-Você me ama, verdadeiro ou falso?

-Verdadeiro - digo. E toda vez que digo, sorrio porque não estou sendo forçada a dizer, mas porque eu quero. Eu o amo e ele é a minha vida agora. A rebelião acabou há seis meses, mas para mim, o último mês foi o melhor. O Distrito 12 está reconstruído, Peeta abriu a padaria, ele me pediu em casamento, tivemos a nossa primeira vez... Mas esse mês acabou, infelizmente.

   Já está tarde então me deito novamente aninhada à Peeta. Mal durmo e já sinto os pesadelos se aproximando.

   Em meu pesadelo estou na arena. Desidratando, sentindo a morte se aproximando tortuosamente. Eu deito no chão e mentalmente me despeço de Prim, Gale, Peeta... Mas eu levanto a cabeça e o vejo debaixo de uma árvore me convidando para um pequeno piquenique, ele parecia muito saudável. Eu não consigo me erguer. Quando subo a cabeça novamente, vejo uma preocupação em seus olhos que eu não queria causar. Ele vem até mim e me pega no colo; me alimenta, me hidrata e me aquece. Em outro momento, estamos brincando nas águas da arena relógio. Eu estava ensinando-o a nadar enquanto Finnick, Johanna e Beetee se lavavam. Depois de um tempo, nos deitamos, ele estava abraçado a mim e acariciava meus cabelos soltos. Quando ele para, sinto que algo está errado e levanto o olhar para seus olhos vagos. Ele estava sendo esfaqueado por Gale. Me levanto e magicamente me armo com o arco e uma flecha precisa apontada para seu peito. Por um momento penso em atirar, mas penso em Hayzelle, Vick, Posy... Tudo me fazia baixar o arco e deixá-lo fugir, e assim eu fiz. Lembro-me de Peeta morto e fito somente o chão vazio, ele não estava lá. Ele estava na agua vermelha, envolto por rosas, mas nada me impediu de nadar até ele. O cheiro incomodo de sangue não me incomodava, estava focada em achar o amor da minha vida. Tudo o que pude ver foi o rosto de Prim, Finnick, Cinna, Boggs, Coin,... Todos me puxando para baixo e, consequentemente, me afogando. Quanto mais nado para me salvar, mas sinto o terrível cheiro de sangue em minhas narinas.

   Acordo com Peeta em minha frente, me sacudindo e tentando me acordar. Ele me abraça para me confortar e eu retribuo me abrigando em seus braços musculosos. Aos poucos tento esquecer o pesadelo, mas é em vão pois o cheiro de sangue constantemente me enjoa trazendo toda a comida de volta a minha boca. Me solto de seu abraço e corro para o banheiro, vomitando tudo o que comi no jantar. Já é a terceira vez que vomito hoje, o que me irrita porque vomitar para mim não é agradável. Enquanto vou lavar o rosto, percebo que acabei sujando a blusa que estava usando junto com o pequeno short. Saio do banheiro e vejo Peeta preocupado.

-Enjoada de novo? - ele pergunta.

-Eu já disse, deve ser aquele esquilo que comi. Estava passado. - digo encostada a parede. Estava me sentindo tonta, e não conseguia tirar a camisa de mangas compridas com medo de não conseguir me sustentar com as próprias pernas trêmulas.

-Aquele esquilo que comemos há uma semana?

-Devia estar com alguma bactéria. Amanhã eu vou ao médico. - minha mão sai da parede e eu tento andar até o closet, mas paro na porta.

-Tudo bem. Teve outro pesadelo?

-Sim.

-Quer falar sobre ele? - Peeta abre espaço na cama me convidando para sentar ao seu lado. Tento ir até ele mas paro no meio do curto percurso até a cama sentindo o ambiente girar. -Está tudo bem?

   Tento responder mas quando tento me apoiar em algo fixo no espaço, este  “algo” escorrega fazendo com que eu caia imediatamente no chão.

-Katniss! - escuto Peeta dizer enquanto seu rosto tremula em minha visão entre embaçado e nítido. Tento me levantar novamente mas a tontura que domina meu corpo não permite. Tudo acontece tão rápido que quando percebo o que está acontecendo, já estou tomada pela inconsciência.