A Dança Da Morte (Terror) escrita por CrisPossamai


Capítulo 3
Capítulo 3




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Pelo mapa rodoviário, onde toda distancia ficava resumida ao comprimento de um dedo, parecia bastante simples. Rodovia 1 para a Interestadual 95, Interestadual 95 para a Nacional 32, e depois para noroeste pela 302 através das cidades lacustres do Maine ocidental, ao longe da chaminé de New Hampshine pela mesma estrada e depois entrando em Vermont, Stovington ficava apenas 50 quilômetros a oeste do Barne, acessível tanto pela Auto-Estrada 61 de Vermont quanto pela Interestadual de 89.

_ A que distancia no total? – perguntou Santana.

Mercedes pegou uma régua, mediu e depois consultou a escala quilométrica.

_ Você não vai acreditar. – disse desanimada.

_ Quanto? Cento e cinqüenta quilômetros?

_ Mais de quatrocentos.

_ Ah, fala sério! – esbravejou a latina – Isso mata a minha ideia. Imaginei que pudéssemos atravessar os quatro estados num único dia.

_ Isto é uma idiotice. – disse Matt na sua voz mais intrigada – É possível percorrer essa distancia e chegar a divisa da Carolina do Sul em 24 horas, se fizermos da maneira correta e soubermos exatamente o que temos pela frente.

_ Acho que podemos alcançar Wells amanhã se tivermos sorte. – Mercedes continuou seu raciocínio.

_ Ah, acho que seria uma grande burrice correr – replicou o garoto negro, sério – Nunca se sabe o que vem depois de uma curva fechada. E se nos depararmos com um engavetamento de carros bloqueando a estrada?

_ Não, nunca se pode prever, não é? Mas, por que esperar até amanhã? Por que não vamos hoje? – a voz de Rory é ouvida pela primeira vez no dia.

_ Bom, já passa das quatro da tarde – calculou o outro rapaz – Não conseguiríamos chegar muito mais longe do que Wells e precisamos nos equipar. Seria mais fácil fazer isto aqui, porque sabemos onde tudo está. E precisamos de mais munição, é claro.

Foi realmente esquisito. Tão logo ele mencionou aquela palavra, Brittany havia estremecido.

_ Por que precisaremos de mais munição?

Santana a fitou por um momento, depois baixou os olhos. Uma tristeza dominou seu interior e, implorou, mentalmente para que o negro seguisse com a explicação obvia.

_ Porque a polícia acabou e outros caras malvados podem nos encontrar. É por isso. 

_ Bom, eu também estou querendo descolar uma arma. Mas, ainda acho que poderíamos alcançar Wells ainda hoje.

_ Sossegue, irlandês. Você acordou a pouco tempo e não tem ideia do cansaço de estar na estrada há dias. Temos que procurar um lugar decente para passar a noite, achar comida e abastecer os carros. Não há motivo para termos pressa. – Santana encerra a discussão.

Fizeram um piquenique no parque no centro da cidadezinha: manteiga de amendoim e sanduíche de geléia, biscoitos aperitivos, uma Coca tamanho família a pedido de Rachel e uma caixa de cerveja para consumo dos rapazes. As bebidas estavam ótimas depois de horas no refrigerador da mansão.

_ Estive pensando a cerca do que deveríamos fazer – Mike disse simplesmente – Não quer o resto destes biscoitos?

_ Não, já estou mais do que satisfeita. – Tina responde deitada no colo do namorado.

Puck se pronunciou e o resto desapareceu em sua boca em uma mordida só. O pesar atrasado não havia afetado seu apetite, e depois achou que era um modo um tanto depressivo de pensar.

_ O quê?

_ Estava pensando que deveríamos patrulhar a cidade diariamente. – disse o asiático hesitantemente – Estaríamos preparados para emergência e saberíamos se outros chegassem.

_ Eles vão chegar! E por essa tensão toda justamente agora? – Quinn retruca e se afasta dos braços de Sam.

_ Nós estamos hospedados aqui e em boas condições. Não acha que isso acabaria despertando a cobiça de pessoas desesperadas, Quinn? – replica o asiático. A sensatez dele estava começando a assustar os amigos.

_ Às vezes, você me apavora, cara. – a fala do loiro arranca um meio do sorriso do chinês.

_ Como é que sabe de tudo isso, Mike? – Rachel o fita com franca admiração.

_ Eu leio um bocado e sempre fui vidrado nesses jogos de guerra. Além disso, meu tio sempre deixava pilhas de planos militares. Isso é apenas pratica de sobrevivência.

_ Resumindo, você é um nerd assumido! – Tina faz graça da obsessão do namorado.

_ Vocês acham isso engraçado? Eu não sei quando que Mike Chang se tornou o nosso líder! – Quinn perde o controle, apesar das suplicas do loiro.

_ Isso não é mais uma democracia, Fabray. E você deveria ser mais agradecida ao cara que salvou a pele do seu namoradinho! – Puck rebate e toma um longo gole de cerveja.

_ Ei, parem de falar como se eu não estivesse aqui! E não há ninguém no comando, Quinn. Só entendo que não estamos passando as férias de verão nesta praia. – o tom de voz de Mike não se altera.

_ Está tudo bem, Quinn? Há quantos dias, você não dorme direito? – Rachel é a única a perceber as olheiras circulando os olhos da loira.

_ O que isso tem haver...Bom, não sei ao certo... Acho que três dias... Desde que eu comecei a ter esses pesadelos... – ela leva as mãos ao rosto e é abraçada pelo loiro.

_ Pesadelos? Você também? – Puck comenta assustado pela coincidência.

_ Ei, calma! Ter pesadelos deve ser normal depois de tudo o que passamos... – argumenta Sam, sentindo a camisa ser encharcada pelas lágrimas da garota.

_ Pesadelos com o homem escuro? – a fala de Rachel provoca calafrios nos jovens – Não deve ser normal que várias pessoas tenham o mesmo pesadelo.

_ Homem escuro? Eu já ouvi isso antes... Só que nunca tive nenhum pesadelo... Pelo contrario, tenho sonhado há dias com uma velhinha incrivelmente adorável...

_ A velhinha por acaso se chama Abigail? – a asiática confirma – É um sonho agradável. – explica o garoto chinês.

_ Parece que eu sou único a não ter esses pesadelos ou sonhos esquisitos. – o loiro coça a cabeça bastante confuso.

_ Sorte sua, Evans. Outra coisa para fazermos depois. Achar alguns livros que esclareçam os significados dos sonhos. – cogita Puckerman.

_ Será que você poderia passar na locadora, Noah? Eu estou começando a enjoar daqueles musicais. Poderíamos assistir algo diferente nesta noite? – propõe Rachel.

O rosto dele se iluminou. Por um momento, ela achou que Noah Puckerman iria pedi-la em casamento, e neste único momento cintilante ela provavelmente teria aceitado, mas, então o momento passou. Em retrospecto, Rachel estava contente.

Rory Flanagan dormia inquieto no beliche de lona no quarto de alguma família suburbana. Estava só de calção, com o corpo levemente banhado de suor. Seu último pensamento antes de dormir na anterior fora o de que estaria morto pela manhã: o homem escuro que havia consistentemente assombrado seus sonhos febris iria de algum modo romper aquela última barreira do sono e carrega-lo.

Era estranho. O ferimento que havia arranjando em descuido na loja de ferramentas doera por dois dias. Depois no terceiro, a sensação de que calibradores tinham sido aparafusados na sua cabeça se desvaneceu para uma dor entorpecida. Mas, não era a lesão que o estava matando, era a fraqueza pela gripe que lhe derrubara há duas semanas. Ele havia suplicado por mais medicamentos para Santana e conseguido um frasco com analgésicos, nada que adiantasse muito. Naquela noite toda a cabeça latejava e ao passar a mão, pode ver linhas vermelhas de sangue se irradiando do ferimento. Estava bem ciente de que morreria se o seu corpo sofrera outra forte reação, mas, achava que a alternativa poderia ser uma morte ainda mais cruel. Ele engoliu a pílula, que não o matou, mas, tampouco houve qualquer melhora aparente.

Seu sono naqueles dias e noites após a interrupção de seu tratamento para a gripe tinha parecido tudo menos sono. Seus sonhos eram uma inundação. Parecia que todo mundo que já conhecia estava voltando para uma chamada do além. Will Schuester com o dedo a milímetros de seu rosto. Você não presta para cantar. Sua mãe, batendo de leve em linhas e círculos que o ajudara a traçar em uma tarefa escolar. Essas são as notas musicais. Sua namorada Sugar com seu rosto virado de lado no travesseiro dizendo que ele lhe dava sorte. Os sonhos eram incrivelmente vividos. Eles se desvaneciam à medida que a dor o trazia para mais perto do despertar. Depois uma nova cena aparecia, enquanto ele mergulhava denovo no sono. Havia que nunca vira mais de uma vez nos sonhos, e estes eram os sonhos que recordava com mais clareza ao despertar.

Estava num ligar alto. A terra se espalhava abaixo com um mapa em relevo. Era uma terra deserta, e as estrelas cima tinham a claridade louca da altitude. Havia um homem a seu lado... Não, não um homem, mas, a forma de um homem. Como se a figura houvesse sido cortada do tecido da realidade e o que estivesse de fato parado ao seu lado fosse um homem negativo, um buraco negro na forma de um homem. E a voz desta coisa sussurrava. Tudo que vê será seu se cair de joelhos e me adorar. Rory sacudia a cabeça, querendo se afastar daquela terrível armadilha, temendo que a forma estendesse seus braços e o empurrasse precipício abaixo.

Ele despertou aos poucos até que o mundo real se infiltrou, não tanto substituindo o mundo de sonho quanto sobrepondo-se até que sumiu de vez. Ele estava perto da fronteira com a Carolina do Sul, seu nome era Rory Flanagan, irlandês, exausto, desesperado... Mas, ainda estava vivo. Sentou-se na cama, balançou as pernas e tocou o ferimento. O inchaço se reduzira um pouco. A dor era apenas um latejar. Estou sarando, pensou com grande alivio. Acho que vou ficar bem.

Levantou-se e manquejou até a janela apenas de bermuda. A perna estava rígida, mas era o tipo de rigidez que você sabe que irá regredir com um pouco de exercício. Ele olhou para a cidade silenciosa, não mais a vizinhança, mas, para o cadáver de Shoyo, e soube que teriam que partir hoje. Não seriam capazes de ir muito longe, mas, deveriam tentar. Para onde ir? Bem, ele supunha que sabia disso. Sonhos não passam de sonhos, mas, para começar supunha que iriam para o noroeste. Para Charleston. Inesperadamente, a palavra Nebraska repetiu-se inúmeras vezes em sua cabeça... Independente de que merda estivesse para atingir aquele pedaço do mundo, ele se manteria afastado, mesmo que seus amigos pensassem o contrário.

Rory vagou pela residência por algum tempo até encontrar o outro garoto do grupo. Matt dormira durante a vigília e parecia estar ainda mais desgastado. Dormir sem remédios era um péssimo negocio. Mercedes se levantou depois e tratou de preparar alguma coisa para o café da manhã. Brittany apareceu para ajuda-la e comentou que  Santana passara muito mal durante a noite. O negro coçou a cabeça preocupado e mirou o irlandês revirando alguns jornais antigos. Nada bom. A latina era a motorista mais eficiente do grupo, por mais que Mercedes e Rory soubessem dirigir carros. Péssimo. Justamente na manhã em que ele próprio se sentia fraco demais para pilotar por horas até a divisão do estado.

_ Conseguiu dormir alguma coisa nesta noite, irlandês? – o rapaz apenas balança a cabeça afirmativamente – Ótimo. Você é o motorista da rodada.

As chaves são jogadas e ele se sente feliz ao ser útil as pessoas que lhe mantiveram vivo nos piores momentos. A latina resmungou após ser destituída do “cargo de piloto”  reclamou durante todo o café. Nem Brittany conseguiu conter a sua fúria, que só diminuiu ao receber uma pistola das mãos do garoto negro. Santana encarou a arma como outra missão. Era assim que se mantinha racional em um mundo caindo aos pedaços. Uma tarefa por dia. Faça seu trabalho direto e continue viva. A filosofia era simples e dava certo. Então, era o suficiente. Por enquanto.

Rory dirigiu para fora da cidade por volta de 1h15min da tarde de 3 de julho. O quinteto gastou a manhã embalando diversas mochilas com itens de necessidade básica, mas, ele colocou na sua um pouco mais das pílulas para dormir, para o caso de precisar delas, e algumas latas de sua comida preferida. Lembrou-se de por várias caixas de munição para a pistola e pegou dois litros de vodca. Para situações desesperadoras. 

Subiu a rua, olhando pela janela até encontrar a saída que Mercedes lhe indicava pelo mapa. Dirigiu cauteloso pela rua principal, em baixa velocidade, sua perna latejando pelo mínimo esforço e nunca perdendo a moto de Matt de vista. Seguia para o oeste, sentindo-se mais leve a medida que se afastava do centro deserto. Passou pelas graciosas mansões de aspecto frio na ala mais nobre da cidade, permanecendo na penumbra com suas cortinas cerradas o tempo todo.

Acamparam naquela noite em uma casa de fazenda a pouco mais de trinta quilômetros da divisa do estado. Ao cair da noite de 4 de julho estariam quase em Charleston, na segurança da praia e na companhia dos amigos. Naquela noite, antes de dormir, ficou por algum tempo em outro terreno da fazenda, seu rosto voltado para o céu, observando uma chuva de meteoros riscar a noite com fogo branco frio. Rory achou que nunca tinha visto nada tão lindo. Fosse o que fosse que tivessem pela frente, estava contente por estar vivo.


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