O Peregrino escrita por Palacius


Capítulo 3
Encontro ao meio-dia - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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O sol escaldante estava bem no centro do céu, indicando que ainda era meio-dia. Ember estava agora ao lado do jovem loiro que se autodenominava Ixion. A garota sabia que este era o nome do continente onde vivia, mas mesmo assim ignorou este fato, pois sabia que coisas mais importantes estavam em jogo: sua vida. Ela mal entendia o porquê de estar lutando ao lado de um estranho que acabara de conhecer, mas sabia que os dois homens não a deixariam passar.

Olhou de soslaio para o loiro que estava ao seu lado e reparou que ele sorria, de maneira desafiadora para os dois homens, notou também que Stevan estava de braços cruzados rindo da situação, como se aguardasse por isso.

Sentiu-se perdida por um instante e voltou a si quando sentiu que seus inimigos movimentavam-se. O ar ficava cada vez mais carregado de tensão à medida que os dois homens iam contornando Ixion e Ember. O que vinha pela direita mantinha em ambas as mãos adagas. Eram relativamente pequenas, mas poderiam penetrar fundo o bastante para acertar o coração. O outro homem possuía uma imensa quantidade de facas de arremesso presas à cintura. Ember estava com sua espada em mãos, enquanto que o jovem loiro permanecia com as mãos vazias.

A jovem ruiva não era uma exímia espadachim, mas teve que aprender a sobreviver no deserto. Estava acostumada a espadas curtas e adagas, possivelmente poderia sobreviver ao embate.


– Você sabe usar isto? – perguntou Ixion com tom de escárnio enquanto que retirava sua capa. Referia-se a espada de Ember. Ele vestia apenas uma camiseta sem mangas e uma calça de couro escuro. Sob seus pés um par de botas.

– É claro que eu sei seu arrogante. – Ela disse ainda irritada com o rapaz, sequer sabia o porquê de ter sacado a espada, aquele problema não tinha nada a ver com ela, mas sabia que não adiantaria conversar com eles dois. Para eles, ela já estava com ele. – E você, como acha que vai lutar com eles sem uma arma? – Ela falava sem tirar os olhos dos homens.

– Eu não necessito de arma para tipos como aqueles.


Ember sentiu vontade de transpassá-lo naquele momento, mas sabia que seria perda de tempo matar alguém tão cheio de si quanto aquele cara. A voz rouca de um dos homens negros quebrou o raciocínio de Ember.


– Você deveria se entregar Ixion. – Gritou o homem com as facas de arremesso. – Você não tem como escapar de nós! – ele abriu um sorriso amarelo.

– Que tal eu deixar vocês para os vermes do deserto? – retrucou o jovem loiro com tom de afronta.

– Que tal eu cortar sua língua antes de te entregar para os guardas imperiais? – Ele agora não mostrava mais o sorriso.

– Que tal eu cortar sua rola fora e enfiar na sua boca para ver se você fica quieto? – o arremessador possuía agora um brilho assassino no olhar, estava possesso de raiva.


Agora ele foi longe demais, pensou Ember, mas algo lhe chamou atenção mais que o palavreado chulo que Ixion usou, o fato de ele estar sendo procurado pelos guardas imperiais despertou a curiosidade da jovem ruiva.


– Eu vou pegar o arremessador de facas, você encara o que está com as adagas. – ele sussurrou agora com um tom sério na voz.

– C... Claro, eu vou sim. – Ember foi pega de surpresa pelas palavras de Ixion. O homem das adagas era quase o dobro do tamanho de Ember enquanto que o arremessador era apenas um pigmeu.

– Ora seu... - O Sand Volplane tremeu abaixo dos pés dos presentes na esplanada, aquele foi o estopim para início do embate.

– Agora!



Ixion correu velozmente para a direção do arremessador. Ember, que ainda estava surpresa pelo que estava ocorrendo, sentiu o homem negro se aproximando dela pela lateral. Ele vinha com um sorriso vitorioso no rosto – qualquer um viria nesta situação –. A jovem ruiva respirou fundo e lembrou-se das palavras de um dos anciãos: Quando o inimigo for maior que você, use o tamanho dele contra ele.

O primeiro ataque do homem das adagas foi evitado quando Ember rolou para o lado. Ele desferiu outro golpe para o lado, este foi amparado pela espada da jovem, ela sentiu-se sendo arremessada para trás pela força do impacto, mas não se deixou levar. Defendeu outro golpe e saltou para trás. Sentia a mão pesada depois após apenas dois golpes. Ele continuava com o sorriso impetuoso no rosto. Avançou mais uma vez contra a jovem, desferindo incessantes golpes com suas adagas. Ember mostrava-se ágil, ora evitando os ataques, ora bloqueando-os com sua kris.

Ixion via que a ruiva que sequer sabia o nome estava em maus bocados, sentiu-se culpado por um instante, mas voltou sua atenção para seu inimigo que lhe atirava facas sem parar.

Ember sentiu-se encurralada quando se viu acuada no canto da amurada, não havia para onde correr mais, atrás dela havia apenas a areia do deserto que passava depressa abaixo de seus pés.


– Não tem mais para onde correr, ratinha imunda. – Ele gargalhou e avançou.

– Ratinha imunda? – Ember odiava ser insultada.


Com muita agilidade e precisão, Ember jogou o corpo para frente em direção ao homem que vinha sedento por sangue. Ixion a observava de soslaio quando ela por impulso ou por habilidade fez o que até para ele, pareceu inacreditável.

Ember deslizou o pé direito por baixo do homem que vinha correndo, acertando-o no pé direito. O brutamonte que havia sido pego de surpresa desestabilizou-se e não pôde atacar, pois estava próximo demais de seu alvo. A jovem ruiva abaixou-se e antes que o homem caísse por cima de seu corpo, segurou-o pelo abdome; usando o próprio peso e impulso de seu inimigo, Ember usou todas as suas forças para arremessar o homem por cima da amurada. Pôde-se ouvir o grito dele enquanto caia em direção ao chão, mas logo se cessou.


Agora toda a atenção estava voltada para a pequena jovem que com a metade do tamanho, havia conseguido arremessar um homem. Ixion sorriu e em seguida caiu na gargalhada. Stevan observava surpreso em seu canto a habilidade ou talvez sorte que a jovem Ember havia mostrado.


– Maldita! – o homem mais baixo gritou furioso.


Ember estava de costas e desprevenida quando as facas foram arremessadas em sua direção, não conseguiria evitá-las nem bloqueá-las.

– Cuidado com as facas! – gritou Stevan.


Ela fechou os olhos e encolheu os ombros. Será que eu vou morrer por umas facas nojentas? Perguntou-se a jovem ainda de olhos cerrados. Passaram-se cinco segundos. Depois dez e ela ainda se sentia normal. Abriu os olhos devagar, com medo que pudesse ser acertada a qualquer momento: nada. Então virou-se e pode ver mais uma vez Ixion, interpondo-se entre ela e o arremessador. Ele segurava o grande embrulho com uma das mãos por uma espécie de cabo, como se fosse uma espada.


– Droga, você não faz nada sozinha. – Ele olhou-a de soslaio. Havia três facas no chão e uma no ombro do jovem loiro. Ember ficou parada até entender que ele havia se jogado na frente.

– Você está sangrando! – Ember ainda não acreditava no que ele havia feito. Ixion colocou a mão na faca e retirou-a, fazendo apenas uma careta.

– Não, isso é suor que está escorrendo pelo meu ombro. – Ember não respondeu a ironia dele. – Chega um pouquinho para trás. – desta vez o rapaz disse com certo apreço na voz, pegando a ruiva de surpresa.


Ember afastou-se e ficou paralisada diante da voz quente que o jovem loiro. Era a segunda vez que ele a protegia de alguma coisa. Ela por alguns momentos tentou entender que tipo de rapaz era Ixion; ele era procurado, possivelmente havia feito algo de muito ruim para ser caçado até esse fim de mundo. Pensou ela por um instante, mas notou que não sentia medo dele. Sequer ela podia entender isto. Voltou a si.

O atirador de facas estava possesso no outro lado da esplanada. Ixion segurava pelo cabo o objeto misterioso que carregava. Ember associou-o a uma espada. Mas uma espada daquele tamanho seria pesada demais para ser manejada apenas com uma mão, ainda mais segurada por um braço fino como o dele.


– Hora de acabarmos com isso!


Ixion segurou o objeto com as duas mãos e colocou-o para o lado esquerdo do corpo, como quem maneja uma espada longa e vai desferir um golpe diagonal. Ember observava em silencio. Ele sorriu, jogou o corpo para frente e começou a correr. O homem do outro lado da esplanada já se preparava para atirar suas facas quando algo inesperado aconteceu. Uma grande explosão encobriu o homem negro, destruindo a amurada e a lateral do Sand volplane.

A força do impacto foi tão grande que arremessou o jovem loiro para trás, fazendo-o bater contra a amurada. Ember caiu no chão atordoada. Sentia seu ouvido zumbir enquanto que sua cabeça girava.

Labaredas escarlates subiam da lateral do veículo enquanto que seus tripulantes corriam em chamas ou desesperados para fugirem do incêndio.


– Mas que merda foi essa. – disse Ixion, levantando-se com a mão na cabeça.

– Assaltantes! Olhem! – falou Stevan ajudando Ember a se levantar. Ao lado do Sand Volplane havia outra embarcação, talvez possuísse o mesmo porte ou até maior. Na ponta da embarcação um homem estava de pé, segurava um livro nas mãos. – Um mago!

– De onde você saiu seu merda? Pensei que tinha desaparecido em Damascena! – Ixion permanecia com a mão na nuca.

– Explicações para mais tarde... – Disse Stevan. - Primeiramente temos que escapar daqui antes que aquele mago mande agente para os ares.

– Um mago? Espera vocês se conhecem? – Perguntou Ember confusa enquanto embainhava sua espada, tudo estava ocorrendo depressa demais para ela.

– Explicações para mais tarde. – Disse Ixion desta vez. – Hora de dar o fora mesmo. – O jovem loiro correu e pegou sua capa, prendendo-a com um broche. Desamarrou rapidamente um cinto que estava ao redor de seu embrulho e passou-o diagonalmente no peito, de modo que pudesse pendurar o objeto estranho às costas. Subiu na amurada, voltou-se para Ember e estendeu a mão. – Venha seja lá qual for o seu nome. – pela primeira vez o rapaz sorriu para ela.

– É Ember. – disse ela estranhamente calma e estendeu a mão para ele. Ixion puxou-a para junto de si e ambos viraram-se para o deserto.

– E eu? Não mereço uma mãozinha? – perguntou Stevan comicamente para o jovem loiro.

– E eu te conheço? – Disse Ixion sorrindo.

– Ora seu... – Um grande silvo ecoou no ar. – Oh merda!


Ixion, Ember e Stevan saltaram juntos da amurada para o deserto. Logo em seguida uma grande explosão varreu o local onde eles estavam. Ember não sabia por que as coisas estavam correndo tão depressa, mas por alguma razão, enquanto caia sentiu que sua jornada começava ali, junto daqueles dois rapazes misteriosos.


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Notas finais do capítulo

Qualquer erro de português me avisem por favor, não tive tempo de revisar. Obrigado.



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