A Dança Da Morte (Terror) escrita por CrisPossamai


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Nem Glee e nem as referencias ao livro Dança da Morte, de Stephen King, me pertencem.



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Mercedes Jones estava sentada em um banco no Central Park olhando os animais no minizôo. Atrás dela, a Quinta Avenida loucamente congestionada com carros, todos eles silenciosos agora, seus proprietários tendo morrido ou fugido. Mais abaixo, na Quinta, muitas das lojas elegantes eram agora entulho fumegante.

À sua esquerda, o relógio bateu onze horas acompanhado de uma estridente melodia, sons horrivelmente pesados. Suíte do fim do mundo com arranjo para mecanismo de relógio. Após um momento, o relógio parou e ela pode ouvir de novo o grito áspero, agora misericordiosamente fraco na distancia. O rapaz estava em algum lugar afastado à direita de Mercedes nesta morna manhã. Brittany estava entregue em um banco mais ao longe, e Santana não dava as caras há horas.

Faz parar!, gritava a voz débil e áspera. A cobertura de nuvens tinha rompido esta manhã e o dia era ensolarado e quase quente. Mercedes voltara a ouvi-lo na noite anterior, que haviam passado no Sherry-Metherland. Com a noite pairando sobre a cidade incomodamente quieta, a voz débil e uivante tinha parecido sonora e sombria, a voz de um moribundo pairando através das ruas de Manhattan, ecoando, retumbando, distorcendo. Mercedes, deitada sonolentamente uma cama dupla com cada luz da suíte acesa, tornou-se irracionalmente convencida de que algum monstro estava vindo por causa dela, em busca dela, como às vezes faziam as criaturas de seus pesadelos infantis.

Porém, mais cedo nesta manhã, ela tinha visto a cidade deserta. Não havia outras pessoas no seu campo de visão, além de seu pequeno grupo que poderia ser reduzido a qualquer momento. A negra bateu na camada de concentro e tentou se concentrar para mais uma prece. Ela já tivera encontros demais com a morte para mais do que três vidas e não queria mais nada parecido. Pelo menos, não naquela manhã.

Agora, sentada neste banco Mercedes viu-se pensando nas brincadeiras de três anos atrás antes das Regionais vencida por Jesse St. James e o Adrenalina Vocal. Era uma coisa boa de relembrar, porque agora lhe parecia, foi a última ocasião em que fora completamente feliz, seu namoro escondido com Matt no fim do ano, sua mente repousando tranqüila e sem nada que lhe abatesse. Mesmo o relacionamento com Sam se tornara superficial perto das três semanas antes da ingrata transferência de Matt e a separação brusca. Durante o verão, os dois adolescentes ainda tentaram manter contato pela internet e com constantes ligações. Fora uma coisa horrível aquele rompimento e no dia em que reencontrou o menino, Mercedes quase lhe sufocou com um abraço. Não houve desculpas, simplesmente, se reconciliaram. Havia sido após as festas de Ano Novo, quando as notícias sobre a H1N4 eram apenas um ruído indesejado nos telejornais. Alguém se abaixa e beija o seu rosto. Se fosse isso de que a menina precisava para ficar numa boa de novo, ele faria todos os dias.

O grupo havia começado a atravessar o país em um velho Mercury 1995, que tivera sua caixa de marchas quebrada logo após a saída do Condado e todo o drama com o bloqueio militar. A partir de lá, penaram por duas semanas com um veiculo caindo aos pedaços e dois caras beirando a morte. Brittany chorando o tempo inteiro, tirando Santana do sério e Mercedes não sabia absolutamente o que fazer. Rory se pegara doente há cinco dias e temiam que fosse a maldita gripe. Por isso, a resolução mais plausível foi deixar o garoto com uma bolsa de remédios e mantimentos em um quarto mediano do hotel em que se enfiaram em Nova Iorque.

O rapaz sentou-se ao seu lado. Foi o suficiente para perceber que estava chorando um pouco e sentir uma repulsa momentânea por ter estado sentada num banco no Central Park, chorando como uma velha deplorável. Então, lhe ocorreu que tinha o direito de chorar pelas coisas que havia perdido, que tinha o direito de chorar por estar em choque por tudo estar daquele jeito.

Sua mãe morrera um mês antes. Ela estava deitada em um catre no corredor do hospital de Lima, quando morreu, apinhada entre milhares de outros que também agonizavam. O pai se ajoelhara ao lado dela e achara que poderia estar louco ao ver a esposa morrer enquanto a sua volta elevava-se o fedor, o infernal balbucio do delírio, os gritos engasgados e insano dos condenados. A própria mãe não lhe reconhecera no final, não houvera nenhum instante de reconhecimento. Ela havia se agachado ao lado dela por uns dez minutos, sem saber o que fazer, pensando de modo confuso que devia esperar até que o atestado de óbito fosse assinado ou que alguém lhe perguntasse o que tinha acontecido. Mas era obvio o que tinha acontecido, estava acontecendo em toda a parte. Ela jurava que tinha visto Kurt e Finn arrastarem Burt pelos corredores gritando por ajuda e não se surpreendeu ao encontrar o cadáver do irmão de Blaine esquecido em uma maca. Era simplesmente tão obvio que o lugar fosse um hospício. Nenhum médico sóbrio estava vindo para acompanhar o caso, expressar simpatia e então iniciar o mecanismo da morte. Mais cedo ou mais tarde sua mãe seria carregada como um saco de cereal e ela não queria ver isso. Beijou-a na face e se afastou chorando. Sentiu-se como uma desertora. Ainda mais por escutar o pigarro do próprio pai. A família estava condenada e precisava sair se não quisesse acompanha-los para o tumulo.

Estar na rua tinha sido um pouco melhor, embora naquela ocasião as ruas estivessem repletas de gente louca, pessoas doentes e patrulhas do exercito. Só não acabara sendo mais uma vitima da epidemia, porque Matt estava lá para segurar a sua mão e faze-la entender que não fora culpada de nada. Nenhum deles era. Desde que abandonara o hospital e fora sugada pela situação caótica, não tivera tempo ou consciência suficiente para se deixar chorar plenamente. Por isso, não queria se levantar daquele banco. Queria apenas se lamentar por coisas mais gerais, a perda dos últimos anos de seus pais, a perda da chance de se tornar uma artista, por aqueles dias em que se apaixonara por Matt, sabendo que mais tarde haveria beijos e juras de amor. O seu primeiro amor. E também pelos amigos sumidos ou mortos. Lamentou, principalmente, pelos amigos e desejou que tivesse aceitado a bronca de senhor Schuester no acampamento de dança com um sinto muito, um sorriso de diva e um dar de ombros, salvando os seis meses que haviam sido perdidos sem a companhia dos amigos do Glee Club.

Quando o relógio ecoou o meio-dia, Mercedes não quis mais ficar sentada ali. Levantou-se e começou a caminhar a esmo para a alameda com seu enorme coreto para bandas. Quando se aproximou do coreto, viu Santana sentada em um dos bancos a sua frente. A latina parecia ter envelhecido uma década naquelas semanas. Ela olhou em volta aos ouvir as passadas. Tinha uma pílula na mão e jogou-a casualmente na boca como se fosse um amendoim.

_ Você está bem? – o garoto perguntou sentando ao lado da amiga.

_ Nenhum pouco. Sabia que está com um papel de sorvete grudado na sola do tênis? – Santana flagrou o inconveniente.

Mercedes imitou o rapaz e lhe ofereceu a mão, que Matt apertou ligeiramente, os dedos pressionados contra os anéis dela. Depois retirou cuidadosamente o invólucro de sorvete e jogou-o com afetação numa lixeira ao lado do banco. Ele achou engraçada toda a operação. Jogou a cabeça para trás e riu. Era a primeira risada autentica desde o dia em que havia regressado para encontrar sua avó jazendo no chão do apartamento e ficou enormemente aliviado ao descobrir que a boa sensação de riso não havia mudado. A risada ergueu-se da sua barriga e escapou por entre os dentes atingindo as amigas. Brittany apareceu atraia pela estranha barulheira das risadas e sorria para o trio.

_ Quando ouvi vocês rindo quase me escondi – disse a loira – Pensei que fosse alguém mal. Eu não percebi que eram risos.

_ Acho que todos nós esquecemos de como era sorrir. – a latina tentava confortar a namorada.

_ Não é muito bom ficarmos circulando separados por ai. Sei que não parece, mas, tem muita gente andando nessa cidade... A maioria está contaminada.  – o negro alerta.

_ Sabe, eu podia jurar que meu celular ficou com sinal por quase um minuto. – a latina suspira e joga o aparelho para o casal de negros.

_ É, podemos testar na cobertura do hotel mais tarde... O sinal ta totalmente instável. Queria muito conseguir contato com os outros... – o grupo fica em silêncio e a loirinha se aconchega nos braços da namorada – Você deu uma olhada no Rory?

_ É, não achei que ele resistiria por tantos dias... Seria uma sorte danada se ele tivesse pegado a gripe de Tóquio, não é? Acho que esse é o dia decisivo para o irlandês. – ela fala calmamente.

_ Eu tenho certeza que o Rory estará bom, logo! Ele é mágico... E leprechauns não ficam doentes!

_ De qualquer forma, acho que devemos dar o fora desta cidade bem rápido!

_ Você ta certa, Cedes. É estupidez ficar nas cidades grandes nessa situação... Sinto que os militares podem chegar atirando a qualquer instante... Isso soou meio paranóico! – as risadas novamente ecoam pelo Central Park.

_ Não é paranóia, Matt... Se o governo isolou Ohio há duas semanas, deve estar fazendo o mesmo em outros lugares... Não deve demorar para chegar em Nova Iorque. Mas, não podemos seguir viagem ainda... Você mal se agüenta em pé, não podemos abandonar o irlandês, precisamos arrumar um carro e... – ela suspira cansada.  

_ Armas. Estou querendo dar uma olhada naquela loja de armas há dias! – confessa o garoto.

_ Vocês acham que isso é mesmo necessário? – a namorada lhe olha assustada.

_ Em um mundo em que o Governo executa pessoas sem julgamento... Infelizmente, acho que não temos alternativa. – ele franze o cenho.

_ O que vamos fazer? – perguntou a negra.

_ Simplesmente, não sei. – disse Santana e suspirou. O suspirou se transformou em um dar de ombros. Ela abriu a mochila, tirou um frasco de pílulas e enfiou na boca uma cápsula.

_ O que é isso? – perguntou a loira.

_ Vitamina E. – disse ela com um falso e brilhante sorriso. Ela ficou mais uma vez tranqüila. Matt e Mercedes trocaram olhares preocupados.

_ Estão com fome, garotas? – o trio feminino confirmou – Então, vamos arrumar o almoço, providenciar as coisas, porque não estou gostando nada do clima desta cidade.

Santana sentiu o corpo arrepiar ao ouvir as palavras do companheiro de viagem. Ela compreendeu exatamente o sentido da afirmação. A menor preocupação deles era a gripe. Em um mundo coberto por cadáveres, o problema residia totalmente nos vivos. O quarteto passou em uma churrascaria qualquer e Mercedes cozinhou um tanto desajeitadamente. Mas, o namorado elogiou cada prato: o bife, as batatas fritas, o café expresso e a excelente torta de morango.

Ao retornarem para o pequeno hotel, a latina verificou o estado do irlandês e se surpreendeu com a aparente melhora. A febre estava controlada e as alucinações cessaram com o aumento cavalar da vitamina E. Se o rapaz sobrevivesse a mais uma noite, estaria quase descartada a infecção pela gripe letal. Afinal, ninguém aguentava mais do que cinco dias com a doença que transformou o planeta. É, havia a possibilidade de que Brittany estivesse certa e que o rapaz fosse realmente mágico, ou pelo menos, sortudo. Ela sorriu fracamente. Sortudo...Será que eles eram mesmo sortudos por ainda estarem vivos? A imunidade, basicamente, lhes condenou a vagar por cidades desertas e sem nenhuma lei. 

Matt estava esgotado e com dores por todo o corpo. Ele vagou pelas lojas do centro atrás de mantimentos, mochilas, roupas, mapas e armas. Mercedes tagarelou o caminho inteiro e só se calou ao entrarem na loja de armas. Estranhamente, ele não raciocinou apenas recolheu revolveres leves e pequenos, munição e dois rifles. A moça não deu nenhum palpite. Nem mesmo na concessionária, ela sugeriu outra opção perante a obsessão do namorado em dirigir a caminhonete e carregar uma motocicleta. De algum modo, ela acatou a decisão masculina e dirigiu o novo veiculo até a pousada e não respondeu as perguntas das meninas. Mercedes adorava Matt, contudo, havia coisas nele que lhe assustavam. Coisas como a sua mania em se distanciar da própria realidade e se colocar prontamente no comando. Aos demônios, eles não eram um esquadrão da resistência para carregar tamanho arsenal! Porém, ela abaixou os olhos ao notar que nem Santana ousaria desacatar os planos do rapaz. O combinado era bem simples. Partiriam assim que Rory recobrasse a consciência, não importasse seu estado de saúde.

Matt checou três vezes a entrada principal do hotel e passou mais um cadeado pela porta que dava acesso as escadarias do terceiro andar. Ele foi o ultimo a se recolher naquela noite e não se surpreendeu quando a namorada virou para o lado sem sequer lhe dirigir a palavra. A negra tendia a exagerar nas ações dramáticas nos momentos mais inapropriados. Ele deu de ombros e mirou o teto por horas. As pálpebras pesaram e o sono lhe golpeou em cheio. A sensação de queda, a respiração descompassada, a roupa encharcada e o corpo retesado. O mesmo pesadelo das últimas quatro noites. Ele deu graças pela jovem não ter procurado o seu abraço. O negro levanta e mira a rua. A energia elétrica não duraria por muito tempo na Big Apple. A periferia já estava as escuras e logo a área central sucumbiria em meio as sombras. Ele cola o rosto a janela de vidro e tenta apurar a visão para o norte. Carros. Três carros trafegavam em alta velocidade pela principal rua de Nova Iorque. Riscos cortam a escuridão e ele se apavora com a explosão repentina. O pequeno comboio para e cada pessoa que tenta abandonar os veículos é executada a distancia.

O grito morre em sua garganta e o instinto clama para que se afaste daquela horrenda visão e feche as janelas. O rapaz apanha o celular no bolso da calça e confere o horário. 5h10min. Faltava pouco para o amanhecer e, definitivamente, eles iriam embora daquela maldita cidade o mais rápido possível, mesmo que fosse obrigado a carregar o irlandês em coma para o carro. A freqüência cardíaca diminui e o raciocínio volta a fazer sentido. Gentilmente, ele sacode a namorada e suplica para que ela acorde e arrume as suas coisas. Com um beijo no rosto, ele some pelo corredor e chama pelas amigas no quarto ao lado. A voz baixa apavora a negra. Do que Matt estaria com medo? Alguém estaria por perto? Mercedes joga algumas peças de roupa dentro da mochila, recolhe os alimentos da mesinha e quase derruba Brittany ao passar correndo pelo pequeno corredor. A cozinha ficava no primeiro andar e Matt fez questão de lhe acompanhar com a arma em punho. Santana se ocupou em verificar a situação clinica de Rory e quase gritou de alegria ao encontrá-lo respirando e ressonando pacificamente. A latina pegou as roupas que não cheiravam a suor e jogou de qualquer jeito dentro de uma mochila, juntamente com dezenas de remédios, algumas fotos, o celular e dois livros sobre a Irlanda. Matt apareceu na porta e comentou que já tinha apanhado os mantimentos. A ideia do rapaz era esperar pelos primeiros raios solares para deixar a cidade com alguma esperança de não serem mortos no trajeto.

Brittany continuava observando o incêndio no horizonte. Os rastros de lágrimas no rosto da namorada cortam o coração de Santana, que sente pela falta de tempo para tentar conforta-la. Ela apenas apanha a mão da loira e lhe arranca da janela. Mercedes flagra a cena e não tem coragem de interromper a singela cena. Por isso, se oferece para ajudar o namorado no traslado do irlandês. Rory abre os olhos e reclama de cansaço antes de ser acomodado no banco da caminhonete. As chaves são jogadas para Santana e Mercedes assume o banco do passageiro com o mapa de Nova-Iorque em mãos. As inúmeras viagens de férias tornaram a negra uma expert na leitura de mapas rodoviários. Era a brincadeira particular com seu pai. Ela era a sua co-piloto. Brittany entra e com certa delicadeza, acomoda o corpo inerte de Rory a sua esquerda. Matt empunha o rifle e entrega outra pistola para a própria namorada. O rapaz se lembrava vagamente das tardes passadas na casa de Mike Chang brincando de tiro ao alvo com a arma do tio do melhor amigo. Ele era bom, mas, nunca o bastante para disputar de igual para igual com o asiático. Se soubesse como seria seu futuro, teria se dedicado muito mais.

Santana arranca e logo se acostuma com o carro automático e bem escolhido pelo amigo. Pelo espelho, ela flagra o garoto olhando freneticamente para os lados atrás de atiradores nas janelas dos edifícios. Mercedes dita algumas coordenadas e a loira faz o favor de se manter calada e com a atenção voltada para o irlandês.

_ Vocês escutaram? O meu celular apitou! – Brittany afirma com o aparelho em mãos.

A frase eleva a tensão do grupo e força Santana a frear inesperadamente. A latina se descontrola e acaba acertando a buzina ao estacionar o carro diante da Prefeitura de Nova Iorque. Mercedes apanha o seu celular e constata que havia sinal de cobertura. O negro olha para todos os olhos e palpita algo sobre o serviço estar disponível na área do prédio do governo municipal. O rapaz abandona a e busca pelo número de Mike no telefone sem interromper a vigília. A sensação do rapaz era que estavam sendo vigiados desde que abandonaram o hotel e não gostara nada daquilo. O celular chama e ele quase grita ao escutar a voz de Tina Cohen-Chang do outro lado da linha.

_ Tina? Tina? Ta me ouvindo... É o Matt... Estamos saindo de Nova Iorque! – o negro berra no celular pelas constantes falhas na ligação.

_ Matt? Estão todos bem? – a asiática responde.

Duas motos dobram a esquina e gritos intimidam a motorista, que trata de religar o carro. Os gritos de Mercedes e Brittany atrapalham a conversa telefônica e as instruções da asiática são totalmente abafadas.

_ Tina? Eu... Não estou ouvindo nada...

_ Matt??? O sinal está péssimo... Estamos bem... Estamos em Charleston...

_ Carolina do Sul?

A ligação se transforma em um chiado intenso após o retrovisor da motorista ser destruído por um tiro. Santana acelera e Matt abre a janela com o rifle em punho. Os tiros passam raspando pelo ombro do negro, que se abaixa e segura a arma apesar dos inúmeros tremores. A moto emparelha com o carro e Santana se desvia do caminho determinado para tentar despistar o homem. O outro motoqueiro entra no campo de visão de Matt que não hesita depois de errar os primeiros tiros. O disparo acerta em cheio o perseguidor, que cai da moto e atrai a atenção do companheiro. O negro se recolhe dentro do automóvel e fecha a janela por um momento. A tensão corre por seu corpo, os batimentos são intensos, a respiração é descompassada e as mãos tremulas jogam o rifle longe. A ânsia de enjôo sobe pela garganta e Santana não tem tempo e nem paciência para diminuir a velocidade. Matt abre a porta e despeja a rápida refeição daquela manhã. Ele havia atirado em uma pessoa! Provavelmente, teria matado alguém... As lágrimas tingem a feição do rapaz e pelo espelho a namorada acompanha o suplicio dele em silêncio. Brittany não resiste e cai novamente em prantos. Rory balbucia alguma coisa e divaga sobre a música para a tarefa da semana no Glee Club. A latina se limita em ligar o som no volume máximo sem se importar com a dor particular dos amigos. A sua missão era pisar fundo e dirigir pelos próximos quilômetros até se sentir a salvo.

Por estradas secundarias e desvios inacessíveis, o quinteto percorre apenas 170 quilômetros em um dia inteiro na estrada. Metade do dia havia sido gasto na troca de veiculo. O negro cismara que estavam sendo seguidos e a caminhonete seria facilmente reconhecida na rodovia. Por isso, se desfizeram do confortável carro e se acomodaram em um honda civic. Mais rápido, ágil e silencioso, de acordo com o anuncio publicitário da loja automobilística abandonada. Por opção própria. Matt seguia na motocicleta alguns metros a frente do veiculo, ainda com o rifle preso as suas costas. A impressão que Mercedes tinha era que a arma jamais sairia do lado de seu namorado e, curiosamente, o revolver já não parecia tão desconfortável colado a sua cintura.

Após uma cuidadosa revista, o quinteto decidiu pernoitar em uma pousada no interior de uma cidadezinha. Os veículos foram escondidos na garagem e ainda com o senso de medo latente, ninguém quis se separar e aproveitar a comodidade dos quartos. Os adolescentes se instalaram nos sofás da recepção e o irlandês voltou a si em tempo de dar os primeiros passos em dias. O rosto mais corado e o fato de chamar os amigos pelos respectivos nomes serviu para amenizar os horrores vistos recentemente. A noite toma o lugar do dia e negro permanece colado as janelas com a terrível sensação de estar ainda em perigo iminente. Além disso, ele não queria dormir... Simplesmente, porque não tinha controle sobre os seus sonhos. Ele não queria sonhar.

_ Você também não consegue dormir? – a voz de Santana ecoa pela penumbra. Ele se contem para não pular devido ao susto.

_ Eu não quero dormir. É diferente, Santana.

_ Você também? Desde aquele maldito bloqueio, tenho tidos esses pesadelos.

_ Isso explica porque você está se drogando. Pesadelos com o Homem Escuro?

_ Peguei um estoque incrível antes de abandonarmos Nova Iorque. Me avise quando desistir da insônia, Rutherford. – a latina ironiza.

_ Somos os únicos do grupo, certo? – a garota confirma – No fim das contas, Sam Evans deu uma ótima sugestão, não é? Charleston deve estar a salvo disto.

_ É, eu também me sinto bem ao pensar na Carolina do Sul. Mas, é uma questão de tempo... O país inteiro deve estar condenado. E acho que você sabe disso ou não teria trazido aquele mapa da América do Sul.

_ É, eu desconfio, mas, não é bom ouvir certas coisas quando as sombras caem sobre o mundo, Santana.

_ Eu começo a pensar que as pessoas mortas pela H1N4 foram realmente sortudas. Não precisaram lidar com as conseqüências... Nós estamos ferrados, não estamos?

_ Don't stop believin'…Hold on to the feelin- Matt cantarola a música tema do Glee Club – Acho que só nos resta isso. Não deixar de acreditar, nos agarrar a este sentimento


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