Fallen Angels escrita por Lívia Nunes


Capítulo 8
Seis meses depois


Notas iniciais do capítulo

Bom dia leitores *-*
Estou indo para escola agorinha mesmo, terminei o capítulo ontem a noite, mas não tinha como vim aqui no nyah para postar e estou postando agora, bora ler! :)



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6 Meses depois

E por mais que doa, você precisa seguir em frente. E por mais que você sofra você precisa esquecer.
"O tempo apaga todas as mágoas do passado", se é o que dizem você precisa acreditar... Ou pelo menos tentar.
É o que estou fazendo agora, tentando.



O sinal da hora do almoço toca me tirando a atenção da aula de Filosofia.
Arrumo minhas coisas e vou para o corredor, onde sei que Jen estará me esperando para o almoço, ela irá tagarelar coisas sem sentido, tentando me fazer voltar a ser a Claire de antes.
Seis meses haviam se passado sem nada.
Nenhum bilhete, nem uma voz, nem uma aparição... Nada.
E isso me machucava, machucava muito, mas eu não demonstrava.
Matt havia me perguntado o porquê do berreiro daquele dia em que ele simplesmente apareceu em minha casa – depois ele me explicou que foi em minha casa para levar a bolsa que eu tinha esquecido em seu carro depois da desastrosa festa na casa de Marcie – mas eu tinha falado apenas que não lembrava o motivo, que eu ainda estava sob efeito do álcool. Ele parecia ter acreditado.
E desde aquele dia, eu... Não havia mudado completamente, mas em alguns hábitos eu estava completamente mudada: Eu não era mais aquela menina ignorante que todos se aproximavam por interesse, eu não vou falar que agora sou santa – fiz muitas besteiras também nesses seis meses tentando esquecer ele – mas, acredito eu, que não era mais tão chata e ignorante.
Não ligava mais tanto para a minha reputação na escola, continuava sendo líder de torcida, mas isso agora não me importava tanto.
Na verdade, nada mais fazia tanto sentido para mim. Desde o dia em que o vi – não no modo literal – pela última vez.
Fico tão perdida em pensamentos que não percebo quando bato de frente com alguém que não pude ver o rosto.
— Droga... Er desculpe-me — Digo levantando o olhar para ver o rosto de quem quer que seja essa pessoa.
A pessoa que vejo não é com toda a certeza alguém que eu já tivesse visto nessa escola.
Deveria ser algum aluno novo.
O aluno que está a minha frente é branco, alto – digo bem alto, uns vinte centímetros mais alto que eu -, tem olhos de um azul celestial, seu cabelo era liso e curto, de um castanho claro. Sua beleza era incomum e ele era muito bonito, todas as suas características eram únicas e nunca tinha visto alguém assim em toda a minha vida.
Na verdade toda a beleza desse aluno parecia ser celestial, de tão incondicionalmente bonito.
Ele parecia sorrir para mim.
E por uma fração de segundos nossos olhos se encontraram e eu não pude desvia-los.
Aqueles olhos profundamente azuis pareciam penetrar minha alma e sacudi-la. Eu tento desviar meu foco para os armários ou qualquer outra coisa, mas eu simplesmente não consigo, e ele também parecia não querer desviar os olhos de mim tão cedo.
— Eu é que peço desculpas, deveria prestar mais atenção por onde ando — Ele diz ainda desviando a minha atenção para suas palavras firmes e gentis.
Algo naquele sorriso acendeu alguma chama de vida dentro de mim, só não consegui dizer o por que.
Mostro-lhe um sorriso sincero, algo que não fazia há muito tempo.
— É bem, seja bem-vindo a County High School. — Falo ainda sorrindo passando o peso do corpo para o pé direito.
— Obrigado, é muita gentileza da sua parte. Posso saber o seu nome? — Ele pergunta educadamente, estendendo a mão direita para mim.
Coloco os livros no braço esquerdo e pego sua mão vagarosamente.
— Claire, Claire Blanc.
— Prazer em conhecê-la Claire, meu nome é Trish Mansen — Ele diz com um sorriso estonteante no rosto.
E foi com em choque que percebi que o mundo continuava girando, as pessoas continuavam vivendo, porque por estar falando com Trish ali, nós parecíamos estar em uma bolha só nossa, e eu não havia percebido que o corredor em que nós estávamos era um caos, os alunos estavam indo para o refeitório, conversando ruidosamente, outros alunos fechavam seus armários fazendo barulho, e só agora, apenas agora pude perceber isso.
Foi como se eu já conhecesse Trish há muito tempo.
— Bem, eu tenho que ir... Agora. — Eu digo, tentando escapar do abismo que eram seus olhos azuis.
— Ok, a gente se vê Claire — Ele diz soltando minha mão.
Ele pronuncia meu nome com delicadeza, e eu sentia como se essa não fosse a primeira vez que Trish a pronunciava.
Dou um passo para a esquerda para poder ir para o refeitório, mas Trish também dá um passo para a esquerda, vou para a direita e ele também.
Dou uma risadinha e contorno ele, seguindo para o refeitório me permitindo dar uma olhadinha para trás: Trish continuava me fitando, sorrindo também.

Depois de ter conhecido Trish e rapidamente ter trocado algumas palavras, a escola inteira já parecia ter percebido sua presença. Eu ouvia cochichos e mais cochichos sobre Trish por todo o refeitório, e acredito-me, por toda a County High School.
— Todos estão comentando sobre um novo aluno na escola hoje, um tal de Pish. — Jen diz, dando uma mordida em seu sanduiche natural.
Tomo mais um gole do meu suco de laranja antes de responder rapidamente.
— O nome dele é Trish, Trish Mansen. — Digo dando mais um gole no suco.
Os olhos de Jen faíscam na minha direção.
— Hmm, então você já falou com ele? — Jen pergunta, tentando ser casual.
Mas eu a conhecia bem.
Jen sempre foi o tipo de pessoa que tem que ver a amiga feliz, e o seu conceito de felicidade sempre era ter alguém. E ela nunca perdia uma chance de arranjar a “minha cara metade”. Nunca mesmo.
— Sim, foi uma coisa bem rápida. Eu estava distraída no corredor quando o sinal bateu e ele também, nos batemos e ele se desculpou, nos cumprimentamos e só isso Jen, nada demais.
Mas não falei com Jen sobre a parte de eu me sentir como se já tivesse conhecido ele antes, como se ele já fizesse parte da minha vida.
Mas isso era meio exagerado então prefiro não falar sobre isso com Jen.
— Mesmo assim Clai, ele falou com você, e ainda fez questão de se apresentar. Isso já é alguma coisa. — Jen rebate certa de que vai conseguir o que quer.
E eu sabia o que ela queria, e sabia muito mais o que ela queria dizer com isso, e não gostava nem um pouco disso.
Eu ainda não estava totalmente recuperada com o que havia acontecido há seis meses.
Todos falam que o tempo cuida de tudo, mas não é bem assim, eu ainda não tinha me esquecido dele. Ainda não tinha esquecido o modo como ele sussurrava meu nome em minha cabeça.
E ainda não tinha me esquecido de como gostava dele. Na verdade, não sabia como esquecer.
Nesses seis meses já tinha feito muita coisa para esquecê-lo, coisas do tipo: Boates, festas e loucuras.
Eu havia guardado o colar que ele me dera na noite da festa na casa de Marcie no fundo da minha gaveta, e também, no fundo da gaveta, queria colocar minhas mágoas, a dor, o tempo que passara e voltar a viver como vivia antes.
Eu achava que minha vida era perfeita, que tudo era perfeito e que tudo tinha que ser do jeito que eu queria. Mas também me sinto agradecida por tudo isso ter acontecido, pois se não fosse pelas minhas alucinações – eu preferia achar que tudo o que aconteceu eram meras coincidências e alucinações, era mais fácil viver assim – eu continuaria sendo aquela menina ignorante e petulante, que achava que tudo tinha que ser feito do seu jeito, que ela era melhor que todos.
— Jenna, por favor, não complique as coisas. — Imploro, fingindo não perceber que ela me chamara pelo apelido que não gostava muito.
— Complicar o que? Eu estou te ajudando, você sabe que precisa de alguém, muito melhor que eu, você só não quer admitir isso para si mesma. Pare com isso!
Respiro fundo e olho intensamente para Jen, que também me fitava com uma sobrancelha levantada.
Ficamos nos encarando por longos dois minutos até Jen soltar um longo suspiro.
— Você tem um gênio e tanto!
E assim que Jen diz isso, duas coisas acontecem simultaneamente: O sinal toca, sinalizando o final do horário de almoço e um jorro de emoções passa por mim com essas seis pequenas palavras, emoções, sensações e lembranças, das quais eu não me permitia acessar, das quais eu não queria acessar.
“Já percebi que você tem um gênio e tanto”. Ele disse para mim naquele dia em que me encontrava em fúria, e só bastou essas poucas palavras para me fazer rir. E foram as poucas palavras de Jen, tão parecidas com as dele que me fez ter uma onda de nostalgia e angustia que insistia em estar sempre por perto, sempre me rondando e corroendo as beiradas das feridas dentro de mim.
Mas eu precisava esquecer isso. Esquecer tudo o que ele havia mudado em mim, tudo o que ele me fez sentir algum dia.
Era uma coisa necessária, e eu iria esquecê-lo um dia. Eu tinha a obrigação de esquecê-lo, apenas isso.
— Ei? Ei Clair, você está ai? — Jen balança as mãos na frente de meu rosto tentando chamar a minha atenção.
Meus olhos entram em foco e eu volto à realidade rapidamente.
— S-sim, estou. — Digo, olhando ao redor e vendo todas as mesas e cadeiras vazias, apenas eu e Jen naquele enorme refeitório. — Vamos logo, já estamos atrasadas.
Jen parece estar em duvida, seus olhos pareciam duas grandes interrogações.
— Ok, vamos. — Ela diz e me puxa para o corredor.
Corremos para o nosso armário, pegamos nossos livros para a próxima aula quando Jen xinga alto.
— O que foi? — Eu pergunto, fechando o meu armário.
— O professor de literatura pediu para nós chegarmos mais cedo hoje na aula por causa de uma apresentação, já era para eu estar na aula dele.
— Então vá logo para sua aula, eu ainda teria que passar no banheiro de qualquer jeito.
— Certo. A gente se vê na saída ok? — Ela diz já se virando para o outro lado do corredor, rumo à sala de literatura do professor Alaric.
— Ok.
Jen corre e desaparece no final do corredor, virando à esquerda.
Viro-me para o corredor indo para a próxima aula.
Mas qual era a próxima aula? Bem, eu ainda não tinha decorado o horário inteiro.
Xingo baixinho e me viro novamente para o meu armário, destrancando-o.
Pego a folha dos horários e fecho a portinha de metal com força demais, fazendo eco no corredor inteiro.
Astronomia. Essa era a próxima aula.
Comemoro mentalmente por ser uma aula a qual eu apreciava.
Assim que me viro para a sala de astronomia, um vulto passa pela minha visão periférica.
Uma onda de nostalgia passa por mim nesse momento.
Será que estava acontecendo de novo? Tudo de novo? Não, impossível.
Engulo a seco e dou passos excitantes na direção do vulto. Separo os lábios para falar, mas não encontro minha voz.
Claire...
Congelo onde estou.
Não, isso não podia estar acontecendo de novo.
Eu havia ficado seis meses sem ouvir essa voz, eu havia esperado seis meses por essa voz, eu havia precisado por seis meses dessa voz, e agora que começo a retomar minha vida ela simplesmente volta.
Meus olhos começam a arder, eu espero pelas lágrimas, mas elas não aparecem.
Eu já havia acabado com a cota de lágrimas por um ano. Eu havia chorado por seis meses o que eu chorava em seis anos.
As lágrimas não iriam vir tão facilmente assim, e ficava tremendamente feliz por isso.
Mas a dor dentro de mim não parecia ter desaparecido junto com as lágrimas, muito ao contrário, agora que não havia mais lágrimas, a dor dentro de mim parecia ter sido inflada a níveis máximos. Ela parecia mal caber dentro de mim.
Claire... Claire... Claire...
A voz ecoa pela minha cabeça, me causando náuseas e tontura.
Claire... Claire... Claire...
A voz parecia gritar agora dentro de minha mente, explodindo em grandes pedaços de mágoa e ressentimento.
Meu nome ecoando dentro de minha cabeça parecia uma dose de entorpecentes, quanto mais elas ecoavam mais eu me sentia nauseada e tonta.
— Pare, por favor... Faça parar...
Era só o que eu conseguia falar.
Meus lábios estavam entorpecidos, meu corpo estava dormente.
Eu estava entrando em total inércia. Uma neblina cinzenta embaçava minha visão.
Meus livros deslizam pelos meus braços dormentes e caem no chão com um estrondo alto, ecoando em minha cabeça repetidas vezes.
Meus braços tateavam os armários tentando inutilmente achar algum apoio, alguma ajuda.
Sinto meu corpo ficar cada vez mais pesado e mais meu nome ecoava em minha mente, me fazendo querer gritar de raiva, se eu conseguisse.
Meu corpo fica totalmente entorpecido e caio no chão, sentindo o piso claro e frio contra o meu rosto, arrepiando os pelos de meu corpo.
E é então que minha consciência entra totalmente a deriva.


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Notas finais do capítulo

Bem, e ai leitores? Gostaram do capítulo?
Vocês podem até ter percebido, hoje estou com um humor inabalável, sabe porque? Pode até parecer muito muito idiota, mas foi por causa de uma review, da Nathalia, muito obrigada amore! :D
Nos vemos no próximo capítulo :*