Fallen Angels escrita por Lívia Nunes


Capítulo 6
Diversão?


Notas iniciais do capítulo

Vamos lá, parte dois pra vocês.



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"Alegria, diferentemente da felicidade, é algo momentâneo, algo puramente passageiro. E quando o momento passa o que resta para contar história?"

Depois de exatos trintas minutos da ligação de Jenna, mamãe estava na varanda, me abraçando e o taxista estava colocando suas malas no carro.

Jenna já havia chegado, com sua mala Prada ao meu lado.

— Te ligarei quando chegar filha — Diz mamãe, segurando o choro.

Abraço ela com força e depois a solto.

— Ok mãe. Agora vá antes que perca o vôo. — Digo acariciando seu rosto.

— Tchau Sr.ª Catherine. — Diz Jenna, abraçando-a.

— Tchau querida, cuidem-se — Diz mamãe retribuindo o abraço de Jen. — Ah, e tem dinheiro dentro da minha cômoda, sabe, se vocês quiserem sair ou comprar alguma coisa.

— Tchau filha, até daqui a uma semana. — Diz mamãe e logo sorri.

Dou outro sorriso e aceno, enquanto ela entra no carro.

— Até daqui a uma semana mãe, e obrigado pelo dinheiro. — Digo, e vejo mamãe acenando do outro lado do vidro do carro.

E então o carro se vai.

— Uhu! A casa é só nossa! — Diz Jen, correndo para dentro de casa.

Fico parada na varanda por alguns instantes até Jen pegar meu braço e me empurrar para dentro.

— Ai meu deus Claire, você está muito estranha ultimamente — Diz Jen, jogando verde.

— Não estou nada. São seus olhos — Digo o mais convincente que posso parecer, dando um sorriso do tipo: É sério, estou falando a verdade.

— Ok, vou acreditar em você. — Diz ela se jogando no sofá — O que vamos fazer agora?

— Não tenho nada em mente. Alguma ideia? — Digo me sentando ao seu lado no sofá.

— Hmm, acho que n...

Jen é interrompida pelo som de seu celular tocando estridentemente.

— Alô? — Jen atende, colocando um dedo em seu ouvido esquerdo. — Alô? Não estou ouvindo direito.

Ela espera alguns segundo e depois olha em minha direção. Seus olhos saltando de excitação.

— Claro que sim! Já estamos indo ai. E obrigado por ligar Marcie! — Jen diz, desligando a ligação.

Marcie? O que Marcie queria com Jen?

Marcie era sempre lembrada como a ‘menina que dava as festas’.

O que ela queria com Jen agora? Ninguém havia dito sobre festa nenhuma.

— Adivinha? Marcie disse que vai dar uma festa hoje, ás sete na casa dela! Ela ainda pediu desculpas por ter sido de ultima hora. Não é demais? — Grita Jen, dando pulinhos de alegria. — Ainda bem que trouxe um vestido l-i-n-d-o.

Não estava tão feliz com essa notícia.

Na verdade até penso em dizer para Jen que estou cansada ou uma desculpa qualquer.

Mas resolvo ir por um motivo que não tem nada a ver com Marcie, Jen ou qualquer outra pessoa.

Resolvo ir por causa... Bem, por causa da voz.

Vá.

A voz sussurra, ecoando dentro de minha cabeça.

Jen diz alguma coisa, mas não consigo ouvi-la, estou tão intrigado de o porquê que a voz quer que eu vá para a festa de Marcie que por um instante, me esqueço completamente de Jen.

— Isso é bom! Estou animada. — E por um momento, não precisei mentir, eu realmente estava animada para ir.

Não por causa da festa, mas sim porque eu preciso descobrir o que a voz queria.

E essa era uma chance que eu, provavelmente, não teria de novo.

Jen grita de alegria.

— Isso é bom! Achei que você não iria querer ir! — Jen diz, levantando-se do sofá, pegando a sua mochila e me carregando junto. — Nós precisamos nos arrumar, a festa vai começar as sete.

Olho para o relógio, já são cinco e meia da tarde.

— Ok — Digo, e deixo Jen me carregar para o meu quarto.

— Já está pronta Jen? — Grito para o banheiro, me sentando em minha cama.

Olho-me no reflexo do espelho do meu quarto, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.

O vestido vermelho tomara-que-caia - que nem lembrava tê-lo em meu guarda roupa - parecia em perfeito contraste com a sandália dourada de salto agulha em meus pés, que se balançavam de impaciência.

Meu cabelo naturalmente ruivo caia em meus seios, um pouco ondulados. O delineador preto marcava bem os meus olhos verdes.

— Agora estou pronta, Srtª Impaciente. — Diz Jen, me sobressaltando por sua voz estar tão perto, por eu estar consciente de que ela estava no banheiro do final do corredor.

Jen estava... Bem, Jen sempre seria Jen, ou seja, deslumbrante.

Ela estava com um vestido dourado, de um ombro só, colado ao corpo e uma sandália vermelha de tirar o fôlego.

 — Acho que devia ter me arrumado melhor — Digo e começo a rir.

Ela me examina de cima a baixo e depois relaxa.

— Pare com isso Claire, você está deslumbrante, agora vamos.

Pego minha bolsa, coloco chaves, dinheiro e celular e vou para a sala.

Jen também pega sua bolsa e vai para fora de casa.

Vou para a cozinha e enquanto bebo um copo de água, ouço Jen gritar para mim lá de fora.

— Vamos, o táxi já chegou!

— Já estou indo!

Coloco o copo na pia e logo saio de casa, trancando a porta da frente ao passar.

Jen mantém a porta do carro aberta, e logo que passo, ela a fecha com força.

O motorista olha para ela pelo retrovisor, repreendendo-a.

— Ops, desculpe. — Jen diz, sorrindo um pouco.

Dou uma risadinha e Jen me acompanha.

— Av. Street High, por favor.

Assim que o carro entra na Street High, já pode se ouvir a música alta.

— Pode parar por aqui, obrigado. — Jen passa uma nota de vinte dólares e sai do carro.

— Você paga a volta — Jen sussurra enquanto afundamos os nossos saltos na grama verde da casa de Marcie.

— Combinado.

Assim que entramos na visão de todos da festa, várias pessoas veem falar conosco ao mesmo tempo.

Bom, esse era uma das coisas ruins em ser... Popular.

Isso já estava enchendo a minha paciência.

Dou um sorrisinho do tipo ‘Ok, agora tchau’, agarro no pulso de Jen e passo pelas pessoas.

Eles não parecem se incomodar com isso.

Assim que saímos do jardim e entramos no grande hall de entrada da casa de Marcie, ela aparece e com um sorriso no rosto e vem nos cumprimentar.

— Vocês vieram! — Ela diz, estendendo os braços para me abraçar.

Abraço-a gentilmente e depois, abraça Jen.

— Você acha mesmo que agente iria perder essa festa? — Eu digo, fingindo entusiasmo.

Ela solta uma gargalhada. Parece ter acreditado.

— Sintam-se em casa. Tem cerveja dentro da geladeira, comes e bebes em cima da mesa do jardim. — Sorri e cumprimenta outras pessoas que haviam chegado.

— Jullien e Logan...

— Vou pegar uma bebida para mim. O que você quer? — Jen pergunta.

— Ponche, por favor.

Jen assente e vai para o jardim.

 Sento-me no sofá do hall e observo as pessoas chegarem.

Eu devo estar imaginando coisas. Penso. Ele não está aqui, você está imaginando isso tudo. Idiota, idiota e idiota.

Suspiro e fecho os olhos, memorizando a linda voz que me atormentava constantemente, pela qual eu estava tremendamente apaixonada.

Lembro-me da primeira vez que a ouvi.

Volte. A voz tinha sussurrado suavemente.

E desde aquele dia, minha vida nunca mais foi a mesma.

Meu coração dava pulos de alegria sempre quando eu a ouvia ecoar em minha mente.

E sempre quando eu não a ouvia, parecia que meu mundo perdia o sentido, eu perdia o chão... Eu não conseguia explicar o que eu sentia sempre que me lembrava da voz.

Um misto de alegria, tristeza, saudades... Paixão.

Aliás, quem sou eu para tentar explicar o que é a paixão? Eu nunca havia sentido isso antes, então não era algo comum, era algo único e especial. Algo que muitas pessoas esperam a vida inteira para sentir. Algo que deixava muitas pessoas sem explicação. Algo que muitos não entendiam. Algo... Algo mágico.

Simplesmente isso, mágico. Sutil e avassalador. Nobre e bonito.

Eu precisava dele.

Eu só o queria perto de mim, queria senti-lo novamente. Eu só queria ama-lo...

Assim que penso isso, uma brisa gelada passa por mim fazendo os meus pelos se eriçarem.

Meu coração acelera no mesmo instante.

Vá para a despensa no segundo andar.

A voz soa na minha mente, me fazendo vibrar de... Eu realmente não entendia o sentimento.

— O que? — Eu sussurro, rezando para que ninguém percebesse.

Na verdade, é claro que eu havia entendido o que ele tinha falado. Perfeitamente.

Eu só queria ouvi-lo mais uma vez.

Agora.

— Ok, ok — Sussurro, me levantando do sofá e indo para a porta dos fundos, na cozinha.

Ando como quem não quisesse nada pela casa até a escada, chegando lá, subo rapidamente e entro no corredor escuro.

Tateio a parede do corredor procurando a maçaneta da parede leste que me levará para a despensa da casa.

Assim que a acho, entro rapidamente no pequeno cômodo com o coração a mil.

Certifico-me de que a porta está trancada e me viro, apoiando as costas na porta.

— Ok, já estou aqui. O que você quer?

Porque você está assim? Ele pergunta com a voz sedutora, fazendo o meu coração explodir.

— Eu... Eu estou normal. Não mude de assunto. Porque você me mandou vir para a festa da Marcie? — Pergunto, tentando esconder o quanto que eu queria que ele falasse comigo com a voz sedutora novamente.

Na verdade... Eu só queria te v... Eu queria te mostrar uma coisa. Ele diz, parecendo extremamente confuso.

Meu coração bate irregularmente quando percebo o que ele queria dizer.

Ele só queria me ver. Mas finjo que não percebi esse deslize.

— O que você quer me mostrar?

Isso.

Assim que o pensamento ecoa em minha cabeça, algo brilhante no chão me desperta.

Me abaixo e pego o cordão, analisando-o impetuosamente.

Na linda corrente fina de prata, pendia uma pequena pedra brilhante, que mesmo no escuro, podia se perceber que era um diamante.

Aquilo me tira o fôlego.

— I-isso que v-você queria me mostrar? — Pergunto, não conseguindo segurar a emoção, minha voz tremendo involuntariamente.

Eu só queria que você se lembrasse de mim sempre, algo para mostrar isso.

Como se eu não lembrasse de você a cada minuto da minha vida. Penso, mas não verbalizo.

— O-obrigado, é lindo. — Eu digo, colocando a corrente no pescoço.

Ele parece sorrir. Aliás, não sei, foi só uma impressão.

Mas... Porque ele queria que eu lembrasse dele para sempre?

— Mas porque você quer que eu lembre de você ‘para sempre’? — Digo, me perguntando se ele percebera as aspas no para sempre.

Ele parecia não ter uma resposta, ou pelo menos, não quisesse falar.

Deixei essa passar.

Por enquanto.

Claire eu...

— Quando v...

Ao mesmo que ele fala, começo a falar e logo paro.

— Pode falar primeiro.

Não. Pode falar.

Olho para baixo, sem graça, como se ele estivesse me olhando.

Às vezes, ele me parecia tão... Humano.

Como se ele realmente estivesse ali.

— Quando você vai aparecer em? — Digo em tom de brincadeira, tentando disfarçar o quanto eu queria saber a resposta.

Logo.

O silêncio perdura entre nós.

Nós dois parecemos não saber o que falar.

— Tem... Tem tanta coisa que eu quero te falar... Mas não consigo, preciso olhar em seus olhos para poder dizer tudo que sinto. Isso é complicado sabe, eu estar am...

Interrompo-me assim que vejo que iria falar uma coisa não muito boa.

Para ele eu acho.

Continue, por favor. Ele diz, parecendo profundamente sentimental.

Eu não conseguia continuar.

Minha voz parecia não conseguir sair.

Mal conseguia admitir para mim mesma o que estava sentindo, imagine para ele então.

O que é tão complicado Claire? Responda, por favor.

— Nada.  — Digo fungando, não querendo que ele percebesse que estava prestes a chorar.

Passo as costas da mão nos olhos, me certificando de que realmente não estava chorando.

Mas ele interpreta isso mal.

Você... Você está... Chorando? Ele pergunta, parecendo profundamente culpado, preocupado e como se isso fosse estranho para ele.

— Eu não estou chorando! — Grito para o nada, aflita.

Não é o que parece.

— Eu... Eu preciso ir. — Digo, me virando para a porta e virando a maçaneta.

Então me lembro de que eu havia trancado a porta e a chave tinha ficado na porta... Mas, agora não estava mais.

— Onde está a chave? — Pergunto, sabendo que foi ele que tinha pegado a chave.

Que chave? Ele pergunta inocentemente.

— Eu sei que foi você que pegou a chave, pode me entrega-la, Jenna deve estar que nem uma louca me procurando.

Ok. Eu estou com a chave sim. Jenna pode esperar.

— Como você pegou a chave? — Pergunto curiosa.

Á muitas coisas que você não sabe Claire. Ele diz sério.

Eu tinha que parar com isso. Parar de ter esse gênio de ficar com raiva por qualquer coisa.

— Então é isso? Você entra na minha vida, bagunça tudo, e só o que você vai me dizer é que ‘Tem muitas coisas da qual eu não sei’? Tem certeza do que você está me falando? Você me deve milhares de explicações e só o que você vai me dizer é isso?

A raiva me toma por inteira. Eu não conseguia entender o porquê disso tudo. O porquê de as coisas não serem mais simples.

Porque ele não podia ser uma pessoa normal?

Porque a nossa história não podia ser do tipo: “Nos conhecemos, começamos a nos gostar, namoramos. Terminamos o ensino médio, casamos e temos filhos. Criamos nossos filhos em uma linda casa, ficamos velhos e cantamos histórias de ninar para os nossos netos. Morremos”? Porque a nossa história tinha que ser: “Nos conhecemos de repente no corredor da minha escola, e ah, ele não é uma pessoa, na verdade eu nunca nem o vi. Ele é só uma voz na minha cabeça pela qual eu estou tremendamente apaixonada”?

Porque tudo tinha que ser tão difícil?

— Me deixe sair agora! — Eu grito, em fúria.

E assim que grito as palavras, uma brisa gelada passa por mim, me arrepiando como sempre.

Viro-me para a porta e a chave está no lugar que deveria estar.

Tudo está no lugar que deveria estar.

Menos a minha vida.

Abro a porta e antes de sair, olho mais uma última vez para a despensa e vejo um par de olhos incrivelmente azuis me fitando.

— Onde você estava? — Jen grita, assim que ela me vê descendo da escada.

— Er... Eu... Eu estava no banheiro. — Invento rapidamente.

— Meu Deus Claire! Eu já estava quase ligando para o FBI! — Jen me abraça, gritando em meu ouvido.

Provavelmente ela estava bêbada. Seu hálito entregava isso.

— Ok, Ok, eu estou bem não está vendo?

Bem por fora, na verdade. Penso ironicamente.

— Sim! Os meninos estavam procurando você para fazer a clássica brincadeira do...

— Vai Vai! — Completo, dando uma gargalhada.

— Isso! Pronta? — Ela pergunta em tom de desafio.

— Sempre estou.

Eu e Jen vamos para o jardim onde várias pessoas estão dançando, luzes coloridas brilham no jardim refletindo no gramado verde, me deixando tonta.

— Ai está você! Pronta para o Vai Vai? — Steven pergunta me oferecendo uma dose de vodca.

Eu estava mal, chateada, com raiva, sofrendo. Porque não?

Pego o copo de vidro da mão de Steven e viro de uma vez.

— Essa é a Claire que conhecemos! — Steven grita, acompanhado das outras pessoas que observavam.

A vodca desse pela minha garganta queimando como se eu estivesse engolido fogo.

— Pronta para a segunda fase? — Outro menino do qual o nome não me recordo pergunta.

— Sempre — Digo decidida.

A segunda fase se resumia a tomar 200 ml de vodca por um canudinho.

Enquanto a vodca descia pela minha garganta, mais pessoas começavam a se aglomerar e a gritar mais.

 — Vai! Vai! Vai!

Assim que termino, grito de animação, levantando o copo.

— Uhu consegui!

A minha visão já estava embaçada, entrego o copo para a próxima pessoa e vou me sentar na cadeira do jardim.

Assim que sento, meu estômago começa a revirar e começo a ficar com náuseas.

Depois de alguns minutos estou vomitando no jardim de Marcie, e Matt está segurando o meu cabelo.

Ok, isso foi uma má ideia. Penso, vomitando ainda mais. Beber não foi uma ideia boa.

— Você está melhor? — Matt pergunta, assim que paro de vomitar.

Uma crise de choro começa dentro de mim.

— Não Matt, eu não estou bem. Na verdade não estou nenhum pouco bem. Está tudo caindo... — Eu digo entre choros e soluços, as lágrimas rolando pelo meu rosto incontrolavelmente.

— O que está acontecendo Claire? — Matt pergunta, secando as lágrimas do meu rosto.

Matt me leva para o banco novamente – do qual eu havia caído de tão bêbada – me aninhando em seu peito.

— Tudo está acontecendo Matt, tudo...

Limpo as lágrimas na camisa de Matt inutilmente.

— Me leva para casa Matt, por favor. Não quero mais ficar aqui. — Eu digo chorando mais ainda.

— Claro, claro, venha. Consegue andar? — Matt pergunta, me ajudando a levantar.

— Acho que sim.

Depois de cair, chorar e xingar chego ao carro de Matt.

— Coloque o cinto. — Matt avisa.

Tento encaixar a fivela do cinto ao lado do banco, mas não conseguia.

— Ah droga.

— Deixa eu te ajudar. — E com apenas um movimento ele encaixa a fivela na caixinha ao lado do banco.

— Obrigado Matt, sério, você é demais.

— Disponha. — Ele diz sorrindo, e dá a partida no carro.

— Bem, chegamos — Matt diz como se quisesse que eu nunca mais saísse do carro.

— Então... Muito obrigado pela carona Matt, você é demais — Digo, e abro a porta do carro para sair.

Mas Matt não iria me deixar escapar assim tão facilmente. Ele podia ser muitas coisas, mas burro não era uma delas.

— Claire... Você vai me contar o porquê de você ter dado aquele berreiro no jardim de Marcie? — Ele pergunta, me segurando pelo punho, impedindo-me de ir embora.

— Hmm, Matt não á nada a ser contado. Eu só estava bêbada. Só isso. Agora me deixe sair ok?

— Eu te conheço a mais de oito anos, você está mentindo.

Droga.

Porque ele tinha que perceber isso?

Jen e Matt sempre foram meus amigos desde o jardim de infância. Antes mesmo de me tornar popular na escola, o que eu tinha plena certeza de que eles não estavam comigo por interesse.

Porém, Matt sempre foi mais observador.

Jen é minha melhor amiga, claro. Mas Matt... Bem, Matt sempre será Matt, e o Matt que todos conhecem é o cara brincalhão e palhaço de coração enorme, mas também muito observador, para o meu desagrado.

Pelo menos na maioria das vezes.

— E-eu não estou mentindo Matt, agora me deixe ir embora, preciso dormir — Digo e saio do carro de Matt.

Corro para a porta da frente e a destranco em um segundo, trancando-a atrás de mim e correndo para o meu quarto.

Tiro a sandália a chutes e antes mesmo de me trancar no banheiro, já estou chorando.

As lágrimas descem pelo meu rosto, corroendo os poucos pedaços de esperanças de mim, morrendo de pouco a pouco.

Com as costas na porta do banheiro, me sento no chão frio, envolvendo os braços no joelho, apertando-me, tentando amenizar a dor em mim.

Minha vida era uma tremenda mentira.

Meu pai estava morto, eu ouvia vozes, mal convivia com minha mãe e para piorar – se é que tinha como piorar – a minha vida, eu estava me apaixonando por uma coisa que nem se quer era real, por uma coisa que nem se quer eu havia visto.

Mas a voz dele... Parecia que eu já a tinha ouvido antes, era uma coisa difícil de explicar, algo... Surreal.

O que eu sentia era devastador e ao mesmo tempo gentil, era forte e ao mesmo tempo, suave como brisa de primavera...

Era como preto no branco ou luzes nas trevas era algo sem sentido, mas ao mesmo tempo, era todo o meu mundo, era tudo o que eu realmente importava.

E – infelizmente, ou felizmente, nada fazia mais sentido para mim desde quando comecei a escuta-lo – parecia que a cada dia, a cada minuto, a cada segundo que eu ficava sem escuta-lo, parecia uma eternidade. Parecia uma década sem chuva, isso me devastava, me tirava o sono...

Essa não era a Claire que eu conhecia. A Claire que eu conhecia não chorava por qualquer coisa, não acreditava em qualquer coisa, e principalmente, não se importava com qualquer coisa. E ultimamente, eu chorava por qualquer coisa, acreditava em qualquer coisa e se importava com qualquer coisa.

Resumindo, a Claire de agora esta excepcionalmente frágil.

Limpo as lágrimas dos olhos e levanto-me do chão frio e incrivelmente branco do banheiro.

Chorar não iria ajudar e muito menos adiantar em nada, por isso não iria mais chorar.

Ou pelo menos iria tentar não chorar mais.

45 minutos depois eu já havia tomado um longo banho, escovado os dentes e estava debaixo das cobertas pronta para dormir.

Quando já estava em estado quase sono, um barulho no jardim faz meu coração acelerar de susto.

Minha garganta se aperta de medo. Eu estava sozinha em casa, poderia ser... Várias coisas, e meu extinto dizia que aquilo não estava ali para ter uma boa e longa conversa noturna comigo.

Saio da cama e visto o meu hobby indo para a janela e puxando a cortina vagarosamente.

A luz do poste iluminava a rua extremamente vazia, o único som do qual eu podia ouvir era a minha respiração acelerada e barulhos de animais – quero pensar de que são de animais... Ou não – na floresta densa perto da minha casa.

Uma das coisas que sempre reclamei daqui são as florestas.

Lembro-me de quando eu era criança, sempre me assustava ficar muito perto – sozinha – das florestas. Meu pai gostava de fazer caminhadas e tentava me levar junto com ele, antes de eu abrir o maior berreiro e ele desistir da ideia.

E foi em uma dessas suas caminhadas que ele desapareceu... Simplesmente desapareceu.

Os policiais fizeram uma busca detalhada pelos locais que ele costumava passar, mas não acharam nada, absolutamente nada. Nenhum rastro, pista, cabelo nem manchas de sangue.

Somente o nada.

Foi como se ele tivesse simplesmente virado fumaça.

Meus olhos começaram a arder e minha garganta começou a se apertar ainda mais ao lembrar do meu pai.

Ok se controle. Penso. Vá lá fora e enfrente o seu medo, afinal, uma hora você teria que fazer isso.

Engulo a seco e vou para a minha escrivaninha, onde em uma das gavetas, sempre guardava uma lanterna.

Ligo-a, testando se ela ainda funcionava e saio do quarto iluminado apenas pela luz da lua que atravessava a cortina fina.

Assim que saio pela porta da frente, uma brisa gelada parece acariciar o meu rosto, fazendo meus pelos se eriçarem. Enrosco-me mais no hobby e a cada passo que me aproximava da floresta, Mais meu coração parecia se acelerar.

Paro e fecho os olhos respirando fundo, em uma tentativa nula de me acalmar.

Eu ainda não estou preparada para enfrentar isso. Penso, e não deixava de ser verdade.

Enquanto eu ia tentando entender as palavras em minha cabeça, um soluço começava a subir pelo meu peito.

Como eu havia mudado tão rapidamente? Como eu havia mudado tão abruptamente?

Como minha vida tinha virado de ponta cabeça em apenas poucos dias? Como... Como eu estava tão mais... Sensível a tudo? Isso era bom? Isso era ruim?

Eu não sabia.

Eu não sabia de nada, não conseguia responder a nenhuma dessas perguntas que se formulavam cada vez mais em minha cabeça, me fazendo ficar ainda mais – se é que era possível – confusa.

Meus joelhos cedem e eu caio na relva áspera do jardim. A lanterna escorrega pelos meus dedos e rolam pela relva, lançando fachos de luz para a rua.

As lágrimas pareciam cair incansavelmente pelos meus olhos, eu não podia para-las, eu não podia fazer nada, apenas esperar isso passar. A dor passar.

Eu precisava deixar o passado apenas no passado. Não podia continuar revivendo-o, torturando-me ainda mais.

Não podia continuar com isso, precisa achar um jeito de contornar esse... Esse vazio em mim.

Eu só não sabia como. Ainda.

Eu iria achar um jeito para isso, eu precisava achar.

Procuro por reflexo, o cordão que ele havia me dado naquela noite.

Era frustrante não saber seu nome, e agora sim eu podia entender realmente o velho ditado “o amor é cego”, no modo mais literal que se existe.

E como sempre, assim que penso nele, ele parece vir a meu encontro.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?
Ahh, e respondendo a uma mp que me mandaram, sim, sou eu mesma que faço todas as frases dos inícios de todos os capítulos ;) até mais!