Olhei para trás e me deparei com uma baixinha de cabelos espetados. Ela tinha dito aquilo e saiu andando com vários vestidos nas mãos, arrastando o namorado louro pelo braço, para o provador.

Rosalie trocava olhares surpresos entre eu e a baixinha. Ok, nem eu entendi o porquê dela ter dito isso.

— Meu... Deus! — exclamou ela, pausadamente. — Bella, você está com tudo!

As meninas perceberam a situação e vieram ver o que estava acontecendo.

— O que foi, Rose? — perguntou Nessie, espantada.

— Alice Cullen acabou de dar uma dica de moda para Bella, isso é impossível!

— Gente! — A expressão de Lauren estava igual à de Rose segundos atrás, assim como o resto das meninas agora. — O que Bella tem que nós não temos?

— Te pergunto a mesma coisa, Lauren! — concordou Jess, por fim, e eu bufei. Não sabia se me sentia por isso, ou se ficava indignada pelo “o que Bella tem que não temos”.

Entreguei o vestido vinho para a vendedora e fui pagar o azul. Eu já tinha um sapato no quarto que acho que combina. As meninas me seguiram, mas diferente de mim, elas estavam com vários vestidos nas mãos.

Quando saímos daquela loja, ainda entramos em mais duas, e depois fomos para casa. O caminho todo elas não paravam de falar das roupas que compraram, e os últimos lançamentos. Eu estava por fora. Estava mais feliz pelos livros que tinha comprado.

Eram sete horas. Resolvemos jantar no restaurante hoje, já que era sábado e podíamos sair. Cada uma foi para seu quarto e marcamos as oito e meia no estacionamento. Íamos no carro de Jess.

Guardei meu vestido, enquanto Rose estava no banho. Fiz o mesmo com os livros e fiquei feliz com minhas escolhas. Olhei a sacada e fiquei curiosa em ir até lá. Desde que cheguei aqui, não tinha apreciado a vista ainda — que dava para os outros dormitórios. Fiquei um pouco desapontada por não ser de frente para um belo jardim, ou até a área da piscina. Algumas pessoas andavam animadamente lá em baixo. Perguntei-me aonde dormiam os Cullen.

Quando Rose saiu, ela me chamou e eu fui tomar meu banho. Às oito e meia em ponto, nós já estávamos lá com as garotas. Entramos no carro e partimos. Jess ligou o som, e ficamos cantando Britney Spears — One, two, three. Eu sabia que era música de patricinha, mas eu era viciada em música pop.

— Amei o restaurante — comentei, assim que chegamos. Era um restaurante italiano, e parecia ser bastante luxuoso.

— É o nosso preferido — contou Nessie, sorrindo. — Vamos pedir agora?

— Acabamos de chegar. Vamos pedir entradas — sugeriu Lauren, e nós concordamos.

O garçom nos atendeu, e logo um assunto surgiu.

— Mas ela nem teve culpa! — brincou Rose, e todas riram.

Estávamos falando sobre a queda de uma menina no intervalo hoje, quando Jacob — um dos Cullen — entrou no restaurante com uma ruiva ao seu lado. Vi os olhos de Nessie se encherem de lágrimas. Rapidamente, ela se levantou e saiu quase correndo em direção ao banheiro. Rose e Lauren a seguiram.

— Jacob está namorando? — perguntei, não entendendo nada.

— Na verdade, saindo — corrigiu Jess. — Ele sai com essa garota desde o último dia de aula do ano passado. Os rumores dizem que eles já ficaram, só que não assumem nada.

— Ela é daqui? — Olhei para trás, e eles estavam conversando animadamente. Ele parecia não amar ela, e isso era bom.

A garota tinha minha altura. Seus cabelos eram lisos e alaranjados, com uma franja. Seus olhos eram azuis, como os meus, e me lembrava os olhos da Amy Winehouse.

— Não. Eu já falei que os Cullen não se relacionam com pessoas do internato, só com você.

Nem dei atenção e continuei olhando eles.

— Nessie já tentou falar com ele?

— Já. Várias vezes — explicou entediada, quase revirando os olhos. — Todas às vezes, ele simplesmente a cortou. Eles não dão abertura para aproximações. Isso é frustrante, sabe? A mesma coisa ocorre com Rose e Emmett. Ele não dava atenção a ela, só foi falar agora por sua causa.

Captei aquelas informações, vendo Nessie retornar com as meninas. Os olhos dela estavam vermelhos, com certeza tinha chorado.

— Quer ir embora, Nessie? — sugeri, e ela balançou a cabeça, afirmativamente. — Pode ir indo, eu pago a conta.

Rose e Lauren a levaram para o carro; Jess deu as chaves para Rose, e elas foram, sobrando Jess e eu. Chamei o garçom e ele me trouxe a conta. Passei meu cartão e peguei o recibo. Antes de sairmos do restaurante, dei uma última olhada na mesa de Jacob, e para minha surpresa, ele estava olhando para mim. Corei e não olhei mais.

Fomos andando em silêncio até o carro. Quando chegamos lá, Jess sentou no banco do motorista, e eu no do carona. As meninas estavam abraçadas com Nessie, enquanto ela ainda chorava silenciosamente. Sofrer por amor deve ser um saco. Ainda bem que eu nunca me apaixonei.

Quando chegamos aos dormitórios, Nessie tinha dormido. Saímos do carro e nos deparamos com Mike Newton, o garoto que tinha mandado aquele bilhete de declaração para Jess.

— Mike, nos ajude aqui — pediu Jess, e ele rapidamente veio, preocupado.

— Aconteceu alguma coisa com vocês?

— Não — respondi, deixando-o aliviado. — É que Nessie acabou cochilando no carro e não queremos acordá-la. Será que você pode carregá-la até o quarto?

— Tudo bem.

Ele a pegou com cuidado no colo e Jess acionou o alarme do carro, travando-o. Subimos e fomos para o quarto das meninas. Só aí me toquei que ainda não tinha entrado lá.

Lauren destrancou a porta e entramos com Mike. Rosalie — diferente de nós — ficou na frente do elevador, só entraria quando Mike saísse, por causa das câmeras.

— Obrigada, Mike! — agradeceu Jess. — Estou te devendo uma.

Ajudei Lauren a tirar os sapatos de Nessie, e fiquei atenta na conversa de Jess com o Mike na porta.

— Devia me pagar aceitando sair comigo.

Ela pensou um pouco e respondeu:

— Tudo bem, marca um dia e nós vamos.

Olhei para eles e vi Mike sorrindo. Ele deu um beijo na bochecha dela e acenou um tchau para nós. Formavam um belo casal. Minutos depois, Rosalie entrou no quarto.

— Deixa-a dormir. Chorou tanto — pediu, cobrindo-a.

Assentimos, e logo fomos para o nosso dormitório. O quarto das meninas era maior que o nosso, pois lá eram três camas, e cá, só duas. Entramos no quarto e minha barriga roncou. Na correria, só comemos uns espetinhos de queijo, eu ainda estava morrendo de fome.

 — Rose, você não está com fome?

— Na verdade, não. Meu estômago já está acostumado a comer pouco. Regime — respondeu rindo. — Por quê? Está com fome?

— Estou — admiti. — Acho que vou ao refeitório.

— Quer que eu vá com você?

— Se quiser, senão, eu vou sozinha, não tem problema.

— Você é minha amiga, Bella, não vou te deixar sozinha. Vamos.

Confesso que ainda eram estranhas essas gentilezas de amigos. Sorri e descemos para o refeitório. Para minha surpresa, não estava cheio como de costume; deve ser porque era um sábado à noite, e as saídas eram permitidas. Fiz meu pedido, e Rose pediu uma coisa leve. Nós sentamos à mesa e Tânia veio até nós, juntamente com as aprendizas de bruxa. O que aquela cobra queria?

— Soube que está virando amiguinha dos Cullen, Swan. É verdade isso? — ela parou em frente a nossa mesa, com os braços cruzados no peito. Sua voz me dava nojo.

— Se é, ou não, não te interessa, Tânia — cortou Rose, e eu sorri internamente. As seguidoras de Tânia estavam logo atrás dela.

— Olha como você fala comigo, sua loura azeda! — rebateu Tânia, e Rosalie levantou da mesa, irritada.

— Você também é loura, e se sou azeda, você é amarga. O que quer com minha amiga, hein? Está com ciúmes?

— Que lindo! Isabella precisa de um cão de guarda para lhe defender! — zombou Irina.

Levantei-me da cadeira, me juntando a Rosalie. Aquelas garotas procuravam confusão.

— Não preciso de ninguém para me defender, não, Irina, aliás, não quero confusão, vocês deviam sair daqui agora — grunhi irritada, e Tânia me olhou novamente, ameaçadora.

— Escute bem o que eu vou te dizer, Swan, fica longe dos garotos Cullen, ouviu? Isso se não quiser ganhar uma inimiga dentro dessa escola.

É impressão minha, ou ela não colocou o dedo na minha cara novamente com medo de que eu quebrasse outra garra dela?

— Eu não falo com ninguém, eles que falam comigo — defendi-me sincera, mas elas nem me escutaram.

— Me faça rir, Swan! — sorriu Katie, debochada. — Os Cullen não correm atrás de ninguém, as pessoas que correm atrás dos Cullen. Você foi apenas uma sortuda por eles terem te dado atenção.

— Coisa que vocês nunca conseguiram, não é, Katie?

Tomei um susto e vi Rosalie paralisar no lugar. Era a segunda vez hoje que um Cullen se intrometia em uma conversa minha. Era perseguição agora? Parecia que quanto mais eu tentava me livrar dessa família e das pessoas da escola, mas eles se aproximavam de mim. Eu mereço!

— Emmett — gaguejou Tânia, surpresa. — Que atenção? Nós nunca corremos atrás de vocês!

— Me poupe, Tânia, faça-me um favor. Eu sei que aquelas cartas rosa com cheiro de perfume da Lacoste são de vocês. E por falar nisso, detesto aquela fragrância — reclamou, posicionado ao meu lado.

— Não sei do que você está falando, Emmett! — discutiu Tânia, gaguejando mais ainda.

Ele revirou os olhos e puxou uma cadeira na nossa mesa, sentando-se logo em seguida.

— Tânia, vaza daqui. Deixe as meninas jantarem em paz! — ordenou ele, cansado.

Rose e eu arregalamos os olhos, surpresas. Rapidamente, a expressão de Tânia se tornou uma completamente fúria. Juro que dessa vez fiquei com medo.

— Por que vocês estão dando atenção a elas agora? Por que os Cullen estão se misturando com outras pessoas no internato? — gritou Tânia, descontrolada.

E vocês já sabem... Lá vem os holofotes para minha mesa novamente. Emmett se levantou, nervoso, e a fitou com o mesmo olhar.

— Deve ser porque se misturar com pessoas do internato dá nisso, confusão! — ele saiu de lá pisando duro, Rosalie e eu apenas encaramos a situação, sem saber o que fazer.

Tânia xingou todo mundo e saiu empurrando as pessoas, sendo seguida por suas parentas. Saí do meu transe e estalei meus dedos na frente de Rosalie, fazendo-a acordar também. Ninguém do refeitório piscava. Eu era a notícia da semana, mais uma vez. Pegamos nossa comida e fomos comer no quarto. Já chega de emoções por hoje!

— Nunca vi o Emmett desse jeito. Aliás, tudo nesse ano está sendo novo para mim.

Eu estava escovando os dentes para dormir, enquanto Rosalie estava escorada na pia, esperando-me.

— Ele parecia até magoado falando aquilo. Ouvi rumores assim que cheguei aqui, que os Cullen mais velhos falavam com as pessoas do internato, mas algo aconteceu, e eles pararam de falar. É como se uma parede tivesse se levantado entre eles e nós. Então os Cullen mais novos entraram, porém, com as mesmas regras dos velhos: não falar com ninguém.

Lavei minha boca e guardei minha escova. Voltei para o quarto, com Rosalie me seguindo.

— E o que foi que aconteceu? — perguntei, sentando em minha cama. Rose fez o mesmo, segurando um dos meus travesseiros de coração. Presente dos meus pais...

— Não sei! Essa parte não explicaram direito. Parece que o que aconteceu foi particular, e as pessoas que participaram disso saíram do internato. Na verdade, foram expulsos — corrigiu, com o olhar perdido em um canto do quarto.

— Estranho — murmurei, sem saber o que dizer. — Aonde os Cullen dormem?

— Jasper, Edward, Jacob e Emmett dividem o mesmo quarto. Eles dormem na ala dos meninos, daqui do médio mesmo. Ala 28, quarto 227f.

— E Alice?

— Em um quarto sozinha, na ala 1, quarto 10a. Perto daqui.

— Pensei que eles ficavam em algum lugar especial — admiti.

— E ficavam, mas desde o ano passado, voltaram para as alas normais. Acho que quiseram assim.

— E por que Alice não dividiu o quarto com um dos garotos?

— Pelo que ouvi falar, ela queria ficar no mesmo quarto que Jasper, mas os pais dela não autorizaram, então ela preferiu ficar sozinha. Sabe qual a fama dela por aqui? — Neguei com a cabeça. — Metida, porque ela não fala com ninguém, mesmo se você falar com ela. Por isso fiquei tão espantada naquela hora. Ela e Jasper são os mais reservados. Jake ainda responde, mas dando cortadas nas suas perguntas, sem te dar espaço para fazer outra. Edward e Emmett são os mais “abertos” — explicou, fazendo aspas no ar.

Aquilo era informação demais para minha cabeça. Pensei seriamente na chance de haver uma “Enciclopédia dos Cullen” em algum lugar do internato. Será que todos sabiam sobre essas coisas? Eu não queria defender os Cullen, mas se eu fosse eles, também ficaria receosa em me comunicar com essas pessoas. Imagine, se eles não falam com ninguém e sabem tantas coisas sobre eles, o que seria deles, se falassem?

Rosalie bocejou e eu falei para dormimos, já que o dia tinha sido cheio. Ela apagou a luz e eu entrei debaixo do meu cobertor. Esqueci de comentar que as camas aqui eram king size, assim como em minha casa.

Preguei os olhos com duas perguntas martelando em minha cabeça: o que tinha acontecido com os Cullen para eles pararem de ser amigos do povo do internato, e por que eles decidiram voltar à aproximação por mim — se é que estavam tentando uma reaproximação.

Seja lá qual fossem as respostas, eu ainda ia descobrir durante esse ano. Isso se Tânia não me matasse antes. Fiquei feliz que, após ser dominada pela escuridão, imagens dos meus pais invadiram minha mente. Eu estava com saudade daqueles festeiros.

Acordei dessa vez sem ninguém me chamando. Acho que recuperei minhas forças. Olhei para a cama de Rose e ela ainda estava dormindo. Verifiquei o relógio na mesa-de-cabeceira, e era meio-dia e trinte e sete.

Sentei na cama e elevei meus braços sobre a cabeça, espreguiçando-me. Era hoje que ia ter a festa de boas-vindas, e algo me dizia que não seria nada interessante...

Depois de alguns minutos, tomei coragem e levantei da cama. Que preguiça! Peguei minha toalha e fui direto tomar um banho, para ver se despertava. Quando saí do banheiro, Rosalie ainda estava dormindo. Minha barriga roncou de fome e achei melhor deixá-la dormindo, e ir tomar meu café.

Peguei minha bolsinha de dinheiro e saí. Bati no quarto ao lado, e alguns minutos depois, ela foi aberta por Lauren.

— Algum problema, Bella? — perguntou ela, com cara de sono.

— Ai, Deus, desculpa! Te acordei? — desculpei-me, envergonhada.

— Na verdade, não — respondeu, coçando os olhos. — Só preguiça de levantar mesmo. O que foi?

— Rosalie ainda está dormindo, vim ver se vocês estavam acordadas para tomar café comigo.

— As meninas também estão dormindo. Se quiser esperar, farei companhia a você.

— Eu vou indo na frente, quando terminar, me ligue.

— Tudo bem, tchau — concordou, fechando a porta, e então fui para o elevador. Uma menina morena entrou comigo. Eu não a conhecia.

Entrei no refeitório e, como já estava sendo de costume, às pessoas me olharam e cochicharam coisas. Sentei-me à mesa de sempre das meninas e fiz meu pedido para o garçom. Enquanto esperava, vi a família Cullen reunida na mesa deles. Hoje a mesa estava completa. A menina que estava com o Jake ontem, estava ao seu lado agora. Isso não era nada bom.

O garçom chegou com meu pedido e depositou-o na mesa. Se Nessie viesse aqui, iria ficar triste novamente, e eu não queria que isso acontecesse. Retirei meu celular do bolso e mandei um sms para Lauren:

“Não traga Nessie para o refeitório agora, Jake não está sozinho...”

Apertei o enviar e coloquei meu celular sobre a mesa, bebericando o suco de laranja que havia pedido. Escutei meu celular vibrando, pensei que era Lauren me respondendo, mas era um pedido do Bluetooth. Quem estava me mandando aquilo? O nome estava identificado como T.Den. Aceitei por curiosidade.

Alguns segundos depois, o arquivo foi enviado. Quando abri-lo, descobri que era um slide. Nele, havia várias fotos de vacas sendo ordenhadas, com uma legenda em baixo, escrito:

“Lugar de vaca é no brejo, não na civilização. Cuidado, você pode parar no açougue... T.Den.”.