A Pedra Vermelha escrita por Cambs


Capítulo 3
II. Entrega




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— Srta. Moonthrough? — a mulher chamou.

— Ah, sim, entre — Lyra deu passagem, ainda surpresa pelo assunto que teria a seguir. Ninguém sabia sobre a joia. — Vamos até a sala de estar.

A morena levou a ruiva até a sala de estar, apontou para um dos sofás e cada uma passou a sentar em frente à outra.

— Onde está minha educação? Meu nome é Tryna — a mulher sorriu mais uma vez.

— Acho que já sabe meu nome.

— Claro — o sorriso permaneceu ali. — Bem, Srta. Moonthrough...

— Lyra. Pode me chamar de Lyra.

— Certo. Bem Lyra, deve ter sido estranho me ouvir falar sobre o colar. Como vou explicar? Certo, primeiramente acho que posso dizer que estava lá quando as joias foram feitas...

— Você estava lá quando as joias foram feitas? — Lyra interrompeu Tryna — Mas isso não foi há, sei lá, milênios atrás?

— De fato. Três milênios atrás para ser exata.

— E você estava viva há três mil anos atrás? — Lyra não escondeu o ceticismo na voz. Ela poderia ter um colar feito pela própria Morte, poderia conversar com ela, mas não acreditava que a ruiva na frente dela tinha mais que quarenta anos.

— Estava — o sorriso da mulher mostrava diversão.

— O que você é? Uma vampira? — a garota cruzou os braços.

— Sou o que vocês humanos chamariam de Assistente.

— Assistente? Do que ou de quem exatamente?

— Da Morte — Tryna reprimiu um suspiro — Sou a Assistente da Morte.

— Assistente da Morte... — Lyra fez uma pausa rápida — É necessário ter o segundo grau completo, tem carteira assinada e um bom salário?

— Agradeceria se a senhorita acreditasse na situação.

— Certo... Então Senhora Assistente De Tânato, qual é o motivo de sua vinda até aqui?

— Você a o chama de Tânato — Tryna sorriu de novo. — Ele já mandou chamá-lo de Morte e não de Tânato?

— Já, mas segundo ele eu sou muito teimosa.

— Eu sei sobre teimosia, ele também é, acredite.

— Não existe uma maneira de Tânato estar ouvindo isso, não é?

— Creio que não. Acredito que ele esteja ocupado demais com um genocídio para nos ouvir — o modo que Tryna pronunciou a frase fez parecer que aquilo era algo extremamente óbvio. Claro, pensou Lyra, genocídios acontecem todos os dias. Coisa básica. — Você conhece a história das cinco joias, certo?

— Com história você quer dizer por que foram feitas? — Lyra suspirou — Se for isso sim.

— E sabe por que você é o receptáculo de uma das joias?

Lyra lembrou-se da vez que questionou Tânato sobre o porquê de as joias terem sido separadas. Segundo Tânato, durante os primeiros milênios as joias ficaram em perfeita segurança, mas há cerca de trinta anos atrás, um dos servos de Tânato, cego e obcecado com a possibilidade da imortalidade, roubou os cinco objetos e fugiu. Porém, se as joias ficassem com uma pessoa sem a permissão de Tânato, esta pessoa iria perder sua força vital, com a quantidade se esvaindo de acordo com o tempo que as possuísse. Depois de conseguir recuperar as joias, Tânato decidiu escolher cinco crianças ao redor do mundo para protegê-las até o dia da reunião.

— Sei.

A porta da frente se abriu e Carfax e Allan entraram dando risada.

— Por que eu acreditei quando Carfax disse que vocês iam demorar? — Lyra atraiu a atenção dos dois.

— É uma boa pergunta — Allan olhou para o sofá em que Tryna se encontrava. — Olá Tryna.

— Tryna? — Carfax sorriu e caminhou até o lado de Allan. A ruiva levantou-se do sofá e recebeu o abraço de Carfax e o aperto de mão de Allan, enquanto Lyra encarava a cena em silêncio.

— Vocês cresceram — Tryna sorriu. Allan fez um sinal indicando que ela sentasse novamente e juntamente com Carfax sentou-se ao lado de Lyra.

— Você continua a mesma — Allan olhou para Lyra, fez uma pausa na garota e voltou a olhar para a ruiva. — Já estamos nas explicações?

— Já. Foi decidido que já está na hora.

— Então vocês se conhecem. Legal — Lyra resolveu falar.

— Somos velhos conhecidos — Carfax brincou com seus dedos, sem olhar para ninguém especificamente.

— Vai me dizer que vocês também têm mais de três mil anos?

— Não temos três mil anos — Allan disse. — Uns mil talvez, mas três não — Lyra olhou para ele, não sabendo se acreditava ou não. Allan riu. — Estou brincando.

— Lyra, você sabe o que tem que fazer com a joia? — Tryna perguntou.

— Sei — a garota suspirou.

— Ótimo, então acredito que não tenho nada mais para falar — Tryna levantou-se. — Dentro de cinco dias, os outros quatro receptáculos, entregadoras e guardiões deverão se reunir na casa do receptáculo mais jovem, que no caso será você, e depois que todos estiverem reunidos eu voltarei com as informações seguintes.

— Como vamos reconhecê-los? — Carfax perguntou.

— Uma joia sempre reconhecerá outra — Tryna apontou para o colar. — Eu tenho que ir agora, estamos com problemas.

— Que tipo de problemas? — Allan quis saber.

— Problemas antigos — Tryna sorriu de canto. — Foi um prazer conhecê-la Lyra.

A garota maneou a cabeça em um sinal positivo enquanto Allan levantava. Carfax despediu-se de Tryna e o loiro fez a gentileza de acompanhar a ruiva até a porta.

— Querem comer alguma coisa? — Lyra levantou depois que Allan voltou.

— Já jantamos — ele deu de ombros.

— Ly, você está bem? — Carfax perguntou.

— Estou — Lyra caminhou até a cozinha e encontrou sua lasanha praticamente intocada em cima do balcão. Ela recolocou a comida no forno de microondas e procurou um refrigerante na geladeira.

— Não fique furiosa.

Lyra parou de analisar a geladeira para encarar Allan encostado na porta de braços cruzados.

— Não estou furiosa.

— Mas está chateada.

— Eu estou com fome — Lyra pegou uma lata de refrigerante e bateu a porta da geladeira. Enquanto ia até o forno de microondas, ela viu o olhar cético de Allan. — Você poderia ter me dito que sabia sobre o colar.

— Eu tentei, mas toda vez que ia falar com você sobre isso acontecia alguma coisa e você quase morria. Não sei se é coincidência ou não, mas era perigoso. Assim como você e Carfax eu também tenho uma missão. Eu sou o Vormund.

Lyra suspirou e distraiu-se com a lasanha requentada enquanto pensava em uma resposta. Ela sabia do que Allan estava falando. Eram as suas Experiências de Quase Morte.

Vormund é alemão, certo? — ela resolveu dizer. — Significa ‘guardião’ — Allan confirmou com a cabeça. — Então você é o Vormund, o guardião.

— Carfax é a Lieferung, a entrega e você é a Behälter, o recipiente. Assim como Carfax, que é a entregadora e não a entrega, você é o receptáculo e não o recipiente.

— O seu trabalho básico é nos defender e provavelmente evitar que entremos em confusão, certo?

— Certo — ele arqueou a sobrancelha vendo Lyra sorrir. — Por quê?

— Acho que posso tentar colaborar com seu serviço.


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