Fallen Angels escrita por Lívia Nunes


Capítulo 27
Tempo


Notas iniciais do capítulo

Ei, pessoal! Hoje faz exatamente um mês que não atualizava Fallen Angels e eu devo muitas desculpas por isso. O motivo é que estou passando por alguns problemas pessoais e isso me tira toda a minha inspiração, ou pelo menos o que sobrara dela. Bem, mesmo com todos os problemas nunca irei abandonas FA, ok pessoal? Então bem, comemorem pois atualizei, finalmente o/ Bem, que tal uma recomendação para fazer uma autora feliz? Haha, estou brincando - ou não -, recomendem quando vocês acharem que é certo e etc, etc. O nome do capítulo é sobre o capítulo (cê jura, Lívia?) e sobre o tempo que fiquei longe de FA também, haha, faz sentido. Sem mais delongas vamos a leitura não é? GO GO!



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Sempre quando abria os olhos era como um milagre eu ter aguentado e superado mais um dia. As horas pareciam se arrastar de modo demasiadamente lento e a cada tic tac do ponteiro dos minutos do relógio pareciam me arrastar cada vez mais para uma loucura lenta que percorria por todo o meu corpo.

No último mês parece que eu fui mantida em um estado de vigília, nunca quase acordada e nunca quase dormindo, sempre beirando essa linha tênue que separava os dois. Isso estava me enlouquecendo de uma maneira que nem eu mesma entendia.

Uma semana, sete dias, 604.800 segundos. Todo esse tempo foi desperdiçado e poderia ser apagado de minha vida que provavelmente não me faria falta alguma. Depois do dia nove de abril tudo foi ficando cada vez mais diferente. Trish passou a me evitar todo dia mais um pouco até que parou de falar comigo completamente e sumiu, simplesmente sumiu. Ninguém mais o vê e eu me sinto desolada por isso. Eu estava mais próxima de Caleb e cada vez mais distante de Trish. Isso não era o que eu queria fazer, mas quando estava com Caleb eu conseguia esquecer por um momento Trish e tudo o que lhe rodava, o calor de Caleb me fazia esquecer tudo, para ser mais exata e sincera. Jenna não gostava nenhum pouco dessa diferente e renovada eu que andava com Caleb para cima e para baixo e ela já havia me alertado isso incontáveis vezes. Mas todos os dias que deitava minha cabeça em meu travesseiro a imagem de Trish e eu no parquinho me vinha a cabeça e eu não conseguia dormir. Na verdade havia mais de uma semana que eu não dormia de fato e isso não tinha alterado nada em mim, talvez isso fosse aquela coisa de Anjos ou qualquer coisa. Eu vinha lidando com isso cada vez mais normalmente. Não que eu acordasse todos os dias feliz e cantando “Eu sou um Anjo e tudo ficará bem!” como em uma apresentação na Broadway, mas agora era uma coisa a qual eu lidava com mais facilidade. Já era normal eu quebrar a escova de dente entre minhas mãos ou um prato enquanto colocava-o no lavador de louças, mas a cada dia mais eu estava lidando com toda essa força aumentada e tudo mais.

Desenrosco o lençol de minhas pernas pálidas e levanto-me da cama. Faço um rabo de cavalo enquanto olhava minha imagem refletida no espelho da penteadeira, meus olhos verdes estavam ofuscados e meus fios ruivos estavam escuros. O tempo lá fora não deixava escapar um fio que seja de sol e isso me agradava.

Ultimamente eu não estava indo muito a aula, passava a maior parte do tempo na casa do Caleb, ele sabia que eu era “alguma coisa” não humana – na verdade ele desconfiava, eu li sua mente para ter certeza disso – e ele estava me ajudando com algumas pesquisas. Ficávamos em seu apartamento no centro da cidade de Fell County. Mas isso de não ir muito as aulas não era um problema para mim, se existia algo com real funcionalidade era meu poder desenvolvido de persuasão. Com toda essa coisa de Anjos e parapsicologia eu conseguira desenvolver algo que eu ainda não conseguia dar um nome que se baseava em conseguir entrar na cabeça dos secretários da County High School e fazê-los tirarem minhas faltas e eles nem se lembrariam do ocorrido, ou seja, eu estava indo para as aulas todos os dias, mesmo que não fisicamente.

Ouço os passos lentos de mamãe se aproximando do quarto.

Ela coloca a cabeça na fina abertura da porta.

— Coloque uma roupa pesada, querida, está nevando. Bom dia. — Ela adverte e desaparece.

Dispo-me rapidamente e entro na banheira com água quente. Provavelmente se algum humano se quer encostasse nessa água iria acabar com uma queimadura leve, mas bem, eu não era humana então eu não precisava me preocupar com isso.

Essa mudança fisiológica repentina em meu corpo me assustava: há um mês eu era uma humana normal e de uma hora para a outra eu havia me transformado em um híbrido de Anjo. Mas eu evitava pensar nesse assunto para não acabar entrando em combustão espontânea.

Passo longos minutos na banheira até que abro os olhos e lembro que se eu quisesse que minha mãe acreditasse que eu iria para a escola eu teria que sair no horário certo. Saio da banheira rapidamente e me enrolo na toalha, indo para o quarto.

Pego algumas peças de roupa para o frio e as coloco rápido de mais para um humano colocar. Faço duas tranças baixas no cabelo e passo um batom nude quase da cor de meus lábios. Resolvo colocar a boina de crochê que vovó havia me dado no natal quando eu tinha dezesseis anos que nunca havia usado. Pego minha bolsa no encosto da cadeira da escrivaninha quando termino de calçar o tênis.

Desço a escada em um rompante e vejo minha mãe começando uma discussão quando eu vou direto para a porta.

— Vou comprar um café na Starbucks, mamãe, fique tranquila. Tchau! — Digo assim que ela começa o longo discurso. Isso parece acalma-la um pouco.

Fecho a porta atrás de mim e logo entro no Jaguar tentando desviar dos flocos de neve que caíam do céu, sem sucesso.

Ligo o aquecedor e dou a partida no carro, pegando meu celular e digitando uma mensagem para Caleb.

“Vou ao Starbucks, você vem? C.”

Aperto ”Send” e depois de poucos segundos a resposta chega.

“Estou indo pra lá agora, que coincidência não? Caleb.”

Um sorriso brota na ponta de meus lábios e guardo o celular no bolso de calça jeans.

Vejo as árvores pintadas de branco passarem pelo vidro do carro e tento me concentrar na estrada escorregadia, meus pensamentos pairavam em olhos azuis e cabelos escuros...

Vejo o sinal do cruzamento à minha frente ficar vermelho e por pouco eu consigo frear a tempo de não bater no carro prateado que avançava no sinal verde de sua via. Suspiro algumas vezes e conto até dez infinitamente até o sinal ficar verde para mim novamente.

Paro na frente da Starbucks e saio do Jaguar, colocando a bolsa no meu ombro esquerdo. Ando até a frente da cafeteria e ajeito o cachecol em meu pescoço, soltando-o um pouco.

Havia uma pequena fila com duas pessoas à minha frente e espero pacientemente a minha vez, enfiando as mãos no bolso do casaco.

— Qual vai ser o seu pedido, querida? —Uma mulher simpática e profissional me atende assim que chega minha vez no balcão.

— Eu vou querer um expresso roast com leite desnatado e chantilly, obrigado.

Ela sorri e começa a preparar o pedido, me entregando-o pronto depois de alguns poucos minutos. Pago e sento-me em uma mesa reservada ali mesmo, não enfrentaria o frio lá fora.

Beberico meu café e a sensação era perfeita, ele me aquecia rapidamente e depois de pouco tempo já estava totalmente relaxada.

— Posso me juntar a você? — Caleb diz e senta na cadeira a minha frente.

— Eu não sei pra que você ainda pergunta. — Digo, sarcástica.

Ele sorri rapidamente e me olha. Finjo não perceber seus olhos em mim e continuo bebericando meu café.

—O que faremos hoje? — Ele indaga, como se não soubesse.

— Era eu a ter que perguntar isso, você não acha? Não responda, isso foi uma pergunta retórica.

Ele ri e a mulher do caixa se vira em nossa direção. Quando vê que estou olhando para ela, muda seu foco de atenção rapidamente.

— Eu não sei, talvez você esteja cheia de todo esse ocultismo. — Ele diz depois de algum tempo.

— Na verdade estou ficando cada vez mais interessada nisso. — Respondo, enrolando a ponta do cabelo que não estava trançada. Caleb olha minhas mãos enrolando os fios e eu paro instintivamente.

— Bem, então vamos. — Caleb diz, levantando da cadeira.

Levanto-me também e termino de beber o café, jogando a embalagem da Starbucks no lixo que havia dentro da cafeteria.

— Você veio a pé? — Pergunto, enquanto seguia ao seu lado na calçada escorregadia.

— Sim.

— Mas sua casa é longe... Como chegou tão rápido?

— Eu só caminhei mais rápido que o normal. — Ele diz e sorri, olhando para mim. Seu sorriso era bonito de mais e eu sabia que isso era uma tentativa frustrada de me distrair de que ele havia chegado aqui rápido de mais. A casa dele era no centro da cidade e nós não estávamos perto de lá.

Sorrio de volta e finjo que caí na sua distração, mas minha mente trabalhava ferozmente para tentar encontrar uma resposta para aquilo e para o desaparecimento de Trish.

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— Olha o que eu achei. — Caleb me joga um livro de capa marrom velha em meu colo com a página marcada. O cheiro de mofo paira no ar me fazendo tossir um pouco.

Leio o parágrafo rapidamente.

Nas primeiras décadas de estudo, procurou-se compreender a telepatia como um fenômeno eletromagnético, que funcionaria da mesma forma que os aparelhos de rádio e televisão. Supunha-se que, entre o receptor e o emissor, haveria “ondas mentais”, que transportariam informações do conteúdo cerebral entre eles. No entanto, as teorias baseadas nesse modelo caíram por terra porque, aparentemente, a telepatia não é limitada pela distância nem pelas barreiras físicas, como o são as ondas eletromagnéticas conhecidas.

— Então quer dizer que se eu quiser aprimorar a minha, digamos, telepatia eu tenho que me concentrar mais no alvo? — Pergunto, a palavra ‘telepatia’ saindo por entre meus lábios com desdém.

— Ao que parece, sim. — Ele diz e começa a folhear outro livro na pilha a sua frente. Jogo o livro de volta para ele.

Levanto-me da poltrona antiga da sala minúscula de Caleb. A casa era bem pequena e bem confortável. Fazia o estilo antigo e todos os móveis seguiam essa linha, vários quadros pendurados na parede e poltronas de madeira com revestimentos que pareciam caros. Prateleiras e mais prateleiras cheias de livros com títulos, às vezes, em outras línguas e com tópicos que não conhecia. O apartamento todo era uma bagunça perfeitamente arrumada.

Entro na cozinha e encho um copo de água quando entro em um colapso de imagens, sons e cores. Meus olhos reviram-se nas orbitas e sinto os braços quentes de Caleb minha volta, segurando meu corpo que tremia involuntariamente. Eu estava entrando em um colapso nervoso que não poderia fugir, tinha que esperar aquilo passar.

Não, não, não, Trish...

— Claire, acalme-se, olhe para mim, olhe para mim. Isso, respire. — Caleb dava as coordenadas e eu tentava desesperadamente segui-las.

Depois de alguns minutos eu já estava calma o suficiente para falar sobre o que havia acontecido.

— O que você viu dessa vez, Claire? — Caleb pergunta para mim. Encosto-me no balcão atrás de mim e aperto os dedos ao redor do copo com a água intocada.

— Nada, a mesma coisa de sempre. — Digo calmamente, eu estava ficando cada vez melhor em mentir.

Ele parece acreditar.

— Então está tudo bem, com o tempo você vai se acostumando com isso. — Ele diz simplesmente e volta para a sala. Ouço seu peso ceder ao sentar no sofá novamente. Ouço também o farfalhar das páginas que ele ia virando rapidamente.

Quando vejo que estou sozinha novamente me permito pensar na minha visão, no que eu havia visto. Eu tinha mentido para Caleb, não tinha sido apenas as cores e pessoas sem conexão que eu costumava ver, a visão desta vez foi clara como se eu tivesse assisto a um filme.

— Se eles descobrirem... Tudo estará perdido. — Trish dizia o semblante tão preocupado que de imediato senti sua falta doer em mim como uma ferida aberta.

— Eu sei, Trish. Você precisa distraí-los, manter a atenção deles em você para que eles não possam desconfiar dela. — O homem alto, moreno e esguio que conversava com Trish dizia, percorrendo a imensa sala iluminada pelo lustre de cristal que pendia no teto. Os olhos de Trish pareciam escuros iluminados apenas pela luz do lustre que oscilava pela sala.

Trish subitamente olha para trás e ao redor por alguns segundos, deixando uma expressão de duvida no rosto do homem que o acompanhava.

— O que foi? — O homem moreno pergunta.

Trish apenas balança a cabeça negativamente e suspira.

— Nada.

Assim que Trish fala, a porta dupla do imenso cômodo se abre em um rompante e três homens entram na sala bruscamente. Trish olha e com um movimento mínimo de lábios fala para o homem moreno fugir, mas ele não o faz, apenas assente. Trish ataca o homem que estava à frente dos outros dois pelos flancos, tentando acerta-lo com o abajur em suas mãos. Ele consegue acertar o homem alto que vinha em sua direção com uma lapiseira, enfiando-a em seu braço esquerdo. Ele ruge de dor e envolve a lapiseira nos dedos e a puxa para cima, tirando-a de sua pele, correndo na direção de Trish e o atirando na imensa mesa, jogando papéis e livros no chão. Trish se recupera e tenta levantar a tempo, mas o outro homem é mais rápido e o puxa pelo pescoço, asfixiando-o.

O homem moreno que estava com Trish tentava lidar com os outros dois homens quando vê o homem envolvendo o pescoço de Trish com as duas mãos, suspendendo o corpo dele no ar. Ele corre na direção de Trish e com um movimento rápido e certeiro, enfia um tipo de adaga prateada nas costas do homem que segurava Trish, fazendo-o cair no chão. Uma luz intensa e ofuscante cega meus olhos que assistiam a cena quando o homem que atacara Trish explode.

Pisco os dois olhos rapidamente quando vejo que estou de volta a mim mesma, a imagem de Trish sendo atacado pelo homem havia grudado em minha mente e isso me deixava agitada e com medo.

Engulo a água em minhas mãos, sentindo o líquido percorrer pela minha garganta apertada.

Eu sabia que minhas visões quase sempre eram verdadeiras e isso queria dizer que Trish estava em perigo e eu tinha que fazer alguma coisa. Eu não poderia perdê-lo, não dessa vez.

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EM ALGUM LUGAR DA EUROPA...

Trish Mansen tentava encontrar o livro que estava lendo antes de serem atacados pelos Serafins. Eles haviam descoberto alguma coisa e Trish já deveria saber o que era.

Hariel limpava a adaga celestial com que acabou de matar um dos Serafins, os outros dois haviam indo embora logo depois disso.

— Você sabe o porquê que os outros dois Serafins foram embora depois que você matou um deles? — Trish perguntava, ainda procurando o livro.

— Eu não sei, Haziel, quer dizer, Trish. Eles irão mandar mais atrás de nós. Talvez eles tenham ido falar com os outros que eu o matei, talvez eles estejam esperando por ordens maiores...

— Quando você diz ordens maiores você diz...

— Deus. — Hariel completa a frase inacabada de Trish.

Os dois se entreolham, incrédulos.


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Notas finais do capítulo

E ai, pessoal, o que acharam? Ficou horrível? Perfeito? Mediano? Deixem sua opinião nos comentários, como já deve ser do conhecimento de vocês, é importante! E também digam o que vocês acham de eu usar o polyvore para as roupas de alguns personagens e os links de celulares, carros etc, você acham legal ou querem que eu pare? Enfim, acho que já falei de mais não é? HDASUHDAUSHDA, espero vê-los nas reviews, até o próximo capítulo, XX ♥