-Mãe? Ta em casa? -Falei abrindo a porta da cobertura em que minha mãe e minhas duas irmãs moravam.
-To aqui no quarto da Emily! -Minha mãe gritou e eu fui até lá.
Quando cheguei no quarto a primeira coisa que eu vi foi a minha mãe sentada no chão segurando um monte de Barbies e a segunda coisa foi a minha irmãzinha pulando nos meus braços.
-Scar! -Ela gritou sorridente me abraçando enquanto eu a segurava no colo.
-Em! -Eu falei da mesma forma empolgada que ela o que fez a minha mãe rir.
-Podemos brincar de Barbie? -Ela perguntou e eu assenti, logo deixei ela no chão que voltou correndo para minha mãe e pegou as Barbies de sua mão -Pode ir mamãe eu vou brincar com a Scar agora. -Em falou autoritária o que provocou risos na minha mãe que se levantou e disse:
-Já estou saindo. –Mas antes dela conseguir sair de fato perguntei:
-Onde esta a Ellie? -Ellie era a minha irmã de 15 anos que era obsecada pelo One Direction assim como o resto das pessoas que eu conehcia... Eu e Ellie não éramos melhores amigas, nem de amigas poderíamos ser chamadas, mas eu havia sentido a sua falta nesse meio tempo.
-Ela está na casa da amiga no andar de baixo daqui a pouco ela sobe... -Minha mãe respondeu e em seguida me abraçou -Senti saudades -abracei ela de volta, já havia quase um mês que não nos víamos, mas era tudo culpa da escola que estava tomando todo o meu tempo.
-Também senti a sua.
Eu amava a minha mãe, tínhamos uma relação muito boa, em parte porque eu era a mais velha das filhas então sempre fui mais madura para entender o que se passava com ela e seus problemas assim como ela entendia os meus. Quando meus pais se separaram a minha guarda havia ficado com ela, meu pai havia cedido sem lutar, mas eu sabia que eu não podia fazer isso, meu pai foi por toda minha vida o único capaz de me fazer sorrir quando a única coisa que eu sabia fazer era chorar, ele era o meu verdadeiro melhor amigo e aquele divorcio não significou apenas perder a minha mãe, significou perder a mim, Ellie e Em que nem havia nascido. Então decidi ficar com meu pai, minha mãe ainda teria a minhas duas irmãs e eu passaria o fins de semana com ela, não podia deixar meu pai sozinho, eu o amava demais para fazer qualquer coisa que o pudesse machucar.
Brinquei com Emily de Barbie até que ela adormeceu, a pus em seu berço e saí do quarto procurando pela minha mãe que estava na cozinha olhando um livro de receitas parecendo indecisa.

-O que você vai querer jantar Scar? Pizza ou macarrão? –Minha mãe perguntou erguendo os olhos do livro e olhando fixamente para mim com uma expressão serena.

-As duas opções parecem ótimas, mas eu acho que eu vou acabar dormindo na casa da Stacy, ela e a Hannah querem fazer maratona de One Direction ou qualquer coisa assim.

-One Direction? Não é aquela boyband que a sua irmã me arrastou para o show ano passado? –Minha mãe perguntou com uma cara divertida, talvez se lembrando de tudo que a Ellie teve que fazer para conseguir com que minha mãe comprasse os ingressos.

-Esses mesmos. –Respondi sem muito interesse.

-Você gosta deles também? Isso seria ótimo porque você poderia levar a Ellie no próximo show que tiver, eu não estou mais na idade de ficar ouvindo adolescentes histéricas gritando e me esmagando. -Ri do que a minha mãe havia falado, mas depois balancei a cabeça em negação.

-Não, eu não gosto deles, quer dizer, eles são bonitinhos e as musicas legais, mas eu definitivamente não sou fã.

-Não importa, você vai levar a Ellie no próximo show do One Direction. –Ela falou e eu estava a ponto de responder quando fui interrompida por uma garota de cabelos castanhos entrando correndo na cozinha, mais conhecida como minha irmã Ellie.

-Eu ouvi One Direction? O que vocês estavam falando dos meus meninos? –Ellie perguntou olhando freneticamente para mim e para minha mãe.

-Nada, só que eu vou dormir na casa da Stacy e da Hannah e que lá a gente vai passar a noite inteira ouvindo musica e falando sobre os “seus meninos” –Respondi com indiferença, fazendo questão de dar entonação sarcástica no “seus meninos”.

-Posso ir? –Ela perguntou com tanta urgência que parecia ser questão de vida ou morte.

-Ellie, eu acho que a Hannah não vai ficar muito contente se você for porque, você sabe, aquela ultima vez que vocês se encontraram não foi muito legal.

-Só porque eu chamei ela de directionator? –Ellie perguntou parecendo surpresa.

-Eu não sei direito o que isso significa, mas a Hannah não gostou nada.

-Eu sei que ela não gostou nada eu tive minha blusa preferida do One Direction arruinada quando ela jogou aquele suco em mim. Mas eu só acho que se ela não sabe o nome da avó da Danielle ela é poser.

-Hannah não é obrigada a saber o nome da avó da Danielle porque ela não faz parte da banda. Ela não é poser por causa disso, ela só não é obsecada.

-Dedicada, eu sou dedicada.

-Ser dedicada é uma coisa, ser obsecada é outra e se você sabe o nome da avó da namorada de um deles eu acho que você é obsecada. Se você botasse metade do empenho que você tem nesse One Direction na escola você não estaria com notas ruins. –Falei mesmo sabendo que aquilo podia magoar a Ellie, alguém precisava dizer a verdade para ela.

-Você não sabe de nada porque a sua vida é perfeita! –Ela gritou com raiva e eu pude ver lagrimas em seus olhos que ela lutava para que não caíssem.

-Minha vida não é perfeita...

-Claro que é, mas você nem percebe isso, acho que só vai perceber quando ela deixar de ser. –Ellie falou e saiu da cozinha logo depois, eu fiquei estática olhando para a porta por onde ela havia passado.

Minha vida não era perfeita e mesmo que fosse a da Ellie era boa também, ela não tinha porque ficar magoada, eu só falei pra ela estudar mais, não era como se eu tivesse mandado ela parar de gostar do One Direction ou qualquer outra coisa assim.

-Vocês precisam parar de brigar por bobagem. –Minha mãe falou interrompendo meus pensamentos.

-Ela que começou. –Falei indignada, mas resolvi não me aprofundar naquela conversa e mudei de assunto. –Vou pra casa da Stacy, as meninas devem estar me esperando.

 Minha mãe assentiu e eu saí do apartamento o mais rápido possível, o ar ali me sufocava e as coisas que Ellie me disse também. Não era o fato de que minha vida fosse perfeita, ou muito boa, que me incomodava e sim a sensação de que aquilo estava para acabar.