Esperança escrita por LauraTeodoro


Capítulo 9
Elizabeth


Notas iniciais do capítulo

Ook, podem me tacar um monte de pedras porque eu mereço, demorei quase uma década pra postar esse capítulo.Eu estava sem um pingo de criatividade e a preguiça estava me matando quase. Mas enfim, aqui está o capítulo, espero que gostem dele. *-*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/216266/chapter/9

     Enquanto Lucas me guiava em direção ao segundo andar de minha antiga casa, eu pensava qual seria o motivo para ele me obrigar a matar aula. Emma estava colada em mim, como se fosse um carrapato morto de fome, e era um verdadeiro milagre Lucas tê-la despistado.

     Lucas parecia um tipo de louco. Falava sozinho, resmungava e às vezes me olhava de um modo estranho, como se eu o... assustasse. Eu não via motivo aparente para que eu causasse medo em alguém, mas ele sempre se mantinha na defensiva. Até hoje.

     Quando finalmente terminamos de subir os degraus ele virou-se para mim.

     - Lizzie – ele começou, com os olhos um tanto calmos. – Antes de prosseguirmos eu preciso que você saiba de algo.

     - Desenrola! – Falei, impaciente. Seu ar dramático me irritava.

     - Há três anos eu sofri um acidente. – Ele disse, me ignorando completamente. – O carro em que eu estava bateu e eu fiquei em coma. Minha madrasta dirigia, estávamos voltando de um jogo e eu pedi pra ela comprar refrigerante pra mim. No curto espaço de tempo em que ela se virou para me dizer não, outro carro entrou na contramão e atingiu o nosso. Ela morreu na hora, presa entre as ferragens, mas eu fiquei em coma. – Ele fez um sinal para que eu o seguisse. - Enquanto estava inconsciente meu coração parou três vezes. Em uma delas ele parou por quase três minutos. Eu estava morto, por apenas três míseros minutos. Mas foram mais do que necessários para que me tornasse... diferente. – Parou em frente ao antigo quarto de Anne. – Eu sou diferente das outras pessoas, Elizabeth. Sou diferente de você.

     - Eu sei. Você é um garoto. – Ironizei, tentando sair daquele clima pesado.

     - Estou falando sério. – Ele disse, segurando meu pulso.

     - Ei! – Soltei-me dele.  – Será que dá pra você parar de me apertar?

     - Desculpe-me. – Disse, recompondo-se. - Por favor Elizabeth, não grite.

     Fiquei olhando-o sem muito interesse, como uma criança indo comprar roupas com a mãe. Ele abriu a porta e me puxou para dentro. O quarto estava estranhamente limpo, a janela estava aberta e tinha inclusive algumas fotos. Minhas.

     Olhei-o assustada, com medo até.  O simples fato de o quarto estar limpo já era assustador, ele ter fotos minhas então era ainda mais. Ele me conduziu pelo quarto até chegar à janela. O vento fresco da manhã bateu em meu rosto e então ele fechou a porta. Virei-me rapidamente e encarei-o com os olhos arregalados.

     - O que você quer? – Perguntei.

     - Aconteceram algumas coisas, Liz. – Ele disse. Aquele apelido era totalmente novo. – Eu soube do que aconteceu... com sua irmã.

     Aquilo me abalou. Anne era um assunto que eu não discutia com ninguém, ainda mais com um quase desconhecido. Não pude imaginar o motivo para eu estar ali, mas não poderia ser bom já que se tratava de Anne.

     - Não aconteceu nada com Anne. – Falei, com ênfase em nada.

     - Desculpe-me Lizzie – ele abaixou a cabeça. – Mas você esta errada.

     - Desculpe Lucas, mas se você me trouxe aqui para falar sobre a minha irmã – comecei. – Acho que já deu pra mim. – Falei, indo em direção à porta.

     Mas antes que eu pudesse alcançar a porta ele me puxou para perto dele. Ficamos cara a cara. Ele segurava firmemente meu braço com a mão esquerda e então estendeu  mão direita para o lado, em direção à parede.

     - Agora. – Ele disse para ninguém.

     Em um instante eu estava tentando me soltar, mas no outro uma luz opaca e uma brisa fria percorreram o quarto. Ele apertou firmemente meu braço.

     -Lembra quando eu pedi pra você não gritar? – Ele falou, enquanto me apertava.

     - Sim. – Falei, com os olhos fechados por causa da luz.

     Pude ouvir o barulho de sua respiração. Ele passou os dedos pelo meu rosto e parou um pouco quando passou sobre meus olhos. Respirou fundo novamente.

     - Abra os olhos. – Sua voz estava diferente.

     Abri lentamente os olhos, com receio pela claridade excessiva. Assim que minha visão se ajustou, encarei-o um pouco perdida.

     - O que você queria que eu visse? – Perguntei, olhando-o. Aquilo era um pouco irritante, eu tinha que erguer a cabeça para poder olha-lo nos olhos.

     Ele apenas fez um sinal com a cabeça, indicando a janela. De principio não entendi muito bem o que ele pretendia, mas assim que percebi virei-me para o local.

     Meu coração quase parou.

     Em frente à janela, com blusa vermelha e calça marrom, estava ela. Anne.

     Meu coração disparou. Apertei fortemente a mão de Lucas. Anne sorria, seu sorriso era cheio de uma alegria morta, quase com receio. Anne estava ali à minha frente, viva. Ou pelo menos era o que eu pensava.

     Quase chorando fui até ela. Encarei-a, com espanto e lágrimas nos olhos.

     - Anne... – murmurei para mim mesma.

     Então fui correndo até ela para abraça-la, matar a saudade que me consumia e ter certeza absoluta de que aquilo não era uma ilusão.

     Lucas gritou.

     Anne fez um gesto para que eu não me aproxima-se.

     Mas já era tarde.

     Como se Anne fosse apenas poeira, eu a atravessei. Literalmente. Já era tarde demais para parar, eu iria cair pela janela do segundo andar. 

     Meu corpo se dobrou sobre o batente da janela, batendo minha barriga com violência. Tentei me segurar, mas minhas mãos já estavam para fora do quarto, em contato com o ar frio da manhã. Ouvi um grito. Era de uma menina que estava do outro lado da rua. Em uma pequena fração de segundo eu senti meu corpo despencando quatro metros abaixo. E então senti algo segurando minhas pernas, me puxando novamente para o quarto.

     Quando eu percebi já estava dentro do quarto com Lucas ao meu lado, com expressão assustada. Anne estava do outro lado do cômodo, com uma expressão de culpa, como se ela fosse a responsável pela minha quase queda.

     Tudo estava confuso dentro de mim. Eu estava pálida, nervosa e assustada.

     Olhei para Lucas novamente, quase chorando.

     - O que...? – Não pude completar.

     Ele me olhou e balançou a cabeça.

     - Deveria ter dito para não tentar tocá-la também. – Ele resmungou.

     - Como? - Eu estava aflita, confusa.

     - Você não pode tocá-la, Lizzie. – Ele me encarou novamente. – Sua irmã está...

     - Não! – A voz de Anne surgiu de repente, irritadiça. – Eu vou contar pra ela, Lucas.

     Olhei-os atônita. Anne se aproximou de onde eu estava. Olhando-a com mais atenção pude perceber que ela estava diferente. Era como se uma pequena luz emanasse dela deixando-a com um brilho fosco. Anne definitivamente estava diferente.

      - Elizabeth... – Ela suspirou assim que se aproximou. – Senti tanto a sua falta.

      - Eu também. – Sussurrei para ela. – Mas, como...?

      Anne suspirou e olhou para o lado, para onde Lucas estava. Ele fez um sinal discreto com a cabeça e então ela me olhou.

     - Elizabeth, tenho que te contar uma coisa. – Ela olhou-me carinhosamente. – Eles estão certos Elizabeth, papai e mamãe. Estão certos sobre o que aconteceu comigo.

     - O que? – Disse, afastando-me dela. – Não! Não é verdade! Eu sei que não é! Não pode ser!

     Lucas se aproximou de mim, sua expressão era de pena. Aquilo me irritou. Eu detestava quando alguém sentia pena de mim, era como se todas as opções estivessem fora de meu alcance, como se eu estivesse com o destino traçado e não pudesse fazer nada para muda-lo.

     A expressão de Anne era quase idêntica à de Lucas. Eu comecei a chorar.

     - Lizzie eu sinto muito. – Lucas disse, colocando a mão sobre meu ombro. – Não queria que descobrisse assim.

     - Elizabeth me desculpe. – Anne estava visualmente abalada. – Eu não queria que acontecesse assim. Desculpe-me.

     Novamente senti-me extremamente confusa. Anne estava pedindo desculpas, Lucas estava me consolando e tudo o que eu sabia fazer era chorar como uma menininha assustada.  Eu queria argumentar contra, queria agir, queria... cheguei ao ponto de não saber ao certo o que desejava. E a única coisa que eu fazia era chorar, lutar infantilmente contra os fatos. Por mais que eu dissesse pra mim mesma que aquilo era mentira nada iria mudar. Anne estava ali para comprovar que eu estava errada.

     Eu estava perdida em pensamentos e em lágrimas também. Naquele momento, enquanto chorava com Lucas ao meu lado segurando meu ombro, eu me senti acabada por dentro. Sentia-me enganada, perdida e estava com medo.

     Talvez tenha sido por isso que, assim que Lucas me encarou, eu o abracei e enterrei meu rosto em seu peito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, gostaram?
Esse está realmente grande, mas espero que gostem.
P.S.: o capítulo dez sairá bem mais rápido do que esse, podem ficar tranquilos.