Esperança escrita por LauraTeodoro


Capítulo 7
Anne


Notas iniciais do capítulo

Ok, esse capítulo pode não ser um dos melhores, mas eu procurei expressar um pouco do que a Anne sente estando presa àquele quarto. Espero, sinceramente que gostem.



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Eu estava sozinha. Completamente isolada, presa em meu quarto sem que ninguém pudesse me ver. Lizzie havia desaparecido também, há mais de duas semanas eu não a via. Minhas coisas haviam sido retiradas do quarto e mesmo assim eu ainda continuava lá, sem conseguir sair. A parede invisível que havia na porta e nas janelas se tornava mais forte a cada dia, mas mesmo assim eu sempre tentava sair dali. Mas nunca consegui.

Ficar presa não era a pior coisa, o pior era não ver Lizzie, não saber como ela estava. A solidão, de certo modo, também me afetava bastante. Eu estava acostumada a ter Lizzie ao meu lado quase sempre, gritando ou dando trabalho, mas ela sempre estava lá. Não ter ninguém naquele quarto além de mim despertou uma nostalgia que eu não era capaz de controlar. Cheguei ao ponto de implorar por alguém, qualquer um.

- Por favor! – Gritei, para todos e para ninguém ao mesmo tempo. – Alguém entre neste quarto! Alguém, por favor, me faça companhia. Ou então me deixe sair! Eu quero sair!

Mas ninguém ouvia meus gritos chorosos. E todos os dias ao amanhecer eu tentava abrir aquela porta e sair em busca de meus pais, de Lizzie. Mas nunca dava certo, o máximo que eu conseguia fazer era me machucar.

Depois de um tempo comecei a ouvir barulhos, como se estivessem trocando móveis de lugar. Ouvi vozes desconhecidas, risos estranhos. Mas não ouvi a voz de Lizzie.

Então percebi o que tinha acontecido.

O sumiço de Lizzie, a retirada dos móveis, o cômodo empoeirado, tudo agora fazia sentido.

Eles haviam se mudado e me deixado para trás. Lizzie havia me deixado. Aquilo me magoou, na verdade, até mais do que imaginara. Lizzie e eu tínhamos um tipo de ligação não apenas por sermos irmãs, mas era algo mais profundo. Se ela chorava eu me entristecia, se eu me machucava seu corpo ficava dolorido; ela nunca saía de perto de mim.

A ideia de estar morta era difícil de aceitar, de certo modo. Eu não me lembrava de ter sofrido, chorado ou sentido dor. A única coisa que eu sabia era que eu estava preso àquele quarto. Para mim a morte sempre foi algo temível, monstruoso até. A ideia de perder todos aqueles que eu amava era simplesmente impossível de se cogitar. Mas estar morta sem ao menos se lembrar de sentir dor, sofrimento ou agonia era um pouco complicado de acreditar.

E eu existia naquele quarto sujo e vazio, esperando ansiosamente o dia em que poderia sair daquele lugar. Mas eu não conseguia passar pela barreira na porta e pensava que provavelmente nunca conseguiria sair daquele quarto.

Mas um dia a porta foi aberta voluntariamente.

Alguém entrou no quarto sujo e empoeirado, uma pessoa que eu não conhecia. Era alto, magro, cabelos louros e olhos fundos. O garoto provavelmente era o novo morador, ou seja, mais uma pessoa que não poderia me ver.

Eu estava perto da janela, abraçando os joelhos. Ele passou os olhos pelo quarto e foi até o local onde antes estava a minha cama. Uma pequena camada de poeira havia se acumulado no chão, portanto seus pés deixaram pegadas pelo caminho que havia percorrido.

Ele agachou-se e ficou olhando para frente por alguns segundos. Percorreu os olhos pelo quarto novamente e pousou o olhar no batente envernizado da porta. Levantou-se e caminhou vagarosamente até àquele local. Seus dedos passaram por toda a parte esquerda do batente e pararam a cerca de sessenta centímetros do chão. Ele passou a ponta do dedo indicador ali novamente, aproximou os olhos e sorriu.

Curiosa, levantei-me e fui até onde ele estava. Parei a seu lado, coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e observei com atenção o que ele estava vendo. Era um pequeno entalhe que Lizzie havia feito quando era pequena. Seu nome estava escrito em letras grandes e desalinhadas, típicas de meninas de sete anos de idade. Involuntariamente sorri e aproximei meu dedo do entalhe. De qualquer forma, o garoto não poderia me sentir. Encostei a ponta dos dedos pouco acima de onde o nome estava escrito e desci vagarosamente e senti o entalhe.

O garoto levantou os dedos subitamente e eu não tive tempo de desviar. Nossas mãos se tocaram e por um segundo foi como se nada tivesse acontecido. Por apenas um segundo.

Ele afastou-se do batente da porta com uma expressão estranha, quase como se estivesse com medo. Ele andou para trás e olhou o batente da porta, assustado. Procurei o que o havia assustado tanto, mas não encontrei nada de diferente na porta.

Mas os olhos verdes do garoto não estavam fitando o batente ou a porta. Algo havia acontecido.

Ele olhava diretamente em minha direção, com o rosto empalidecendo um pouco mais a cada minuto. Só então percebi o que realmente tinha acontecido.

Levantei-me e aproximei-me dele.

- Você pode me ver? – Perguntei, sem rodeios.

Mas ele não respondeu nada, apenas olhava com a mesma expressão. Balancei a cabeça e me virei, sentindo-me um pouco idiota por ter pensado que ele podia me ver.

- Posso. – Sua voz ecoou em meus ouvidos e me virei rapidamente.

Eu estava pasma, nervosa, eufórica e assustada. Tudo ao mesmo tempo.



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Notas finais do capítulo

E então?
Achei esse final um pouco paia(leia-se: chato)mas isso é com vocês. Comentem por favor!!!