Esperança escrita por LauraTeodoro


Capítulo 10
Peter


Notas iniciais do capítulo

Novamente desculpem pela demora! Tive um monte de trabalhos na escola e nem deu pra escrever...



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     Amélia estava quase em prantos, andava de um lado para o outro olhando o relógio de cinco em cinco minutos. Olhei-a também preocupado e me aproximei lentamente, abraçando-a pelas costas. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque improvisado e as unhas inteiramente roídas. Seu coração acelerado quase saltava pelo seu pescoço e ela suava frio.

     - Ei, ei – Chamei-a, olhando-a no fundo dos olhos. – Nada acontecerá com Lizzie. Logo ela irá chegar, logo ela estará aqui.

     Sem nenhuma expressão além do pânico, ela me respondeu.

     - Foi o que você disse sobre Anne.

     Depois disso achei melhor me calar, qualquer coisa que eu dissesse poderia causar mais brigas. Ela estava assustada pelo fato de Lizzie não ter dado notícias e, considerando o que havia acontecido com Anne, aquela reação era completamente plausível. Elizabeth deveria ter chegado em casa na hora do almoço. Ela não chegou e nem avisou que não almoçaria m casa. Amélia havia ligado para ela às três da tarde, com um sermão na ponta da língua, porém celular estava desligado. Às quatro horas ela me ligou desesperada, quase chorando, dizendo que Lizzie havia desaparecido, o que não era totalmente mentira.

     Amélia tentava chorar e se manter forte ao mesmo tempo enquanto eu apenas rezava mentalmente e implorava para que Elizabeth voltasse em segurança.

     Meus pensamentos foram interrompidos por um barulho vindo da porta.

     A maçaneta foi girada. A porta foi aberta.

     Elizabeth entrou logo em seguida.

     Amélia quase caiu de joelhos quando viu o corpo magrelo de Lizzie. Ela se aproximou de mim e me abraçou, como se graças a mim Lizzie tivesse voltado.

     - Você estava certo dessa vez. – Ela sussurrou ao meu ouvido, sua voz carregada de gratidão.

      Sorri e abracei-a mais forte. Assim que nos soltamos, procuramos Lizzie com os olhos e a encontramos ainda na porta conversando com alguém.

     - Lizzie! – Amélia chamou-a. – Onde você esteve?

      Porém Elizabeth não respondeu então Amélia foi até a porta chama-la. Voltei para a cozinha e abri o jornal, finalmente com tempo para lê-lo e servi-me uma xicara de café quente. Mal pude ler a primeira manchete quando Amélia entrou a passos firmes na cozinha. Elizabeth vinha logo atrás, carrancuda e, atrás dela, vinha outra pessoa. Um garoto que eu não conhecia.

     Examinei-o, tentando não parecer um pai maluco. Assim que Elizabeth percebeu meu interesse, ela nos apresentou.

     - Pai, esse é o Lucas – ela apontou para o garoto. – Ele mora na nossa antiga casa. Lucas, esse é o meu pai, Peter. Ele é policial, portanto tome cuidado. – Seu aviso era carregado de ironia.

     O garoto me encarou um pouco tímido, e estendeu sua mão para um cumprimento. Apertei-a não mais por educação, para ser sincero a presença dele me alarmava. Ele era um garoto de quinze anos. Elizabeth era uma garota de catorze. Ela havia passado o dia inteiro fora e quando voltou ele estava com ela. Aquilo era suspeito. Muito suspeito.

     Amélia encostou-se e na pia e analisou nossa filha inconsequente. Aquele modo de olhar – olhos meio estreitados e expressão questionadora no rosto – não era um bom sinal. Pobre Elizabeth.

     - Onde você esteve? – Ela falou pausadamente, com expressão levemente irritada.

     Ao perceber a possível discussão que aconteceria, Elizabeth se dirigiu ao garoto.

     - Subindo as escadas, terceira porta à direita. É o meu quarto. Me espere lá.

     O garoto apenas concordou e se dirigiu às escadas. Assim que ele sumiu de vista, Lizzie virou-se para Amélia e desviou os olhos.

     - Ainda estou esperando sua resposta. – Amélia tinha um tom nada exigente.

     Elizabeth bufou e então respondeu.

     - Na casa dele. Quero dizer, na nossa casa.  – Ela cruzou os braços. – E, aliás, quem teve a brilhante ideia de vender aquela casa? As coisas da Anne ainda estão lá se vocês não se lembram. Como puderam vender com as coisas dela lá?

     - Não mude de assunto, mocinha. – Amélia desencostou-se. Eu apenas abaixei o jornal e continuei sentado, tentando permanecer incólume no meio da briga que aconteceria. – O que você estava fazendo lá? Por que você matou aula, Elizabeth? Quem é esse garoto?

     - Eu estava resolvendo um assunto. Matei aula porque tinha que resolver esse assunto. E eu já disse quem ele é. – Elizabeth respondeu, contando as respostas nos dedos.

     Não pude evitar a risadinha. Desde pequena Elizabeth tinha gênio forte, nunca abaixou a cabeça e sempre discutia quando suas ideias eram criticadas. Amélia não sairia ilesa dessa briga.

     Amélia respirou fundo, tentando controlar o desejo provável de voar no pescoço de Elizabeth.

     - Me responda. E rápido.

     - Eu já respondi mãe. Não era nada de mais. Eu estou viva, estou aqui não estou? Não precisa de tudo isso.

     Bola fora, Elizabeth. Dizer a uma mulher nervosa que aquilo era uma coisa desnecessária era com certeza a pior coisa a se fazer.

     - Não precisava? – Amélia disse, apenas subindo um tom. – É claro que precisava! O que você achou que estava fazendo, Elizabeth? Você nem sequer pensou nas consequências! Não pensou em como eu estaria, não pensou na minha preocupação? Eu fiquei por mais de doze horas sem notícias suas! Doze horas! Pensei que tudo estivesse acontecendo novamente! Tudo, Elizabeth, tudo! Já não basta ter acontecido com ela? Queria que acontecesse com você também?

     Elizabeth olhou-a com raiva crescente. Seus olhos castanhos estreitaram-se e ela encarou Amélia no fundo dos olhos.

     - Fale o nome dela! Diga! Não é tão difícil assim, é muito simples na verdade. O nome dela é Anne! A-n-n-e! Sua filha, se você não se lembra. – Logo depois de falar Elizabeth retesou-se, como se estivesse arrependida de falar aquilo.

     - Lizzie, já chega. – Falei, antes que Amélia se recuperasse. – Você não devia ter dito isso. Todos nós sofremos pelo que aconteceu, mas ninguém a esqueceu.

     - Sério? – Sarcasmo era a especialidade dela. – Porque não é o que parece.

     - Vá. Para. O. Seu. Quarto. – A ordem estava clara e reforcei-a quando Elizabeth me olhou.

     Resmungando, ela subiu a escada a passos pesados, quase furando o chão. Respirei fundo e olhei para Amélia. Ela estava de frente para a pia, de modo que eu não conseguia olha-la nos olhos. Desisti da vaga ideia de tentar conversar com ela e fui em direção à mesa terminar meu copo de café.

     - Ela me odeia. – Amélia disse do nada.

     Esperei alguns segundos para responder. Ela poderia apenas estar falando consigo mesma. Mania de mulher. Mas quando ela me olhou com os olhos vermelhos eu soube que  aquilo não era um monólogo.

     - Ela não te odeia. – Disse, abraçando-a. – Ela só está nervosa. Ela ainda te ama. Mas é cabeça dura demais pra dizer isso em voz alta.

     - Tem certeza? – Por um momento ela se pareceu com uma menininha ganhando um brinquedo novo. Ela tinha ansiedade nos olhos.

     - Agora eu sou confiável? – Ri. E por mais incrível que pareça ela riu também.

     - Você sempre foi confiável. É só que...

     - Você não queria admitir? – Terminei, tendo certeza absoluta de que estava certo.

     Ela assentiu com a cabeça.

     - Acho que sei a quem ela puxou a cabeça dura. – Murmurei para mim mesmo.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Deixem reviws!



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