Meus olhos se arregalaram e rapidamente fiquei enrubescida. Edward estava com um short de malhação preto, uma camisa sem manga branca, um tênis esportivo da Nike, um apito pendurado em seu pescoço e uma prancheta nas mãos. Pude ver que ele também ficou sem graça com a situação.

— Oh, me desculpe, eu volto mais tarde — lamentou-se, mas senti que seus olhos não saiam do meu corpo.

— Não, tudo bem, deixa só eu me trocar e você fala.

— Não, eu volto em outra hora...

— Fale sobre o que é — insisti. Eu estava curiosa para saber o que aquele deus grego estava fazendo parado na porta do meu quarto.

Ele deu uma leve tosse, desviando seus olhos para os meus, me hipnotizando novamente.

— Bem, você e sua colega de quarto estão escritas para as aulas de educação física, que serão dadas por mim e Emmett. Vocês têm a opção de escolher quais esportes querem praticar. Depois eu te explico melhor, vou para o próximo quarto, tchau.

Nem tive tempo de argumentar, porque ele disparou quarto a fora, em passos extremamente rápidos. O que foi aquilo? Eu, hein!

Fechei a porta do meu quarto e voltei para o computador. Depois que cansei, vesti uma roupa, sequei o cabelo com o secador, e fui assistir TV. Quando Rosalie chegou, ela tomou banho e depois descemos para jantar. Encontramos as meninas sentadas no mesmo lugar que estavam no almoço.

— Pronto — falou Rosalie, assim que nos juntamos à mesa também. — Vamos começar com as perguntas, estou morrendo de curiosidade!

— Você acabou com a raça da vadia da Tânia! — exclamou Jess, orgulhosa. — Faz dois anos que quero fazer isso, mas nunca tive a oportunidade. Você é o máximo, Bella!

Suas palavras pousaram no ar como mágica. Eu nunca tinha escutado aquela frase vir de outra pessoa, a não ser dos meus pais. Era tudo tão surreal!

Quatro pares de olhos me encaravam na espera de explicações; contei como começou a briga e quem nos separou: Edward e Emmett Cullen. Elas foram ao delírio nesse momento. Falei como tinha ido à coordenação, e elas ficaram irritadas por não ter acontecido nada com Tânia, mas pedi para deixarem para lá. Continuei minha resenha, já na sala da detenção. Nessa parte, narrei exatamente nos mínimos detalhes; Rosalie me olhava abismada.

— Garota! Estudo aqui há dois anos, e nunca falei um “desculpa” ao Emmett, e você, em apenas algumas horas, já virou amiga dele? Conte-me! Você tem que me ensinar o truque!

— Não foi truque, Rose, foi sorte. Eu nem tive a intenção, fiquei tão surpresa quanto vocês! Eles pareciam ser legais, e disseram que gostaram de mim — dei de ombros.

— Viu, Bella? Eu disse que você era o máximo! Você é amiga dos Cullen! — comemorou Nessie, e eu revirei os olhos. Até parece!

— Bella, você precisa me ajudar a conquistar o Emmett! Por favor, você é amiga dele agora, minhas chances são maiores! — implorou Rosalie.

— Não sou amiga deles ainda, e nem sei se um dia vou ser. Digo e repito: foi apenas coincidência.

— Aconteceu mais alguma coisa super, Bella? — perguntou Lauren, rindo. Todas voltaram a me olhar.

— Hã... sim — respondi, dessa vez corando. — Eu estava de roupão no quarto, quando alguém bateu na porta e eu abri, pensando ser Rose. Mas quando vi, me deparei com Edward vestido esportivamente com uma prancheta nas mãos...

— OH, MY GOD! — gritaram as quatro de vez, chamando a atenção do refeitório. Que droga, era agora que não iria deixar de ser falada pela boca desse povo intrometido.

— Bella, solta tudo! — exigiu Jess.

Eu já estava até me acostumando com esse jeito histérico e jornalístico delas de me abordar. O que não estava gostando nada era do olhar que algumas pessoas me lançavam toda vez que passavam perto de minha nova mesa. Alguns eram admirados, outros, puro veneno, no melhor estilo Tânia Denali.

Relatei o que Edward tinha falado para mim, e do modo que saiu apressado. Elas se entreolharam; seus olhares maliciosos me fizeram arregalar os olhos.

— Bella, Bella! Já está arrasando o coração do Cullen mais gato? Você é rápida, viu! — comentou Nessie, ainda com o sorriso malicioso.

— Aff, gente! Não é nada disso! Na certa, ele estava com pressa, ou algum problema... sei lá! Até parece que um garoto da universidade iria olhar para uma sem sal como eu — declarei ressentida, nem sei por quê.

— Bella! Não fale uma coisa dessas! — repreendeu-me Rose. — Você é linda, gata e tem poder suficiente para seduzir Edward e a população masculina dessa escola, se bobear, até feminina! — disse, dando-me uma piscada.

Dei de ombros e acenei para o garçom perto da ala das comidas, que veio prontamente. Fizemos nossos pedidos e mudamos de assunto; elas me contaram como tinha sido o dia. Jess disse que um garoto de sua aula de física se declarou por bilhete para ela, mas que ela ficou na dúvida se aceitava ou não. Nós — sim, eu também falei! — a aconselhamos sair com ele um dia, para ver se dariam, ou não, certo, e ela concordou.

Quando terminamos, andamos nos arredores da escola, vendo alguns casais se agarrando no escuro. Tenho certeza que tem garotos dormindo em quartos de garotas, mesmo sem autorização dos pais.

Fomos para o meu quarto, para fazermos nossas atividades juntas, e conversarmos mais. Era incrível o tanto que eu estava falando nessas últimas 48 horas. Se bobear, mais que toda minha vida!

Assim que saímos do elevador, nos deparamos com Emmett e Edward no corredor, ambos com as pranchetas nas mãos. Emmett estava vestido da mesma forma que Edward, só que sua camiseta era preta. Quando meus olhos se encontraram com os verdes de Edward, rapidamente corei e abaixei a cabeça.

— Vocês são dos quartos 54 e 55c? — perguntou Emmett.

— Somos sim — respondeu Jess. Olhei de relance para Rosalie, e ela não piscava.

— Queremos saber que esporte vocês irão praticar na educação física — respondeu ele. Pude ver as meninas dando um risinho e olhando para mim. Corei novamente.

— Quais são as opções? — indagou Nessie.

Nesse momento, um cara fardado de azul saiu do elevador e nos encarou zangado, resmungando:

— Nada de permanecer nos corredores, regras da escola. — Pela bronca, só podia ser o supervisor dos corredores.

— Deixa de ser chato, Dean, estamos fazendo nosso trabalho — disse Edward.

— Não e só porque vocês são filhos do diretor, que podem fazer o que quiser. Ou entra, ou desce — cuspiu sério.

Emmett soltou um suspiro irritado.

— Vamos resolver isso no quarto de vocês — sugeriu.

— Epa, mocinhos! — reclamou novamente. Ele aparentava ter seus 45 anos. — Nada de garotos no quarto das garotas.

— Vai se fuder, Dean, que saco! Vamos logo, meninas — xingou Emmett, e eu fiquei de boca aberta.

— Seu pai vai saber disso, Emmett! Ah, se vai! — E dizendo isso, ele voltou para o elevador, mas não antes do Emmett mandar o dedo do meio para ele. Credo! Que grosseria!

Entramos no meu quarto; Edward, como foi o último, fechou a porta. Eles se sentaram à escrivaninha, e nos juntamos a eles. Eu ainda estava abismada com a forma que Emmett tratou o supervisor.

— Não liguem, acredite, ele mereceu — explicou Edward, ao notar meu desconforto.

— Então, você perguntou quais eram as opções — relembrou Emmett, olhando para Nessie. Ela balançou a cabeça, afirmativamente.

Ele nos distribuiu uma lista com o nome dos esportes que a escola oferecia. Li as opções e me interessei por três.

— Podemos escolher quantos? — perguntei, e Edward me respondeu:

— Dois. Mas se escolherem ser líder de torcida, só poderá escolher um.

Franzi o nariz com aquela opção. Eu nunca quis ser líder de torcida, nunca fiz questão. Tirei um das minhas opções, ficando com vôlei e handebol.

— Vou querer vôlei e handebol — avisei, e vi Emmett anotar na prancheta.

Devolvi a eles o papel e esperei as meninas escolherem os delas. No momento, as quatro estavam discutindo sobre as opções. Nossa, quanta dificuldade!

Sem querer, meu olhar cruzou com o de Edward novamente, mas dessa vez, ele me lançou um sorriso simpático.

— Como foi à detenção? — quis saber, repentinamente.

Torci meus lábios e respondi:

— Mais ou menos. Eu fiquei conversando com o professor, até fiz amizade com ele — respondi sorrindo.

Ele também riu, sendo seguido por Emmett.

— Bellinha esperta! Virou amiga dele porque pretende voltar lá mais vezes, não é?

Fiquei espantada pelo apelido que Emmett havia me posto, mas fui despertada pela sonora gargalhada de Edward, atraindo a atenção das meninas, que não entenderam nada. Era a primeira vez que alguém me chamava de Bellinha na vida. Parecia nome de cachorro, mas achei melhor não comentar.

— Nada disso, Emmett, só quis ser educada.

Dessa vez, Emmett que caiu em uma risada estrondosa. Eu e o povo o encaramos.

— Emmett, deixa de escândalo — repreendeu Edward. — Já escolheram, meninas?

— Sim — respondeu Rose, sorrindo para Emmett. Finalmente ela acordou. — Eu vou querer futebol e tênis.

— Seu nome? — perguntou Emmett, e percebi que ela ficou um pouco triste.

— Rosalie Hale — respondeu baixo.

Ele anotou e Jess falou o que ela queria:

— Handebol e basquete. Jessica Stanley.

— Golf e natação. Renesmee Carlie.

— Só um segundo — pediu Emmett, enquanto terminava de anotar. — Pode falar.

—Basquete e tênis. Lauren Mallory.

Emmett terminou de escrever e soltou um suspiro cansado.

— Finalmente terminamos! — exclamou, sorrindo para Edward, que retribuiu o sorriso, igualmente cansado. — Só faltavam vocês.

— As aulas começam semana que vem. As terça e quintas depois da aula. E só para lembrar, educação física reprova no final do ano, então acho bom não ficarem faltando — alertou Edward, e nós rimos.

— Quem vão ser nossos professores? — perguntou Lauren. Notei um brilho de interesse em seus olhos. Emmett respondeu:

— Esse ano eu vou ficar na equipe de vôlei, e Edward, na de handebol. Os outros esportes eu não sei. Bellinha, você está em nossa turma, mas Tânia também, então se comporte!

Os dois caíram nas risadas, enquanto eu os olhava, irritada. Aff! Que garotos bestas. Eles se levantaram para ir embora, eu e Rosalie os acompanhamos até a porta. Sua expressão estava estranha.

Antes de sair, Emmett se espreguiçou no portal da porta, e Edward deu um tapa na cabeça dele. Emmett tomou um susto, e nós três rimos.

— Você é retardado, Edward?

— Só estava descontando de mais cedo — argumentou, dando de ombros. — Meus pés estão ardendo de tanto andar!

— Vocês andaram a escola toda perguntando isso? — perguntou Rosalie, espantada.

— Não, gatinha, nós ficamos na ala dois e três, e só com as garotas do terceiro ano. Mas mesmo assim, foram 127 pessoas ao total. Não são poucas — respondeu, olhando na prancheta.

— Como vocês vão dar aula de educação física se estão na faculdade? — eu quis saber, curiosa. Só depois me arrependi de ter soltado aquela informação. E se eles pensassem que eu fosse mais uma admiradora que já havia pesquisado cada centímetro de suas vidas?

Edward franziu a testa, mas respondeu:

— Nas terças e quintas só teremos aula até as duas da tarde. As aulas aqui só começam às três e meia. Sem problema.

— Ok, pessoal, vamos nos retirar antes que o Dean volte. Aquele insuportável. Tchau, Bellinha — Emmett se despediu, dando-me um abraço esmagador.

— Emmett, eu não consigo respirar! — falei, tentando me livrar de seu abraço de urso. — E pare de me chamar de Bellinha, parece nome de cachorro!

Ele soltou mais uma daquelas suas gargalhadas estrondosas, e foi se despedir de Rosalie. Edward me olhou com um pedido silencioso se podia me abraçar, e eu apenas dei um sorriso tímido. Ele veio até mim e me abraçou, seu perfume logo se infiltrou em meus pulmões. Nossa, como ele cheirava bem! Seu abraço era tão gentil e doce que não dava mais vontade de sair dali. Ele deu um beijo estalado em minha bochecha, e se separou de mim, com um sorriso torto.

Com mais um “tchau”, os dois se foram corredor afora. Olhei para Rosalie, e ela estava com um sorriso bobo nos lábios.

— Ele se lembrou do meu nome, e eu ainda ganhei um beijo no rosto! — disse suspirando. A expressão estranha havia ido embora.

— Ele falou algo com você?

— Não, apenas um “tchau”, mas foi o melhor “tchau” que eu recebi na vida!

Sorri e nós entramos no quarto, fechando a porta. As meninas ficaram na expectativa, querendo saber o que tinha ocorrido. Contamos tudo nos detalhes — como sempre —, e elas ficaram felizes por Rosalie.

Depois das conversas, fizemos as atividades. Um pouco depois da meia noite, as meninas foram embora, restando Rosalie e eu.

— Boa-noite, colega de quarto mais sortuda do mundo.

— Boa-noite, Rose. — Sorri com o que ela disse. Se ela soubesse como era minha vida antes daqui! — Sonhe com o idiota do Emmett — completei, e ela riu.

— Pode deixar, eu faço isso todos os dias!

Essas foram às últimas palavras que escutei antes de cair em um sono profundo, sem sonhos. Quando acordei pela manhã, a primeira coisa que me lembrei foram das palavras de Edward: a tal lista negra de Tânia.

Eu e Rose nos arrumamos e saímos. Nossa primeira aula era a mesma. Lauren também tinha essa aula com a gente. Passamos no quarto das meninas e descemos as cinco juntas para tomarmos café.

As primeiras aulas tinham passado rápido. Quando estava indo me encontrar com as meninas, as pessoas ainda me encaravam, mas nem liguei. Daqui a pouco surge uma fofoca nova e eles me esquecem.

Tânia já estava lá com as amiguinhas, soltando risadas iguais a hienas. Quando ela me viu, apenas me mandou um olhar ameaçador, que pouco me importei.

Eu realmente não estava me importando com mais nada, pois, segundo minha análise de três dias aqui, quanto mais me escondia, mais era descoberta. Então, se eu me amostrasse, ao invés de tentar me esconder, seria esquecida. Isso.

Depois da hora do almoço, voltamos para sala, e assim se passou a primeira semana de aula.

Eu estava gostando da escola. Eu tinha feito quatro melhores amigas, tinha uma relação sociável com meus colegas — menos com Tânia e o grupo dela, claro. Mas desde aquele dia, ela tinha me ignorado. Apenas me mandava olhares ameaçadores, nada mais. As meninas estavam preocupadas comigo, afinal, Tânia quieta não era boa coisa. Eu nem liguei, resolvi deletar aquele dia da minha cabeça.

Já Edward e Emmett, não os vi mais. Rosalie disse que essa semana eles ficaram o tempo todo na diretória, mas que a partir da semana que vem, eles iam ficar o intervalo com os irmãos. Ela não via à hora disso acontecer.

Nessie passava quase o intervalo todo encarando a mesa dos Cullen. Eles realmente não falavam com ninguém, e isso era estranho. Eu tinha algumas aulas com eles, mas os mesmos não davam um pio na aula, só abriam a boca para conversar entre si ou com os professores.

Estranho.

Hoje já era sexta, e as pessoas não paravam de falar na festa de boas-vindas que seria realizada no domingo à noite. Segunda não teria aula por causa da festa. Um belo motivo para ficar feliz e triste ao mesmo tempo.

Eu e as meninas estávamos conversando sobre isso no meu quarto.

— Ah, Bella, por favor, venha conosco! Você não vai se arrepender! — implorava Jess.

— Eu já disse que odeio festas, eu ia aos sociais dos meus pais apulso.

— Bella, mas agora é diferente, é uma festa de adolescente, e vai bombar muito! — insistiu Rosalie. — Além do mais, eu consegui cinco entradas para a festa do povo da faculdade...

— Mentira, Rosalie! — gritou Lauren, enquanto as outras a encaravam de boca aberta. — Como você conseguiu isso, sua vaca?

— Querida, com minha beleza, eu vou longe. — Nem um pouco modesta ela, né?

— Estou boiando — avisei, com cara de tédio.

— Bem — começou Nessie —, a festa de boas-vindas é dividida em duas. A do médio e a da faculdade. Na verdade três, porque ainda tem o do ginásio.

— Como assim, ginásio? Pensei que o Internato Cullen só tinha médio e faculdade.

— Tem o ginásio, só não tem o primário — respondeu Rosalie. — O ginásio fica a trinta quilômetros à direita, e a faculdade Cullen fica dez à esquerda.

— Estou entendendo. Continue.

— Então — voltou Nessie —, nossa festa seria a do médio, mas Rosalie conseguiu entradas para a festa do povo da faculdade; pela primeira vez, desde que entramos aqui!

— Só para você ter ideia, só quem conseguia entrar lá era os Cullen que estuda com a gente, e o grupo de Tânia. Bella, eu acho que você está nos dando sorte! — comemorou Rose e eu sorri.

— Tudo bem, parece ser uma história incrível, mas eu realmente não estou a fim de ir. Sério, vão sem mim.

— Nada disso, Bella! Você faz parte de nossa família agora! Não vamos nos divertir e deixar você sozinha aqui, presa nesse quarto. Se você não for, nós não vamos — declarou Nessie, e todas concordaram.

Suspirei e vi que tinham falado sério. Olhei para Rosalie. Ela deve ter tido muito trabalho para conseguir essas entradas, e eu sei que isso significa muito pra ela, afinal, iria ficar perto de seu amor. Elas estavam sendo tão boas comigo, e eu não queria decepcioná-las — mesmo que para isso, eu fizesse algo que detesto.

— Ok, eu vou! Mas se eu ficar sentada em uma cadeira carrancuda, não reclamem comigo!

— Bellinha, você vai se divertir muito e não irá se arrepender! — disse Rosalie, animada. Já estava me arrependendo...

— Quer parar de me chamar desse apelido ridículo que seu namorado colocou em mim? Eu já disse que parece nome de cachorro!

— Awn! Namorado! Você disse que ele era meu namorado! — repetiu, com os olhos brilhando. Eu e as meninas rimos.

Como amanhã era fim de semana, chamamos as meninas para dormir aqui. Combinamos de darmos uma volta no shopping e comprarmos nossas roupas para a festa. Eu não quis ir, como sempre, mas elas vieram com aquela mesma ladainha, então tive que ceder novamente. Saco!

Desde que cheguei aqui, meus pais ainda não tinham me ligado. Quando eles estavam falando que só iam entrar em contato comigo apenas uma vez por mês, eles não estavam brincando. Os pais das meninas falaram a mesma coisa — sobre visitas apenas mensalmente —, mas elas recebiam telefonemas durante a semana.

— Meu pai ligou hoje — comentou Rose, irritada.

— O que ele disse, amiga? — inquiriu Lauren, preocupada.

— Ele comentou de segunda, perguntou quem eram aqueles dois garotos que estavam aqui no meu quarto.

— Edward e Emmett? — perguntei assustada. — Como ele descobriu?

— Hum... Acho que não comentei com você que meu pai instalou câmeras aqui — admitiu envergonhada.

— Ai, Deus! Isso é injusto! Seu pai não tem o direito de fazer isso, não é só você que dorme nesse quarto! — cuspi irritada, imaginando está sendo vigiada agora mesmo.

— Calma, Bella, não fica assim. A câmera só está na entrada do quarto — disse ela, tentando me acalmar. Mesmo assim, ainda fiquei invocada com isso.

— Ah, tá! — suspirei aliviada. — Pensei que havia câmeras até no banheiro.

— Nossa, o pai dela não seria tão exagerado a ponto de fazer isso — brincou Jess, rindo. — Mas relaxa, você com certeza não está no Big Brother França!

— Continuando — disse Rosalie, interrompendo-a —, meu pai não gostou nada, e veio com as mesmas palavras de me tirar do internato.

— Seu pai é insuportável, Rose! Acredita que na porta de nosso quarto também tem uma câmera, Bella? Tudo isso para ver se Rosalie não aparece por lá com um garoto! — declarou Nessie.

— Seu pai por acaso fica sentado o dia todo atrás de uma TV te monitorando? — ironizei.

— Ele paga seguranças para isso — respondeu ela, e meu sorriso irônico logo saiu do rosto. Deus! Como esse homem era paranoico!

Mudamos de assunto rapidamente, e depois de muitas conversas, pegamos no sono. No outro dia, aquele sinal insuportável não tocou, podíamos dormir até a hora que quiséssemos, mas Jess acordou primeiro e chamou todas nós. Ainda eram dez horas.

Arrumamo-nos, e seguimos direto para o estacionamento, íamos tomar café no shopping mesmo.

— Bella, você tem carro aqui? — perguntou Rose.

— Não, nunca tive um, sempre fui levada por motoristas.

Eu nunca dei importância por não ter carro, na verdade, nem sabia dirigir. Sempre ia para todos os lugares com meu motorista, até para escola.

— Mas aqui você não tem motorista — lembrou-me Jess.

— Aqui tem transportes particulares, como se fosse táxi — comentei, me lembrando do que li naquele email sobre a escola.

— Ah, é mesmo — disse ela, recordando-se. — Eu andava nesses táxis no primeiro ano, já que tinha 15 anos e não podia dirigir.

— Eu pego esses táxis até hoje! — admitiu Nessie, rindo. — Minha última tentativa de dirigir levou a morte do pato do meu avô.

Todas nós rimos. Apenas Jess, Rose e Lauren tinham carro. Rosalie ofereceu o dela, e fomos todas juntas. Seu carro era um lindo conversível Dodge Viper 16 vermelho, e na placa tinha escrito “R. Hale”.

Em poucos minutos, chegamos ao shopping, apesar das ruas estarem cheias. No caminho, recebemos algumas buzinadas, mas nós ignoramos. Garotos idiotas.

No outro lado da rua ficava a academia. O shopping parecia ser enorme de fora, suas paredes eram de vidro, e sua entrada, um caminho de pedras brancas que brilhavam com a luz do sol. A arquitetura era realmente moderna e lustrosa. Havia vagas para estacionar na frente do shopping e um estacionamento interno. Rosalie preferiu ficar por ali mesmo.

— O povo da faculdade que é sortudo — resmungou Lauren, descendo do carro. — Até andando eles vem pra cá. É tão pertinho!

— É mesmo — confirmou Jess. — Ali, Bella.

Apontou, assim que ela percebeu que eu estava procurando a tal faculdade. Eram alguns metros depois do shopping, e era ainda maior que nossa escola. Muito maior!

— Aquele é o primeiro campus. A faculdade é dividida em cinco — explicou-me Rose. — Ali ficam apenas áreas até a letra “E”, mais para frente fica o segundo campus, que vai da letra “F” até “J”, e assim por diante, até Z. Os dormitórios são separados também em cinco áreas, eles ficam na frente de seus respectivos campus.

— Hum, interessante. Então essa mini cidade aqui é utilizada pelo ginásio até a faculdade? — perguntei para confirmar.

— Isso.

Entramos no shopping. Ele era grande, como eu imaginara. Já estava com movimento, mas as meninas me garantiram que ainda estava vazio. Imagine quando estivesse cheio!

Assim que elas viram a loja da Armani, arrastaram-me para lá. E assim começou meu dia, sem ao menos tomar meu café da manhã!

— Gente, eu estou com fome! — resmunguei, enquanto estávamos na loja da Dior, olhando os últimos lançamentos de perfume. Aquele cheiro de várias fragrâncias misturadas estava me dando náuseas.

— Nós nem tomamos café. — Nessie olhou o relógio e se assustou. — Já são duas da tarde! Vamos almoçar.

As meninas concordaram e fomos para a praça de alimentação. Dancei mentalmente pela concordância mútua, se andasse mais um pouco, era capaz de eu desmaiar. Muitas garotas estavam lá cheias de sacolas. Fúteis! As meninas também já estavam cheias de sacolas, eu apenas estava com uma, que na verdade, foram uns livros que comprei, pois os que eu estava lendo, já estavam acabando.

Apesar de terem comprado muito, nada daquilo era da festa de amanhã. Isso me preocupava, pois terei que ficar mais tempo nessa tortura! Pegamos nosso almoço em um restaurante chinês e nos sentamos a uma mesa. Confesso que não era muito fã da culinária, mas elas estavam tão felizes com a ideia, que achei melhor não ser a estraga prazeres.

Eu deveria começar a ter opiniões próprias!

Algumas pessoas que passavam, eu as reconhecia de minha turma.

— Será que Alice Cullen está aqui comprando com o namoradinho dela? — perguntou Lauren, olhando para os lados.

— Você acha que ela vai comprar coisas aqui? Com certeza encomendou de outro país — respondeu Rose, remexendo seu suco com o canudo.

— Ela é uma compradora compulsiva como vocês? — perguntei, debochando delas.

— Alice? — Jess soltou uma risada forçada. — Uma das maiores it girls da escola! Nunca reparou nas roupas dela? Aquela garota é uma mini diva! Pena que ninguém é boa o suficiente para ser amiga dela. Seu closet deve ser um sonho...

— Vocês disseram que nenhum Cullen fazia amizade conosco, não notei isso com Edward e Emmett — rebati.

— Só eles. Eles são exceção, se bem que não é comum eles falarem com a gente, até agora não sei como viraram seus amigos — respondeu Rose, pensativa.

— Vai ver, ninguém tentou ser amiga deles — dei de ombros.

— Não tentou, Bella? A escola toda tenta ser amigo deles! Tudo bem que a maioria são mulheres, mas tentam! — explodiu Nessie. Todas nós olhamos espantadas para ela, e logo sacamos o porquê daquele pití.

— Calma, Nessie — consolou Rose. — Jake e a família Cullen deve ter um motivo para não falar com pessoas como nós. E Bella quem vai descobrir isso.

Na hora me engasguei com a comida. Lauren deu tapas em minhas costas, tentando me desentalar. Isso fez as pessoas olharem para nossa mesa novamente — como sempre.

— Eu? — falei assim que consegui engolir a comida. — Eu já disse que não sou amiga dos Cullen!

Todas me olharam com cara de tédio e eu logo fechei a cara. Por que tudo sempre acontece comigo? Por que eu não conseguia ser invisível nessa escola como na outra? Simples, tudo por causa de uma colega de quarto... Se eu ficasse sozinha em um dormitório próprio, meu plano funcionaria perfeitamente. Mas, não! Meus pais tinham que se meter — mais uma vez.

Terminamos de almoçar e fomos bater perna novamente pelo shopping. Que coisa mais insuportável! Finalmente entramos na loja de vestido de festa e eu comemorei. A hora de ir embora estava chegando... Era a loja do Marc Jacob, a preferida da minha mãe.

Rapidamente elas se espalharam pela loja e eu fiquei com cara de tacho na porta, sem saber qual vestido comprar. Minha mãe que sempre escolhia para mim, não só todos meus vestidos de festa, mas minhas roupas normais e de dormir. Sentei em uma poltrona e esperei as meninas terminarem para me ajudar. Uma vendedora veio até mim.

— Boa-tarde, mocinha. Em que posso ajudá-la?

Olhei para cara dela, e ela parecia ser legal. Talvez pudesse me ajudar. Ela era baixa, talvez até menor que Alice. Seus cabelos eram louros curtos, que batiam na altura do pescoço. Seus olhos eram azuis, e se não fosse o corpo, eu diria que ela era uma criança.

— Eu queria um vestido para a festa de boas-vindas da escola — expliquei, e ela me escutou paciente. — É para amanhã à noite, e eu não faço ideia de qual escolher.

Ela deu um sorriso simpático, e começou a me fazer perguntas:

— Preferência de cor e modelo?

— Nada de rosa, laranja, nem vermelho — orientei rápido. — Odeio cores chamativas. E nada de brilho, nem pompons. Gosto de vestidos simples, mas não tão apagados, com algo pequeno que quebre a simplicidade dele — terminei satisfeita. Ufa, nem sabia que todas aquelas informações estavam gravadas em meu cérebro. Era praticamente o que minha mãe informava as vendedoras toda vez que ia comprar algo para mim.

— Entendo. Acompanhe-me, tenho alguns que você deve gostar.

Segui-a. Ela me mostrou alguns modelos. Minha mãe sempre disse que azul celeste e vinho eram minhas cores. Optei por esses tons, e fiquei em dúvida entre um azul celeste com traços brancos, tomara-que-caia e que batia alguns centímetros acima do joelho, e um vinho longo. Chamei Rosalie e ela já estava com cinco vestidos na mão, e ainda disse que ia comprar todos, para escolher quando chegasse ao quarto.

— Compra os dois! — disse ela, simplesmente.

— Não preciso de dois vestidos, Rose, apenas de um — informei, com a cara amarrada. Será que ela não poderia deixar de ser fútil por um segundo?

— O azul combina mais com você e com a festa — aconselhou-me alguém; essa pessoa não era Rose, tampouco a vendedora.