A Pedra Vermelha escrita por Cambs


Capítulo 4
III. Duendes




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/217812/chapter/4

— Como vamos achar os outros aqui ou saber se eles realmente chegaram? — Lyra perguntou enquanto encarava o vai e vem de pessoas no aeroporto.

A noite anterior servira para que os sete quartos de hóspedes da casa de Lyra fossem arrumados para receber os visitantes. O número de quartos gerou uma discussão entre os três já que eram esperadas mais de dez pessoas. E também pelo fato de Lyra ter se irritado e começar a dizer que iria colocar uma placa do lado de fora da casa escrito “Moonthrough’s Hotel”.

— Tryna disse que a joia irá avisar quando outra aparecer — Allan disse.

— Mas não é Tryna quem tem que ficar no aeroporto esperando pessoas que ela não conhece chegarem — Lyra revidou. Ela ainda estava irritada, talvez porque Allan a tinha feito levantar antes das nove da manhã para ir até o aeroporto.

— Tryna poderia ter nos dado uma foto pelo menos — Carfax suspirou.

O colar chamou a atenção de Lyra assim que começou a ficar frio sem nenhum motivo específico para isso. Ela tocou o objeto e sentiu que a cada segundo que passava a temperatura ia caindo cada vez mais, como a água passando pelo processo de fusão.

— O que foi? — Carfax perguntou assim que Lyra retirou a ponta dos dedos do colar, que já estava tão gelado que queimava. Exatamente como o gelo. Lyra deixou o colar cair por cima da regata marrom tentando evitar o contato do pingente com a pele.

— Acho que o colar está anunciando que há outra joia por perto — Allan disse.

Depois de encarar Allan com escárnio, Lyra olhou para toda a área de desembarque do aeroporto. Ela procurou alguém que talvez fosse outro receptáculo de Tânato, mas não achou ninguém que lhe parecesse particularmente apropriado. A maioria das pessoas que estavam ali já tinha passado da casa dos trinta e estavam ocupadas procurando parentes ou abraçando e rindo com alguns. Mas ela não sabia absolutamente nada sobre os outros receptáculos.

— Uma foto agora seria realmente bom.

— Lyra, olhe ali — Carfax apontou com o queixo para uma garota parcialmente perto deles. A garota tinha os cabelos castanhos e bonitos olhos verdes, a pele era clara, os lábios eram volumosos e o rosto arredondado carregava traços delicados, mas o que realmente chamou a atenção de Lyra foi o brilho discreto da tornozeleira que a garota usava.

— A tornozeleira parece estar incomodando — ela comentou. A garota falava apressada com duas pessoas, uma mulher e um homem, e gesticulava para a tornozeleira, por duas vezes desceu a mão até a joia como se fosse coçar ou simplesmente arrancar o objeto dali.

— Como vamos fazer para saber se é mesmo ela? — Carfax perguntou colocando uma mão na cintura. — Vamos chegar lá e perguntar se ela ganhou aquela tornozeleira da Morte?

Lyra e Allan se entreolharam.

— Tem alguma ideia melhor? — Lyra cruzou os braços.

— Ela está olhando para nós — Allan informou. Carfax e Lyra olharam para a garota confirmando o que Allan dissera. Os dedos finos de Lyra voltaram para o colar, que continuava com a temperatura glacial enquanto a garota balançava a perna em que a tornozeleira estava.

— Tenho quase certeza que é ela — Lyra disse depois de alguns segundos. — Vamos lá falar com a garota.

— Não será preciso — Allan disse fazendo a morena olhar para cima. A garota dos lábios cheios agora andava na direção deles acompanhada, pelas duas pessoas de antes.

— Com licença — ela sorriu assim que se aproximou. — Você é a Lyra Moon...?

— Moonthrough — Lyra disse. Já estava acostumada com coisas assim, mesmo que seu sobrenome não seja exatamente difícil. — Como sabe quem sou?

— Tryna nos informou — o homem respondeu lançando um olhar desconfiado para Lyra, Carfax e Allan.

— É claro que ela informou — Lyra murmurou passando a gostar cada vez menos da assistente.

— Eu sou Evelyn, este é Aaron e esta é Amara — Evelyn apresentou. Lyra ponderou por um segundo que Aaron e Amara fossem irmãos, mas desistiu da ideia. Aaron era alto e magro, com cabelos castanhos claros bagunçados e olhos azuis cinzentos. Já Amara não era tão alta e tinha seus volumes, os olhos eram de um azul vívido e os cabelos castanhos iam em ondas até o meio das costas. Pareciam irmãos, mas muito provavelmente não eram.

— Lyra, Carfax e Allan.

Lyra inconscientemente levou a ponta dos dedos para o colar novamente e franziu a testa quando percebeu que a temperatura do objeto tinha voltado ao normal.

— Você é o receptáculo? — Aaron perguntou.

— Sou — Lyra arqueou uma sobrancelha. — E você seria o guardião? — Aaron pareceu surpreso com a descoberta de Lyra, o que fez com que a garota sorrisse. — Você olhou para nós três com desconfiança e mesmo agora falando conosco está prestando atenção ao redor.

Um início de sorriso surgiu nos lábios de Aaron enquanto Evelyn passava a mão por seu vestido florido na região da barriga.

— Onde podemos comer por aqui? — ela perguntou.

— Eu conheço um ótimo lugar — Carfax sorriu para Allan.

— Deveríamos ficar ao menos dentro do perímetro caso os outros cheguem — Allan disse fazendo Carfax revirar os olhos.

— A joia irá avisar quando outra aparecer — Lyra jogou a frase contra Allan, que quando percebeu franziu os lábios fazendo uma careta. — Quem sabe dessa vez o colar não solta a gravação.

— Que gravação? — Carfax e Evelyn perguntaram em uníssono.

“Nova joia encontrada, vire setenta graus à direita.” — Lyra tentou imitar uma voz eletrônica e fez Carfax, Evelyn e Amara darem risada.

— Ela costuma brincar desse jeito com coisas sérias? — Aaron perguntou para Allan.

— Você ainda não viu nada — Allan respondeu.

— Ora Aaron, não comece — Amara revirou os olhos.

Como se fossem as melhores amigas desde o primário, Carfax e Evelyn deram-se os braços e junto de Amara começaram a caminhar para a área externa do aeroporto. Allan e Aaron foram logo em seguida e Lyra deu mais uma olhada ao redor antes de segui-los, apressando o passo para ficar entre os dois guardiões.

— Você sabe que alguém vai ter que ficar.

— E você vai se candidatar? — Allan arqueou uma sobrancelha.

— Você quer que Carfax fique então? Ou vai me deixar dirigir?

Allan parou de andar para encarar a garota. Ele teria que escolher entre deixar Lyra ou Carfax sem proteção, porque agora que o primeiro receptáculo chegou os perigos já podem começar a acontecer. Lyra não iria entender o problema dele.

— Vamos todos — Allan suspirou.

— E se mais algum receptáculo chegar e não tiver nenhum de nós aqui? Não cabem seis pessoas no seu carro. Ou você quer que eu sente no colo de Aaron? — Lyra cruzou os braços evitando olhar para Aaron, que arqueara a sobrancelha ao ouvir o que ela dissera. Não seria exatamente um sacrifício.

— Lyra... — Allan agora passava a mão nos cabelos pensando em algo que fizesse a garota entender que era perigoso ficar ali sem ninguém. Ok era bastante improvável algo aparecer ali para causar algum dano a ela, mas Allan sempre se apegava ao 1% de possíveis problemas.

— Você não pode ficar aqui sozinha — Aaron resolveu ajudar. — É perigoso.

— É um aeroporto! — Lyra exclamou fazendo um casal virar a cabeça em sua direção. — O que pode acontecer? Eu ser pisoteada por um trasgo?

Allan e Aaron se entreolharam como se aquilo fosse, de fato, possível. Lyra bufou alto e passou a mão pelos cabelos presos no rabo de cavalo.

— Eu tenho um celular e se eu avistar algo suspeito eu te ligo.

Allan ponderou por um segundo. Era uma boa ideia, mas ele sabia que teria que tirar algum juramento de Lyra.

— Prometa — ele disse e Lyra estreitou os olhos.

— Não confia em mim?

Allan respirou fundo prevendo que Lyra começaria com o melodrama. Ele realmente odiava quando ela era melodramática.

— Prometa — ele repetiu.

— Ok, ok... Eu prometo — Lyra rolou os olhos. Allan a encarou e ela resfolegou jogando as mãos para o alto em sinal de desistência. — Juro pela minha coleção de livros que te ligo.

Enquanto Aaron ficava confuso com a fala da garota, Allan suspirava até mais aliviado. Lyra tinha um amor imenso por seus livros, era igual a ele com o carro.

— Eu volto — ele virou as costas e recomeçou a andar. Aaron olhou para Lyra e lançou-lhe um sinal com a cabeça antes de seguir Allan. Ela aguardou até que os dois saíssem e retornou com passos lentos para a área de desembarque.

A viagem da casa até o aeroporto durava meia hora, quarenta minutos no máximo. Como Evelyn estava com fome, Carfax provavelmente obrigaria Allan a parar em algum restaurante. Então, Lyra calculava que teria cerca de uma hora sem Allan por perto.

O tempo foi passando. Cinco minutos... Dez minutos... Vinte minutos... E nada aconteceu. Foi só na marca de vinte e cinco minutos depois que alguma coisa realmente começou a acontecer.

Havia um anão que passava completamente despercebido pelas pessoas, como se fosse invisível. O anão tinha a pele morena, o rosto fino com algumas cicatrizes e traços fortes, o nariz e as orelhas eram extremamente pontudos e ele usava uma roupa verde que lembrava as vestes de um duende de Papai Noel. Ele olhou para Lyra e ela desviou o olhar, o que realmente incomodava a garota era que o colar voltara a ficar com a temperatura glacial. Ela resolveu levantar os olhos e franziu a testa quando vira que o anão tinha sumido. Lyra olhou para toda a área procurando pelo misterioso anão, ela o encontrou caminhando calmamente para a área de alimentação.

“Lyra, o que foi?” — Allan atendeu no segundo toque.

— É geneticamente possível um anão ter orelhas e nariz pontudos? — ela perguntou começando a seguir o anão.

“Acho que sim. Saiba que isso me pareceu um elfo” — ele riu.

— Bem, então acho que estou vendo um elfo passeando pelo aeroporto — Lyra suspirou esperando as gargalhadas de Allan aparecerem.

“O que um elfo faz no aeroporto?”

— Voltando de viagem da Terra Média, quem sabe.

“Muito engraçado. Não faça nada, eu já estou indo.”

Lyra desligou o celular e o guardou no bolso da calça jeans. A temperatura do colar oscilou e voltou ao seu normal. Ela continuou o elfo até a área de alimentação, onde ele continuava a parecer invisível para as demais pessoas enquanto se dirigia à ala dos banheiros. O anão entrou no banheiro feminino e Lyra o seguiu, ficando surpresa com o fato de que o local estava vazio. Desde quando um banheiro feminino fica vazio? Principalmente com a quantidade razoável de pessoas embarcando e desembarcando.

Assim que ela passou pela porta, o elfo desaparecera. Lyra andou lentamente olhando por baixo das portas das repartições até voltar para a porta principal e encostar-se à parede perto dela. Teria imaginado o elfo? A resposta veio na forma de uma flecha que passou raspando pelo rosto de Lyra e atingiu a parede. Ela olhou para o objeto que ficara preso na parede.

— Ow! — foi tudo que ela disse.

— Vossa senhoria não irá conseguir o que desejas. Será melhor desistires antes que aplicadas sejam as consequências — o elfo apareceu empunhando um arco e flecha, mantendo-se perto da parede dos fundos.

— Do que você está falando?

— Em breve saberás. Confie em minhas palavras, desista — ele preparou uma flecha.

— Você me ataca com uma flecha, tem outra apontada para mim e quer que eu confie em você? Sem chance coleguinha duende.

O elfo lançou a flecha que por algum milagre acabou cortando uma mecha do cabelo de Lyra apenas. Ela correu para a primeira repartição e fechou a porta escondendo-se ali.

— Não és tão nobre quanto pensei que fostes! — o elfo elevou a voz.

— Como quer nobreza se estou desarmada?! — Lyra exclamou arrependendo-se segundos depois. Não sabia praticamente nada sobre lutas. Ela escutou algo tilintar contra o chão e abriu a porta devagar, tinha uma faca de cabo prateado jogada no chão em sua direção.

— Não estás mais desarmada — o elfo disse. Lyra viu que ele não empunhava mais o arco e flecha, agora em suas mãos pequenas e morenas estava uma adaga de cabo dourado. Ela suspirou e saiu lentamente indo pegar o objeto.

Lyra ainda não tinha terminado de fechar os dedos ao redor do objeto quando o elfo iniciou o ataque.

Com um pequeno corte nas costas e com um rasgo na regata, Lyra levantou a faca a tempo de bloquear a segunda investida do elfo. Ele pulou em cima dela e com seu peso a fez cair no chão. Com a faca ainda levantada, Lyra forçou o braço a ir para frente empurrando a adaga da criatura de orelhas pontudas, ele levou o braço para trás e depois o abaixou dando um golpe leve e causando um corte na bochecha da garota, com os olhos lacrimejando ela conseguiu empurrar o elfo para trás, deu-lhe uma rasteira e levantou. Ela lembrou-se de Allan soltando vários comentários sobre um filme que tinham assistido, adagas e Zhang Ziyi eram o principal comentário. Concentrou-se nas imagens de luta do filme e tentou usar tudo o que podia contra o elfo.

— O que é isso? — um garoto apareceu ali e tudo o que Lyra conseguiu ver foram os cabelos negros dele já que o elfo levantara.

— O banheiro feminino — ela respondeu erguendo o braço com a faca para defender-se do golpe do elfo. Deu-lhe um chute no estômago e caiu enquanto o elfo cambaleava.

— Jess! Anne! — o garoto revirou os olhos e gritou com a cabeça para fora da porta principal do banheiro. O elfo distraiu-se com o garoto e Lyra aproveitou para atacar causando um talho no braço direto do elfo, ele espelhou seu movimento e por uma questão de milímetros não acertou o colar.

— Meu colar não seu anão de jardim!

Lyra investiu contra o elfo, visivelmente irritada com a possibilidade de algo ter acontecido com o colar, e conseguiu fazer outro talho no braço dele, ele revidou e ela colocou a adaga na frente do corpo para defender-se.

— Você está bem? — o garoto de cabelos pretos retornara agora acompanhado por um homem de olhos azuis e uma garota ruiva.

— Melhor impossível — Lyra respondeu revirando os olhos mentalmente. Aquela era uma pergunta extremamente idiota para a situação.

— Você é um receptáculo? — o homem dos olhos azuis perguntou.

— Sou... E você seria um guardião?

Lyra admitiu para si mesma, que mesmo não sabendo praticamente nada sobre, ela estava até que se saindo bem lutando contra o elfo. E também admitiu para si mesma que era estranho o modo como ela já sabia quem era um receptáculo, ou um guardião ou uma entregadora. O elfo avançou e fez outro pequeno rasgo na regata de Lyra, a garota recuou pensando que tinha um novo corte na barriga, mas tudo o que tinha ali era um arranhão.

— Lyra! — Allan entrou ofegante no banheiro e parou quase pasmo ao lado do garoto de cabelos pretos.

— Ah, oi Allan — Lyra acabou olhando para ele, o que fez com que o elfo conseguisse derrubá-la. Ele ficou por cima dela e ela usou a faca para manter a adaga dele longe de sua garganta.

— Onde está seu guardião? — o homem de olhos azuis perguntou.

Lyra ofegou, mas não pela força que fazia para manter a adaga do elfo longe de sua garganta, mas sim pela ridicularidade da situação. Ninguém podia ajudá-la a acabar com o elfo? Como eles conseguiam agir com tanta calma enquanto ela estava ali quase morrendo?

— Estou aqui. Prazer, Allan.

— Jesse. Estes são... — Jesse foi interrompido por uma Lyra irritada.

— Não acha que podemos deixar as apresentações para depois?

Allan encarou Lyra enquanto Jesse se desculpava. Ele viu um brilho verde-água passar pela adaga do elfo e entendeu que aquele era um teste, o brilho verde-água era, segundo seus mini treinamentos anteriores com Tryna, a cor de qualquer coisa fora do normal relacionada à Tânato. Era o teste inicial de Lyra e mais ninguém poderia interferir. Lyra conseguiu colocar um pé na barriga do elfo e o empurrou para trás conseguindo ficar de pé, suas costas doíam e ela percebeu que era por causa do corte que tinha ali, não grande e nem profundo, mas doía.

— Acerte-o no coração — Allan disse. Algumas dicas não poderiam ser tão ruins assim.

Lado esquerdo. Anatomia básica Lyra. Ela pensou esperando o elfo se aproximar. Desejou que a anatomia física de um elfo fosse igual à de um humano e quando o elfo estava perto o bastante ela atacou. Assim que a faca atingiu o coração do elfo, a pressão do ar ao redor dos dois mudou e segundos depois a criatura de orelhas pontudas explodiu um uma poeira verde esmeralda e criou um fluxo de ar que lançou Lyra com força para trás, ela teria batido as costas contra a parede se o garoto dos cabelos escuros não tivesse sido mais rápido e tivesse pegado a tempo.

— Você está bem? — a garota ruiva perguntou enquanto Allan se ajoelhava ao lado de Lyra.

Um corte nas costas, um corte na bochecha, um arranhão na barriga e uma mecha de cabelo cortada. Fora o que Allan conseguiu ver.

— Estou, obrigada — Lyra respondeu e levou a mão até a cabeça. — Aquilo era um elfo?

— Era... Tem certeza de que está bem? — Jesse disse.

— E você me disse que eu nunca ia conseguir um Legolas! — Lyra acusou Allan.

— É, ela está bem — Allan riu e levantou limpando a calça. — O que aprendemos hoje?

— Que nunca se deve chamar um elfo de duende.

— Você é a Lyra, certo? — Jesse perguntou, ele sorriu com a piada dela.

— Certo — Lyra sorriu rapidamente antes de se lembrar que ainda estava em cima do garoto de cabelos escuros. — Ah me desculpe, você está bem?

— Está tudo bem — ele aceitou a mão de Lyra para se levantar. Ele aproveitou para se apresentar. — Derek DiPiano.

— Lyra Moonthrough. Você é um receptáculo?

— Exato — Derek sorriu. — Estes são Jesse — ele apontou para o homem de olhos azuis — e esta é Annelyse.

— É um prazer — Lyra sorriu e tirou os cabelos suados da testa com as costas da mão. Ela finalmente reparou nos três.

Derek tinha os cabelos escuros grandes o bastante para poder enroscar os dedos entre os fios, os olhos eram castanhos enfeitados por escuros cílios longos, a pele era clara e ele era magro, o rosto era bem acentuado e o queixo era forte. Jesse era mais alto que Derek, mais forte e um pouco mais bronzeado, os olhos eram azuis e os cabelos castanho-avermelhados iam até abaixo do queixo onde se encontrava com uma barba rala. Entre Derek e Jesse, Annelyse era a parte suave e delicada dos três, os cabelos ruivos iam até pouco abaixo dos ombros, os olhos eram azuis e a pela branca, o rosto tinha traços leves e transmitiam suavidade.

— Já deixou os outros em casa?

— Já, e a propósito você vai pagar a minha multa.

— Não vou discutir. Vamos fazer o mesmo esquema — Lyra parou em frente ao espelho, começando a limpar a pequena linha de sangue em sua bochecha.

— Eu não vou deixar você aqui sozinha outra vez.

Allan e Lyra se encararam e por mais que quisesse continuar com o plano original ela sabia que Allan tinha razão. O que aconteceria da próxima vez em que ela ficasse sozinha ali? Ela virou a cabeça tentando esconder o sorriso lembrando-se de ter dito para Aaron que era apenas um aeroporto. Sua bochecha, costas e cabelo que o digam.

— Eu posso ficar com ela se for esse o problema — Derek disse.

Lyra virou a cabeça na direção de Derek surpresa, ela e Allan se entreolharam e ele suspirou.

— Está bem. Vamos.


— Obrigada por ter me segurado lá no banheiro e por ter ficado aqui comigo — Lyra disse encarando a superfície de sua lata de refrigerante.

— Não foi nada — Derek sorriu e tomou um gole do milk-shake de morango. — Então, como é ficar com a joia o tempo inteiro?

— É normal, nada de diferente — ela deu de ombros. — Você não fica com sua joia?

— Normalmente ela fica guardada, ou então Anne a usa — Derek olhou para a expressão confusa de Lyra e riu antes de levar a boca ao canudo. — Minha joia é o par de brincos.

— E eles não combinam com seus olhos. Entendi.

Lyra e Derek riram e ela resistiu ao impulso de levar a mão à bochecha que já estava dolorida.

— Acho que não tem uma enfermaria por aqui — ele olhou ao redor.

— Não precisa, eu me cuido quando chegar em casa.

— Nada disso, vamos você liga para Allan quando chegarmos lá, pegamos um táxi — Derek levantou e Lyra puxou um de seus dedos.

— Derek...

— Você é teimosa assim mesmo?

Lyra sorriu e confirmou com a cabeça enquanto Derek sentava novamente e suspirava. Ele encarou a garota rindo da expressão dele até que ela parou e respirou fundo.

— Vamos, ao menos, esperar Allan chegar está bem? — ela perguntou.

— Acho que você ganhou essa.

Eles conversaram um pouco enquanto esperavam Allan chegar, depois de meia hora de espera o loiro apareceu e eles fizeram uma solução rápida. Lyra e Derek iam até o hospital de táxi e Allan ficaria ali esperando mais alguém chegar. Depois de insistir muito Derek pagou a corrida até o hospital e acompanhou Lyra enquanto uma enfermeira limpava os cortes, deixando uma gaze na bochecha como curativo e dando dois pontos no corte das costas.

— Feliz agora? — Lyra perguntou enquanto entrava no táxi para voltar até o aeroporto. Derek apenas sorriu e sentou-se ao lado dela. Os dois permaneceram em silêncio enquanto ela sentia as dores vindas dos machucados, até que ela resolveu falar, com o rosto virado para a janela. — Você é muito gentil, Derek... Obrigada, outra vez.

— Obrigada e... Não há de quê — ele sorriu. Derek resolveu olhar para as ruas da cidade até o aeroporto analisando a beleza do local. No meio do caminho Allan ligou avisando que encerrariam por hoje e que era melhor voltar para casa. Lyra deu o endereço ao taxista e assim que chegou e fez Derek ficar confortável, ela subiu as escadas, tomou um banho e enquanto se enrolava no edredom decidiu que teria alguma espécie de treinamento com Allan, pois o combate com o elfo a causara machucados e muito cansaço.

— Pode ser com Aaron ou Jesse também, não tem problema — murmurou antes de adormecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!