-Passageiros do aerodeslizador com destino à ilha Vitoria, o piloto pousará no aeroporto nacional em algumas horas. Por favor, certifiquem-se de que sua bagagem está devidamente arrumada e depois compareçam ao portão de desembarque. O tempo está ensolarado com a temperatura de 32 graus celcius. Bom dia!

   Essas foram as palavras da aeromoça que foram ecoadas pelo meu quarto. Detalhe: eram cinco da manhã.

   Peeta se mexe ao meu lado em desaprovação ao ser acordado tão cedo. Ele enterra o rosto no meu ombro enquanto a janela deixa a luz forte do sol entrar em nosso quarto.

-Bom dia Katniss. - ele diz ainda com o rosto em meu pescoço.

-Bom dia Peeta.

-Você sabe que horas são?

-Cinco da manhã.

-Ainda podemos dormir?

-Fique à vontade, vou arrumar as malas. - digo me levantando sofregamente. Ele agarra a minha cintura e me puxa de volta para a cama.

-Tem certeza que quer levantar e me deixar aqui sozinho? - ele diz com um bico enorme e engraçado no rosto.

-É sério Peeta, eu tenho que deixar tudo arrumado.

-Está bem, eu vou ficar aqui.

   Eu me levanto e abro o armário. Ponho as malas em cima da  poltrona e começo a dobrar as roupas. Em menos de uma hora está tudo pronto e logo volto a me deitar junto com ele.

-Viu? Fui bem rápida. - digo.

-Ainda bem, já estava sentindo um vazio aqui deitado sozinho...

-Para de ser carente! Eu estava aqui o tempo todo!

-Só não estava na cama. Anda vem cá! - ele diz me puxando mais contra se corpo de costas para mim. Ele pousa uma mão sobre a minha barriga e fica acariciando-a. -Eu li o nosso roteiro de hoje e adivinha?

-Fala logo!

-Sua mãe me deu uma médica que já pode ver o sexo do bebê!

-Jura! Como?

-Aham! Ela tem um medicamento que ajuda a observar a ação das células aí dentro e nós podemos ver se teremos um filho ou uma filha!

-Isso é impossível! Só dá para ver se é menino ou menina depois do terceiro mês de gravidez! 

-Ela consegue acelerar esse processo. Mas nós só vamos para lá depois de uma entrevista coletiva com um pessoal da ilha que quer nos conhecer, e também temos que arrumar nossa casa! Ah, mas uma coisa... - ele diz em um tom desconfortável.

-O que foi Peeta?

-O pessoal da ilha não conseguiu construir muitas casas pela falta de espaço que a ilha dispõe para a construção de moradias, então nós teríamos de morar com Annie e sua mãe. Tem algum problema nisso?

-Não! Claro que não! Eu adoro Annie, não vai ser problema nenhum morar com elas!

-Ufa! Eu pensei que nós teríamos alguns problemas como a Johanna...

-O que ela teve? - pergunto com um sorriso oculto nos lábios. É sempre bem engraçado quando ela arranja problemas com coisas ridículas então já estou preparada para ouvir o próximo.

-Ela acabou dividindo a casa com outras cinco pessoas. Irene e Lyra eram uma delas, e o resto eram universitárias que iam estudar no CS.

-Ainda não entendi o problema.

-O problema é que são universitárias, festeiras que sempre levam os namorados para casa...

-Já entendi, ela ficaria com ciúmes. - digo sem reprimir uma risada.

-Exatamente. - ele ri comigo.

   Ficamos deitados por alguns minutos observando um raio de sol que iluminava o nosso quarto. Nosso breve momento juntos foi encerrado quando uma Effie Trinket vestida como uma árvore de natal invade nosso quarto com um nível zero de educação e boas maneiras.

-Acordem queridos! Hoje será um grande grande grande dia! - ela diz quase saltitante em nosso quarto. -Eu trouxe a roupa de vocês!

-Desculpe Effie, mas eu já separei a minha roupa... - digo.

-Não querida, é a roupa da entrevista! É especial! Venha ver!

   Levanto a cabeça à contragosto e olho o cabide que Effie traz consigo. “Nada mal”- penso. Era uma simples blusa branca com uma saia longa e fina de um tom rosa claro. Bonito e discreto, com certeza não foi Effie quem escolheu...

-Quem escolheu essa roupa Effie? - pergunto.

-A sua mãe. Ela não me deixou te vestir hoje... - ela diz cabisbaixa.

-Quanto tempo temos? - Peeta pergunta ainda deitado.

-Duas horas. Suas malas já estão prontas?

-Já, estão aí na poltrona.

-Ótimo, até mais tarde.

   Ela sai do quarto e fecha a porta. Me levanto para tomar banho e continuo avaliando a minha roupa. Reconheço ela de algum lugar... Ah claro! Minha mãe usava essa roupa quando eu era criança. Eu sempre babei por essa saia de tão fina que era, e agora ela é minha.”Obrigado mãe”- penso sorrindo. Vou para o banheiro e fecho a porta. Antes de entrar no chuveiro verifico se há uma toalha lá para evitar algum novo constrangimento. Ela estava ali pendurada no toalheiro como o esperado.

   Termino o banho, me seco, me visto e faço uma trança no meu cabelo. Quando saio do banheiro, Peeta ainda está deitado em sono profundo. Eu me sento ao seu lado e fico acariciando seus cabelos até ele acordar. Ele braça a minha cintura e deita a cabeça 

no meu colo enquanto eu continuo a acariciar seus cabelos.

-Acho melhor você começar a se arrumar... - digo.

-Tudo bem. - ele se levanta e pega o outro cabide de Effie. -Até que não está tão ruim.

-Posso ver?

-Nada demais. Calça preta, blusa branca e sapato social.

   Só pra ele não estava nada demais, porque quando ele saiu do banheiro já vestido... Céus, como ele estava lindo!

-Fecha a boca Katniss, senão entra mosca! - ele disse rindo e me dando um beijo.

-Uau! Peeta você... você está lindo!

-Você está mais linda...

   Ele se aproxima para me beijar novamente mas alguém (inconveniente) aparece na porta e eu praticamente sabia quem era só pela bufada que deu antes de falar alguma coisa.

-Os dois estão lindos, agora podemos ir embora? - Johanna disse na porta do meu quarto. Ela estava usando um vestido justo muito sensual com uma jaqueta jeans e uma bota.

-Está bem Johanna... Vamos.

-Espera! - ela diz e vem até mim. Ela pega a minha trança e a desfaz, soltando o meu cabelo e espalhando as mechas em onda ao redor do meu rosto. -Essa blusa é muito clara e você tem ombros largos. Essa trancinha não te favorece. Bem, era só isso. Até mais tarde! - ela sai do quarto me deixando junto com Peeta e uma cara interrogativa em ambos.

-Ela tem razão, você fica linda de cabelo solto. - ele diz e brinca com uma mecha do meu cabelo.

-Obrigada. Pegue as malas, estamos atrasados!

   Me despeço mentalmente do aerodeslizador (ato que alguns considerariam ridículo) e vou para o portão de desembarque. Havia uma fila enorme de pessoas. Vi de longe Effie me chamando junto com Annie, Beetee e Haymitch.

-Queridos, vocês não vão sair por aqui! Nós todos vamos sair por um portão especial onde serão as entrevistas. Vocês viram a Johanna por aí? - Effie disse tentando passar pela multidão que a cercava.

-Ela estava conosco no nosso andar.

-Obrigada sigam-me!

   Fazemos o que Effie pediu e encontramos Johanna no final de uma das filas. Ela vai conosco até um portão menor onde nos apoiamos em barras de ferro até sentirmos o aerodeslizador pousar.

-Senhores passageiros, o pouso foi bem sucedido. Bem vindos à ilha Vitoria! - a aeromoça disse no alto falante sem conter a animação. 

   Gritos são audíveis e provavelmente vem do portão principal. Logo todos do aerodeslizador comemoram a nossa chegada, até eu e Peeta. Deixamo-nos levar pela alegria e nos abraçamos aliviados. Nós chegamos. E chegamos em segurança.

   Peeta me abraça e me gira no ar enquanto todos do nosso portão gritam e pulam (até mesmo Haymitch!). Quando ele me gira, a saia esvoaça em volta de nós dois, assim como acontecia quando meu pai rodava a minha mãe.

   Por uma janela é possível ver o portão onde estávamos sendo aberto e uma multidão enlouquecida saindo de lá. Logo o nosso portão abre e encontramos um palco improvisado montado na saída da rampa.

-Essa é a entrevista? - Peeta pergunta me pondo no chão.

-Sim, eu quero que vocês fiquem atrás dessa parede até chamarem seus nomes. Tudo bem? - Effie diz entusiasmada.

-Effie espera! Porque temos essa entrevista? Porque não podemos ir logo para casa? - eu pergunto.

-Porque tem milhares de pessoas que esperaram por vocês durante um mês. São fãs! Eles se preocuparam com vocês e agora querem dar uma recepção digna de vitoriosos! - ela diz segurando uma das minhas mãos e apertando-a diversas vezes para dar ênfase à algumas palavras. Depois de seu pequeno “discurso” eu me virei para Peeta que abafava uma risada.

-Eu sei que ela é insana, pode rir à vontade. - Foi só falar que ele começou a rir com vontade. Não resisti e comecei a rir junto com ele. -Falta pouco para irmos para casa, não falta?

-Pouquíssimo. Logo seremos só eu e você.

-Eu, você e a nossa criança!

-Isso mesmo! - ele se corrige e se abaixa ficando de frente para minha barriga. -Desculpe meu amor, eu não me esqueci de você!

-Tá bom seu bobo, agora temos coisas mais importantes para fazer. - digo apontando para o palco.

   Quando de repente, eu o vejo.

   Plutarch Havensbee.

-Senhoras e senhores! Habitantes da ilha VItoria! Trouxemos à vocês alguns dos privilegiados vitoriosos de Panem! Recebam calorosamente: Johanna Mason, Annie Cresta, Beetee Jensev, Haymitch Abernathy, Peeta Mellark e Katniss Everdeen!