Esperança escrita por LauraTeodoro


Capítulo 2
Anne


Notas iniciais do capítulo

Eu pensei muuuito antes de escrever esse capitulo. Não sabia se devia revelar isso logo no começo, mas resolvi contar.



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Lizzie estava deitada em sua cama com o rosto enterrado no travesseiro. Ela chorava todas as noites sem falta. Trancava a porta do meu quarto e ficava alisando minhas coisas, ora uma blusa ora um porta-retratos, mas sempre chorava.

Eu queria perguntar o porquê, queria saber o motivo daquele choro, mas não conseguia. Por mais que eu gritasse, esperneasse e me descabelasse ela não respondia. Era como se não me ouvisse. Como se eu não existisse. E ela realmente não me ouvia.

Depois de alguns meses entendi o que estava acontecendo. Foi quando ela começou a murmurar para si mesma.

– Eles estão errados. – Ela choramingava. – Completamente errados, Anne. Você esta bem, eu sei que está. Quando voltar pra casa vai me entregar meu presente de aniversário. – Ela recomeçava o choro. – Eu sei que vai voltar.

Enfiei a mão no bolso da calça. Lá dentro estava o pequeno embrulho que eu tinha feito para ela. Um colar de ouro com detalhes em prata. Comprei o que ela queria. Rasguei o papel para entregar apenas a peça a ela. Mas não estava lá. O colar tinha desaparecido.

– Você está bem. – Ela repetia, com lágrimas nos olhos castanhos. – Bem. Muito bem.

Aproximei-me dela.

– Lizzie, me perdoe pelo seu presente. – Eu disse, me agachando ao seu lado. – Deve ter caído do meu bolso. Prometo que vou te comprar outro.

Mas ela não esboçou nenhuma reação. Na verdade era como se ela não tivesse me visto. Como se eu não existisse.

– Você esta bem. – Ela disse, chorando. – Você não... Não está morta. Eu sei que não esta Anne. Você esta viva. Viva e feliz. Eu sei que está.

Morta? Não eu não estava morta. Não seria possível eu estar morta. Ela estava delirando apenas isso. Lizzie não tinha razão.

Ou será que podia? Eu não me lembrava de nada depois de ter corrido no estacionamento do shopping. Não podia falar com as pessoas, não podia ser vista, não podia ser ouvida. Tudo parecia tão possível e tão surreal ao mesmo tempo.

Naquela noite, depois de Lizzie ter saído. Fui em direção à minha cama. Tudo o que eu queria era descansar. Joguei-me na cama. E caí.

Fiquei abismada com aquilo. Tentei correr, comecei a gritar. Mas não consegui passar da porta. Era como se houvesse uma parede invisível que não me deixava sair daquele quarto. Entrei em pânico. Corri até a janela e abri-a, mas quando tentei sair não consegui. Era como se eu estivesse trancada. Tentei sair dali por mais algum tempo, mas foi uma tentativa inútil.

Fui para a beirada da cama e sentei abraçando os joelhos. Percebi que nunca mais sairia daquele lugar. Nunca mais conviveria com meus pais, com Lizzie. Encarei a verdade que àquela altura já estava estampada em minha frente.

Eu estava morta.


{14 de fevereiro de 2010}

Saí cedo de casa para comprar o presente da irritante. Era seu aniversário de catorze anos. Fui ao shopping mais próximo comprar um colar para ela, mas nem cheguei a entrar lá. Eu tinha o costume de entrar pelo estacionamento e naquele dia coisas estranhas aconteceram. Eu ouvi gritos. Eu ouvi passos. Eu ouvi choros desesperados. Tudo ecoando pelo estacionamento deserto.

Tentei encontrar a pessoa que estava gritando. Corri até o lado leste, de onde o som estava vindo. Alguém estava correndo e chorando, quase como se estivesse fugindo de mim.

– Quem esta aí? – Gritei o mais alto que pude.

Os gritos só aumentaram.

– Você esta bem? – Gritei novamente.

Senti que algo estava atrás de mim, mas quando me virei não havia nada. Então o choro cessou. E as risadas começaram. Eram risos estridentes, quase demoníacos. Eu estava assustada. Muito assustada.

Uma pedra veio em minha direção e acertou a parte detrás do meu joelho direito. Gritei de dor e caí de joelhos. Olhei para trás e vi uma figura com um manto negro e um capuz que cobria grande parte do rosto. A blusa e a calça pareciam uniforme policial e eu não pude ver seu rosto. Mas ele via o meu.

– Quem é você? – Choraminguei de dor.

– Sou o seu pior pesadelo. – Disse, tirando algo de dentro do manto.

Quando pude ver o que era, tremi de medo. Ele tinha um punhal.

– Não, por favor, não! – Choraminguei. – Eu nunca fiz mal pra você. Eu não te conheço. – Implorei. – Deixe-me ir. Por favor!

– Não será possível. – Uma gargalhada ecoou. – Eu disse que isso aconteceria. Eu disse a você.

Eu estava atordoada pela dor. Talvez seja por isso que comecei a correr, apesar da dor e do punhal que ele segurava. Mancava e sangrava, mas mesmo assim corria com certa rapidez. Ele apenas riu. Gargalhou, na verdade. E veio atrás de mim, andando.

Olhei para trás e vi que outra pedra estava em sua mão. Ele levou o braço para trás e a lançou. Virei-me e tentei correr um pouco mais rápido.

Senti uma pontada de dor em minha nuca e caí no chão. Virei-me e dei de cara com ele. Seu punho veio em direção ao meu rosto.

Tudo ficou escuro.



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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi muito complicado pra escrever, mas espero que gostem *-*.



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