Acordo de manhã e observo os raios de sol passando pela extensa janela e iluminando levemente o meu quarto. Levanto minha cabeça e vejo Peeta adormecido em meu ombro. Pelo que parece, ele não dormiu essa noite, cuidou de mim o tempo todo. Posso notar porque não estou com a mesma camisa de ontem e vejo ao meu lado um saco de gelo.

   Tento me levantar mas a tontura me domina e então desisto. Ouço a campainha tocar. Quem seria a essa hora? - penso. Dessa vez eu consigo me levantar me apoiando nas paredes para não cair e praticamente me agarrando ao corrimão da escada para garantir que eu não role a escada. A campainha toca novamente e eu continuo me arrastando para chegar até a porta.

   Quando estou no andar de baixo, minha tontura passa por hora, provavelmente se acostumando com o plano em que me encontro. Chego a porta e arrumo o cabelo, para pelo menos tentar causar uma boa impressão ao visitante. Olho para baixo e bufo.

-Ótimo! - sussurro. Peeta me colocou um suéter de tricô preto que cobre praticamente o meu peitoral e o início da minha coxa. Olho para dentro da roupa e vejo que estão apenas de roupa de baixo e com um micro-short.

   Abro a porta e vejo a única pessoa que nem em meus mais inúteis devaneios pensaria encontrar a essa hora na minha casa.

   Johanna Mason.

   Ela faz menção de entrar e para. Olha para mim de cima à baixo, me avaliando. Eu faço o mesmo e posso dizer que ela está muito elegante comparando-a com a Johanna de oito meses atrás. Ela usava um vestido preto com leggin e botas pretas, mas o diferencial era o casaco preto com listras vermelho-vivas que tomavam destaque em seu conjunto.

-Oi! - ela diz depois de um longo tempo.

-Oi! - respondo. -O que faz aqui tão cedo?

-Bem, sou representante de uma madeireira do Distrito 7 e vim regular o fornecimento de madeira de algumas obras.

-E quanto ao horário, não poderia vir mais tarde? - digo coçando a cabeça desconfortavelmente.

-Bem, eu acabei de sair do aeroporto e não tinha para onde ir. - ela diz apontando para as malas.- Era o único endereço que eu conhecia. Ah, eu queria saber se eu podia usar a antiga casa do seu namorado. Temporariamente.

-Acho que sim. E não sei se você sabe, mas ele não é mais meu namorado... - seu rosto fica curioso.- Ele é meu noivo!

-Eu não acredito! - ela diz cobrindo a boca com as mãos incrédula.-Vocês não me contaram nada!

-Entra logo Johanna!

   Passamos pelo menos uma hora conversando até Peeta descer as escadas assustado. Quando nos vê conversando, sua expressão muda para curiosidade.

-Er... Você melhorou? - ele pergunta confuso.

-Sim, eu não queria te acordar. É... Johanna chegou há uma hora e perguntou se podia se instalar em sua antiga casa.

-Tudo bem. Ela está vaga mesmo!

-Esperem aí... O que aconteceu com você Katniss? - Johanna pergunta.

-Só passou mal? Katniss, você praticamente desmaiou! - Peeta responde. Obrigada Peeta, você só tornou as coisas mais graves. - penso novamente.

-Como assim desmaiou? O que está acontecendo? - Johanna pergunta com um olhar acusatório.

-Você está exagerando Peeta. Não foi bem...- sinto uma tontura percorrer meu corpo e me tirar do assunto novamente. Eu ignorei as outras, mas essa foi insuportável.

-Katniss, você está bem?- Peeta segura minha mão tentando me dar equilíbrio.

   Johanna pensa por alguns minutos e depois olha para nós dois com um olhar suspeito.

-Por acaso vocês dois... Sabe... Fizeram “aquilo”?

-Johanna! - repreendo-a. -Isso...

-Você já parou para pensar que pode estar grávida?

   Essa possibilidade nos atinge como uma bomba. Mesmo com o fim dos jogos, eu não tenho esse desejo por um filho. Eu acho que não estou pronta para isso. Nunca tive jeito com crianças, nem mesmo com Prim!

-N... na... não! - eu respondo incrédula. -Isso não é possível!

-Claro que é! - Peeta responde alegre. -Katniss, nós podemos ter filhos! Você também não quer?

-Não é meio óbvio... - Johanna murmura.

-Para com isso Mason! Vamos na farmácia agora comprar um teste pra você Katniss! - Peeta diz. Acho que só ele está animado com a ideia da minha gravidez, eu estou praticamente morrendo de medo. Eu assisti a gravidez da minha mãe e sei bem que o que eu estou passando é praticamente uma marolinha comparada ao tsunami que serão os próximos meses.

-Não é necessário, Mellark. - Johanna pega da bolsa uma necessaire inundada de pequenos pacotes que presumo serem remédios. De lá ela puxa uma haste branca apenas decorada por  um traço preto simples. -Você já sabe como isso funciona, não sabe?

-Sei. - digo inexpressiva.

-Então anda logo!

   Sigo para o lavabo e fecho a porta. Antes de fazer o teste, ponho o meu ouvido na porta para escutar seus comentários.

-Então, acha que vai dar positivo? - Peeta pergunta.

-Está duvidando da sua potência rapaz? - Johanna diz, eu abafo uma risada e presumo que Peeta deve estar mais que corado neste momento.

-Não, é que... eu sempre quis ter filhos sabe? E eu realmente espero que Katniss seja a mãe deles.

-Mas você já sabe não é? Sobre o caçador? - Gale. Ela se referia à ele.

-Sei. Eu ando assistindo os  telejornais todo o dia para ver o avanço deles. - Deles? Quem estaria com Gale?

-Eu acho que está na hora de sairmos de Panem, não é? Eles já tem o apoio dos Distritos 1 e 2. E estão próximos de conseguir o apoio do 3 e do 4.

-Já está tudo pronto na ilha?

-Já, eu trouxe tudo o que eu tinha, e nem pretendo desfazer as malas. E já avisei ao Sr. Luxor que eles estão vindo. - Eles quem? Onde o nosso porteiro se encaixa nisso?

-Quem iria conosco? - Peeta pergunta e eu aguardo ansiosamente pela resposta.

-Só os vitoriosos e famílias. Garantimos que só os Distritos de 3 à 12 receberão aerodeslizadores para a ilha Vitoria. Espero que não se incomode se Annie e Beetee ficarem no nosso aerodeslisador.

-Tudo bem. Acho que vou levar a minha sogra.

-Então, está tudo certo! Annie e Beetee já estão vindo. - Johanna diz. Pausa. -Katniss, você está com algum problema? - ela grita.

-Não, só estou tomando coragem! - respondo.

-Que nada! É a coisa mais fácil do mundo!

-Não põe pressão! - respondo novamente. Pego o teste, urino onde está indicando e espero por três longos minutos sentada no chão, tremendo de medo. Ouço uma batida na porta e então Peeta entra.

-E então? O que deu? - ele diz calmamente.

-Você pode ver pra mim? Eu não tenho coragem de olhar.

   Ele vai até a pia e pega o teste. Sua expressão é neutra e faz meu coração palpitar. Ele o examina com os olhos e se prepara para contar o resultado.