Esperança escrita por LauraTeodoro


Capítulo 3
Elizabeth


Notas iniciais do capítulo

Esse tá um pouco pequeno em relação aos outros, ms esta igualmente bom (eu acho).



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Havíamos nos mudado há uma semana. A casa ainda estava um pouco bagunçada, mas nada que não fosse possível tolerar. Há uma semana o detetive Declan havia nos entregado o gorro que pertencia a Anne. Quase que imediatamente minha mãe quis se mudar, deixar para trás toda e qualquer coisa que lembrasse Anne.

As coisas de Anne foram encaixotadas e levadas ao porão de onde não sairiam tão cedo. Ela estava sendo esquecida por todos. Menos por mim. Eu ainda acreditava que ela estava viva. Ela era minha irmã, o mínimo que eu podia fazer por ela era esperá-la pacientemente.

Mas enquanto eu estava ali, sentada ao lado da janela do meu quarto sentindo o vento frio da noite batendo em meu rosto, era quase impossível parar de pensar no gorro e no sangue. Eu nunca fui uma garota muito medrosa, mas também não era uma das mais corajosas. Mas aquele sangue seco e enegrecido havia me feito chorar como uma criança.

Admitir que aquilo fosse de Anne – o sangue, principalmente – era quase como admitir que ela estivesse morta. E ela estar morta era simplesmente impassível. Pelo menos para mim.

O vento fez com que a janela batesse com força no batente. Então eu voltei à realidade. Meu quarto não estava exatamente bagunçado, mas também não poderia ser considerado impecável.

Levantei-me e fui até a mesinha de estudos onde estava o meu computador. Liguei-o e comecei a olhar fotos de quando eu era pequena. Em uma delas eu estava abraçando um cachorro e sorrindo banguela. Anne estava em outra foto, com uma blusa cor-de-rosa horrorosa e uma saia verde. Ela tinha apenas dez anos e eu seis. Éramos duas crianças brincando e sendo felizes. Felizes e fortes, inconscientemente.

Um sorriso brotou em meus lábios enquanto eu observava o resto das fotos. Eu me senti estranhamente feliz quando vi uma imagem de Anne e eu rolando pela grama do quintal de casa enquanto brigávamos. Eu ainda me lembrava dela naquele dia. Estava chateada por que não havia encontrado seu vestido vermelho com bolotas. Depois que fiz uma piada sobre como ela parecia um inseto gigante quando usava aquele vestido, Anne jogou-se para cima de mim e começamos a brigar. Bons tempos aqueles.

Subitamente as lembranças de Anne foram surgindo em minha mente. Seu perfume, suas roupas, seu jeito, seu sorriso. Mas aquelas coisas era apenas um pretexto para meu real interesse: as caixas contendo os pertences dela. Caixas essas que ficaram para trás, trancadas em algum lugar no porão frio e úmido.

Desliguei o computador e calcei meu tênis preto. Decidi sair. Iria até minha antiga casa – agora vazia – e pegaria o máximo de coisas que pertencessem a Anne que eu conseguisse carregar. Desci as escadas tentando não fazer barulho, mas meus pais não me ouviram.

O vento estava seco e frio.

Quase como meu coração.



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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?



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