Através da Tua Alma eu Posso Ver escrita por they call me hell


Capítulo 5
[S01E05] Em busca da (in)felicidade.




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Já era madrugada quando Kikyou acordou sentindo a presença de Naraku nos arredores da vila. Ela estava confortavelmente deitada ao lado de Inuyasha sentindo a respiração dele preenchendo toda a cabana onde dormiam, mas afastou-se dos seus braços protetores para procurar pelo youkai.

Como ele dissera no dia anterior, ela realmente já sabia onde encontrá-lo e pôs-se a rumar para lá sem temor algum. Tampouco fez questão de apanhar as flechas e seu arco gasto no caso de algo acabar acontecendo errado, pois estranhamente confiava nas palavras pueris de Naraku.

Ele estava li, em meio à clareira da floresta que parecia sombria demais com a excessiva neve depositada nos galhos das árvores que os cercavam. A imagem de Inuyasha perdido em sonhos naquele momento a fez esboçar um sorriso leve, como se aquilo fosse uma despedida. Na realidade, o era. Aquela seria a última imagem que teria do hanyou e gostava de pensar que ele estaria para sempre nas memórias dela como alguém tão doce.

Ao vê-la se aproximando, Naraku surgira despreocupado. No seu rosto rígido havia um sorriso misto de satisfação e receio, como se ainda houvesse resquícios de dúvida em seu peito. Dúvidas essas que Kikyou prontamente cessou permitindo a sua lenta aproximação.

— Não achei que você realmente viria. — Naraku iniciou a conversa se pondo carinhosamente a frente da Miko. — Mas, como sempre, você me surpreendeu.

— Não pense que eu sigo promessas vazias, Naraku.

Logo ele estava tão próximo que pôde tocar o rosto dela com a palma da mão, transmitindo e recebendo ao mesmo tempo um calor único; O calor tão sonhado de Kikyou. No início ela recuara, mas era possível ver a aceitação nos seus olhos. Kikyou tornara-se ambiciosa e havia algo mais desejável que o incrível Naraku?

— Você não acha que minhas promessas são vazias, Kikyou. Se achasse isso, não estaria aqui agora. — Riu. — Acho que já podemos ir.

Não havia o que ser dito ou contestado; Naraku estava certo. Ela realmente almejava aquilo para si – as conquistas, a luxúria, a glória que lhe proporcionaria a vida ao lado do youkai. Podia ver que dele não era emanado youki algum e isso lhe deixou muito mais segura. Aliás, a Shikon no Tama estava ali intacta no interior do seu corpo e ela não temeria usar o seu poder para acabar com ele caso fosse preciso.

Ele lhe estendeu a mão que logo foi apanhada pela garota, instantaneamente fazendo surgir à poderosa kekkai que os envolvia de modo tão exorbitante. Essa era a hora. Desse modo desapareceram subitamente deixando o vazio para trás.

 

* * *

 

Algumas horas depois Inuyasha acordava do sono profundo que tivera. Aconchegara-se na cama à procura do corpo de Kikyou que não mais estava enlaçado ao seu, surpreendendo-se ao encontrar apenas o vazio ao abrir os olhos. Mesmo assim não se assustou. Kikyou era auto-suficiente e uma Miko importante tanto na vila como em seus arredores, então certamente estaria cuidando dos seus afazeres.

O hanyou sorriu aliviado ao perceber que assim seria muito mais fácil fazer o que estava em sua mente desde o dia anterior. Kikyou provavelmente ficaria aborrecida com aquilo, mas não era possível que teria que viver escolhendo entre os companheiros ou a amada. Estavam todos do mesmo lado, por que não conseguiam simplesmente viver unidos harmoniosamente?

Inuyasha pusera-se a caminho da vila dos Taijiya em seguida, caminho este que agora conhecia bem e lhe proporcionava algum ar fresco. Sentia-se estranhamente contente naquele momento ao imaginar como seria rever Miroku, Shippou, Sango e Kirara após tantos meses sem nenhuma notícia sequer.

Ao chegar à vila fortemente protegida algumas horas depois, não conseguiu esconder um sorriso genuíno vendo Sango e Shippou admirando as flores que brotavam das árvores frutíferas do pomar. Ela, vendo-o ali parado feito bobo apenas, levantou-se devagar e caminhou até ele não esboçando alegria alguma.

— O que faz aqui, Inuyasha? — Perguntou de modo seco, causando estranheza ao hanyou.

— Feh, já passou da hora de vocês voltarem à vila. — Ele desfez o modo carinhoso que estivera empunhando desde então e forçou-se a ignorar a garota a sua frente.

— Você sabe que somos totalmente contra o que você fez.

As palavras da Taijiya acertaram seu peito com mais força do que os diversos ataques de youkais que já recebera. Era verdade, ele sabia disso, mas por que as coisas não podiam ser diferentes? Tudo podia se ajeitar era apenas uma questão de quererem.

— Você é um idiota pelo que fez a Kagome, Inuyasha! — Shippou bradou, fazendo com que o hanyou precisasse de toda a sua força para se controlar. Aquela não era hora de infantilidades, queria mesmo ter os amigos consigo outra vez.

— Kagome está de volta. — Ele mentiu, abaixando a cabeça e fitando o chão sob seus pés.

— K-Kagome? — Miroku tendo ouvido a conversa saiu da cabana próxima onde estivera, aproximando-se. — Acho que devemos ir, Sango-sama. Por Kagome.

— Hai, deve estar sendo muito difícil para ela. — A garota lançou um olhar mortífero a Inuyasha.

Não demorou muito e já estavam apanhando suas coisas, despedindo-se da vila com dor no coração. Não que fossem demorar muito para voltar, seria apenas uma breve visita... Mas Sango guardava no peito as dores pelo que ocorrera na última vez em que abandonara o sagrado lar dos Taijiya.

Desde que ela havia voltado ali com Miroku, Shippou e Kirara, as coisas estavam indo muito bem. Às vezes chegava a súplica de socorro para que liquidassem algum youkai, outras apenas haviam de cuidar das frutas e legumes que eles mesmos plantavam. Era uma vida calma e sadia, aquele tipo de vida que quisera dar para Kohaku e a família.

A questão era que a única coisa que a motivava a ir para a vila de Kaede, era a chance de trazer Kagome consigo na volta. Inuyasha era realmente um estúpido... Como ousava manter a humana ali diante das melosas cenas de amor entre ele e Kikyou? Será que não conseguia ver que a garota o amava?

 

* * *

 

Inuyasha sabia que após a mentira que contara o grupo certamente iria acompanhá-lo de volta à vila de Kaede. Assim, foi na frente antes que eles sequer tivessem começado a reunir suas coisas, pois havia agora a parte mais difícil para se fazer: Trazer Kagome de volta.

Ao chegar em frente ao Poço Come-Ossos, Inuyasha lembrou-se da última vez que vira Kagome ali e um sentimento estranho pulsou em seu coração cada vez mais humano. Teria ele descoberto uma paixão pela garota após todos esses meses de ausência? Não, isso não fazia sentido. Ou pelo menos ele queria que não fizesse.

Saltando para dentro do poço, instantaneamente a barreira se abriu e ele riu de como havia agido de modo tão infantil meses atrás, torcendo para que Kagome o perdoasse por isso. Na noite anterior pensara nas palavras que diria a ela, mas sabia que por maior que fosse sua força de vontade nada daquelas coisas maravilhosas sairiam da sua boca no momento em que estivessem frente a frente.

Saindo do Templo Higurashi, Inuyasha pôs-se de imediato a correr para a janela do quarto de Kagome, a qual saltou com agilidade infelizmente encontrando-se apenas com o vazio do quarto. Claro, ainda estava de manhã e ela certamente não voltara da escola.

O hanyou apenas sentou-se no macio colchão da cama dela sentindo o maravilhoso cheiro da garota que estava impregnado em cada poro daquele quarto. Sentiu-se atraído a observar todos os simples objetos, olhando livros, roupas e por fim as fotos que jaziam ali enquanto os longos minutos se arrastavam. Uma foto especial atraíra a sua atenção: Kagome e Houjo abraçados timidamente na rua.

Talvez ela não queira mais voltar. Talvez esteja melhor agora sem nós.

Mal Inuyasha concluíra o pensamento, Kagome abrira a porta do quarto surpreendendo-se ao encontrá-lo ali com sua foto em mãos. Por que, afinal, depois de tanto tempo viera vê-la? Agora que seu coração começava a curar-se o meio-youkai surgia, fazendo com que sentisse a pulsação apaixonada recomeçando.

— I-Inuyasha!? — Praticamente berrou, deixando que a porta batesse atrás de si. — O que faz aqui?

Inuyasha derrubou a foto com o susto, apanhando-a no ar e devolvendo à mesa onde estivera. Aproximou-se de Kagome e simplesmente a abraçara, sabendo que não conseguiria dizer nada do que estivera planejando. Ela entenderia que ele sentira falta da sua companhia nesses meses todos e que julgava que seria melhor se todos estivessem juntos outra vez.

A garota entrou em pânico num primeiro momento sentindo o abraço reconfortante de Inuyasha, finalmente correspondendo-o. Aquilo tudo era muito confuso, mas não se importava agora. Talvez estivesse apenas sonhando e logo acordaria com o barulho do relógio indicando que outro dia estava começando.

— Miroku, Sango e Shippou estão esperando por você. — Ele a soltou do abraço, se recompondo. Gostaria muito de ter acrescentado um “E eu espero que você venha”.

— Eu... Eu não posso mais atravessar a barreira do poço.

— Eh? — Claro, Kagome não possuía mais os fragmentos da jóia. Ele havia se esquecido disso. — Você está comigo agora.

Kagome sentia-se nas nuvens naquele momento. Por mais que soubesse que ele não dissera no sentido que ela gostaria de ouvir, sua mente não podia simplesmente ignorar a beleza da cena que se desenrolava.

Inuyasha lhe ofereceu os ombros e ela apenas teve tempo para apanhar a mochila no armário que ficara intocada desde a última vez em que estivera na Sengoku Jidai. Pensando bem, havia sido uma tola por não desmanchá-la, mas até que isso havia propiciado uma boa vantagem agora.

Assim, apenas aceitou a carona nas costas do hanyou partindo para a outra Era. Não via a hora de encontrar seus amigos e aquele mundo fascinante outra vez.

 

* * *

 

— Vejam, é a Kagome-sama! — Miroku gritara ao ver que Inuyasha a trazia consigo.

Naquele momento ficara claro que ele mentira, mas isso não importava. Ela estava ali agora e isso era muito melhor do que poderiam imaginar. Além do mais, Kikyou parecera entender que aquilo era um momento apenas deles, já que não aparecera por ali ainda.

O reencontro fora maravilhoso, disso não haviam dúvidas. Abraços, beijos e palavras doces preenchiam o ar ao redor deles, fazendo com que Inuyasha se sentisse extremamente feliz apenas por observá-los. É óbvio que também estava se perguntando por onde andava Kikyou, mas aquilo era algo do qual não fazia idéia. Deixou os amigos ali festejando entre si e rumou para o interior da floresta, apenas desejando que ela voltasse logo.

Longe dali, especificamente no castelo de Naraku, Kikyou deliciava-se com as palavras gentis do youkai e o tratamento digno de rainha que recebia. A kekkai envolvia toda a extensão de terras ao redor, mas a aparência do lugar estava similar ao que Kikyou considerava ser o paraíso.

Os beijos de Naraku lhe propiciavam arrepios intensos, algo que Inuyasha não era capaz de fazer, não sendo possível esconder o sorriso no rosto da Miko. Entregara-se ao youkai de corpo e alma, sentindo-se plena como nunca antes. Estava certa agora de que tomara a melhor decisão possível.

Naraku estava a lhe mostrar um curioso artefato que o permitira observar Inuyasha e seus companheiros desde o primeiro momento, dando-lhe uma grande vantagem sobre todos eles. Isso fazia Kikyou admirar ainda mais a inteligência tática do atual parceiro, não conseguindo esconder os risos.

Convencido do melhor, ele a fizera ver que Inuyasha estava ali com os companheiros outra vez, o que causou na Miko um princípio de ira notável. Estava ali a chance de Naraku e ele não iria perdê-la.

Instaurou-se uma de suas ilusões, aquele em que ele trabalhara incansavelmente nos últimos meses e que seria capaz de enganar a Miko mesmo que ela estivesse mais forte do que nunca. Ela ainda amava o hanyou e isso era o suficiente para cegá-la outra vez como ele fizera há tantos anos.

Kikyou sentiu seu corpo transportando-se para a cena que vira no artefato de Naraku, mas ignorou por completo este fato. Queria apenas ver o que estava acontecendo ali, pois não podia acreditar nos próprios olhos.

Inuyasha, agora sozinho com Kagome próximo ao leito do rio, a abraçava do mesmo modo que fizera com Kikyou naquele dia em que dizia que a traria de volta a vida. Ele acariciava o rosto da garota até trazer-lhe para um beijo que começara tímido, mas que aos poucos ia tornando-se mais e mais intenso, até que Kikyou não pudesse mais ver os dois corpos se amando com tanto desejo naquele que fora o lugar apenas dela e do amado.

Sim, amado, porque sentia agora que estava ali com Naraku apenas para provar a si mesma que amava Inuyasha. Parecia tolo e sem sentido, mas escolhera uma vida maravilhosa no lugar do amor. Ainda assim, isso não desfazia o fato de que ela amava aquele hanyou.

Agora apenas conseguia sentir ódio, o mais puro e verdadeiro. Aquele sentimento obsessivo de ira que lhe permitira continuar sustentando o inútil corpo de barro agora tomava vida e expandia-se de um modo muito mais insano. E no fundo, era exatamente aquilo que Naraku desejava.

Ele tomou o corpo da Miko nos braços e a retirou da ilusão em que estivera, rindo satisfeito ao ver que ela agora estava desacordada. Era questão de tempo para que estivesse consumida pelo ódio mortal; Consumindo inconscientemente a Shikon no Tama dentro do seu corpo, tornando-a totalmente corrompida pelo desejo de vingança.

Quando soubera que Inuyasha usara o poder da Shikon no Tama completa para trazer Kikyou de volta à vida, Naraku não pudera ignorar esse fato. Inuyasha havia se esquecido de tudo que eles já haviam vivido, absolutamente um tolo. Kikyou jamais poderia ressuscitar com a sua alma plena, pois ela agora pertencia à Kagome. Assim, o que restava naquele corpo vívido era apenas o ódio que a mantivera consciente naquele corpo de barro.

Ódio este que ficara desacordado enquanto os dois estavam juntos, mas que não morrera. Era a vez de Naraku trazer à tona esse sentimento tão destruidor e estava sendo mais fácil realizar o seu plano do que imaginara.

— Kikyou? — O youkai chamou pelo nome da Miko no tom mais puro que sua voz conseguia transmitir, quase apaixonante.

— O que foi aquilo, Naraku? — Kikyou se levantava devagar, tendo a ajuda dele.

— Acho que eu não deveria ter lhe mostrado aquilo. — Beijou sua testa com carinho, lembrando-a de Inuyasha e fazendo sua ira expandir-se ainda mais. — Perdoe-me. Faria qualquer coisa para você se sentisse melhor agora.

— Você fará, Naraku. Agora.

 

* * *

 

Inuyasha ainda buscava por Kikyou na floresta quando um barulho surgiu próximo ao local onde ele estava, fazendo-o mudar de direção. Pedia aos céus para que a amada não estivesse machucada ou em perigo, mas ao mesmo tempo procurava afastar tal intuição para longe de si pois aquilo o acabaria deixando maluco.

Ali estava Kikyou. Não estava ferida nem em apuros, apenas jazia em meio ao chão de neve que destacava o tom vermelho intenso de suas vestes. Sem precisar sequer pensar em algo, ele apenas correu na direção da Miko e a abraçou como nunca havia feito antes, procurando demonstrar apenas com o carinho do seu toque o quanto havia ficado preocupado pela vida dela.

Ao mesmo tempo sentiu que algo lhe rasgava a carne próximo ao peito e deslizou para o chão devagar, buscando apoiar-se no corpo de Kikyou. Havia medo nos seus olhos, medo por nunca ter sido ferido de modo tão devastador. Porém, o medo que sentia apenas se alastrou ao ver que Kikyou segurava uma poderosa adaga e que esta jazia manchada pelo seu sangue tão cruelmente arrancado de si.

— Na-Naraku... Outra vez, não pode ser. — Inuyasha disse com o resquício de força que possuía em si, sentindo que ela se esvaía do seu corpo numa velocidade impressionante.

Como se para responder a pergunta do hanyou sem a necessidade de palavras, Naraku aproximou-se devagar sem que ele pudesse ver de onde e enlaçou a cintura da Miko lhe dando um beijo no rosto.

Kikyou não corria, lhe mirava a adaga que tinha em mãos ou possuía medo e aversão no olhar. Mantinha o rosto sereno e sem expressão alguma, até que passou a rir descontroladamente encarando Inuyasha.

Ele já não tinha forças para mais nada, então apenas virou o rosto em direção da neve que caía do céu em pequenos flocos, fechando os olhos em seguida e esperando que a morte viesse carregar sua alma cansada nos seus braços gentis. Sentia-se amargurado por ver que havia sido traído por aquela que mais amava e silenciosamente pediu perdão à Kagome, pois agora sabia pelo que ela havia passado.

Ainda assim, conseguiu colocar um sorriso nos lábios. Ela era tão forte que havia suportado aquela dor que ele agora sentia, algo do qual ele não era capaz. Poderia tentar se salvar, mas para que tentaria? Não era capaz de conviver com aquele peito estraçalhado em pedaços.

Puxou o ar para os pulmões uma última vez antes de o seu coração parar de bater e reforçou o sorriso no seu rosto, sentindo aquele cheiro tão maravilhoso lhe invadir por completo. Já não pensava mais que aquele cheiro era de Kikyou, pois era exatamente igual ao de Kagome e nada lhe parecia mais incrível em todo o mundo do que aquela que ele julgara ser uma mera humana.

Sim, ela era uma mera humana. Porém, mesmo que ele lhe tivesse traído, mesmo que tivesse demorado tanto para buscá-la, ela jamais deixou de alimentar aquele sentimento bonito que trazia por ele. Como fora tolo em demorar tanto para perceber isso.


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