Acordei sentindo o corpo ainda um pouco gélido mas destraída com uma suave carícia em meu rosto. Eu estava de costas para ele, observando a paisagem rústica da minha janela enquanto o sol iluminava meu rosto. Nem sonho em levantar agora...

-Bom dia meu amor! - Peeta sussurra em meu ouvido provocando arrepios em minha nuca.

-Bom dia! - respondo.

-Temos um dia cheio hoje, vamos levantar?

-Temos mesmo que levantar? - contorço os lábios formando um "bico" nada convincente.

-Temos. Lembre-se que vamos saber hoje se teremos uma menininha ou um menininho...

-Já estou de pé! - brinco me levantando e indo até o closet e separando as minhas roupas.

-Sou realmente persuasivo. - me preparo para responder mas ele não permite. -Nem pense em mencionar o caso do Ágape! Você me drogou!

-Tudo bem, tomarei banho primeiro! - corro para o banheiro, verifico se há alguma toalha lá (atitude que acho que virará um hábito) e me banho.

Visto algo que não bate com meu estilo pessoal, mas que posso incorporar no meu novo guarda-roupa: saia mediana soltinha, blusa e botas. Depois de uma avaliação pessoal em frente ao espelho, decido dispensar a saia e ponho uma calça.

Peeta sai do banheiro com a toalha enrolada na cintura e me dá um selinho. Deito na cama esperando-o e começo a navegar pelos canais que agora disponho na TV. Alguém bate na porta e eu corro até ela. Não quero que ninguém veja Peeta semi-nu além de mim.

-Katniss, é a Annie! - ela diz atrás da porta. Eu a abro e ponho apenas o rosto para fora.

-O que foi?

-Sua mãe pediu para te avisar que já foi pro trabalho, mas ontem deixou um almoço pronto.

-Obrigada Annie. Ela já foi?

-Já, há uns dez minutos. Só me lembrei agora. Eu vou sair com o Felix. Vocês vão sair também, não vão?

-Sim. Nós te levamos já que a creche é na frente da padaria!

-Perfeito, vou dar comida pro Felix e depois vamos.

Depois que ela saiu da frente da porta, Peeta saiu do closet vestido com uma calça preta e uma camisa social branca bem simples.

-Annie vai conosco? - ele pergunta.

-Vai. Você sabe dirigir aquele carro que tem na garagem?

-Sei. Tínhamos um daqueles para entregar as encomendas.

-Certo. Vamos?

Descemos a escada, subimos no carro com Annie e em poucos minutos saímos da vila. Passamos pela avenida principal e logo chegamos a uma parte da cidade com uma placa enorme escrita "Comércios & Serviços". Como a Alla era bem simétrica, foi simplesmente necessário entrar na quinta rua à esquerda da placa.

Peeta realmente sabia dirigir. Eu não tinha noção de para quê serviam tantos botões! Nem sabia se era seguro entrar no carro! Deixamos Annie em frente à una construção térrea e extensa toda pintada de azul claro. Ela se despediu e, com muito esforço carregou Felix (que se contorcia desajeitadamente) até a creche. Esperamos ela entrar para seguirmos até a padaria. A construção ainda estava pintada de branco, mas a obra estava concluída e muito grande. O interior era simples: bancadas, estantes, a cozinha, uma pequena exposição e mesas de restaurante.

-E agora vamos aonde? - pergunto desanimada.

-Nós iríamos conhecer o CS mas acho que podemos fazer algo melhor...

-Vamos para casa? - pergunto com um sorriso oculto e uma sobrancelha levantada.

-Vamos preparar os detalhes iniciais do nosso casamento!

-Jura?!

-Juro! A igreja é perto daqui, dá para ir andando!

-Então vamos!

"Mentiroso!" - penso. A igreja era há três ruas da padaria. Para pessoas normais era pouco, mas eu estou grávida de... OK, dois meses é pouco, mas quando estou cansada, ansiosa ou nervosa a tontura me atinge deixando qualquer tarefa ridícula praticamente impossível de ser realizada.

Peeta percebe que estou com certas dificuldades na caminhada e passa as mãos pela minha cintura distribuindo o peso do meu corpo.

-Você está se sentindo bem? - ele pergunta.

-Só estou um pouco tonta... - um desconhecido passa por nós dois correndo e acidentalmente me derruba. O infeliz nem para para me ajudar, só vira a cabeça e murmura um "desculpa". Se antes eu estava tonta, agora eu estou desnorteada.

Peeta estende 'três mãos' para mim e não sei qual é a real, de modo que tudo o que faço é encarar as mãos.

-Você está bem? - ele pergunta. Não respondo. Só fico olhando para os rostos que me encaram. -É, você não está bem mesmo. Vou te levar para casa e vemos a igreja outro dia. - ele me pega no colo e anda as duas ruas que percorremos antes de parar interrompido por dois homens.

-O que temos aqui? - um deles diz. -Everdeen e Mellark. Os amantes desafortunados do Distrito 12...

-Com licença, ela não está se sentindo bem. Poderíamos nos falar em outra ocasião? - ele diz e tenta passar por eles mas os dois o bloqueiam. Peeta me põe no chão. A coisa agora está séria.

-Sabe, nós éramos grandes amigos do Gale... - ao pronunciar essas palavras, o homem faz com que Peeta escute atentamente suas palavras. -E nós também sabemos que o único motivo plausível do Império estar ocorrendo é essa garota que você fica carregando de um lado para o outro. - o segundo diz.

-Então vocês estão muito mal informados. - Peeta diz e tenta contorná-los me puxando pela mão mas eles ainda nos bloqueiam. -Uma pergunta: se vocês eram amigos dele, porque fugiram?

-Confiamos no Gale, mas não confiamos na Cartenia.

-E nós com isso? - eu pergunto.

-Nós gostaríamos que nos acompanhassem.

-Por quê faríamos isso? - Peeta diz.

-Porque precisamos de vocês dois para salvarmos Panem. Por bem ou por mal.

-Desculpe, mas isso não vai acontecer. - Peeta responde tranquilamente. Já eu enrijeço diante a ameaça.

-Olha, nós não queremos denunciar a ilha, mas nós precisamos de vocês dois em Panem! Mais precisamente, precisamos dela. - o segundo homem aponta para mim. -Se levarmos a garota, Gale deixa o Império e provavelmente, Panem voltará ao normal, já que Cartenia é impotente sozinha. Só precisamos dela. Acreditem, estariam fazendo um favor a sua terra natal.

-Vocês tem noção do quão ridícula é a proposta que estão fazendo? - Peeta diz indignado. -Estão pedindo para que eu entregue minha noiva e filho para comprarem o governo de Panem e devolvendo a vida antiga de uma nação destroçada?

-Exatamente.

-Esqueçam.

-Entenda Sr. Mellark, precisamos dela e vamos levá-la. - Um deles ameaça. Eu começo a me desesperar e Peeta também. -O Sr. sabe que a decisão de partir e deixar uma população inteira para trás além de egoísta foi idiota. Sei que como um herói pátrio, entenderá a nossa causa. - o homem segura o meu braço e eu o afasto com um sanafão. O outro homem se aproxima e tenta me puxar para si mas Peeta acerta um soco em seu rosto.

-Corre Katniss, corre! - Peeta diz e eu obedeço. Uso as únicas forças que me sobraram e disparo cortando o vento e atravessando uma rua. Logo em seguida ouço passos se aproximando e acho que são de Peeta correndo atrás de mim. Me engano.

Um dos homens me agarra por trás e tampa a minha boca com a mão. Tento mordê-lo mas tudo o que consigo é gritar. A última coisa que se passou em minha cabeça quando vim para cá era que alguém tentaria me sequestrar. Mas era meio óbvio, já que a maioria das pessoas gostava de Gale e sabia de sua paixão por mim.

Tentei gritar por Peeta, mas ainda tinha a boca tapada e a cabeça girando em todas as direções. A esquina onde eu estava era perto de uma praça com poucas pessoas. Eu me contorcia loucamente nos braços do homem buscando liberdade, mas ele era mais forte e acabou me arrastando para o lugar onde um homem nocauteava Peeta. Céus, a última cena que eu queria ver era ele tão machucado! Lágrimas rolavam desenfreadamente pelo meu rosto enquanto o homem batia sua cabeça contra uma parede de uma das lojas do CS.

Peeta tentou levantar mas eu sabia que ele estava fraco demais.

-Coloca ela no carro. - o homem que espancou Peeta ordenou enquanto limpava o sangue que esguichava do próprio nariz. -Rápido Frevis, pode ter alguém vindo!

Frevis me pressiona contra o carro mas eu não entro. Ponho as pernas no banco e me empurro para fora, mas não entro no carro. De repente, Frevis me larga e eu finalmente me solto e acerto o outro homem bem nas genitálias. Viro-me para ver o que aconteceu com Frevis e a vejo: Madge o golpeou em cheio com uma maçaneta gigante (agora percebi que estávamos na frente de uma loja de artigos para casas).

Uma de suas amigas sai da loja assustada e encara Madge, eu e os dois homens caídos no chão agonizantes. Antes de agradecê-la, corro até Peeta e o ergo. Avalio os estragos em seu rosto rapidamente mas logo entramos na loja junto com a Madge e sua amiga Fork.

-Madge obrigada! Como nos encontrou? - digo abraçando-a. As lágrimas rolavam desenfreadas pelo meu rosto. A dona da loja ouviu a confusão e fechou as portas para socorrer-nos.

-Eu estava aqui na loja e ouvi os gritos quando saia. O que eles queriam com vocês? - ela pergunta nervosa. A dona da loja trouxe água para mim e um kit de primeiros socorros para Peeta.

-Eu os conheço. - Fork disse. Ela endireitou os cabelos ruivos e tomou ar para dizer. -Frevis e Rodoni eram meus amigos. Eles te culpam por saírem de Panem e juraram que voltariam para lá acabando com esse Império ridículo de uma vez por todas. São dois idiotas, na minha opinião. Ignore-os.

-Já chamei a guarda da Alla. Estão a caminho. - uma senhora que estava na loja disse.

-Obrigada. - digo.

-Katniss, você está bem? - Peeta vem até mim e segura minha mão.

-Eu estou ótima Peeta, olha pra você! - seguro seu rosto com uma mão. -Anda, me passa a caixinha de primeiros socorros.

Ele me passa o kit e eu limpo seu rosto delicadamente. Seu rosto ainda tinha hematomas e arranhões mas estava livre de sangue. Depois de um tempo, os guardas da Alla chegaram e levaram os homens que ainda estavam caídos no chão. Antes de sair algemado, o homem (que agora sei que se chama Rodoni) me encara perigosamente, passando-me a impressão de que aquela tentativa de sequestro era só o começo.