Esperança escrita por LauraTeodoro


Capítulo 8
Amélia


Notas iniciais do capítulo

Eu chorei escrevendo esse capítulo, na boa. Ta bem dramático. Espero que eu faça vocês chorarem também u_u



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Alguém estava batendo na porta. Elizabeth havia saído para ir à escola e Peter havia ido para a delegacia assim que o dia amanheceu, portanto eu teria que ir até lá e aguentar outra visita chata.

Fui até a porta a contragosto, sentindo-me extremamente cansada. Há três semanas Declan havia nos entregado a principal prova de que Anne estava morta e desde então as coisas só estavam piorando. Elizabeth estava em guerra declarada comigo e com Peter. Ninguém podia tocar no assunto “morte” sem que ela começasse a erguer a voz, determinada a discutir. Para ela Anne estava viva e a hipótese de morte era impossível.

Já Peter era outro caso. Depois que entregaram o gorro ele havia se tornado mais calado do que o habitual. Todos os dias ele fazia hora extra, como se tentasse manter-se ocupado demais para pensar em Anne. A perda era igualmente dolorosa para ele, por mais que não demonstrasse.

Olhei-me no vidro da porta. Eu estava péssima. As olheiras tomavam cota do meu rosto, como dois enormes círculos arroxeados cobrindo a parte de baixo dos meus olhos. Os lábios rachados pelo frio inesperado estavam vermelhos, meus cabelos loiros estavam presos em um coque improvisado e minha pele parecia mais uma grande bolinha de papel amassado. Mesmo assim me esforcei em colocar o meu melhor sorriso no rosto e fingir gentileza.

Abri a porta esperando por algum desconhecido com frases clichês e sorrisos igualmente falsos, mas era Harry Declan quem batia em minha porta. Tirei rapidamente o sorriso do rosto. Harry Declan não costumava trazer boas notícias.

- Detetive. – Cumprimentei-o sorrindo por pura educação.

- Amélia. – Ele retribuiu o sorrio. – Peter ainda está aqui?

- Não, ele saiu bem cedo hoje. – Respondi. Um vento frio adentrou a casa, fazendo-me passara as mãos pelos braços. – Que indelicadeza a minha! Entre, aqui fora está frio. – Disse.

Ele aceitou de bom grado, quase como se ansiasse pelo convite. Convidei-o a sentar na cozinha, enquanto eu o servia de café.

- Então – disse, enquanto o servia de café. – O que queria falar com Peter?

- Nada de mais. – Ele respondeu, desviando o olhar.

Insisti na pergunta e sua única reação foi tomar um pouco do café. Seus olhos geralmente desviavam-se dos meus. Suas respostas eram curtas, e ele não tentava prolongar assunto. Eu sabia o que isso significava.

- É sobre ela, não é? – Dessa vez eu é que desviei o olhar. Encarei o vapor saindo da caneca de café e perguntei novamente.

Ele apenas assentiu levemente, como se estivesse envergonhado. Meus olhos marejaram.

- O que você descobriu? – Falei, ainda com a cabeça abaixada.

- Amélia, eu... eu não posso contar. – Ele estava visivelmente perdido. – São detalhes da investigação. Os únicos autorizados a saber são os que participam dela.

Olhei-o com os olhos vermelhos.

- O que você descobriu? – Repeti, falando pausadamente.

- Amélia... – Ele começou, mas desistiu assim que me viu chorar.

- Ela era minha filha, Declan! – Choraminguei. – O que você descobriu?

- Eu sinto muito pela sua perda – ele colocou a mão em meu ombro.

Mesmo com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto Declan se mantinha em silêncio. Levantei-me e fui até a pia, ficando de costas para ele. Então desabei. As lágrimas jorravam com tanta intensidade, tanta força, tanta... raiva. Eu sofria mais do que demonstrava, eu realmente sofria. Causava-me uma dor inimaginável saber que quando ela mais precisou de mim eu não estive lá para ajudá-la.

Declan aproximou-se meio sem jeito, sem saber o que fazer e apenas segurou meu ombro.

- Lamento muito, Amélia. – Sua voz estava carregada de pesar.

- Então me conte! – Virei-me, gritando chorosamente. – Me conte o que aconteceu! Acabe com a dúvida que está aqui! – Falei, apertando o local onde ficava o coração.

As lágrimas apenas jorraram com mais intensidade, enquanto Declan ficou lá parado sem saber o que fazer. Entre soluços e caretas chorosas, afastei-me dele.

A dor era uma coisa irremediável naquele momento. Lembranças traziam dor, por isso eu tentava evitá-las. Anne estava perdida por aí, sozinha e provavelmente morta; Elizabeth não conseguia me olhar nos olhos, como se achasse que eu mesma tinha matado Anne; Peter ocupava-se para não ter que discutir sobre isso e tudo o que eu podia fazer era tentar diminuir a dor. Mas a tentativa era inútil, nada me fazia esquecer, nem que por algumas horas, o quanto minha vida estava difícil. O quanto minha família estava desmoronando.

Declan aproximou-se novamente, mas dessa vez não disse nada. Ele apenas me olhou com piedade e me abraçou. Uma vez eu havia ouvido que o pior sentimento que se podia ter sobre uma pessoa era a pena. Mas, naquele momento, a pena me pareceu pouco destrutiva.

Encostei o rosto em seu peito e recomecei o choro.

- Eu a quero de volta! – Gritei, esmurrando seu corpo. – Eu quero meu bebê! Eu quero minha Anne! – Os soluços apenas aumentaram. Declan não esboçava nenhuma reação, apenas aguentava meus socos e gritos, calado enquanto me abraçava. – Eu a quero. – Parei de socá-lo e apenas soluçava. – Eu quero meu bebê. – Choraminguei.

Comecei a gritar e a soluçar novamente, com as lágrimas escorrendo e ensopando a camisa dele. Mas ele não me afastou, não me fez parar, não me impediu de chorar.

Declan apenas me abraçou com mais força.



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Notas finais do capítulo

E então?
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