Ele deixou a masmorra atordoado, aquele sonho não lhe saia da cabeça e ele estava com medo do que poderia encontrar no andar superior.  Será que aquilo fora um sinal? Quem eram aquelas pessoas afinal? Ele respirou fundo tentando se acalmar, ainda suava e sua respiração ainda estava descompassada.  Quando chegou ao último degrau da escada, ele colocou a mão na maçaneta com certo receio, muita coisa passava-se por sua cabeça, estava com medo do que poderia estar atrás daquela porta. Abriu-a lentamente e , para seu alivio, nada tinha ali, a casa estava como sempre, não havia rastros de sangue..fogo... Ele respirou aliviado e secou sua testa com a manga da camisa que usava. Olhou por um momento para a escada que levava ao segundo andar, estava com certo receio de subir até lá.  Mas e se Naomi estivesse la? Suspirou e subiu as escadas olhando sempre para baixo. Parou diante da porta do primeiro quarto e colocou a mão na maçaneta, deveria mesmo fazer aquilo? Ichiro fechou os olhos e a abriu de vagar, até o ranger da porta o assustava. A porta já aberta, ele tomava coragem para abrir os olhos, rezava mentalmente para que não encontrasse nada ali, mas ao mesmo tempo pedia que houvesse ao menos um vestígio de que Naomi ainda estava naquela casa, embora soubesse que não, pois estava tudo muito silencioso. Por que levaram só ela afinal? Por que o deixaram ali? Isso não importava naquele momento, nada mais importava, ele só queria ela de volta. Jurara protegê-la e o faria, mesmo que custasse sua própria vida. Abriu os olhos e respirou aliviado, nada de fogo nem de Naomi dizendo que ele havia a matado. Deu as costas para o quarto e desceu as escadas mais confiante em si, estava decidido a achá-la onde quer que fosse.

....

Os dois caminhavam pela madrugada a fora, o maior levava em seu braço uma pessoa desacordada, o menor lançava vez ou outra um olhar assustado ao mais velho. O vento gelado batia em seu rosto congelando sua face, ele puxou o zíper do casaco que usava até o final, estava cada vez mais frio. Colocou as mãos no bolso e olhou para os próprios pés, aquilo era a coisa certa a se fazer? Respirou fundo e ergueu seus olhos para o pai.

- Aonde vamos?- Perguntou com a voz baixa.

- Você verá.- O mais velho respondeu sem desviar os olhos da estrada escura a sua frente. Hitoshi se encolheu e voltou a fitar seus pés.  

Eles fizeram todo o percurso calados, Hitoshi matinha a monótona mania de , vez ou outra, lançar um olhar assustado ao pai e depois fitar os próprios pés se perguntando por que estava participando daquilo.  Quando chegaram, o mais velho parou, fazendo o loiro parar atrás de si, ele olhou em volta e se aproximou de uma cabana que Hitoshi tinha absoluta certeza de que não estava ali há alguns instantes atrás.  Os dois adentraram-na, não se enxergava nada ali. Hitoshi suspirou e acendeu uma luz, seu pai olhou para ele aprovando seu ato e fechou a porta. Tudo era muito sujo ali, os poucos móveis que ali continham estavam empoeirados, Hitoshi entrou numa compulsiva sessão de espirros, ele era alérgico. Seu pai o olhou com um olhar reprovador.

-Não faça tanto barulho.- Disse com frieza e voltou a examinar o aposento.

-Desculpe.- Hitoshi sussurrou enquanto reprimia um espirro. O loiro suspirou cansado e sentou-se numa poltrona coberta por um lençol encardido, estava com sono, queria tomar um banho e dormir. Fechou os olhos por um momento, só queria que aquilo acabasse logo. Queria apenas voltar para a casa e dormir, imaginar que nada daquilo tivesse acontecido.

- Não está aqui!- Um grito raivoso fez Hitoshi levantar-se assustado da poltrona, ele olhou para o pai sem entender o que ele queria dizer com aquilo.

-O que não está aqui?- Perguntou entre um bocejo.

-A profecia, ela não está aqui.- O pai respondeu enraivecido.- Como é possível? Ninguém sabe daqui, ninguém.

- Profecia..? A que você falou?- O loiro perguntou lutando para manter os olhos abertos.

-Sim , a que eu falei. Como ela pode ter sumido? Eu mesmo a coloquei aqui.- O mais velho se sentou indignado, por que as coisas eram tão difíceis afinal? Por que nada acontecia conforme o planejado? Ele levantou-se e fitou o filho.- Vamos Hitoshi, temos que encontrar a profecia para completá-la e finalmente ter a vingança tão esperada por todos esses longos anos.

 Ele saiu da cabana, seguido por Hitoshi que resmungava mentalmente,e os dois levantaram vôo sumindo na escuridão.

...

Ichiro olhava por toda a cidade abaixo de si, não fazia idéia de onde começar, estava bastante cansado, mas não tinha tempo para dormir. Um bocejo escapou de seus lábios, ele lutava para manter os olhos abertos, se cochilasse ali, no ar, teria sérios problemas. Passou as mãos nos olhos e as levou até o bolso de seu casaco procurando aquecê-las, estava bastante frio. Ele arregalou os olhos num misto de pavor e perplexidade, de dentro do bolso esquerdo ele tirou um globo de cristal. Era o mesmo do seu sonho.