Ele examinou aquele objeto sem entender direito como aquilo fora parar ali. Como pode ter sonhado com aquilo e depois simplesmente o globo ter ido parar em seu bolso? Ficava cada vez mais confuso com aquilo tudo, fechou as mãos em torno do pequeno globo e o colocou de volta em seu bolso, aquilo poderia sim ser algum tipo de final. Ele acelerou seu vôo voltando a olhar tudo abaixo de si. Se o globo existia a cabana provavelmente também devia existir e ele iria achá-la a qualquer custo.

...

Ela estava atordoada, sua cabeça doía e ela não sabia onde estava, fechara os olhos um milhão de vezes tentando se lembrar do que havia acontecido, mas não conseguia. Levou a mão até sua cabeça tentando amenizar a dor, havia mais ou menos meia hora que ela acordara. Olhou em volta do aposento pela milésima vez, não conseguia mesmo distinguir que diabos era aquilo, além de estar escuro demais, sua visão não estava muito boa. Levantou-se com dificuldade, ela passou as mãos pela parede procurando um apagador, mas não encontrou.

-Que droga.- Ela disse para a escuridão.- Onde diabos eu estou?- Sua voz era fraca e cansada. Seu corpo estava todo dolorido. Ela respirou pesadamente e caiu de joelhos no chão. Esperava por uma resposta em vão, parecia não haver ninguém ali. Fechou os olhos, um riso sem graça saiu de seus lábios, ela queria muito sair dali. Começou a recordar tudo passara até ali, achava graça de sua inocência quanto a Ichiro. Ela começava a achar que aquilo tudo fora planejado por ele, onde estaria afinal? Rindo com Hitoshi e seu pai da burrice dela? Caçando outras garotas iludidas para fazer o mesmo que fizera com ela? Naomi cerrou os dentes irritada, como pode ser tão burra ao ponto de ter caído na lábia dele.  Caso o visse novamente , jurara, iria acabar com aquele infeliz.

- Me diz pai.- Ela ouviu alguém dizer, vinha do lado de fora. Fechou os olhos fingindo estar desacordada. De repente a porta abriu e duas pessoas entraram na cabana.

- Não, e pare de me importunar, Hitoshi.- O mais velho disse impaciente.

- Mas eu só quero saber como voc...- Começou, mas foi interrompido.

-Já mandei calar-se.- O pai gritou irritando-se com o loiro. Hitoshi calou-se na mesma hora e fitou seus pés.- Acenda a luz.- Ordenou. O filho suspirou e fez o que o outro havia mandado.

Hitoshi fitou Naomi ali no chão e ajoelhou-se perto dela. Pegou-a no colo e a colocou numa pequena cama que havia ali. Seu pai o olhou como se perguntasse o porquê daquilo. O loiro deu de ombros e sai da cabana.

- Onde vai?- Ouviu seu pai perguntar.

-Respirar o ar puro.- Respondeu com um suspiro e fechou a porta atrás de si.

...

  Seus olhos insistiam em se fechar e aquele frio batendo em seu rosto não ajudava muito, mas não queria dormir, não poderia. Sobrevoava uma floresta quando avistou a metros abaixo de si luzes acesas, ele desceu alguns metros e viu um garoto sentado do lado de fora do que parecia ser uma pequena casa, ele resolveu pousar dentro da floresta e caminhar até lá. Mas quando desceu mais um pouco teve uma surpresa, o ódio o consumiu por completo. Ele fixou o garoto e apertou a mão esquerda, imediatamente o outro caiu no chão e começou a se contorcer, parecia sufocar-se. Ichiro pousou diante dele e sorriu enquanto apertava sua mão cada vez mais. A porta a sua frente foi aberta bruscamente e ele fora jogado para trás.

-O que pensa que está fazendo?- Ouviu o que acabara de chegar perguntar bravo, ele o viu caminhar até o menor caído no chão e perguntar se estava tudo bem. Ichiro levantou-se com certa dificuldade. Ele olhou para a entrada da cabana com um misto de alivio e perplexidade. Naomi estava parada ali e estava com uma aparência caída, cansada. Ele sorriu e tentou ir até ela, mas a garota esticou os braços o paralisando ali. Ele ficou confuso.

-Naomi?- A olhava sem entender o porquê daquilo.

-Fica longe de mim.- Ela disse com firmeza.

-Naomi, não estou te entendendo.- Ichiro disse fitando-a.

- Como eu pude confiar em você? Olha só o que me aconteceu, olha como eu estou. – Naomi disse com raiva.- Te odeio , Ichiro.

-Não, Naomi, seja o que for que eles disseram para você, é mentira. Acredita em mim , por favor. Naomi, eu estou com você.- Ichiro tentou em vão mover-se até ela, mas a garota ainda o mantinha longe.

-Pare de mentir.- Ela gritou já com lágrimas nos olhos.

-Naomi, por favor.- Ele pediu tentando se conter. Desviou seus olhos para seu pai e seu irmão.- O QUE VOCÊS FIZERAM COM ELA?- Gritou com ódio.

- Nada, nós não fizemos nada, é você que fez, não a protegeu, irmãozinho.- Hitoshi gritou com um sorriso sarcástico no rosto.- Você trouxe ela para nós, foi muito fácil. Você é um garoto muito mal.

- Cala a boca! CALA A BOCA.- Ichiro gritou ainda mais irritado.- CALA A BOCA SEU IDIOTA.

- PAREM VOCÊS OS DOIS!- Hitoshi e Ichiro olharam para o pai.

- Eu te odeio, papai.- Ichiro disse fitando-o. Podia-se ver o ódio naqueles profundos olhos azuis. Ele voltou seu olhar para Naomi.- Por favor...

Ela suspirou e o soltou, Ichiro correu até ela, mas antes de chegar, fora atingido no estômago e voltou a cair no chão. Contorcia-se de dor, ele abriu os olhos e viu Hitoshi sorrindo para ele, Ichiro se pôs de pé com dificuldade.

- Eu te mato, seu desgraçado.- Disse já de pé.- TE MATO.

-TENTE.- Hitoshi gritou de volta. Ichiro sorriu de lado e fitou o irmão por um momento. Naomi observava tudo atenta, os dois estavam tão concentrados em se matarem que não perceberam quando o mais velho pegou Naomi pelo braço e a puxou para dentro da cabana.

-Me solta.- Ela gritou tentando se soltar.

-Eu vou completar a profecia.- O outro dizia fitando a garota.- Fique quieta.

- NÃO, ME SOLTA, POR FAVOR, ME SOLTA.- Naomi gritou , o desespero era eminente na face da garota, lágrimas rolavam de seus olhos. Ela precisava sair dali.

- Vamos maninho, me mate.- Hitoshi dizia , provocando mais raiva no irmão. Ichiro concentrou-se em fitar o irmão, ele apertou as mãos contra seu próprio pescoço. Hitoshi, assustado, levou as mãos até o próprio pescoço tentando respirar, Ichiro apertava seu  pescoço, mas não estava se machucando, estava machucando o irmão. O loiro caiu de joelhos no chão sem conseguir respirar. Ichiro sorria todo o tempo. Quando seu irmão caiu aparentemente desacordado no chão, ele soltou seu pescoço e olhou em volta a procura de seu pai e de Naomi, mas eles não estavam ali. Ichiro correu para dentro da cabana, ferveu-se de ódio quando viu Naomi amarrada pelos pulsos ao teto e o pai consultando um velho livro que estava bastante empoeirado, sentado numa poltrona. Como se nada demais estivesse acontecendo ali. O garoto aproximou-se dele com raiva.

- Ichiro.- O pai levantou os olhos para o olhar.

- Pai.- Ele disse raivoso.- Solta ela agora.- Mandou.

- Você sabe o que tem que fazer.- O pai disse e soltou o livro no chão. – Faça.

Ichiro olhou-o confuso, como assim “sabe o que tem que fazer”? O que queria dizer com isso? Ele respirou fundo.

- Vamos, eu estou esperando.- O maior pressionou.

- O que quer dizer com isso?- Ichiro perguntou o olhando.

- Faça o que for melhor pra você e para ela, faça.- O pai sorriu friamente e voltou a ficar sério. Ichiro respirou fundo e concentrou-se em fitar o pai. Ele posicionou as duas mãos na altura de seu pescoço e as apertou com toda a força que podia,uma contra a outra,  fazendo com que seu pai arregalasse os olhos e levasse as mãos até a garganta, estava sufocando-se também. Ichiro apertava cada vez mais, o pai fechava os olhos aos poucos.

-PARA COM ISSO.- Ele olhou para a porta, Hitoshi estava ali, fraco, mas estava. O loiro caminhou até o irmão.- Você vai matá-lo.

Ao ouvir aquelas palavras, Ichiro voltou a si. Ele estava matando o próprio pai. Afastou-se dos dois e soltou Naomi. O que estava havendo com ele? Pegou-a no colo e saiu da cabana ainda atordoado com aquilo tudo, ele levantou vôo e , levando Naomi consigo, sumiu na escuridão.

Hitoshi olhava o pai com lágrimas nos olhos. O ódio consumia-o de tal forma que ele amaldiçoava mentalmente o irmão com todas as maldições que conhecia.

- Pai.- Sussurrou enquanto afagava os cabelos dele.- Fala comigo.

- Hi-Hitoshi.- Disse com a voz fraca, mal conseguia manter os olhos abertos.

-Pai, por favor, agüente firme, por favor.- O loiro pedia o fitando com carinho. Não pode evitar de deixar as lágrimas escaparem de seus olhos.- Eu vou me vingar, eu vou encontrar aquele desgraçado e vou acabar com ele , eu juro pai, eu juro.

- Fa-faça o que é certo.- Disse-lhe o pai, Hitoshi assentiu, aos poucos ele foi fechando os olhos, o loiro sacudi-o.

-Pai, pai fala comigo, não faz isso, pai.- Gritava desesperado. Mas era tarde, ele não estava mais com o filho, partira , talvez, para um mundo melhor. Deixando para trás a dor da perda em Hitoshi e a sede de vingança que crescia cada vez mais dentro de si. A partir daquele momento, jurara para si, buscaria o irmão até mesmo no inferno, sua vingança estava prestes a começar, acabaria com Ichiro , nem que fosse a última coisa que fizesse. Era uma promessa à memória de seu pai, e ele não o desapontaria.

                               You walk alone when the night cold
                     Searching her face in the falling rain
                     You talk to shadows in a final course 
                  You have a mission that you can't explain

(Você caminha sozinho quando a noite esfria
Procurando sua face na chuva que cai
Você fala às sombras em um curso final
Você tem uma missão que não pode explicar)

                             [ Kill for the new Messiah- Nightmare]

Fim