(...) Olho pela janela e vejo que o número de Pacificadores aumentou, desço, meu pai apenas me olha e nos dirigimos para a praça. "Que a sorte esteja ao nosso favor, mesmo" penso.

Antes de sair de casa, pego e coloco uma jaqueta, com a esperança de que ela fosse me proteger, eu não sei, mas estou com maus pressentimentos. Meu pai está abalado e me disse para ir na frente, ele sempre some no dia da Colheita, porém, sempre me acompanhou até a praça. Dessa vez não foi assim, eu fui sozinha.

Minha casa fica quase no limite do Distrito 2, por isso tenho que atravessar uma grande parte a pé, tudo bem que a Capital concede privilégios para nós, mas não temos locomoção, só algumas famílias mais ricas, como a Schwart. A família Schwart existe desde que Panem surgiu, é uma das famílias mais antigas e em suas gerações há grandes vitoriosos, ainda haverão mais, como Cato, eu tenho certeza.

Passo pelo pequeno comércio que surgiu a longo dos tempos aqui no centro, sempre procurando por Cato, já que as famílias como a dele moram por aqui. Frustante.

Só o acho quando estou na praça, nossos olhares se cruzam e ele vem ao meu encontro.

 Por um momento eu consigo sorrir e toda aquela "pressão" que eu sentia sumiu.

- Com medo, baixinha?

- Claro que... não. - respondo.

- Claro que sim, né? - Cato retruca.

- É. - adimito.

Pensei que ele iria zombar de mim, mas não.

- Hey, não fica assim, ok? Você não vai ser escolhida, nem eu. Ainda tenho um ano para ter atormentar garota.

A praça começa a lotar cada vez e precisamos tomar nossos lugares. Eu apenas movimento a cabeça e nos separamos, cada um para um lado. E minha sensação ruim volta.

Glossy, a representando do Distrito 2, sobe ao palco. Luzes coloridas se acendem, fotógrafos e equipem de filmagem se ajustam. O que faz eu me sentir pior ainda.

Vão tomando forma e surgindo as filas. As áreas são separadas por cordas, onde, dependendo da sua idade, você deve ficar. Os mais velhos se dirigem para a frente e eu fico um pouco atrás, mas ainda consigo ver Cato. Os familiares ficam em volta, todos tão agustiados, olho para cada um a procura de meu pai, mas não o encontro. 

As outras ruas estão com enormes telões onde todos possam assistir o que vai acontecer, quando dois jovens estão destinados a matar ou morrer. Quando aquelas cameras começarem a funcionar, todos de Panem, não só do Distrito 2, vão poder acompanhar.

Vejo o Edifício da Justiça, o nome é bem irônico, já que os tributos vão para lá depois de sorteados, para falarem com a família, como se tudo isso fosse justo. 

Na frente, vejo o palco e aqueles horríveis globos de vidro com vários nomes, entre eles, o meu, para serem sorteados. Atrás dos globos, estão três cadeiras, estão ocupadas por Glossy, pelo prefeito Wilen Born e pelo nosso mentor, Blazon. 

O relógio aponta que são duas horas da tarde. Glossy se levanta, aquele cabelo arco-íris, vestido vermelho e incriveis saltos altos gigantes, me pergunto como ela consegue andar naquilo.

E então começa a falar e o frio percorre meu corpo.

- Olá futuros tributos! Quero chamar para vir até aqui o prefeito Sr. Born. - ela bate palmas, mas ninguém faz o mesmo.

Wilen Born chega perto do microfone e começa a contar toda aquela história, como faz todo o ano, de como Panem surgiu, do levante do Distrito 13, das castástrofes que aconteceram, surgimento dos Jogos Vorazes e toda a essa coisa que já estou cansada de ouvir. 

- É não só um tempo de arrependimento como também um tempo de agradecimento - finaliza ele.

Finalmente. Agora só falta as listas dos vencedores, que não é muito curta. Então ele começa, alguns nomes eu reconheço por serem famosos, depois de alguns longos minutos recitando nomes, finalmente o ultimo, Blazon.

Glossy logo retoma seu lugar, afinal, quanto mais cedo souberem quem vai para a arena, melhor. Com todo aquele brilho e um sotaque horrível diz as mesmas palavras de sempre, como se fossem para provocar:

- Feliz Jogos Vorazes, jovenzinhos.- sinto um pouco de maldade em sua voz - Que a sorte esteja sempre ao seu favor! 

Ela fala com tanto sarcasmo, claro, porque é ela quem vai assistir as pessoas morrendo, não via lutar por sua vidinha.

- É uma honra para vocês representar o Distrito 2, quem sabe se tornar um vencedor...

E ela fala mais algumas coisas, mas não presto atenção e procuro por Cato. Quando meus olhos o encontram, Glossy me chama a atenção quando diz:

- Está na hora, queridinhos. Primeiro as garotas, certo? Nenhuma voluntária? Não? Vamos lá.

Ela vai até aquelas bolas de vidro e chama por um nome.

Clove Messer.

Clove Messer sou eu. Eu fico paralizada e todos olham para mim, olho para Cato em busca de ajuda, mas ele não pode fazer nada e apenas lança um olhar triste. Ótimo, parabéns para mim. Sou a tributo desse ano.

- Venha, lindinha. Suba ao palco.

Os pacificadores me conduzem, sinto uma imensa vontade de desabar no chão, mas não vou fazer isso. Posso estar um caco por dentro, mas não por fora.

Agora os garotos. - continua Glossy - Algum voluntário? - Ela espera um pouco mais, pois sempre há voluntários, mais do que voluntárias. - Não? Tem certeza?

Então alguém na multidão levanta o braço, Cato. 

Não. Não. Não. Ele não pode estar fazendo isso, só um sai vivo, eu não posso perder-lo. 

- Como é seu nome, gatinho? - pergunta Glossy.

- Cato. Cato Schwart.

- Hummmm... ok. Suba ao palco e cumprimente sua parceira. - conclui ela.

Cato me cumprimenta e aperto sua mão forte demais, para mostrar que aquilo era errado.

Glossy solta um grunhido estranho de alegria.

- Está decidido! Esses são nossos tributos do Distrito 2, Clove Messer e Cato Schwart!

E eu não encontro meu pai, ele não estava lá.