Acordo mais uma vez com o choro de Dandelion. Essa era a parte mais difícil de ser mãe: nunca ter descanso! Já se passaram dois meses desde o desaparecimento de Madge, e obviamente Dandelion ainda não foi batizada.

- Ei meu amor, que tal comer alguma coisa? - disse em uma tentativa de dar comida a ela. Delion sorriu e abriu a boca. Por algum motivo ela teve um acesso de riso e acabou cuspindo um pouco da comida. Tudo bem, isso me fez rir. - O que foi? Porque está rindo.

Me aproximei mais da menina risonha e limpei seu rosto, dando um beijo na sua bochecha que a fez suspirar. Eu ri, ela era tão meiga... Antes de me separar, ela segurou o meu nariz com um pequeno aperto em sua mão, já que não tinha tanta coordenação motora para tal feito.

- Ah meu deus! - brinquei. - Filha, deixa a mamãe respirar!

Ela continuava rindo. Eu a limpei e a levei para a sala. A grande janela que tomava quase que uma parede inteira dava a vista para o horizonte, e o sol acabara de aparecer, sugerindo o início da tarde. Peeta sempre chegava a tempo de ver o pôr-do-sol, e isso significa que vai demorar a chegar ainda.

Eu ando bem ocupada cuidando dela, Peeta passa o dia inteiro na padaria, Annie na creche e minha mãe no hospital. Eu me sentia um pouco sozinha, mas Dandelion era a minha melhor companhia. Ela era tão graciosa e alegre quanto Peeta, e não via a hora dela começar a falar.

Estava pensando sobre a ficha de Frevis e ainda não tive acesso a ficha de Rodoni, e nem posso ter já que fui dispensada das investigações sobre o desaparecimento de Madge. Só fui desperta de meus devaneios quando ouço a campainha tocando insistentemente.

- Katniss, abre logo essa porta, droga! - ouço uma voz sôfrega gritando. Deito minha filha em seu berço e corro para a porta, encontrando Johanna com o rosto coberto de lágrimas.

- Johanna, o que está acontecendo? - perguntei assustada. Era raro vê-la nesse estado.

- Eles... Sequestraram o Lunos! - ela começou a soluçar enquanto me abraçava.

- Como? Onde? Me explica isso direito! - pedi enquanto a afastava de mim e a puxava para dentro de casa. Ela se sentou no sofá e começou a chorar.

- Ontem, depois que a gente saiu pra jantar, ele foi pra casa. Enfim, tudo normal. Hoje de manhã, um colega dele me ligou e disse que Rodoni esteve na empresa e o seqüestrou na garagem do edifício. - ela parou pra tomar ar. - No carro dele, encontraram uma marca... Uma sigla eu acho, eu não sei! Katniss, eu preciso de ajuda! Eu não sei onde ele foi mas... Acho que Madge pode estar no mesmo lugar. As mesmas pessoas que a sequestraram, pegaram o meu namorado também. A guarda da Alla não consegue dar conta deles Katniss, não vão conseguir encontrá-los... Nem sei se ainda estão vivos! - ela desabou a chorar novamente.

Pus meu cérebro para trabalhar. Duas pessoas, sequestradas pelos mesmos criminosos, na mesma Alla...

- Qual era a sigla? - perguntei.

- Era um P, dois traços e um R.

- PIIR? - sugeri.

- Mesma coisa... - ela resmungou irritada. - Você sabe o que é?

- Não, mas tinha algo desse tipo escrito na ficha de Frevis. E até onde eu sei, é algo caro... Mas a guarda da Alla ainda não investigou.

- Espera... IR é uma sigla correspondente a Império Renovato, não é? - ela refletiu, e estava certa.

- Se estiver correspondente, a guarda da Alla tem motivos para não investigar. Já imaginou esse tipo de autoridade se revelando para alguém do império? - pensei.

- Você está certa. Agora P: pode ser Produto, Privado, Público, Personalidade... - ela citou.

- Pessoa. - sugeri.

- Isso, agora pensa no primeiro I. O que poderia ser?

- Tem que relacionar pessoa ao Império Renovato. - comecei a pensar nas relações. - Madge conhecia Gale mas não conhecia...

- Lunos conhecia Cartenia. - ela disse. - Foi uma das pessoas que tentou impedir os movimentos contra o governo de Panem. Ele até apareceu nos jornais, mas em uma matéria que contradizia os conceitos da Cartenia. - ela tirou do bolso a carteira, que tinha uma foto dele. Tinha a pele branca, os cabelos castanhos escuros que contrastavam com os olhos extremamente azuis. Eu já o vi no jornal...

- Engraçado, em todos as proclamações dos dois imperadores eu nunca ouvi falar da PIIR. Seriam um grupo secreto de pessoas relacionadas aos imperadores? - perguntei com a testa franzida lembrando-me de todas as proclamações e chamadas dos imperadores onde apresentavam leis e projetos aos plebiscitos e reuniões democráticas.

- Deve ser um grupo secreto, mas porque esse grupo precisaria de Lunos e Madge?

- O grupo na verdade inclui Lunos e Madge. Pode ser um grupo de pessoas interessantes para os imperadores. - corrigi.

- É isso! PI pode ser Pessoas de Interesse! - ela lembrou.

- Isso! Pessoas de Interesse dos Imperadores Renovatos! Por isso nunca ouvimos sobre eles, deve ser um grupo clandestino. Os sequestros devem ser autorizados por eles mas são ações escondidas do povo. São mais pessoais, não tem relação com o governo.

- Devem ser mais do que eles... Lunos e Madge devem ser apenas os primeiros. - ela começou um raciocínio. - Deve haver uma porção deles!

- Mas primeiro, onde eles estão? Podem estar até em Panem a essa hora!

- Não. Se eles já estivessem em Panem, já teriam sequestrado Lunos há mais tempo, reunido o grupo e enviado para Panem. Como o rapto é recente, eles ainda devem estar na ilha... - ela corrigiu.

- Tudo bem, mas se estão na ilha... Em que Alla estão? Dois meses de investigação e nada de vestígios em todas as Allas...

- Nas florestas não devem estar, já que estamos trabalhando lá todos os dias por conta da madereira.

A campainha toca.

- Johanna, não podemos deixar que mais ninguém saiba disso. Pode ser um risco para nós duas saber de tudo isso, não envolveremos mais ninguém! - repreendi. Ela me deu um abraço muito forte. - Vamos encontrá-los.

- Tomara... - ela choramingou.

A levei até a porta e a outra pessoa na porta se afastou para que ela passasse cabisbaixa. Ela entrou rapidamente no carro e partiu. Um homem com um pacote me aguardava.

- A senhora é Katniss Everdeen? - ele perguntou.

- Sim. - respondi.

- Eu sinto muito... - ele disse e cobriu a minha boca com um pano, me imobilizando tão bem quanto um lutador profissional.

Eu tentei reagir mas não obtive resultado. Ele passou os braços a minha volta e me arrastou para fora de casa. Nenhum dos guardas estava lá, estavam todos dispensados por conta do trabalho ininterrupto por um mês. Dandelion chorava, praticamente agonizava em seu berço.

Poucos minutos depois, o homem me arremessou em uma espécie de van, e pude reconhecer outro corpo no mesmo lugar: Lunos.

Embora eu tentasse reagir, eu não aguentei e acabei cedendo ao sono que me levou por conta de algo naquele mesmo pano.