Johanna caminhava a passos largos e furiosos. Eu tentava acompanhá-la e a vi entrando em seu compartimento.

-Johanna? - pergunto.

-Não entra! - ela diz. Eu ignoro e entro, mesmo temendo sua fúria. Ela estava chorando profundamente.

-O que aconteceu? 

-Nada do seu interesse!

-Se não fosse do meu interesse, por que eu viria atrás de você?

   Ela chorava de soluçar, do jeito que eu nunca tinha visto. Sentei na cama ao seu lado e a fiz sentar também. Com a toalha que estava em cima da cama eu limpei suas lágrimas e acertei a maquiagem. Prendi seus cabelos novamente e a fiz tomar um copo d’água.

-Vai me contar o que aconteceu? - pergunto calmamente preparando o terreno para receber qualquer notícia.

-Quando eu ganhei os Jogos, - ela começa - eu era a jovem mais disputadas entre os clientes de Snow. Todos assistiram a transformação de garotinha assustada para jovem assassina.Eu fui vendida para uns trinta homens eu acho, mas eu nem me importava, eu queria poupar minha família de tudo que Snow prometia fazer com eles. Mas uma vez, um cara chamado Charlie me alugou por um mês inteiro e ele era... Diferente. Ele era carinhoso e engraçado. Ele não me maltratava como os outros porque ele entendia o que eu estava passando. Mas então aconteceu...

-O que aconteceu Johanna? - eu pergunto e vejo que ela está a beira das lágrimas novamente. 

-Eu não deixei Snow me vender mais nenhuma vez.

-Por que?

-Porque eu engravidei do Charlie. Satisfeita? Eu falei!

   Suas palavras me paralisam. Johanna ficou grávida! Isso era inacreditável."Não há mais ninguém no mundo que eu ame." - lembro dela dizer isso no massacre antes de entrar na fatia de gaios   tagarelas. As peças do quebra-cabeças se encaixam e tudo faz sentido. Sua frieza. Sua determinação. Sua força. 

-E o que aconteceu depois.

-Você sabe: eu parei com os programas, me acertei com Charlie e tive o filho com 17 anos. Depois, Snow matou a minha família, matou Charlie e matou o Harley, que tinha só três meses de vida.

-Eu sinto muito.

-Eu sei que sente, mas você não pode fazer nada.

-Eu não posso... - digo. -Mas você pode.

-O que está querendo dizer?

-Conheça um cara legal, apaixone-se...

-Nunca! - ela me interrompe. -Por que eu faria isso? Para depois me decepcionar, para ficar viúva como a Annie ou grudenta como você?

-Como...

-Sempre acaba mal Katniss, não há nada que as pessoas possam fazer para mudar isso. Não vou me apaixonar. Não nasci para isso.

   Ficamos em silêncio até que resolvo quebrá-lo com uma pergunta que martelava minha cabeça toda vez que dirigo minhas palavras à ela.

-Você me odeia?

-Mais ou menos.

-Explique-se.

-Depois de Snow matar Harley, eu assisti todas as edições dos Jogos Vorazes esperando que alguém finalmente desafiasse aquele desgraçado. Eu tentei criar levantes e manifestações mas eu não tive tanta audiência. Mas aí vieram vocês dois e desafiaram, mataram e sujaram a cara dele assim como eu queria fazer. Então não interprete a nossa amizade como amor e ódio, tudo bem?

   Lembro-me mais uma vez na arena relógio, quando pensei que a Capital tinha matado minha irmã, Johanna gritou para o alto: ”O país inteiro se rebelando? Ninguém na Capital ia querer que uma coisa dessas acontecesse!”. Ela tentava causar uma revolução. Mais uma vez todas as peças se encaixavam.

-Então você tem ciúmes de mim? - pergunto maliciosa e contendo um riso histérico. -Eu sabia!

-Ciúmes? Eu. Johanna Mason? Ciúmes de você. Katniss Everdeen? Vá para o inferno! - rimos juntas quase que histericamente até Peeta entrar na cabine e me abraçar protetoriamente.

-Só se eu for junto Mason! - ele responde me puxando para perto dele.

-Ah! Porque eu não posso conversar com ela sem que você, Sr. Mellark , se meta no nosso assunto? - Johanna pergunta revirando os olhos.

-Porque eu fico vigiando ela 24h por dia. Garantindo a segurança dela e do meu filho! - ele responde e beija o meu rosto. Eu sinceramente gosto de ser protegida 24h por dia, não me canso da companhia dele. - E também não posso negar que fiquei curioso sobre a sua reação com o simples e ingênuo comentário de sua amiga Annie Cresta.

-Eu não vou falar nada porque sei que ela vai te contar! - Johanna diz apontando para mim acusatoriamente.

-Não posso negar que vou! - respondo vencida.

   Rimos um pouco até Annie entrar no quarto cabisbaixa, com Felix em seus braços.

-Eu vim pedir desculpas. - Annie diz infantilmente. - Então... Me arrependi de ter dito o que disse.

-Então você acha que eu poderia ser mãe? - Johanna diz.

-Acho.

-Prove. - Johanna diz desafiadora, com os olhos semicerrados e os braços cruzados. Annie olha para mim em busca de uma resposta. Eu simulo estar ninando uma criança discretamente até ela entender o que eu quis dizer.

-Pode segurar o Felix, se quiser.

-Tudo bem, eu quero! - ela diz animada. Annie entrega cautelosamente o bebê em seus braços e ela o segura com destreza.  Johanna fazia caras e bocas que divertiam o pequeno Felix.

   Ficamos observando a cena divertidos com as caretas de Johanna. Peeta estava abraçando-me por trás, sentado na cama junto comigo e acariciando discretamente minha barriga. Psssados alguns minutos, ouvimos uma voz gentil de uma mulher ecoar pelo quarto

-Passageiros do aerodeslizador com destino a ilhs Vitoria, o piloto pousará no Distrito 4 em dez minutos para abastecer os alimentos e combustíveis. Aguardaremos no restaurante do aeroporto enquanto apreciamos a maravilhosa comida local. Passaremos a noite no hotel para finalizar pequenos detalhes na decoração do aerodeslizador que não puderam ser feitas antes da fuga. Passageiros que estão com soro, aguardem as enfermeiras que retirarão as agulhas na sala de estar principal. A previsão do tempo é de chuva forte acompanhada de raios e a temperatura é de 20 graus celsos. A área está alagada, portanto protejam os pés antes de saírem do aerodeslizador. Bom dia!