Através da Tua Alma eu Posso Ver escrita por they call me hell


Capítulo 6
[S01E06] Em busca da (in)felicidade II.




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* * *

 

Naraku sentia-se extremamente satisfeito diante do modo como seus planos percorriam um trilho tão certeiro e sem demais imprevistos. Deveria estar surpreendido na verdade por não ter necessitado de alternativas exteriores, já que Kikyou caíra tão bem em sua ilusão proposital.

Já haviam retornado para o castelo de Naraku quando este se pôs a considerar uma nova carta em sua manga. Sim, Kikyou ter atraído Inuyasha para uma armadilha por vontade própria e tê-lo assassinado tão friamente com suas mãos quase que angelicais fora incrível. Mas não, aquele não era o ápice dos planos que trazia em si.

O youkai era estratégico e cruel demais para simplesmente parar por ali. Eis que seus desejos tomavam um âmbito ainda maior ao qual ele ainda não dera forma ou cor, mas não deixaria por pouco. Se a primeira parte dera completamente certo, a segunda não tardaria em seguir seu rumo.

 

Em um primeiro momento ele apenas considerara a idéia de transformar a Miko em uma arma de guerra que lhe fosse extremamente útil. Porém, ela demonstrara que seria capaz de virar-se contra qualquer um, já que criara um ódio poderoso contra o seu amado diante de tal mísero motivo.

Assim, Naraku não desejava mais correr o risco de ser morto por aquela que criara. Kikyou já havia feito o deslumbrante serviço de corromper a Shikon no Tama e Naraku precisaria agir rapidamente antes que ela se desse conta disso e passasse a purificá-la em seu interior. O seu motivo de ódio já havia sido morto e agora ela não teria mais razões para alimentar tais sentimentos horríveis.

 

Os trajes da Miko ainda estavam manchados com o sangue de Inuyasha, o que dava a ela uma aparência assustadora demais para se crer. Aqueles que um dia haviam conhecido Kikyou jamais acreditariam naquilo se pudessem ver com os próprios olhos.

Naraku pôde sentir o coração de Onigumo cada vez mais perdidamente apaixonado e já não era sem tempo; Ela realmente era maravilhosa.

 

— Está tudo bem agora. — Kikyou aproximou-se de Naraku selando os lábios dele com os seus. — Estou tão cansada.

— Não é prudente se forçar demais. Além do mais, há toda uma eternidade pela frente. — O youkai riu, levando seus braços ao redor do corpo da garota. — Descanse, Kikyou.

 

Ali, sentada no chão forrado de pétalas de sakura e estando apoiada carinhosamente pelo corpo de Naraku, a bela Miko adormecera levemente. Naraku estreitara o abraço de ambos e começara a concluir aquilo que tanto desejava: Estava absorvendo Kikyou para o seu próprio corpo.

Garras e tentáculos de mais exuberante força surgiam de si através de todos os lados, trazendo para dentro do seu corpo aquela poderosa garota. Naraku tinha plena consciência de que se ela sequer abrisse os olhos e notasse o que ele fazia, o por da Shikon no Tama o reduziria a meras carcaças sem vida alguma.

De todo modo, era cuidadoso e embalava Kikyou como a uma criança, fazendo com que ela sumisse dentro de si sem notar nada. Naraku podia sentir convulsões espalhadas pelo corpo com a força infinita que fora acrescentada ao que antes já era invencível. Gargalhava em alto e bom som para aqueles que quisessem ouvir, pois agora ele estava pronto para destruir a tudo e ninguém em vida era capaz de detê-lo.

 

* * *

 

— Inuyasha é realmente um estúpido. — Sango dizia pela milésima vez. — Por que nos trouxe até aqui para sumir de repente? Com certeza está atrás de Kikyou.

 

Por um momento Sango calou-se vendo que Miroku e Shippou lhe lançavam olhares fulminantes. Kagome já sofrera demais com tudo aquilo, não havia necessidade alguma de reforçarem aqueles sentimentos ruins em seu peito.

Independente disso a garota levantou-se e saiu da cabana de Kaede sem pronunciar nenhuma palavra. Não fazia sentido, não mesmo. Inuyasha desejara demais que todos estivessem ali e não teria simplesmente deixado tudo de lado para sumir com Kikyou em algum lugar qualquer. Havia algo errado e ela desejava descobrir o que era.

Desse modo pôs-se a percorrer os arredores mais próximos, se amaldiçoando pela neve que começava a fazer seus pés afundarem até a altura dos tornozelos e a dificuldade para diferenciar algo naquele exagero de montes brancos em volta de si.

Ao chegar à floresta sentou-se em uma grandiosa pedra próxima para descansar, sentindo os membros congelando de frio. Apenas torcia para que Inuyasha fosse grato ao vê-la ali se torturando tanto para encontrá-lo. Mas foi então que viu aquilo.

 

Alguns metros ao longe jazia um corpo em vestes vermelhas banhado em sangue e ela simplesmente correu até ele desejando que o óbvio não fosse verdade. Infelizmente era e não havia nada que pudesse fazer para mudar aquilo; Se ao menos Inuyasha não tivesse utilizado a Shikon no Tama para trazer Kikyou de volta à vida...

Olhando ao redor Kagome não conseguiu encontrar Kikyou em lugar algum e isso lhe causou um espanto gigantesco. Se Kikyou não estava ali, teria ela sobrevivido? Pior: Teria ela causado tudo isso? Kagome jamais saberia, já que o único que possuía tais respostas jazia ali em sua frente.

A garota simplesmente ignorou o frio que sentia e ajoelhou-se na neve, trazendo Inuyasha confortavelmente para o seu colo. Os olhos dele ainda estavam abertos, mas já não possuíam aquele tom dourado que ela tanto amava. Eram olhos vazios, frios, sem vida alguma. Olhos que haviam visto a morte chegar vestida de branco e vermelho, a morte que ele amara até o seu último suspiro.

As lágrimas começaram a cair lavando a sua alma por completo. Não importava mais o quanto Inuyasha havia sido rude com ela no começo ou se ele havia mentido que a protegeria ao levar a Shikon consigo; Ele havia feito isso por amor. Ela o amava do mesmo modo que ele amava a Kikyou, então o perdoava agora. Infelizmente perdoava apenas o seu corpo sem vida.

Kagome riu em meio às lágrimas ao lembrar-se de coisas bobas que haviam ocorrido nesse tempo todo em que se conheciam. Haviam sido muitos “OSUWARI!”, muitas caronas nas costas do hanyou, muitas discussões. Não importava quão ruim fosse à luta, Inuyasha sempre voltara bem.

Permitindo-se aproximar ainda mais do hanyou, selou seus lábios nos dele como sempre ansiara fazer, mas não havia mais aquele calor ali. Por um momento pensou em passar a noite ao lado dele, já que a despedida de ambos era dolorosa demais para alguns simples minutos. Porém, aquilo já não era mais o seu amado Inuyasha e permanecer ali não mudariam as coisas.

Ela apenas acariciou o que um dia fora o rosto do garoto antes de fechar seus olhos delicadamente com os dedos, apanhando a Tessaiga solitária e saindo dali sem olhar para trás.

 

* * *

 

A noite fora longa para Naraku. Não conseguira dormir sentindo os tantos espasmos de poder pelo seu corpo, mas o dia estava vindo em passos largos e o sol lhe convidava para dar fim ao que seria o último passo do seu plano. Depois disso estaria absolutamente livre para conquistar o que quisesse, já que para a sua força não haviam limites.

Ele precisava aniquilar Kagome. A garota, sendo a reencarnação de Kikyou, era capaz de enxergar a Shikon no Tama e poderia causar-lhe muitos problemas com isso sendo que possuía os grandes poderes de Miko que sua alma trazia em si.

Logo saía de seu castelo atravessando a kekkai que agora estava mais forte do que nunca, rindo de contentamento. Estava mais rápido, mais forte e mais capaz do que jamais estivera. Os poderes da Shikon eram muito maiores do que qualquer youkai pudesse desejar e não havia ninguém melhor do que ele para elevá-los ao seu máximo.

 

Após algum tempo pôde ver os primeiros vestígios da vila diante de si, não tardando para ver Kagome saindo da cabana onde estivera antes. Sua aparência estava horrível, era notável que havia passado por uma noite muito difícil. Teria ela encontrado o corpo sem vida do hanyou? Naraku não conseguiu evitar um sorriso com aquele pensamento.

Em poucos instantes estava próximo o suficiente para ouvir as palavras inúteis da humana, prolongando toda aquela cena estúpida apenas para divertir-se.

 

NARAKU! — Ela se adiantara, tendo agora os amigos ao lado. — Você matou Inuyasha e ainda ousa aparecer por aqui com essa sua arrogância?

— Eu não precisei matá-lo. — Riu divertido do modo como ela estava abalada. — Kikyou o fez por mim.

— Kikyou jamais teria feito isso. — Miroku intrometeu-se. — Ela ama o Inuyasha!

— Talvez eu tenha... Dado alguma ajuda. Vocês poderão perguntar a ela quando se unirem ao meu corpo!

 

Kagome não conseguiu evitar que algumas lágrimas caíssem dos seus olhos. Como era horrível aquele Naraku; Tramara contra Kikyou e Inuyasha diversas vezes até vê-los mortos, apenas para se divertir. Isso não era algo perdoável e ela desejava vingar todas as atrocidades que ele cometera, mas não possuía forças para fazer aquilo. Kikyou com todas as suas habilidades fantásticas e Inuyasha com a sua grandiosa força não poderiam ajudá-la.

De repente, sentia tanta angústia e raiva dentro de si... Até que uma estranha pulsação inflou sua alma e ela se viu além de tudo aquilo. Já não via mais o céu azul com tantas nuvens que estivera sobre sua cabeça, mas sim um local misto de caos e felicidade que não conseguia definir.

Um grande cão, que ela reconheceu como o que Inuyasha descrevera de Inu no Taishō, descia devagar até tocar suas patas dianteiras no chão amarrotado. Todos olhavam aturdidos para aquele imenso youkai sem entender o que ele fazia ali, já que era do conhecimento geral que ele havia morrido muitos anos antes.

A pulsação continuava percorrendo a sua alma e logo ela soube que aquilo era obra da Shikon no Tama que por tantos anos havia estado dentro do seu corpo. Mesmo que Kagome não possuísse nenhum dos Shikon no kakera consigo, ela possuía algo que ninguém poderia roubar-lhe: A essência da Tama.

Ela fora capaz de trazer Inu no Taishō do mundo dos mortos e já não havia mais o que temer pois a sua parte havia sido feita. Naraku olhava espantado para o grandioso youkai, mas ele possuía a Shikon no Tama e Kikyou dentro de si, de modo que jamais poderia ser derrotado por um único youkai.

 

Palavras não foram necessárias no momento em Naraku adiantara-se desferindo um poderoso golpe no grande cão youkai, mas ele também fora atacado sofrendo grande perca.

Infelizmente, aquela era uma disputa em que não se podia prever um ganhador.

 

* * *

 

Longe dali, Sesshoumaru estava com a pequena Rin e Jaken à procura da poderosa espada youkai. Naquele momento Sesshoumaru sentira a forte presença da alma do cão youkai, acreditando que aquilo não fosse possível de verdade. Como poderia ele estar vivo novamente?

Mesmo assim, ele avisou Rin para que permanecesse com o dragão youkai e não o seguisse independente do tempo que demorasse em voltar. Ela, sempre tão alegre e destemida, detestava as saídas repentinas de Sesshoumaru. Assim, correu até a direção dele e o abraçou apertado pedindo para que retornasse logo. Apesar de não retribuir o afeto, Sesshoumaru agradou-se com aquilo; Rin estava trazendo alguma humanidade ao seu coração assim como Kikyou fizera com Inuyasha.

Assim, partiu em direção a gigantesca energia youkai sentindo esta lhe afetando de modo vagaroso; Parecia insano considerar que por algum motivo o pai estivesse ali no mundo dos vivos, mas vá, por que não? Necessitaria, é claro, de uma fonte de poder capaz de proporcionar tal maravilha, mas Sesshoumaru sabia que Inuyasha havia trazido Kikyou de volta à vida com o poder da Shikon no Tama.

 

Sesshoumaru não pôde crer no que via com os próprios olhos. Se alguém lhe tivesse contado sobre aquilo ele jamais daria ouvidos; Era incrível demais para ser verdade. Diante de si Naraku gargalhava convencido tendo Inu no Taishō preso em suas numerosas garras, estando Kagome e outros humanos no extremo horizonte.

Onde estaria o imprestável Inuyasha? Mais uma vez deixara todos batalhando por conta própria.

 

Sesshoumaru apanhou a bainha da espada e correu o mais rápido que pôde desferindo um golpe eficaz contra as garras de Naraku, permitindo que o cão youkai se livrasse de tal poderoso controle. O silencioso Sesshoumaru estava feliz em ver o pai e poder ajudá-lo, transformando-se na sua verdadeira forma youkai.

Naraku estremeceu diante da visão dos dois gigantescos cães a sua frente, temendo que talvez a Shikon no Tama não fosse o suficiente. Mesmo assim prosseguiu; Ele jamais fora derrotado antes e esta não seria a primeira vez.

Adiantou-se até o maior dos youkais e desferiu-lhe outro golpe de grande dano, tendo a interferência do outro. Aquela era uma batalha de poderosos, Sesshoumaru não via aquilo? Seria necessário aniquilá-lo de uma vez e assim Naraku fez. Disparando as numerosas garras de uma única fez, Naraku perfurou o corpo de Sesshoumaru diversas vezes, até que o youkai não mais pudesse se mover.

Sesshoumaru ficara ali deitado, imóvel, sentindo a morte caminhar a passos largos em sua direção. Lançou um último olhar ao Dai-Youkai e sorriu ao vê-lo tendo Naraku entre suas presas.

Era a hora de dar seu último suspiro. A imagem da pequena Rin veio à sua mente e o carinho especial que sentia por ela tomou conta de si, lhe fazendo derramar uma única lágrima entristecida. Ela jamais sabia o que acontecera com Sesshoumaru. Viveria sempre pensando que ele a abandonara, mas pelo menos viveria em um mundo de paz onde Naraku não mais existiria.

 

* * *

 

Os espasmos de poder de Naraku ainda não haviam cessado, irritando-o. Ao desprender-se das garras do cão youkai, apreciando o corpo já sem vida de Sesshoumaru, Naraku agachou-se no chão e apertou o peito com força na vã tentativa de interromper aquela dor terrível que lhe consumia.

Naraku imaginava que aquilo estava sendo causado pelo imenso poder da Shikon no Tama, mas estava errado. Aquilo era o coração humano de Onigumo rebelando-se contra o interior do seu próprio ser, enfraquecendo-o aos poucos por ter consumido Kikyou de modo tão estúpido.

Por não saber disso, o youkai insistia cada vez mais em batalhar, não percebendo o seu próprio fim que viera através da poderosa presa do Dai-Youkai. Este era o fim daquele que aterrorizara tantos povos, matara tantos inocentes e destruíra o amor mais puro que nascera no ódio dos corações da Sengoku Jidai.

Ao ver Naraku desintegrando-se gradativamente, Kagome sorriu com uma felicidade que não estivera em seu peito havia muito tempo. Esta era a promessa de que tempos melhores estavam por vir e uma nova esperança poderia irradiar a todos.


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