O Peregrino escrita por Palacius


Capítulo 6
O Espectro de Sarassus


Notas iniciais do capítulo

Espero que esteja do agrado.



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Os três jovens viajantes caminharam durante todo o dia. Já havia se passado um dia desde que eles haviam descido do Sand Volplane. Estavam com sede e famintos, mas caminhavam na direção de Sarassus, uma das cidades fronteiriças de Tidas. O sol já estava se pondo quando eles chegaram. O silêncio tomou conta dos três ao entrarem na cidade.


– Mas que merda é essa! – exclamou Stevan.


A cidade de Sarassus, antes viva, estava coberta de sangue e corpos. Viajantes haviam sido pegos desprevenidos. Havia mercadores em suas bancas ainda com suas mercadorias. Velhos, jovens e crianças, jogados ao chão.

Ember mantinha a mão à boca, estava em estado de choque, era a primeira vez que via tamanha atrocidade. Ela caiu de joelhos e sentiu sua cabeça girar, vomitou o pouco que havia em seu estômago. Recompôs-se e tentou evitar olhar para os olhos opacos dos mortos.

Stevan corria procurando algum sobrevivente, mas parecia que não encontrava ninguém. Ixion que não havia sequer mudado o semblante permanecia no mesmo lugar, porém ele estava com a mão no cabo de sua espada. Ember olhou-o e notou apenas tensão em seus olhos.


– Não adianta procurar, estão todos mortos. – ele disse com convicção.

– Como você sabe disso? – perguntou ainda em estado de choque a ruiva.

– Por que eu simplesmente sei. Morreram porque eram fracos. – o estalar de um tapa ecoou pela cidade morta.

– Você é algum monstro insensível? – O rosto de Ember mostrava grande furor. Ixion manteve o silêncio. – Você não deve ter coração por falar algo assim. – a garota girou o corpo e foi procurar por sobreviventes.

– A lei do mais forte é a lei da vida... – ele sussurrou.


Ixion caminhou por entre os corpos e chegou até um pequena fonte que agora estava vermelha de sangue. Sentou-se quieto e observou os corpos. Alguns possuíam um pequeno corte no pescoço, feito por uma faca pequena ou algum punhal outros possivelmente haviam sido mortos por uma espada. Havia também corpos dilacerados, como se houvessem sido atacados por alguma besta. Muitas edificações estavam destruídas. Pensou um pouco e começou a andar de novo.

A cidade de Sarassus era apenas um aglomerado de edificações, naquele momento deveriam ter mais de quinhentos corpos, alguns já estavam apodrecendo mostrando que aquilo não havia sido recente. O rapaz loiro observou as paredes das edificações periféricas até chegar ao outro lado da praça principal onde parou.

Ember e Stevan estavam procurando dentro das casas e estalagens quando viram o rapaz loiro parado olhando para um grande muro. Podiam ver no rosto dele algo que ele não havia demonstrado até aquele momento, algo que fez com que um arrepio gelado subisse pela espinha de Ember: Ódio. Ember caiu de joelhos e sentiu como se um raio cortasse seu corpo, Stevan correu até seu lado.


– Você está bem? – Perguntou ele erguendo-a.

– Estou com frio... – ela tremia. – O que está acontecendo? – pensou ela enquanto sentia toda uma descarga de energia passar por seu corpo. Olhou para Ixion e sentiu de novo toda aquela energia passar por seu corpo. Stevan também sentiu algo de diferente enquanto que segurava a jovem, sentia que aquilo estava vindo de Ixion.

– Fique aqui.


Ele a encostou-a a uma amurada e caminhou em direção a Ixion que permanecia parado olhando o muro alto. Stevan parou ao lado do loiro e olhou ressentido para a mesma direção que o jovem observava. Paralisou por um momento até entender o que estava na parede. Havia um desenho na parede feito com sangue. O sangue havia escorrido, mas podia-se ver que era uma enorme serpente.


– Uma serpente de sangue. – Sussurrou Stevan. – O símbolo do traidor.


Ao ouvir as palavras do rapaz algo explodiu em Ixion, como se uma chama adormecida houvesse reacendido. Stevan saltou para trás e por um momento puxou a espada ao sentir tamanha intenção assassina. Era como se aquela pessoa que ele conhecesse não estivesse mais ali. Foi quando algo inesperado aconteceu.


– O ódio é mesmo lindo. – A voz de um homem ecoou pela praça.


Instantaneamente Ixion e Stevan viraram-se para a fonte da voz. O jovem loiro sentia o coração acelerado e sem pestanejar retirou a espada das costas. Bem no centro da praça estava ali um espectro negro, estava de pé sobre uma das estatuas da fonte. Não havia um rosto, apenas o vazio.


– Bastardo quem é você? – Bradou Ixion. A sombra permaneceu calada.

– Responda! – exclamou Stevan.

– Qual a razão para tamanha hostilidade? – zombou o espectro.

– Maldito, foi você que fez tudo isso? – Stevan bradou irado.

– E se foi? – Um arrepio correu pelas costas de Stevan sentia que aquela coisa não era algo qualquer. – Estou apenas brincando, vim apenas dar um aviso a você pequeno loirinho e a outra mocinha ali. – Ele apontou para Ember que permanecia imóvel no chão, estava quase desacordada e pálida. Eles se espantaram mas não podiam simplesmente sair correndo ao encontro da jovem caída.

– Tsc... Eu vou atacar ele e você vai até ela. – sussurrou Stevan para Ixion.

– Vocês podem ir ver ela, eu não ligo. É como eu disse, só estou aqui como mensageiro. – Disse o espectro.


Sem retirar os olhos do vulto negro que permanecia encarando-os sem ter um rosto eles, devagar, achegaram-se a Ember. Ixion continuava com a espada enfaixada de prontidão.


– Já posso passar minha mensagem? – Ele indagou irônico.

– Você é um dos Alue Arcanus? – A pergunta de Ixion pegou de surpresa Stevan, que já segurava nos braços a jovem ruiva.

– Alue Arcanus... – repetiu em voz baixa Stevan.

– Você é muito curioso pequenino. – Um sorriso se mostrou dentro da escuridão. – Sim eu sou! – Uma gargalhada.

– Seu maldito!


Ixion se jogou na direção da sombra e desferiu um golpe com a enorme espada. O ataque cortou a fonte, o chão, os corpos e as edificações na direção. Uma torrente de ar impulsionou o corpo de Stevan para trás. Ele permanecia estatelado observando o jovem enfurecido.

A sombra havia desaparecido. Ixion bufava com a espada em punho, esperando a qualquer momento por um ataque e este veio. O espectro negro formou-se a partir de fumaça e atacou, mostrando uma mão cadavérica. Antes que pudesse tocar o corpo do jovem loiro foi amparado pela espada, mas já era tarde demais, Ixion não sabia da força de seu oponente.

Ao tocar a lâmina, uma grande explosão impulsionou Ixion para trás como se a gravidade não existisse naquele lugar. O jovem loiro bateu pesadamente o corpo contra o chão, atravessou uma parede e quebrou uma bancada de mármore ao estacionar o corpo.

Mais uma vez o espectro se materializou à sua frente e ergueu a mão cadavérica elevando-a acima da cabeça. Uma esfera negra se materializou como se fosse as sombras da própria noite e a jogou contra o jovem loiro.

Ixion rolou para o lado evitando o contato direto com a esfera de energia negra, mas mesmo assim foi arremessado para fora da edificação ao explodir a esfera negra contra o chão. O corpo do jovem foi arremessado mais uma vez para a praça, onde Stevan estava paralisado junto de Ember.

Ixion sentia como se seu corpo tivesse sido moído. Ele sangrava por uma ferida na testa e sentia que possivelmente estava com algumas costelas quebradas. Tentou se levantar com dificuldades e tossiu sangue.

O espectro negro, como um algoz feroz apareceu mais uma vez diante do loiro e estendeu a mão cadavérica.


– Acabou rápido! – disse o espectro.


Antes que a mão de ossos pálidos encostasse no jovem loiro a espada de Stevan cortou o osso do braço, fazendo a mão cair no chão desaparecendo logo em seguida em fumaça. O espectro levou o osso cortado em direção ao vazio de seu rosto e lançou uma gargalhada para Stevan. Do local onde havia sido cortado saía fumaça.


– Você tem fibra humano, pois saiu do transe de minha presença. – ele apontou o cotoco do braço cortado para Stevan. – Mas não é páreo para mim. – a mão regenerou-se. – Felizmente para vocês, não estou aqui para matar ninguém... Ainda.

– O que você quer aqui então?! – Stevan ainda mantinha a espada na direção do coração do espectro, isso se ele tivesse algum. Ixion ainda observava de soslaio a sombra negra que flutuava às suas costas.

– Eu não disse? Eu vim trazer uma mensagem para ela e para ele. Mas parece que eu tenho que desaparecer com minha presença, pois ela não agüenta. – ele apontou um dedo de ossos para Ember.


Em questão de um segundo a cor voltou ao rosto da jovem que permanecia sentada. Ela sentiu-se aliviada por poder respirar normalmente, mas logo se deu conta do que estava acontecendo ao ver Ixion sangrando no chão e Stevan com a espada em punhos. Ela correu e segurou Ixion nos braços tentando erguê-lo.


– Diga logo monstro e desapareça! – Bradou Stevan possesso.

– Ta ta... - Deu de ombros o espectro. – O meu mestre te espera no palácio de cristal. – ele apontou para o jovem loiro. E logo virou o dedo para Ember. – E você, filha de Joshua, seu pai logo estará morto. – Mais uma vez um sorriso se mostrou nas sombras.

– Meu pai? Como você conhece meu pai? – todos estavam perplexos.

– Tudo vai ser respondido no seu devido tempo. E mais uma coisa para vocês: É melhor vocês saírem daqui, pois quem fez isso está chegando.


O espectro desapareceu em fumaça, desaparecendo como se nunca houvesse estado ali. Ixion levantou-se com dificuldades e recobrou o raciocínio.


– Você está bem? – perguntou preocupada a ruiva. Stevan embainhou a espada.

– O que foi isso?! – explodiu Stevan, estava suado.

– Explicações para mais tarde. – Disse o loiro. Sua espada estava totalmente sem as bandanas.

– E o que é essa coisa? – mais uma vez inquiriu Stevan apontando para a espada de Ixion.


A espada era protegida com uma bainha na cor de ouro com cinco cavidades. Era desenhada com uma grande árvore no topo da dela e estendia as raízes por todo o corpo.


– Como você corta com essa coisa embainhada? – Stevan estava perplexo.

– Já disse explicações para mais tarde. – Ixion começou a caminhar e fraquejou, caindo de joelhos. Mais uma vez tossiu sangue e tentou se levantar. Foi amparado por Ember. – Temos que sair daqui, quem matou essas pessoas logo estará aqui.

– E quem você acha que foi? – Perguntou Stevan vindo ajudar Ember a carregar o jovem loiro.

– Os servos daquele espectro. – Ixion esboçou uma expressão de ódio, mas logo foi substituída por uma de dor.

– O que devemos fazer? – perguntou Ember.

– No outro lado da cidade há uma ponte de pedra, devemos atravessar ela. – disse o jovem loiro. – A noite já está chegando.


Os três correram o mais rápido do modo que podiam. O sol desceu no horizonte e logo urros e gritos puderam ser ouvidos pelo local. Eram como centenas de vozes falando e gritando ao mesmo tempo. A ponte estava a uns cem metros quando os olhos vermelhos do primeiro servo da escuridão apareceram às costas dos três.

Ember virou o rosto e viu um mar de olhos vermelhos seguindo-os. Alguns possuíam formas humanas, outras de enormes lobos. Mas todos eram feitos de fumaça negra.

A ponte de Sarassus separava o deserto da antiga região de Izuris. Havia abaixo dela um enorme abismo como se fosse uma enorme cicatriz. Para contornar o abismo levava aproximadamente três dias.


– Não vamos conseguir, eles vão nos alcançar antes de antes de chegarmos ao outro lado. – Disse Stevan.

– Só mais um pouco disse Ixion.

– Só mais um pouco para o quê? Para morrermos?! – Ember não queria morrer, ainda mais do mesmo jeito que aquelas pessoas.


O final da ponte estava a mais ou menos cinco metros dos três e os espectros a dez. Ixion repentinamente parou de andar e empurrou os dois. Eles cambalearam e viraram-se rapidamente.


– Ta querendo morrer bicho burro?! – Explodiu Stevan.

– Ixion! – gritou Ember.


O jovem loiro ergueu a espada para o céu e esta logo começou a brilhar. O dourado da bainha resplandecia como o sol. Alguns monstros se desfizeram em fumaça, mas continuaram a avançar. Ixion abaixou a lâmina e desferiu um golpe na diagonal cortando a ponte bem onde as sombras estavam. Uma grande explosão rompeu a ponte fazendo centenas de monstros caírem no abismo.

Ember ainda não acreditava nas coisas absurdas que estavam acontecendo e Stevan estava impressionado com o poder de Ixion. Mas a maior surpresa foi quando Ixion cambaleou e deixou o corpo cair para trás. Antes que caísse no chão foi amparado pela jovem que o segurou e caiu abraçada a ele.


– Ixion – Sussurrou ela, mas ele estava desacordado.


Ember sentia a respiração pesada dele e olhou para a espada dourada que ainda emanava um brilho fraco. Ixion era realmente um rapaz misterioso e poderoso, mas por alguma razão, ela sentia que aquela espada era ainda mais poderosa que ele. Tudo ainda girava na cabeça dela.

Os monstros urravam na outra extremidade da ponte quebrada. A noite se tornava cada vez mais fria e mostrava que seria desagradável para os três. Stevan jogou Ixion nas costas e carregou-o para longe daquele lugar enquanto que Ember levava a espada dourada; estranhamente era leve.

Ember olhou para trás e observou o deserto que desaparecia na escuridão. Aquela terra que havia sido seu lar e professora estava ficando para trás. Ela suspirou fundo e continuou carregando a espada do rapaz.

O espectro cadavérico observava-os de longe.



– Ele ainda está imaturo, mas logo vai cumprir com seu propósito. – Outro espectro se juntou ao espectro com mãos de caveira. Este possuía uma mascara dourada em forma de meia lua no rosto.

– Ele pode se voltar contra nós? – outro espectro surgiu, carregava uma foice às costas e no rosto pendia a mascara da outra metade da lua, porém era prateada. A voz era a de uma mulher.

– Não há como isso acontecer. – o espectro cadavérico disse convicto.

– E a garota? – Perguntou uma das faces da lua.

– Tudo está de acordo com os planos do mestre. – Disse o espectro do meio.

– Mas ainda sobra o outro rapaz. O que fazemos com ele? - perguntou a sombra da lua prateada.

– O mestre ainda não nos deu ordens, então ainda não podemos matar ele. 

– Mas ele até que é bonitinho. – Os dois espectros viraram os rostos vazios para o espectro da foice. – Que foi?

– Vamos.

E os três espectros se desfizeram em fumaça.


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Notas finais do capítulo

Qualquer erro reportem-me. Um abraço e até o próximo.



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