perdido as esperanças e havia dado o bolo de Jacob como certo, então ouvi os acordes de She e o vi aproximar-se de mim, uma rosa em sua mão e seu lindo sorriso no rosto. Ele me estendeu a rosa, que foi pega por minha mão trêmula e me puxou para o meio da pista de dança. Todos haviam se afastado, deixando-nos sozinhos ali. Apesar da vergonha, não me importei muito, afinal eu estava com meu príncipe encantado.


Nos movíamos devagar, no ritmo da música. Pela proximidade de nossos corpos, pude notar que o seu era rijo e tremi quando ele pegou minha mão e a apertou junto ao peito, fazendo com que eu sentisse sob a palma de minha mão seus batimentos cardíacos acelerados. Os meus estavam da mesma forma. Ele sorriu, fazendo com que duas covinhas aparecessem em cada lado de sua face, seus lábios cheios me eram convidativos e quase fiz a besteira de beijá-lo. Desviei meus olhos e ouvi sua risada baixa.


— Pode me beijar, eu também quero isso. — disse ele, no meu ouvido.


Não o beijei, minha coragem não chegava a tanto... Fechei meus olhos e me deixei levar pela música suave. Ele me apertou mais de encontro a seu corpo e senti seu hálito próximo ao meu rosto. Tremi em antecipação. Ele me beijaria. Seus lábios roçaram os meus de leve e abri os olhos, vendo que os dele estavam fechados. Tornei a fechar meus olhos e senti sua língua pedir passagem por entre meus lábios. Cedi ao beijo com um pouco de vergonha inicialmente, mas depois me deixei envolver pelas sensações e correspondi.


Cedo demais ele se afastou e afundei a cabeça no vão do seu pescoço, a vergonha me tomando por completo. Como Bree pudera pensar mal de um cara como Jacob? Pensei, um pouco antes de senti-lo se afastar.


— Desculpe Isabella...


Não entendi suas palavras e o vi se afastar, de costas para mim. Minhas pernas pareciam pesar toneladas e não consegui sair do lugar. Uma luz muito forte me iluminou e antes que eu pudesse pensar, coisas começaram a cair sobre mim e ouvi gritos, risadas e palmas por todo o salão. Tentei pensar e foquei meus olhos, vendo que o que continuava a cair sobre mim era comida. Os gritos de "porquinha" e "oinc oinc" invadiram meus ouvidos, deixando-me atordoada. Senti-me num filme de terror.


Seis mãos seguraram-me e me arrastaram dali. Os gritos, as gargalhadas e as palmas continuaram e eu só conseguia chorar. A vergonha, a humilhação... Por quê? Era mesmo necessário que ele fizesse aquilo? Magoar e humilhar-me por causa de... Nada? Jacob Black era um ser desprezível... Só o que eu sentia por ele era ódio. Bree sempre tivera razão e tentara me alertar por tantas vezes! Como fui burra! Burra, burra, burra! Uma completa idiota...


— Bells, vamos pra casa de Angela, ok? Vou avisar à mamãe e dizer que amanhã teremos um dia de garotas e começaremos cedo e por isso dormiremos lá.


Ouvi minha irmã falar, mas não esbocei qualquer reação, a não ser a tremedeira em meu corpo e o choro incessante.


Fui posta no carro de minha irmã e ela sentou-se a meu lado, entregando a chave à Angela, que estava acompanhada por Emily. Tudo a minha volta não me importava, eu só queria esquecer tudo aquilo. Eu estava toda suja, grudenta e com uma enorme vontade de morrer. Fui abraçada por Bree e me deixei chorar mais.


— Venha, Bella. — minha irmã falou e só então me dei conta que estávamos paradas na garagem da casa de Angela.


Mais uma vez fui puxada pra fora e me deixei ser levada para dentro. Tudo estava silencioso e seguimos direto para o andar superior, para o quarto de Angela, provavelmente.


— Vamos, vou te ajudar com o banho. — disse Bree, me levando ao banheiro — Ang, pode me emprestar uma daquelas blusas de Ben? Ela não pode ficar desse jeito.


Depois que escutei isso foi que lembrei que Angela morava sozinha e agradeci por isso... Eu teria menos pessoas pra ter que dar explicações e pra sentir pena de mim. Deixei que Bree me desse banho, me enxugasse e vestisse. As meninas ficaram do lado de fora, mas sempre perguntando como eu estava e se precisava de algo. Creio que meu estoque de lágrimas tenham se esgotado por completo naquela noite e isso não era um bom sinal; pessoas que não têm sentimentos nunca me atraíram. Eu não queria me tornar uma pessoa amarga.


Encontrei dois pares de olhos me fitando com preocupação, não havia pena, o que me deixou aliviada. Angela me levou até sua cama, enquanto Bree foi ligar pra mamãe.


— Emily pegue água pra Bella. — disse Angela — Quer mais alguma coisa? Sente-se mal? — ela me perguntou e apenas neguei com a cabeça.

— Pronto, já falei com mamãe e poderemos ficar um tempo por aqui, até que esteja melhor. — minha irmã disse e sentou ao meu lado, me abraçando.


Eu sabia que ela sentia-se culpada pelo que aconteceu, por ter quase posto uma arma em minha cabeça e ter me obrigado a sair de casa, mas a culpa não era dela e sim minha, por ser tão idiota e acreditar naquele ser desprezível.


— Desculpe-me pelo que fiz... Se não a tivesse quase obrigado a sair, não teria passado por isso. — eu sabia como ela estava... Conhecia Bree como a mim mesma.

— Não se desculpe. Fui ao baile porque quis; me achei bonita e acreditei que alguém me notaria... É. Muitas pessoas me notaram! — falei, ironicamente.


Emily voltou e me estendeu o copo com água, que bebi quase num gole só. Ela sentou-se no chão, a expressão nula. Uma estranha sensação tomou conta de mim...


— Você É bonita e não foi só por estar maquiada, ela apenas te mostrou o que você faz questão de não ver. — disse Emily.

— Ela tem razão, Bella. Não deixe que Jacob destrua seus bons sentimentos e sua autoestima. Você é bonita sim. — Angela tentou me animar.

— Pra quem tem um corpo perfeito é fácil falar... Esse papo de beleza interior é coisa de decorador, Angela. Sempre fui gorda e sem graça, Jacob só me mostrou o que sou de fato. — minha voz não tinha sentimento algum e me espantei.

— Ninguém é perfeito, Bella. Sou magra, mas não enxergo e se não fossem meus óculos me estabacaria a todo instante, meu nariz é meio torto e acho que sou orelhuda. — Angela falou e acabei sorrindo.

— É verdade, todos têm defeitos... Tenho um seio maior que o outro... Mas ninguém ouviu isso. Ok? — Emily confidenciou e todas rimos.

— Bom, não tenho nada pra falar, sou o ser mais perfeito que Deus criou e pôs nesse mundo! — minha irmã era tão engraçada!


Nós a olhamos meio torto, e ela fingiu que não era com ela, fez cara de paisagem e vi Emily esboçar um sorriso.


— Rá! Ser perfeito? E seu dedo do pé que é grudado? E sua perna fina? Seu nariz também é meio torto, sem contar que só tem esse sorriso bonito por ter sido torturada pelo uso de aparelho. Faça-me o favor!


Nossa! Passei tanto tempo imersa em meus problemas que havia esquecido completamente que Bree tinha esses pequenos defeitos... Mas eram tão insignificantes... Quem se preocupa em olhar o pé de alguém? Quem para pra analisar se o nariz de alguém é torto ou não? Ninguém faz isso, mas em uma pessoa gorda como eu, tudo chama a atenção...


— Ok, acabou esse papo! Estou roxa de fome, alguém topa um ataque à geladeira? — minha irmã estava fugindo da conversa.


As meninas aceitaram e foram tomar um banho antes de descerem, mas eu queria pensar um pouco antes de dormir. Me ajeitei na enorme cama king size de Angela e deixei espaço pra elas, que disseram que dormiriam ali, todas juntas. Meus olhos pesavam, mas eu queria encontrar uma solução pra mim, eu queria acreditar no que elas me disseram... Mas era impossível! Como acreditar se me sentia humilhada? Sentia-me a menor das mulheres, o mais insignificante dos seres, asquerosa em minha aparência desleixada que, por mais que eu tentasse, jamais se assemelharia à postura esbelta das demais garotas que cercavam minha até então paixão. Mas eu descobrira da pior forma de que a mim não é permitido ao menos sonhar, aquelas pessoas cruéis as quais nada fiz pra provocar me fizeram enxergar meu devido lugar, minha verdadeira condição. Eu jamais seria amada e desejada como toda mulher merecia ser. Por que no fim, o amor realmente não importava quando se tinha um corpo como o meu numa sociedade de corpos perfeitos.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso aí!
Espero que gostem e comentem
Bjks e até o próximo.