Esperança escrita por LauraTeodoro


Capítulo 6
Harry


Notas iniciais do capítulo

Sim, os personagens mais velhos também vão ter capítulos para narrar, apesar de serem poucos.
Mais uma vez um super-hiper-mega-ultra agradecimento a Aurora Frost, que me fez muito feliz com suas palavras, apesar de serem um pouco confusas:D pelas suas suposições sobre a história de "Esperança", e pelo carinho como me trata.
Você é a melhor Mamis do mundo!



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Collins estava tomando o segundo copo de café quando cheguei à cafeteria. Seu olhar vazio e as olheiras gigantes caracterizavam bem os acontecimentos dos últimos dias.

– Até que enfim você chegou. – Ele disse, tomando mais um gole de café.

– Tive que deixar a Emma na escola. – Respondi. – Desculpe o atraso.

– Você ainda não contou pra ela, não é? – Ele perguntou, sem fazer rodeios.

– Não. – Respondi, friamente.

– Uma hora ela irá descobrir. Seria melhor se fosse por você, não acha?

Ele me encarava, ainda com a expressão dura e fria. Collins estava certo.

– Olha – comecei, gaguejando um pouco. – E-eu não sei como contar pra ela assim. – Respirei fundo. – Emma me odiaria para sempre se eu contasse a ela.

– E te odiaria ainda mais se você não contasse. – Ele se ajeitou no banco da cafeteria e me olhou nos olhos. – Isso não é apenas sobre a relação entre você e ela, Harry. Ela precisa saber o que aconteceu com Susie.

Olhei dos lados e depois encarei o homem que estava à minha frente.

Peter Collins havia perdido a filha mais velha para um tarado assassino e tinha que aguentar a dor de não poder ao menos enterrar o corpo dela; Amélia e Elizabeth estavam em guerra e mesmo assim ainda conseguia ajudar os outros. Conseguia me ajudar a encarar Emma de uma vez.

– Isso é complicado. O assunto “Susie” é complicado. Não sei se Emma esta pronta para isso.

– Então vai esperar outra pessoa contar a ela? – Ele me olhou. – Vai esperar que contem sem explicar os motivos?

Eu apenas o encarei enquanto ele se levantava.

– As coisas tem que ser esclarecidas, Harry. Ela já tem catorze anos, já é capaz de entender. – Ele colocou o copo sobre a mesa e ajeitou o casaco. – No começo você tinha medo por ela ser apenas uma criança, quando ela fez onze anos você temeu que todas as mudanças que estavam acontecendo com ela a deixasse emotiva demais para compreender o que aconteceu. Qual é a desculpa dessa vez?

Ele olhou-me e depois se virou e saiu, me deixando ali com dois copos de café vazios.


{29 de agosto de 1996}


–Um, dois, três. – Collins gritou. – VAI!

Joguei-me contra a porta de madeira com tanta força que pensei ter deslocado ombro, mas mesmo assim a porta não abriu. Recompus-me e Collins começou novamente a contagem. Joguei-me contra a porta mais duas vezes até que ela finalmente abrisse.

Dentro da casa a bagunça era imensa, ouviam-se choros e gritos de bebê. Mas nós não estávamos à procura de um bebê, estávamos procurando Carlo Theit, acusado de triplo homicídio, tráfico de drogas e posse ilegal de armas. Ele era um desses “barra pesada” que impunham medo em qualquer pessoa.

Qualquer pessoa menos Susie.

Collins fez um sinal com a cabeça indicando que eu deveria seguir na frente, guiando os outros policiais. Andei cautelosamente até uma parede e depois fui rapidamente até o lugar de onde o choro estava vindo. Quando pude enxergar o que havia lá, respirei fundo. Susie estava encolhida atrás do sofá, ninando a criança que chorava desesperadamente. Quando ela me viu seus olhos transmitiram puro terror. Mas Carlo não estava lá.

Fiz um sinal com a cabeça ara que Collins fosse checar o andar de cima, e assim que ele saiu ela começou a choramingar.

– Por favor, não! – Ela chorava quase tão alto quanto o bebê. – Deixe a minha família em paz, por favor!

– Sinto muito Susan. – Respondi seco e duro, tentando não demonstrar a raiva e a angustia presentes em mim. – Você fez sua escolha.

– Por favor, ele não fez nada. – Ela chorou. – Deixe-o fora do nosso relacionamento desastroso. – Ela sussurrou a ultima parte.

– Não fez nada? – Olhei-a indignado. O que havia acontecido com Susie? – Seu marido matou três mulheres, trafica drogas e possui armas não registradas. Ele é um criminoso e um assassino, e mesmo assim você ainda prefere ficar com ele. – Gritei.

Ela olhou-me assustada e recomeçou a choramingar.

No andar superior gritos ecoaram. Collins gritou, um agente gritou, algo se quebrou e, sobrepondo todas as outras vozes, Carlo Theit gritou xingamentos. Alguém corria com passos pesados, descendo a escada de três em três degraus. Carlo apareceu, com o nariz sangrando e uma pistola na mão direita. Ele me viu ao lado de Susie e apontou a arma para mim.

– Sai de perto dela! – Ele gritou, tentando impor medo.

Apenas o olhei com repugnância e sorri sarcasticamente.

– Não irá adiantar muito. Atrás de você estão sete policiais armados e com a mira perfeita para a sua cabeça. O máximo que conseguirá fazer é tentar mirar em mim.

Ele apenas me olhou sem não abaixou a arma. Olhou para Susie com duvida, mas ela assentiu com a cabeça.

Por fim, ele soltou a arma e permitiu que eu a pegasse. Os policiais abaixaram suas armas e Collins avisou pelo radio que já havíamos o pegado.

Carlo olhou para Susie e para a criança em seu colo e sorriu.

– Cuide bem dela, Susie! – Ele gritou.

Agachei-me ao lado de Susie e estendi a mão para ela, a fim de ajuda-la a se levantar. Quando Carlo viu-a segurando minha mão começou a se debater. Soltou-se e agarrou a primeira coisa que viu em sua frente, uma jarra de vidro que estava em cima da mesinha no centro da sala, e veio em minha direção.

Antes que eu conseguisse pensar direito, Collins apontou sua arma e atirou.

O tiro acertou a cabeça de Carlo, fazendo um enorme estrago. O sangue jorrava quase com a mesma intensidade que Susie gritava e chorava. Carlo Theit estava morto. Aquela criança cresceria sem um pai.

Susie levantou-se com um salto e colocou a criança do seu lado direito, com a mão esquerda levantou a pistola escondida dentro da manta que cobria a criança. A mira era perfeita, mas a sua agilidade não. Antes que ela pudesse apertar o gatilho, levantei minha arma e atirei. Susie caiu para trás e eu corri até onde ela estava.

Eu havia acertado o lugar onde ficava seu coração. O sangue escorria vermelho e quente, enquanto ela se afogava nele. Collins pegou a criança do chão e colocou-a em seu colo, enquanto alguém gritava que a ambulância já estava a caminho. Ergui a cabeça de Susie e ela cuspiu o sangue que estava em sua garganta.

– Des... desgraçado. – Ela sussurrou, enquanto vomitava sangue. – Em... Emily... – Seu corpo se balançava em convulsões. – Minha... pequena... Emily.

– Perdoe-me. – Eu choraminguei. – Não tive escolha Susie, você me obrigou a isso.

– Mal... maldito. – Ela vomitava e tossia sangue.

– Susie... – Choraminguei.

Um paramédico afastou-me dela e colocou-a em uma maca. Eu estava encharcado de sangue, mas não era de qualquer pessoa, era de Susie. Pelo visto, a criança cresceria sem uma mãe também, e tudo por minha causa. Eu havia matado a mãe daquele pequeno bebê que chorava no colo de Peter Collins e não poderia fazer nada a respeito.

Ou será que podia?



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Notas finais do capítulo

Ok, espero que gostem desse capitulo. Eu particularmente gostei, algumas coisas estão subtendidas aqui, é só prestar bastante atenção.