O Peregrino escrita por Palacius


Capítulo 4
A Aprendiz de Mago


Notas iniciais do capítulo

Obrigado por ler.



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O dia estava começando quando a moça abriu os olhos. Seu cabelo no tom de azul claro estava embaraçado e sua roupa amarrotada, mas ela não se importava. Levantou-se lentamente e apalpou as paredes tentando achar a janela que dava para a rua principal da cidade de Longthan. Selphie abriu a janela e deu de cara com uma rua parada e sem movimentação. O céu estava rubro, típico do amanhecer. O local onde se hospedava ficava no segundo andar de uma taverna, pode-se dizer que é difícil dormir a noite quando se está acima de uma taverna tão movimentada como a Bafo de Dragão. Ela bocejou e farejou no ar o cheiro de pão fresco sendo preparado em uma mercearia de esquina com a rua, seu estômago roncou e notou que não havia comido desde o dia anterior.

Selphie no turno da noite trabalhava como garçonete na taverna onde morava, seu empregador, Senhor Dominic a acolheu quando ela tinha oito anos e desde então tem lhe dado casa e um trabalho. Não era o melhor dos lugares para se trabalhar, ainda mais quando se é tão jovem, mas ela cresceu inteligente.

Ela jogou-se mais uma vez na cama e bocejou com um sorriso no rosto, os olhos verdes cintilavam à luz da alvorada só de pensar no dia que estava por vir. Ela, que havia esperado por aquele momento durante quatro anos, agora se sentia preparada para seguir seu destino.

Ao lado de sua cama, em cima de um criado-mudo, estava o que lhe dava esperança de ter um futuro diferente, não comum. Lá estava seu grimório, presenteado há quatro anos por um mago andarilho. Os grimório eram as anotações e encantamentos dos magos, objetos mágicos, que canalizam a força interna do usuário e a transforma em energia.

Deitada na cama, Selphie olhou para o livro e lembrou-se de seu antigo dono, lembrava-se como se fosse hoje o dia em que conheceu o mago andarilho.


º


Estava chovendo pesadamente naquele dia. Selphie, que possuía apenas doze anos estava debaixo de uma árvore, esperando que a chuva passasse quando, montado em uma carroça passou um homem, ele possuía a barba longa e os olhos da cor das nuvens cinzentas. Estranhamente não estava molhado.

– Boa tarde minha jovem, seguindo por esta estrada posso chegar a Longthan? – perguntou ele com um sorriso gentil.

– S... Sim... – respondeu ela.

– Você tem medo de mim? – perguntou ele, sua voz era branda, como o som das águas na praia.

– Não... Tenho medo da chuva. – Um trovão ecoou e fez com que Selphie se abaixasse, seus olhos estavam marejados e podia-se ver o medo verdadeiro em seus olhos.

– Hahahaha... – riu o senhor. – Não há nada que temer aqui minha criança.

O homem se levantou na carroça e puxou por baixo do manto um livro, abriu-o e falou brandamente.

– Dos ventos vindos do norte, segue-se a ira. Despeje-se agora a força para se mover o impossível. – ergueu a mão direita para o céu e bradou. – Tornado!

Selphie, que apenas havia ouvido falar de magia, contemplou em primeira mão o que moveria sua vida dali em diante. Da mão do homem subiu, como uma torrente de ar um turbilhão, que chegou até as nuvens, varrendo-as em um raio tão grande quanto se podia ver. Ela permaneceu parada, observando apenas o céu azul, logo desceu a chuva novamente, mas não era mais água e sim uma chuva dourada como o ouro que se espatifavam no chão em tom de vermelho e púrpuro. As lágrimas secaram-se em um instante e logo brotou um largo sorriso.

– Viu? – perguntou o homem também sorrindo. – Não há nada o que temer na chuva.

– Você tinha razão. É tão linda a chuva. – disse ela girando com os braços estendidos, a chuva dourada continuava a cair.

– Qual seu nome pequenina? – Ele que estava com um grande chapéu circular tirou-o, colocando-o no colo e mostrando cabelos no tom de cinzas.

– Selphie e qual o seu moço? – ela disse já arfando de tanto correr e girar.

– Eu sou Lokhin. Diga-me, onde estão seus pais? – ele desceu da carroça e foi ver o cavalo que relinchou e logo em seguida voltou a ficar em silêncio. Selphie achegou-se logo e acariciou o cavalo.

– Eu não tenho pais. – ela disse com um triste sorriso no rosto. – Quem cuida de mim é o Senhor Dominic, ele é bom, mas trabalhar na taverna é muito ruim. – Ela disse enquanto acariciava o animal.

– Me diga pequena Selphie, você quer aprender a usar magia?- a pequena garota olhou-o com olhos entusiasmados e respondeu-lhe sucintamente.

– Sim. – ela sorriu.

A partir daquele dia, houve uma reviravolta de trezentos e sessenta graus na vida da pequena Selphie. Ela foi ensinada durante dois anos pelo mago Lokhin nos caminhos da magia até o dia da partida dele, quando ela tinha quatorze anos.

– Ouça Selphie. – Lokhin estava de pé ao lado de sua carroça, Selphie permanecia parada em frente à Taverna onde trabalhava, trajava um logo vestido azul. – Eu lhe ensinei tudo que eu podia te ensinar. A magia não é para ser usada levianamente e nem para o mal. Lembre-se, a magia nasce do coração do usuário, se seu coração for corrompido, sua magia só trará o mal.

– Eu sei mestre. – a pequena Selphie possuía os olhos marejados. O mago notou os olhos marejados da menina e agachou-se ao lado dela, possuía um sorriso caloroso.

– Isto é para você. – Ele pegou seu grimório – este possuía a capa de couro, metal e uma pedra verde bem no meio – e o entregou nas mãos de Selphie.

– Mas, este é seu mestre! – ela arregalou os olhos.

– Isto é meu presente de despedida para você, será mais bem aproveitado por você que por mim. Você, pequenina, possui um grande coração, posso dizer-lhe que foi minha melhor aluna em todos os meus anos. Pena que não posso ficar mais. – seus olhos estavam tristes. Então a menina jogou-se ao redor de seus ombros, abraçando-o fortemente, suas lágrimas já escorriam pelo rosto. Ele retribuiu ao abraço, como um pai a uma filha.

– Obrigado mestre, vou sentir saudades. – disse ela em meio aos soluços.

– Eu também pequena, eu também.

E partiu.

º

Selphie levantou-se em um pulo e correu até o banheiro, onde fez sua higiene básica. Vestiu sua roupa; uma calça de couro com alguns remendos, uma camiseta branca por baixo de uma jaqueta de pele com capuz que chegava até um pouco abaixo da cintura, botas e seu bracelete, um presente de Lokhin.

Preparou sua mochila com algumas trouxas de roupas limpas e uma sacola com suas economias. Jogou a mochila nas costas e pegou o grimório. Olhou-o por alguns instantes e logo o agarrou contra o corpo. Virou-se para a porta e pode se ver em um espelho de metal pregado à porta.

Selphie possuía o corpo de uma jovem comum, não era nem tão alta nem tão baixa, possuía a cintura bem torneada e o busto apropriado para seu corpo. O que a distinguia das demais era os olhos verdes perolados e os cabelos que possuíam a cor do céu. Sentiu-se bem ao ver-se no espelho. Abriu a janela e pulou para o telhado da parte de trás da taverna. Andou alguns metros sem fazer barulho até chegar a uma escada que já a esperava. Selphie evitou encontrar o velho Dominic, apesar de ele dar-lhe uma casa para morar, sempre a maltratou. Não batia, mas agredia-a verbalmente. Logo, se ela fugisse sabia que ele não ligaria. A única coisa que ele daria falta seria uma empregada a menos. Desceu as escadas sem fazer barulho e correu para a rua, que ia começando a ficar movimentada.

Andou alguns metros e entrou na mercearia. Comprou alguns pães e um pedaço generoso de queijo de cabra. Embrulhou-os e colocou na mochila. Passou por uma casa de penhores e outra taverna até chegar á estrebaria, onde Anaclux esperava-a.

Anaclux era um cavalo malhado nos tons de marrom e branco. Fora comprado por Lokhin e dado de presente a menina quando este era apenas um filhote. Desde então, Selphie tem cuidado dele como se fosse parte da família dela.


– Oi garotão. – Disse ela acariciando o animal, este sentia o afeto da dona e o retribuía, balançando a crina. – Hoje nós vamos fazer uma viagem, diga adeus a este lugar.


Selphie selou o animal e o levou para fora da estribaria. Caminhou com ele até fora da cidade e somente parou quando chegou ao local onde se encontrou pela primeira vez com seu mestre; abaixo da árvore. Selphie lembrou-se mais uma vez de seu mestre e de suas palavras:


– Pequenina. – Ele sempre a chamava assim. – De dois em dois anos, no mês de julho, acontece o torneio mágico na cidade de Jerumam. Espere até você completar dezoito anos e vá para esta cidade.

– Mas o que acontece depois que se ganha este torneio mestre? – Perguntou a menina, esta estava com a mão enfaixada.

– Os melhores classificados vão estudar nas escolas de magia do império, lá você poderá arrumar um mestre que lhe ensinará os passos avançados da magia. – ele mostrava um olhar misterioso.

– Mas meu mestre é você. – disse a menina.

– Um dia você entenderá, mas o mais importante é que você jamais deve parar de praticar o que lhe ensino, pois isso será o necessário para você ser aprovada. – Ele sorriu. – Vamos, mais uma vez.




Tempos depois Selphie entendeu as palavras de seu mestre. Ela olhou para a árvore e agradeceu-a, pois se não fosse por ela, jamais teria encontrado seu mestre. Montou em Anaclux e partiu em direção a Jerumam sem sequer olhar para trás.





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Notas finais do capítulo

Qualquer erro, por favor me avise, pois não tive tempo de revisar. Obrigado.



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