58 Edição Dos Jogos Vorazes escrita por MaysileeDonner


Capítulo 3
O Mentor




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Gritos ensurdecedores agitam os moradores da capital. Nem eu nem Pitter acenamos ou rimos para a multidão enlouquecida através da janela em momento algum, aliás, para mim isso tudo é uma grande mentira, essas pessoas fingem ser o que não são, tentam fazer com que nós pensemos que sua alegria realmente é para nós, mas na verdade, a única diversão deles é nos ver morrer.

E tudo isso também para agradar Snow. Para ele, somos apenas fantoches, aqueles com que ele pode acabar a qualquer momento, marionetes essenciais para seus jogos.

Quando estamos prestes a sair do trem, um alto homem de cabelos negros como o carvão, ao lado de Fluw se apresenta. Seu nome é Ebert, nosso mentor.

-Por que ele não se apresentou antes? –pergunto a Pitter baixo com uma voz abafada.

-Ele deve ter seus motivos -diz ele- Mas... É melhor deixar isso para lá de uma maneira ou de outra agora o conhecemos, não é?

Balanço minha cabeça em concordância. Meu olhar se dirige a Ebert, que agora está olhando bruscamente para eu e Pitter. Ele sequer nos diz uma palavra, apenas nos dá um aperto de mãos enquanto eu, Pitter e Fluw, nos dirigimos para fora do trem. Ebert nosso mentor.Lembro de Pitter dizendo: -“Ele deve ter seus motivos”- mas que motivos? Ele deveria aproveitar o tempo que temos para nos dar dicas de como se manter vivos na arena, estratégias, ou coisas do tipo, afinal, desde que desembarcamos no trem no Distrito 9, ele estava lá, mas em momento algum se aproximou de nós, nem sequer nos presenteou com alguma palavra. Ebert, ganhou os jogos a dez anos atrás, na 48º edição dos jogos, me lembro bem pois ele usou habilidades mentais para acabar com seus adversários, como envenenar a água com plantas extremamente venenosas, colocando-as em um recipiente que ele mesmo fez com alguns cocos secos e deixando de lado como uma atratividade ambiciosa para alguém com muita sede ter a audácia de beber. Isso matou aproximadamente 60% dos tributos, e outros morreram principalmente durante o banho de sangue.

Quando paro de pensar em Ebert, finalmente estou do lado de fora do trem. Pacificadores armados até os dentes nos cercam, além das multidões escandalosas ao nosso redor. Estamos nos dirigindo onde vamos nos hospedar junto com os outros tributos, porém em andares diferentes. O nosso é o 9º andar.

Quando entramos no elevador, podemos observar a cidade, um grande centro urbano com tecnologias altíssimas, porém com cores fúnebres. Passam-se os andares um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete e oito, até finalmente chegarmos em nosso andar.

- Aqui estão, seu compartimento é o numero 1 Marjory e o seu o 2 Pitter. Vamos apressem-se pois daqui a meia hora servirão o jantar. –diz Fluw.

Olho para Pitter rapidamente e me dirijo à meu compartimento de numero 1. Nele a uma grande tela, que nunca havia visto antes, suponho que seja uma TV, aliás, por aqui todos os quartos possuem. Sento-me vagarosamente na cama que está revestida com um pano setim azul claro, muito macio, que me faz lembrar de meu vestido da colheita, e automaticamente, lembrando minha mãe e minha irmã.

Como será que elas estão? Como a família de Pitter está? Será que realmente estão bem?... –penso. Me levanto do macio tecido que reveste a cama e vou tomar um banho, colocando após, um vestido simples bege.

Saio do compartimento e lá está Pitter conversando com Ebert no corredor. Quando vou me juntar a eles, Ebert se despede de Pitter e se dirige a sala de jantar, nem ao menos me dirige uma palavra sequer.

- Pitter, afinal o que Ebert tem? Ele não gosta de mim? Não vai com a minha cara? O que é? –digo eu alterando a voz.

-Calma Marjory, ele teve um chamado de Fluw e teve que ir. – diz ele me acalmando, mas isso me deixa mais alterada.

- Mas desde o trem ele não dirigiu a palavra a mim em nenhum momento, eu simplesmente nem ao menos sei qual é o tom de sua voz, não sei como ele é...

- Marjory, Acalme-se. Alguma hora ele vai explicar o porque não falou com você antes, seus motivos, e...

- E...?

- Vamos temos que ir, Fluw vai ficar histérica se não formos logo.

Estou com muita raiva de Pitter. Ele nunca me esconde nada, absolutamente nada. O que será que Ebert falou para ele? Afinal ele ao menos me conhece, não poderia ter a ironia de espalhar algo fictício sobre mim.

Nos dirigimos a sala de jantar e lá está ele, sentado, e uma cadeira vazio ao seu lado, e é lá que me sento, com o intuito de finalmente ouvir sua voz, mas ao contrário ele se retira da mesa como se estivesse me evitando. Isso me deixou com o sangue quente, minha cabeça está doendo muito, me levanto e começo literalmente a gritar:

- Qual o seu problema Ebert? Aliás, desde o trem você anda me evitando, pode ao menos sequer me dirigir uma palavra?

Fluw , Pitter e alguns Avox, estão olhando fixamente para mim, não acreditando que estou tão alterada por conta de não conversar com Ebert, mas não é isso , afinal, ele está aqui para me dar conselhos, não para ficar calado.

Ele se vira vagarosamente , e com um olhar frio diz:

-Olá Marjory. – se vira novamente e vai embora.

O que? Que hipocrisia é esta? Além de eu estar aqui neste lugar horrível, tendo que daqui a alguns dias lutar até a morte, tenho que agüentar isso? Agora eu posso dizer com todas as letras que o único motivo de ele não se apresentar para nós no trem, sou eu.

- Marjory, se acalme, você...

- Me deixe Pitter, eu vou pro meu quarto, bom resto de jantar para vocês, perdi a fome.

Me dirijo ao meu compartimento e começo a chorar. Dessa vez estou chorando de raiva, com vontade de quebrar tudo e começo a pensar em como odeio a Capital, em como odeio os jogos, em como odeio Snow, em como estou odiando Ebert, em como estou com raiva de Pitter. Aquele que nunca me escondeu nada, agora me nega dizer algo sobre Ebert. Afinal, ele foi o único que Ebert teve a coragem de confiar a palavra alem de Fluw.

O tecido macio agora está encharcado de lágrimas. Alguém está batendo na porta, enxugo meu rosto molhado e vermelho, e quando abro-a lá está Ebert.

-Posso entrar? –pergunta ele. Minha vontade é dizer “não, vá embora!”, mas eu quero saber o que ele veio falar. Faço um gesto e ele entra.

- Me desculpe não ter te dito nada antes, mais estava sem coragem.

- Como assim? –pergunto eu - Você me lembra muito sua mãe Marjory.

- Você conhece minha mãe? Mas... como ?- pergunto eu sem nada entender-

- Sim. Antes de eu ser escolhido na colheita, sua mãe me procurava todo dia para irmos na campina. Passávamos horas e horas conversando e se divertindo, correndo... mas... tudo isso acabou quando eu fui escolhido para os jogos. Ela estava comprometida com um moço que trabalhava na fabrica de grãos, mas mesmo assim nos encontrávamos... mas para ela, eu era apenas um amigo.

- Mas isso não faz sentido, porque você não queria falar comigo esse tempo todo? –pergunto eu.

- Como eu disse você me lembra muito ela, e eu... a amava. Minha cabeça está cheia de reviravoltas.

Ebert , minha mãe... mas como? Ele deve te-la amado muito, mas nunca teve coragem de admitir, e de alguma forma deixou ela se casar com meu pai. Eu posso entender sua dor. Mas agora ele deve deixar tudo isso de lado e tem que me ajudar.

Uma lagrima escorre de seus olhos e ele a contém. Eu fico ali parada sem dar nenhuma palavra.

- Tenho que ir, amanhã se falamos, e mais uma vez, me desculpe.


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