Capítulo 5-O Baile

                Luke desceu as escadas calmamente acompanhado de Victor Hugo. Passou os olhos pelo cômodo, porém, não viu Rafaela tampouco uma de suas primas.

                -Fique calmo. Ela ainda não deve estar pronta. Você sabe como são as mulheres... Elas sempre se atrasam. –disse Victor Hugo ao seu lado baixo o suficiente para que apenas ele pudesse ouvir.

                -Claro você deve ter razão. –disse ele.

                Ao chegar ao final da escada, os dois se dirigirão em direção ao grupo de rapazes que se encontravam sentados nos belos sofás que havia na grande sala de estar. Eles se cumprimentaram e os dois últimos a chegar se sentaram para esperar pelas garotas.

                Luke percorreu o cômodo com os olhos percebendo que eram os únicos ali. Os outros já devem estar no salão de baile. Pensou ele para logo em seguida direcionar o olhar para os primos. Ricardo, noivo de Ana Carolina, sua prima mais velha com 26 anos, com seus olhos verdes e cabelos loiros também tinha 26 anos e era formado em engenharia assim como a noiva. Victor Hugo, namorado de Carolina, 21 anos, cabelos loiros e olhos azuis, cursava arquitetura, diferentemente da namorada, que fazia veterinária. Ele possuía uma irmã gêmea chamada Daniela, namorada de George, seu primo. George tinha cabelos negros e olhos castanhos, 21 anos, cursava engenharia assim como a irmã, Ana Carolina, fizera anos antes, e diferente da namorada que cursava medicina. E por fim Arthur. Seu primo mais velho, com 22 anos, namorava Luíza e cursava biologia marinha diferentemente da garota que fazia administração de empresas. E, é claro, havia Luke. Cuja descrição já fora mostrada antes, com seus cabelos negros e olhos verdes, músculos impressionantes. Apesar e não ser o mais velho dentre os primos, Luke era sem dúvidas o mais forte. O moreno cursava direito e música.

                -E como vão os preparativos para o casamento? –perguntou Luke a Ricardo. Luke seria o padrinho, junto com George e Daniela.

                -Vão bem, mas ainda não decidimos quem vai ser a madrinha com você. -respondeu o loiro.

                O moreno confirmou com a cabeça dando o assunto como encerrado. Nem ele nem Ricardo estavam muito dispostos a conversar. Estavam nervosos e ansiosos demais esperando as garotas.

                E foi nesse instante que passos puderam ser ouvidos na escada. Os cinco homens ali presentes se viraram para vê-las descendo e rapidamente se levantaram tomando posição um ao lado do outro.

                A primeira foi Ana que desceu em um lindo vestido de baile rosa, maquiagem leve e os belos cabelos castanhos soltos por sobre seus ombros. Ricardo se adiantou ate ela com um sorriso bobo nos lábios e beijou-lhe a mão. A garota então se aproximou do noivo e sussurrou em seu ouvido:

                -Em breve irei usar um vestido branco no lugar do rosa. –Luke percebeu que a prima sorria enquanto dizia tais palavras ao noivo e viu, segundos depois, o mesmo sorriso brotar nos lábios do loiro.

                Ricardo acenou para eles de leve e então conduziu a garota até a porta, indo em direção ao baile, sempre de mãos dadas com a mesma.

                Não demorou muito e Luíza desceu com seu vestido preto e sandália prata, os cabelos soltos e a maquiagem pesada. Em seguida Daniela, com os cabelos loiros presos em um coque, o vestido azul marinho e a maquiagem pesada. Carolina veio em seguida, com seu vestido vermelho sangue que ele não havia percebido antes quando ela fora ao seu quarto mais cedo, porém, a maquiagem era leve. Isabela desceu em seguida, acompanhada do irmão, Vítor. A garota de apenas 14 anos vestia um vestido roxo e o irmão um smoking assim como todos os outros. A garota se aproximou e beijou a face do irmão mais velho com carinho, para logo depois sussurrar baixinho em seu ouvido para que apenas ele ouvisse:

                -Fique calmo. Ela já está descendo. E, a propósito, ela está linda. –a fala da irmã, porém, surtiu o efeito contrário ao desejado. Só fez com que Luke ficasse ainda mais nervoso.

                O irmão, porém, apenas sorriu para Luke e acenou com a cabeça enquanto ia em direção ao baile.

                Agora só restava Luke ali. O garoto estava nervoso de uma forma que ele não ficava desde que era garoto, com seus 17 anos. Suas mãos suavam, o coração batia de ansiedade e ele não conseguia ficar quieto. E então ele fez a única coisa que achou que poderia ajudá-lo a ficar mais calmo: ele cantarolou. Bem baixinho Luke começou a cantarolar uma música, sua mão direita repousava calmamente em uma mesinha que tinha ao seu lado e ele tamborilava os dedos na mesma tocando Someone Like You no piano. Aquilo sempre o acalmava. Luke se perdeu no tempo e só acordou de seu transe quando ouviu passos vindos da escada. E quando ele olhou para a mesma o ar escapou de seus pulmões.

                Rafaela descia as escadas calmamente. Ela vestia um belo vestido de baile tomara-que-caia branco que ia até os tornozelos, as sandálias douradas e a maquiagem leve, a boca em um tom rosado que fazia com que Luke tivesse vontade de beijá-la. Nos lábios, um sorriso. E ele não pôde deixar de sorrir de volta. Linda. Perfeita! Ele pensou. Quando Isabela lhe dissera que e garota estava bela, Luke não havia imaginado que a parceira beirava a perfeição. Afinal, a jovem dissera linda e não perfeita, que seria a palavra certa a ser usada. Luke sorriu mais ainda.

                Agora ela já estava quase no final da escada. O jovem adiantou-se em sua direção e estendeu-lhe a mão e, quando ela por fim repousou a sua própria na do moreno, este lhe beijou docemente a mão antes de depositar-lhe um beijo na bochecha esquerda.

                Quando enfim Luke voltou a olhá-la, a garota sorria e o moreno sorriu de volta instantaneamente.  Ele lhe oferece seu braço e esta se agarra a ele. Luke por fim entende. Ela está com vergonha. Completamente sem-graça com a situação na qual foi colocada. O sorriso do garoto aumenta e ele beija a testa da garota. Ela parece relaxar um pouco, mas não se solta de seu braço. Tampouco Luke quer que ela o faça.

                Eles então se dirigem para a porta, para o baile. Os dois entram no imenso salão e Luke percebe que os olhares de todos agora pairam sobre ele e Rafaela. Luke sorri e, ao seu lado, ele percebe que Rafaela faz o mesmo. Luke gostaria de poder ir em direção aos amigos, mas o moreno sabe que não será possível. Eles ainda têm que cumprimentar todos os presentes, o que vai demorar um pouco. Dito e feito. Minutos depois, Luke e Rafaela enfim se dirigem aos últimos ali presentes que ainda faltam ser cumprimentados: a família de Luke. O moreno pode sentir a tensão da garota ao seu lado. Ele tenta acalmá-la dirigindo-lhe um de seus belos e sinceros sorrisos que, mesmo que o dono deles ainda não saiba, a garota tanto ama. Novamente ela relaxa sobre o olhar do garoto.

                -Olá. –Luke cumprimenta a todos. –Esta é Rafaela Hoold, minha nova parceira de equipe. Acho que alguns de vocês já a conhecem não?

                Luke pode ver pela expressão na face de todos os presentes aqueles que sabiam e aqueles que não faziam idéia da nova novidade.

                -É um prazer finalmente conhecê-la senhorita. –finalmente, Harry, avô de Luke, decide quebrar o silêncio. Harry vai até a garota e beija-lhe a mão e Rafaela não pôde evitar sorrir.

                -O prazer é todo meu. –ela diz ainda sorrindo e um belo sorriso brota nos lábios de Luke.

                 -E então? Vocês vão se juntar a nós?

                -Claro. Por que não? –diz Luke. –Quero dizer... Se não houver problema para Rafaela. –ele completa em seguida olhando a garota.

                -Problema nenhum. Eu vou adorar me sentar com sua família Luke. –ela diz olhando fixadamente para Luke.

                Eles então se sentam. Luke ao lado direito do avô e Rafaela ao seu lado. Não demora muito e seus primos e primas se juntam a eles. O moreno tem quase certeza de que vira o irmão, Vitor, com uma das calouras da academia e ele suspeita ter visto Isabela aos beijos com algum calouro por ai. Uma vontade gigantesca de ir atrás da irmã e socar o cara que a estava beijando domina-lhe a alma e o coração, mas a presença de Rafaela que agora está recostada em seu peito e com uma das mãos entrelaçada na sua o impedem de se mover.

                -Luke, por que não toca uma música para nós meu filho? Faz tanto tempo que não lhe escuto cantando. –pergunta sua mãe e em seguida completa para Rafaela. –Ele é tímido.

                Rafaela arqueia uma sobrancelha para ele mostrando claramente que tímido definitivamente não seria o adjetivo que a garota usaria para descrevê-lo. Luke sorriu antes de concordar com a proposta feita pela mãe. Ele chamou os primos para se juntarem a ele e, juntos, seguiram para o palco. Luke se posicionou em frente ao microfone com o violão nas mãos enquanto George e Ricardo se encaminhavam para as guitarras. Victor Hugo foi em direção ao baixo e Arthur sentou-se atrás da bateria.

                Luke olhou para os amigos e piscou com o olho direito. Eles saberiam o que fazer. Logo as primeiras notas de I Won’t Give Up do Jason Mraz puderam ser ouvidas. Fazia muito tempo desde a última vez que Luke havia tocado aquela música. Ele tentava evitar os acordes e a letra da música que sempre mexiam com ele. A música parecia ser feita para ele. Sobre ele. Sobre ela.

When I look into your eyes
It's like watching the night sky
Or a beautiful sunrise
Theres so much they hold
And just like them old stars
I see that you've come so far
To be right where you are
How old is your soul?

                As lembranças começaram a invadir a mente do rapaz, perturbando-o. O dia em que eles cantaram juntos, a mesma música que ele cantava, agora, sozinho.

I won't give up on us
Even if the skies get rough
I'm giving you all my love
I'm still looking up

                Ele conseguia se lembrar de tudo. Dos mínimos detalhes daquele dia. Fora um dia antes da missão que a tirara dele. Um dia antes de seu mundo desabar. Ele se lembrava da voz angelical dela cantando o refrão junto com a voz grossa e bela dele. Felizes. Eles estavam felizes.

And when you're needing your space
To do some navigating
I'll be here patiently waiting
To see what you find

                Ele continuava cantando. Se esforçando para não chorar, forçando as lágrimas que teimavam em querer cair de seus olhos a permanecerem onde estavam.

Cause even the stars they burn
Some even fall to the earth
We got a lot to learn
God knows we're worthy
No I won't give up

                Por que ele havia escolhido aquela música mesmo? Ele não sabia a resposta. Talvez ele fosse um masoquista que queria e merecia sofrer, talvez ele apenas quisesse se lembrar daquilo que ele forçava-se a esquecer.

I don't wanna be someone who walks away so easily
I'm here to stay and make the difference that I can make
Our differences they do a lot to teach us how to use
The tools, the skills we've got yeah we got a lot at stake
And in the end, you're still my friend at least we didn't tend
For us to work we didn't break, we didn't burn
We had to learn how to bend without the world caving in
I had to learn what I got, and what I'm not
And who I am

                Ele cantara aquela parte, sozinho, assim como havia feito da última vez. Doia-lhe a solidão. Doia-lhe a falta que a voz da garota lhe fazia sentir.

I won't give up on us
Even if the skies get rough
I'm giving you all my love
I'm still looking up
I'm still looking up

                Olhando todas aquelas pessoas ali presentes ele sabia que, mesmo que ele fosse o que mais sentia falta dela, todos sentiam saudades da bela garota de olhos verdes e cabelos negros como a noite.

I won't give up on us
God knows I'm tough, he knows
We got a lot to learn
God knows we're worthy

                Ele não precisava olhar para trás para saber que, assim como todos os outros ali presentes e até ele mesmo, seus amigos estavam com lágrimas nos olhos. Todos sentiam a falta dela.

I won't give up on us
Even if the skies get rough
I'm giving you all my love
I'm still looking up

                Ele terminou de tocar a música bem a tempo. Ele estava quase caindo em lágrimas de tristeza e solidão. Após a morte da garota Luke descobriu o que era a tristeza. Ele então entendeu como Romeu se sentiu quando pensou que Julieta havia morrido. Entendeu como Tristão se sentiu ao pensar que sua amada Isolda não viera vê-lo. Ele entendera, pois era o que ele estava sentindo.

                E então, o mais rápido que pôde e já com lágrimas nos olhos, Luke se dirigiu as portas que o levariam ao jardim e, conseqüentemente, a mais e mais lembranças.

To be continue...