O Peregrino escrita por Palacius


Capítulo 2
Encontro ao meio-dia - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Para os que lerão daqui em diante, deixo meus mais sinceros agradecimentos, e minhas mais sinceras desculpas caso haja algum erro, espero que me notifiquem de tal erro.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/216685/chapter/2

O sol já havia raiado quando Ember abriu os olhos. Ela que tinha os mesmos olhos castanhos de sua mãe, possuía o costume de acordar antes mesmo do nascer do sol, porém deu-se ao luxo de dormir alguns minutos a mais antes de se levantar naquela manhã. Ainda fazia frio, o que era comum nas noites do deserto.

A jovem que ainda olhava deitada para o firmamento celeste pôs-se a sentar na cama improvisada deixando a kris – sua arma de cabeceira – cair para o lado. Esfregou os olhos que ainda permaneciam fechados como uma linha tênue e olhou ao redor; tudo estava infestado de areia, inclusive ela. Bocejou.

O sol refletido nas areias douradas deixou-a cega por alguns instantes, porém logo seus olhos acostumaram-se a claridade e ela pode ver com exatidão tudo ao seu redor. Toda a topografia do lugar havia mudado; dunas que não existiam agora passavam a existir e outras que existiam simplesmente sumiram. Tempestades de areia são um saco. Pensou ela. Estaria perdida no deserto se não houvesse ali, um enorme tronco de madeira de mais ou menos trinta metros de altura por quase dez de largura – o Pilar de Azzirra – uma lembrança de um passado longínquo.

Ela se espreguiçou e limpou a areia que havia em seu corpo – a que conseguiu – buscou em sua mochila o cantil e bebeu um breve gole d’água. Prendeu o longo cabelo avermelhado com uma fita de pano e começo a guardar o saco de dormir, pois logo poderia chegar sua carona e seria o tempo de ela partir daquele lugar.

As horas passaram, e o que eram minutos pareciam dias naquele lugar. Ember, que esperava pacientemente, queixava-se apenas de estar ali já havia três dias. Seus olhos ardiam pela areia e sua garganta parecia como se estivesse em brasa, porém nada poderia detê-la de ir para a cidade de Jeruman, não depois de sua promessa com sua mãe.

Ember, assim como sua mãe Nereth e mais algumas dúzias de pessoas, eram Nothais, uma das muitas tribos nômades do deserto da região de Tidas. Assim como a maioria dos nômades, eles vagam pelo deserto a procura de água e quando encontram se estacionam até o próximo momento da partida chegar.

Nereth, era uma mulher já com seus quarenta anos de idade, possuía os olhos castanhos e cabelos negros ondulados, pele morena e um sorriso caloroso que mesmo no deserto, conseguia ser mais quente que o sol. Cuidou de Ember sozinha, pois seu pai, jamais retornou de uma caravana onde ele e outros de sua tribo trocariam especiarias do deserto por comida e outros objetos.

A jovem cresceu forte, apesar de morar em um dos lugares mais inóspitos para se viver e aprendeu todos os costumes de sua tribo incluindo caçar, achar água e lutar. Já possuía a idade de dezessete anos quando uma doença levou sua mãe. Porém antes de morrer, Nereth revelou à sua filha o segredo que guardara durante toda uma vida.

Em meio à tosse e sangue, ela pronunciou as palavras que a jovem, envolvida em lágrimas e soluços, guardaria para sempre em seu coração: ... Seu pai... Joshua... Em Jerumam... Vivo... Encontre-o... E logo em seguida morreu.

Ember remoeu as ultimas palavras de sua mãe durante um ano até que decidiu sair de sua tribo e seguir seu próprio rumo. Será que ele nos abandonou? Perguntava-se em meio às areias escaldantes, seu único aconchego era a enorme sombra que o pilar de Azzirra proporcionava. Ela continuou aguardando.

Já passava do meio dia quando, ao norte do pilar, Ember viu no horizonte o brilho prateado de alguma coisa que se movia no mar de areia. Ela que esperava ansiosa por este momento levantou-se em um pulo e observou a máquina que vinha veloz em sua direção.

O Sand Volplane deslizava suavemente sobre a areia e vinha seguido de uma enorme nuvem de poeira e cinzas. Era como um enorme barco de três cascos, porém mais robusto e mais lento. Ele era um dos poucos maquinários da nova era que conseguiam atravessar o deserto. Possuía a cor de prata misturada ao âmbar do deserto e era quase inteiramente feito de metal e madeira. A enorme embarcação seguia de cidade em cidade, recolhendo viajantes que pudessem pagar pela passagem. Sua única parada fora das cidades era no pilar de Azzirra.

Ember por um momento sentiu um nó formando-se em sua garganta. Seria hesitação? Ou medo? Ela não pode responder, mas ela certamente pôde sentir uma pitada de entusiasmo.

O barco parou a uns dez metros da garota e após a nuvem de poeira baixar ela pôde ver toda a envergadura da máquina. Tinha facilmente mais de cinco metros de altura e seu comprimento era de mais de quinze. Era a primeira vez que via uma coisa dessas e simplesmente distinguiu o que sentiu a alguns momentos atrás: medo. Mas não havia mais como recuar.

Quando o líder de sua tribo a instruiu a procurar o pilar não imaginava como seria o Sand Volplane...

º

– Jovem Rahu – Disse um homem velho, de pele marrom e barba branca – você tem certeza que é isso mesmo que você quer? – ele olhava-a tristemente, pois sabia que o mundo fora do deserto pode ser mais cruel que as areias escaldantes..

– Eu tenho certeza de minha escolha.

Ela, que estava de joelhos diante dos anciões mantinha o olhar voltado para a chama da grande fogueira que se encontrava no centro da tenda. O conselho era composto por cinco senhores de idade, todos de peles marrons e olhos cansados.

– Bem... – o líder suspirou. – Rahu Saeth, após decidirmos com cautela, chegamos ao veredicto que você deve ser desligada de nossa tribo, deixará seu nome e nunca mais retornará a sua casa. Será tratada como nossa inimiga e nunca mais poderá ser chamada de uma Nothai. Você a partir de agora será chamada de Ember e será uma Noa para o resto de sua vida. – ele disse com voz grave e dura, porém triste.

– Eu aceito meu destino. – Falou ela ressentida, porém sentia que era isso que deveria fazer.

– No centro do deserto, há o Grande Pilar de Azzirra, onde nossos ancestrais um dia viveram; lá você encontrará o Sand Volplane, uma das máquinas das terras do sul e seguirá seu destino. Você deve partir ao amanhecer, Ember. – o velho esticou a mão e deu-lhe uma pequena sacola com algumas moedas que Ember nunca havia visto. – Isto deve ser suficiente para você conseguir pegar o Sand Volplane. Boa sorte.

Rahu, que agora se chamava Ember saiu quieta da grande tenda e se dirigiu para a sua, onde reuniu suas coisas para a jornada que iniciaria; pegou a capa grossa adornada com alguns bordados que um dia pertenceu a sua mãe, uma mochila onde colocou algumas mudas de roupa, separou um cantil, alguns pedaços de carne-seca e um pão sem fermento. Colocou os alimentos envoltos em um pano e separou-os de lado, de modo que pudesse guardá-los por último. Pegou um saco de dormir e enrolou-o, acoplando-o a mochila. Por fim achou uma bússola velha pertencente ao seu pai.

Após pegar tudo o que necessitaria, a jovem sentou-se na tenda quase vazia e observou sua mochila, que agora era quase uma montanha. Os olhos castanhos da moça já estavam cansados quando entraram em contato com a espada, que seu pai um dia deixou para sua mãe e que agora, lhe pertencia; estava pendurada em um dos suportes da tenda. Pegou-a e dormiu, agarrada a ela

No dia seguinte partiu, seguindo para o leste em direção ao Pilar de Azzirra.

º

Ember continuava estupefata com a grande embarcação que não notou o homem em uma comporta lateral chamando-a.

– Moça! – gritou o homem uma terceira vez.

– Oi... ham... – voltou-se atônita para o homem que estava com a mão esticada.

– Rápido, o capitão já vai partir! – mais uma vez ele gritou e seu grito veio seguido de um ronco estrondoso de engrenagem. – Rápido!

Após entender o que estava acontecendo, Ember jogou a mochila nas costas e correu, até o encontro do homem que lhe estendia a mão. Mais um ronco; a máquina começou a se mexer lentamente e Ember ainda estava a cinco metros.

– Ei, espera! – Gritou ela correndo, parecia que não conseguiria alcançar a entrada a tempo, o barco ia gradativamente aumentando a velocidade. A areia abaixo de seus pés parecia que a puxava para baixo, freando sua corrida.

Ember estava a sete metros da entrada quando de repente o chão explodiu em uma nuvem de poeira jogando-a para cima. Ember sentiu como se não possuísse peso enquanto girava descontroladamente para cima.

– VERMES!!! – gritou um homem, Ember não conseguiu identificar de onde vinha o som.

Então tudo se tornou trevas e ela não conseguiu sentir mais nada, apenas que flutuava no escuro. Ela viu sua mãe, sorrindo enquanto que conversava com um homem cuja face não conseguia ver. Uma voz ecoou em sua cabeça e tudo o que ela via desfez-se em fumaça, tornando tudo escuro de novo.

º

– Moça... Moça... – um homem chamava por Ember. Ela abiu os olhos e tudo que pode ver foi uma silhueta em meio à luz. Sentia que sua cabeça doía e que a dor ia gradativamente aumentando.

O Sand Volplane estava em movimento e Ember notou que estava a bordo. Umas dúzias de pessoas estavam no mesmo lugar que ela, sentados, deitados ou conversando debaixo de uma tenda estendida.

– O que... Aconteceu? – perguntou a jovem que se viu deitada em um chão de madeira vermelha. Sentou-se lentamente.

– Fomos atacados por um verme do deserto. E desta vez foi um bem grande. – ele sorriu e logo voltou a falar. – Meu nome é Charles, sou um dos imediatos do Sand Volplane e tenho que perguntar, você tem como pagar? – Ele voltou a sorrir.

Uma luz veio à cabeça de Ember: onde estava sua mochila? Ela levantou-se em um pulo e sentiu-se fraca, cambaleou alguns metros e voltou-se para o homem que ainda permanecia de joelhos, olhando-a com olhos atentos. Charles era um homem corpulento de meia idade e pele vermelha. Vestia bermuda, sandálias e camiseta sem manga. Em sua cabeça havia uma bandana. Possuía um dos braços tatuados e o outro era totalmente coberto por cicatrizes.

Ember verificou sua roupa e notou que estava com sua capa, porém o saco de moedas que o ancião havia lhe dado que estava amarrada à cintura não estava mais lá, a espada de sua mãe ainda permanecia na bainha, porém todos os seus pertences haviam sido roubados. Apenas seu cantil permanecia pendurado. Ember permaneceu parada alguns segundos até entender o que havia acontecido.

– Fui roubada senhor! – disse ela atônita.

– Isso acontece muito aqui. – mais uma vez ele riu, e voltou a ficar sério. - Você tem como pagar? – Ele se levantou cobrindo o tamanho de Ember.

–Bem... – ela recuou um passo.

– Vou perguntá-la apenas mais uma vez senhorita... – o olhar de Charles agora havia mudado, agora havia um brilho assassino. – Você tem como pagar? – Ember estava pronta para responder que não, quando alguém se interpôs entre ela e Charles.

– Sim, ela tem como pagar. – Um rapaz de cabelos castanhos respondeu a Charles. – Tome, são três Ruffis de prata certo? – E estendeu a mão com três moedas de prata. Charles olhou desconfiado para o rapaz e logo pegou as moedas. Olhou para Ember que estava atrás do rapaz e falou.

– Bem vinda ao Sand Volplane. – e saiu.

Ember deixou-se cair sentada no chão, ainda estava meio atordoada. Quando o rapaz se ajoelhou.

– Olá. – Ele sorriu e estendeu-lhe a mão. – Meu nome é Stevan, parece que você não está com muita sorte.

– Não mesmo, se não fosse por você, eu não saberia o que ele teria feito comigo. – ela estendeu a mão e levantou-se.

Stevan era um rapaz de aproximadamente vinte e tantos anos, possuía cabelos castanhos amarrados em um grande rabo de cavalo, vestia-se com uma camiseta de mangas longas por baixo de um colete de couro. Em sua cintura pendia uma espada longa. Usava calças de couro e botas também de couro. Possuía a pele branca e feições gentis. Ele sinalizou para que ambos fossem caminhando para o lado, onde se podiam ver as areias.

Sentado, junto à mureta estava um homem envolto em sua capa. Este segurava um grande embrulho com um cabo na ponta. O embrulho estava entre suas pernas e devia medir aproximadamente um metro e meio por vinte centímetros de largura.

– Possivelmente Charles te jogaria para fora do barco. Mas assim que você o conhece... Bem, ele continua sendo o mesmo. – ele riu, Ember lançou um breve sorriso, mas logo voltou a ficar séria, lembrava de suas coisas. Logo ela percebeu que não havia se apresentado ainda.

– Perdoe-me por seu tão rude, meu nome é Ember – ela ruborizou – por favor, me diga o que foi que realmente aconteceu? Charles me disse que foi um verme, mas não há vermes do deserto por essas regiões e eu não sei como vim parar aqui.

– É um prazer conhecê-la. Aparentemente no mesmo momento em que você estava correndo, um dos vermes que segue o Sand apareceu. Você teve sorte que ele estava mirando o barco, se não você sequer estaria aqui. Depois disso você foi arremessada para cima e salva por ele. – Stevan apontou para o homem sentado junto da mureta. Este permanecia encoberto pela capa e sequer mostrava seu rosto. – Ninguém sabe o nome dele, apenas que ele esta ali. Ele pulou, te pegou no ar e possivelmente com aquela coisa que ele carrega cortou a cabeça do verme. – e apontou para a outra extremidade da esplanada. A cabeça do monstro ainda estava no local onde havia caído, possuía mais de dois metros de altura e poderia engolir uma pessoa grande como Charles sem dificuldades.

– Eu deveria agradecê-lo. – disse ela um pouco receosa.

– Você pode tentar, todos os que tentaram se aproximar dele simplesmente não conseguiram arrancar sequer um “oi” dele. Ele simplesmente fica sentado ali, sem comer e sem dizer nada. – Stevan coçou a cabeça; confuso. Aquele homem começava a intrigar Ember.

– Eu vou lá.

Ember caminhou lentamente e passou ao lado da cabeça do verme. Uma enorme cabeça sem olhos, apenas com uma boca que aberta se dividia em três com incontáveis dentes serrilhados. Sentiu seu corpo tremer ao ver aquilo.

A jovem olhou para os rostos das pessoas que estavam a bordo do enorme barco que se movia, todos por alguma razão possuíam olhares maliciosos e caras feias. Haviam três homens de pele enegrecida, jogavam alguma espécie de jogo onde escondiam suas peças e tentavam adivinhar quantas pecas os adversários tinham. Ember nunca viu tal jogo.

Dois homens discutiam em outro canto, sendo observados pelos guardas do Sand Volplane, possivelmente brigas não eram permitidas ali. Após olhar para todos os que estavam na esplanada, Ember concluiu que aquele lugar era um barco para ladrões e possivelmente para assassinos. Um lugar de clima pesado.

Ember havia cruzado todo largo quando ficou frente a frente com o homem misterioso. Este, que permanecia de cabeça baixa, sequer mostrou reação à chegada da jovem.

– Ola... – disse ela na esperança do homem levantar, pelo menos, a cabeça; nenhuma reação. – Humm... Obrigada por me salvar. – Ela se sentia constrangida, nunca fora salva por ninguém, ainda mais um homem cuja face não conhecia. Ela se ajoelhou na esperança de ver o rosto do homem, mas sua cabeça estava baixa. Nenhuma resposta. Ember começou a se irritar. – Eu só queria agradecer, você pelo menos deveria dizer alguma coisa, como por exemplo, “Não há de quê, minha jovem”, ou coisa do gênero. – mesmo assim o homem misterioso sequer proferiu uma palavra.

Ember, que possuía um gênio forte, não conseguiu evitar sua raiva, todos os recentes acontecimentos a haviam deixado confusa, e sua confusão sempre gerava raiva. Ela levantou-se, seus olhos castanhos transmitiam o ódio que ela sentia e por mais que estivesse com possessa por ter sido roubada, o que mais lhe deixava indignada era ser ignorada.

– Dane-se, eu não sei por qual motivo eu vim agradecer um homem tão idiota como você, alem de ficar ai só sentado, não diz nada. Me salva e não diz nada. – Ember deu uma volta em torno do próprio eixo e desferiu alguns socos no ar, como uma louca. – IDIOTA! – e chutou-o, sem pensar duas vezes.

Antes que o pé de Ember encostasse-se à lateral do homem, este caiu de lado, produzindo um baque seco à sua cabeça bater na madeira. Ember arregalou os olhos e recuou um passo, sabia que não havia acertado-o.

Ember se aproximou e pela primeira vez pôde ouvir algum som proveniente do homem; sua respiração. Uma respiração pesada, como a de um velho. Ele tentou falar, mas foi impedido pela falta de ar. Ember se aproximou mais. Ele falou apenas uma palavra.

– A... Água... – e depois voltou a respirar com dificuldades.

Ember sentiu-se desesperada. Raciocinou um pouco e chegou a conclusão do por que de ele não falar; era pelo fato de que ele não podia. Levantou-se em um pulo e olhou ao redor, procurando por água, estava tão desesperada demorou alguns segundos para lembrar que havia água em seu cantil. Desamarrou-o e colocou-o ao lado do homem. Este permanecia com o enorme embrulho no colo, mesmo caído, não desgarrava do enorme enrolado de bandagens.

Sem pensar duas vezes, Ember jogou o embrulho para o lado, de modo que ninguém pudesse pegar sem ser visto, notou que era extremamente leve para alguma coisa daquele tamanho. Sentou-se ao lado do homem e pegou-o no colo, de modo que este ficasse deitado em meio às pernas dobradas da jovem.

Ember retirou o capuz que cobria o rosto do homem e ficou paralisada por um tempo. Não sabia o porquê disso, apenas parou no tempo. Deitada em seu colo, estava, não um homem velho, mas um jovem rapaz. Seus cabelos eram dourados, de um modo que se parecia com o ouro e sua pele era branca, queimada pelo sol. Os olhos estavam cerrados e a boca estava ressequida e machucada, como se não tocassem a água há muito tempo. Ele respirava com dificuldades.

A jovem retirou a tampa do cantil com os dentes enquanto que com uma das mãos segurava o rosto do rapaz loiro. Devagar jogou o equivalente a um gole d’água, primeiro ele tossiu, expelindo um pouco da água para fora da boca e em seguida tomou a água. Após um longo gole, ele inspirou o ar e soltou-o, notando-se uma grande melhora.

Ember tapou o cantil e observou-o apenas respirando. Era um estranho para ela, mas sentia-se estranhamente bem com ele ali em seu colo. Ele havia adquirido um semblante sereno. Ela observou o rosto do rapaz, havia uma pequena cicatriz acima da sobrancelha direita

– Você pode falar agora? – perguntou ela, com um tom mais sereno, parecia que sua raiva havia passado. Ele demorou um pouco até falar.

– Sim... – ele disse com a voz rouca.

– Qual o seu nome? – perguntou ela.

– Não te interessa! – disse ele com um tom seco. No mesmo momento Ember levantou-se deixando a cabeça do rapaz bater no chão, produzindo um baque seco. – Ai! Isso dói! – exclamou ele levando as mãos à cabeça.

– Eu salvei sua vida seu ingrato! – Mais uma vez a raiva que havia sentido estava de volto.

– Eu não pedi para ser salvo. – Ele se levantou.

– Seu... – e antes que ela pudesse terminar a frase seus olhos se encontraram aos dele; olhos da cor da areia, como o ouro envelhecido. Nunca havia visto olhos tão intensos como os dele, como se ela estivesse olhando para um passado tão distante quanto às areias do deserto.

– Ficou muda? – Ele a olhou inquiridor. O jovem que estava de pé não parecia o que a momentos atrás estava quase morrendo. Ember voltou a si.

– Seu idiota! – Ela gritou, chamando a atenção de meia dúzia de pessoas.

– Eu tenho nome sua troglodita! – Ele replicou no mesmo tom. Ambos estavam gritando. – É Ixion! – Seu nome pôde ser ouvido por todos da esplanada, logo ele se tocou da besteira que havia feito.

– Eu também... – antes que ela pudesse terminar sua frase, o jovem rapaz colocou uma das mãos no peito de Ember e empurrou-a para trás.

Ember tropeçou no embrulho de Ixion e caiu sentada no chão. Praguejou alguma coisa inaudível e olhou possessa para o rapaz. Ficou abismada ao ver as facas cravadas a madeira da amurada. Não havia entendido direito até ver o olhar do jovem rapaz. Estavam concentrados, olhando para dois dos homens que estavam jogando em um dos cantos.

– Caçadores. – Praguejou Ixion.

Stevan observava de longe. Os homens riam enquanto que manejavam suas facas de arremesso, Ember não entendia o porquê de quase a matarem, mas sabia que quase havia morrido.

Ixon puxou a garota que permanecia sentada para junto de seu corpo e a jogou para trás, de modo que ele ficasse interposto entre ela e os dois.

Ember pela primeira vez sentiu algo de diferente no rapaz, algo que ela nunca havia sentido. Sentia que ele não era normal, como se o destino dela estivesse em torno dele, como se ele fosse algo que ela possivelmente necessitaria no futuro, mas era apenas um pressentimento, mas uma coisa era certa, sua vida começaria a mudar dali em diante.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Só para tirar a dúvida, Noa significa excluído em linguagem comum.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Peregrino" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.