A Pedra Vermelha escrita por Cambs


Capítulo 2
I. Inícios


Notas iniciais do capítulo

Hello.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/217812/chapter/2

Dez Anos Depois

Ela cerrou os olhos tentando concentrar-se na leitura, mas assim que eles encontraram a linha ela desistiu e suspirou enquanto levantava da cama. Com a música alta martelando em seus ouvidos, desceu as escadas e encontrou Carfax tirando pó dos móveis da sala, ela revirou os olhos, aquilo era ruim para a alergia da outra.

Hey! — falou por cima da música.

Oi — Carfax olhou para ela com os olhos azuis brilhando e sorriu.

Pode abaixar um pouco o volume da Madonna? Eu tenho prova.

Boa desculpa Lyra, mas estamos de férias e a recuperação já terminou — Carfax abaixou o volume do rádio e fitou Lyra.

Você sabe que eu nunca fiquei de recuperação e a prova é para o curso de literatura.

É sobre o que?

William Shakespeare.

É lindo, mas para estudá-lo...

Eu não acho — Lyra mordeu o lábio inferior, sendo pega por sua mania — Precisa de ajuda?

Não, qualquer coisa peço ao Allan quando ele...

Carfax não terminou de falar e Allan entrou pela porta do hall. Ele caminhou sorridente até a sala de estar com todo seus 1,85m, os cabelos cor de areia continuavam bagunçados, os olhos azuis transmitiam alegria e a pele bronzeada parecia brilhar.

Hey garotão, como vai? — Lyra o cumprimentou enquanto ele ia até o lado de Carfax. Carfax era mais baixa que Allan, os cabelos loiros eram, juntamente com os olhos azuis e a pele, mais claros. Ela também tinha os traços mais delicados e alguns até mesmo infantis que lhe davam uma aparência de bonequinha.

Bem Moony e você? — ele lançou-lhe um olhar travesso antes de dar um beijo em Carfax. Lyra riu sem humor e revirou os olhos, ela odiava esse apelido, que a fora dado por causa de seu sobrenome. Ok, o sobrenome de Allan é Skyscraper e ela não ficava por ai o chamando de Empire State.

Ficaria melhor se você parasse de me chamar de “Moony”.

Eu já abaixei a música, pode voltar a estudar — Carfax disse no exato momento em que Allan abriu a boca.

Allan saiu do lado de Carfax e parou à frente de Lyra, colocou as costas da mão direita no pescoço da garota e em seguida a palma da mesma mão em sua testa.

Não está com febre — ele declarou depois de alguns segundos.

E porque eu estaria com febre? — Lyra perguntou com uma das sobrancelhas arqueadas, vindo de Allan tudo era possível.

Você está estudando, tem certeza que não está doente?

Lyra levantou o dedo do meio enquanto Carfax ria.

Nossa você é tão engraçado Allan, eu estou com falta de ar de tanto rir — ela disse com a ironia soando alta.

Eu sei, muito obrigado — ele sorriu sarcástico e mandou beijos pelo ar antes de se jogar no sofá.

Vou voltar para Shakespeare antes que eu tenha que escutar mais alguma piada sua — Lyra foi para a escada que ficava mais ao fundo da sala de estar.

“Se quiseres suportar a vida...” — Allan disse.

“... fica pronto para aceitar a morte.” — Lyra completou subindo os degraus devagar. — Isso é Freud e não Shakespeare, mas não me surpreende que você não saiba disso.

Lyra desviou da almofada trabalhada que Allan jogou. Subiu até seu quarto, fechou a porta e se jogou na cama onde seus livros de literatura inglesa estavam abertos. Os raios de sol do fim de tarde que entravam pela sacada a atingiram e alguns reflexos vermelhos se espalharam pelo quarto, sentou-se na cama e analisou a pequena joia em seu pescoço.

Ela tinha aquele colar desde os sete anos de idade. Era uma história um tanto longa, mas lembrava bem de como e de quem o havia ganhado. Depois que a história do colar foi dita a ela, Lyra acreditou seriamente que estava louca ou que o homem que a tinha explicado estivesse drogado ou bêbado. Riu consigo mesma recordando da primeira visita que a Morte lhe fez, ou Tânato como ela o chamava. A possibilidade de conversar com a Morte e continuar viva era demais para uma garota de dez anos.

Lyra não sabia o motivo de ter sido escolhida para receber a joia, mas sabia que era melhor ficar calada sobre o assunto, a menos que desejasse ir para a ala psiquiátrica de algum hospital, o que fora exatamente o que a tia dissera no enterro de seu pai quando ela tinha falado que havia visto o homem de olhos prata e capa bonita andando junto com seu pai, logo após o caixão ter sido enterrado.

Ly, vou sair — Carfax apareceu no quarto fazendo Lyra ficar de pé em um salto.

Encontro com Allan? — a morena sorriu vendo a amiga usar o vestido rosa bebê de mangas curtas que havia dado.

Ficou tão óbvio assim? — Carfax sorriu e colocou uma mecha dos cabelos loiros atrás da orelha.

Sinceramente, esse seu ar de felicidade entregou tudo.

Não nos espere tá? Vamos passar em lugares diferentes.

Isso. Vão sair e me deem um momento de folga dessa pegação de vocês dois — Lyra levantou o dedão em sinal de positivo.

Também te adoro — Carfax riu fechando a porta.

Lyra escutou o salto alto de Carfax na escada e olhou para seus livros abertos e espalhados na cama.

Sra. Moritz que me desculpe — ela fechou os livros e desceu indo para a cozinha pintada de laranja pelo sol que entrava da grande janela aberta em cima da pia.

Você viu minhas chaves? — Allan apareceu tateando a calça jeans e quase ficando nervoso. Para Allan, qualquer acontecimento ruim em relação ao seu carro era sinônimo de desespero.

Ali — Lyra apontou para o balcão de mármore branco.

Obrigado — Allan sorriu e segurou as chaves com força, assegurando-se de que elas não iriam cair. Ele levantou os olhos e viu a expressão de espera de Lyra — Você não vai fazer aquele discurso outra vez, vai?

Está vendo, nunca mais tento ser uma boa amiga que diz que é para vocês tomarem cuidado — Lyra fez bico. Melodrama era uma das coisas que Allan não gostava nela.

Aposto que boas amigas dizem “Se algo ruim acontecer eu quebro isso que você chama de cara” — Allan encarou Lyra cético, mas tudo que ela fez foi mostra-lhe a língua antes de sorrir indiferente. Ele riu apertando as chaves novamente e virou-se em direção ao hall de entrada. — Até depois Moony.

É Lyra! — ela gritou pouco antes de Allan fechar a porta.

Lyra suspirou e caminhou até a sala de estar. Talvez devesse parar de ameaçar Allan, mas era o jeito particular dela de demonstrar seu afeto por ele e Carfax. Ela sentou-se em um dos sofás entediada e ligou a TV em um canal de culinária, deitou-se no sofá e só não chegou a dormir porque o gato de Allan, Ottis, pulou em cima dela.

Oi — ela disse levantando a cabeça para olhar para o gato, que agora passeava por sua perna. — Só se lembra de que existo depois que o dono sai, parece até algumas pessoas que conheço.

Assim que conseguiu alcançar o animal, Lyra coçou-lhe a orelha o fazendo ronronar e deitar a cabeça. Ottis pulou para o chão e afofou o tapete com as unhas antes de se esparramar com a barriga branca virada para cima e olhar para Lyra pedindo carinho.

Não te alcanço e não vou levantar — ela virou os olhos para a TV, observando o apresentador temperar um frango. Ottis miou fazendo Lyra revirar os olhos antes de suspirar e sentar no sofá — Gatinho manipulador folgado e preguiçoso.

Ela pegou Ottis no colo e saiu da casa indo sentar-se na varanda, o gato enrolou-se em seu colo enquanto ela passava a mão em seu pêlo enquanto olhava para a rua. Algumas crianças apostavam corrida de bicicleta enquanto as mais novas tinham uma pequena dificuldade para pedalar, alguns vizinhos conversavam entre si e outros olhavam as crianças assegurando-se de que nenhuma delas havia se machucado ainda. O bairro estava mais vazio já que a maioria dos vizinhos tinha ido viajar.

Depois que a noite caíra e os pernilongos começaram a ficar insuportáveis, Lyra entrou com Ottis e seguiu para a cozinha onde faria alguma coisa para sua janta. Ela decidiu voltar para a TV depois de ter escolhido uma daquelas lasanhas pré-prontas que só precisavam ir ao forno de microondas. Quando ela finalmente percebeu que Ottis havia sumido de sua vista também percebeu que a temperatura da sala havia ficado mais baixa, seus braços ficaram arrepiados e teve a agitação emocional de que alguma coisa iria acontecer, além de sentir receio de continuar ali.

Foi só depois de um minuto cronometrado que Tânato apareceu.

Olá Lyra.

Tânato era um homem — ou aparentava ser — de vinte e tantos anos. Ele mudava os cabelos e a cor dos olhos todas as vezes que visitava Lyra, às vezes os cabelos eram prateados ou totalmente negros, indo até os ombros, curtos e espetados ou no meio termo, já os olhos se alternavam entre prata e diferentes tons de azul. Hoje ele tinha resolvido aparecer com os cabelos prateados caindo em uma linha reta até os ombros e olhos azuis gelo, o contraste acontecia em sua pele branca perolada e as roupas pretas.

Olá Tânato — Lyra desligou a TV.

Sua teimosia é mesmo memorável. Creio que já pedi para não me chamar assim.

Eu acho mais bonitinho do que andar por ai te chamando de Morte, mas também posso te chamar de Anúbis se quiser.

Quero que me chame de Morte, porque esse é o certo e não desses desdobramentos de nomes que me atribuem.

Ok, decidiu aparecer aqui para termos uma longa e interessante discussão sobre os nomes que a humanidade lhe dá? Acho que você não tem o dia inteiro e algumas pessoas certamente não tem.

Começando pelo fato de não ser mais dia pra você — Tânato sorriu de canto. Passara a gostar de provocar Lyra desde que a garota tinha catorze anos.

Na Austrália provavelmente é dia. Lyra pensou enquanto engolia em seco a vontade de responder, ela não iria discutir com ele. O apito do forno de microondas soou avisando que a comida já estava pronta.

Quer lasanha? — ela perguntou enquanto passava direto por ele indo para a cozinha, Tânato riu baixo e a seguiu.

Está bem, vamos parar de enrolar — ele encostou-se no balcão de braços cruzados.

Quem está enrolando é você rapazinho — ela retirou a comida do eletrodoméstico com um pano de prato e levou até a pia, onde pegou um garfo e foi até o lado dele — O que faz aqui? Pelo o que eu saiba ainda não sofri nenhuma EQM.

Você ainda vai me ver mais vezes, mesmo sem ter sofrido uma EQM, mas eu vim aqui apenas para falar que sua missão finalmente irá começar.

Minha o que? — Lyra interrompeu o movimento de levar o garfo com lasanha à boca para encará-lo.

Antes que ele respondesse a campainha tocou e Lyra suspirou, largou o garfo e antes de ir para o hall de entrada apontou o dedo para Tânato.

Não fuja.

Ele apenas riu e trocou a posição dos braços os cruzando novamente enquanto Lyra caminhava. Assim que chegou à porta sentiu uma brisa fria atravessando o cômodo e olhou para trás xingando Tânato mentalmente por ter sumido.

Boa noite, estou procurando a Srta. Moonthrough — uma mulher sorriu assim que Lyra atendeu a porta. Lyra encarou a mulher adquirindo certa simpatia pela mesma já que ela era ruiva, aparentemente natural.

Sou eu — disse.

Lyra Moonthrough? — a mulher perguntou visivelmente surpresa. Lyra forçou um sorriso, parte da simpatia inicial já estava se esvaindo. — Não imaginei que seria tão nova. — a ruiva olhou para o pescoço da garota — Preciso falar-lhe, é sobre a joia.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Pedra Vermelha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.