Fallen Angels escrita por Lívia Nunes


Capítulo 26
Apenas você


Notas iniciais do capítulo

Bem, o capítulo já tinha sido feito há um tempinho, só estava esperando a hora certa para postar (ok, me matem), enfim, aqui está e espero que gostem.



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In my head there's only you now

This world falls on me

In this world there's real and make believe

This seems real to me

-

Na minha cabeça só existe você agora

Este mundo cai sobre mim

Neste mundo existe o real e o faz de conta

Isto parece real para mim

-

You love me but you don't know who I am

I'm torn between this life I lead and where I stand

-

Você me ama, mas você não sabe quem eu sou

Estou indeciso entre essa vida que levo e onde estou

Desço a escada a passos trôpegos e assim quando chego à sala me espanto. Na verdade eu não reconhecia como a minha própria sala, estava totalmente diferente: as cortinas de aparência pesada caiam em ondas nas janelas em um tom vermelho vinho, com tranças que pendiam de cada lado das cortinas em tom vermelho escarlate. Tapetes em um tom denso de marrom cobriam a maior parte do piso de linóleo clara da minha sala. Mesas de comes e bebes estavam na parede oeste da sala, forradas com um pano em tom de cinza escuro, quase preto. Várias bebidas havia ali: Blood Mary, Long Island iced tea, vodcas de vários tipos e marcas e obviamente a tão comum cerveja. Lembro-me de ter insistido muito para minha mãe me deixar comprar tantas bebidas alcoólicas assim em minha festa, falando que eu só poderia beber depois dos vinte um anos, que é a lei nacional para o nosso país, mas eu contra argumentava falando que eu estava fazendo dezoito anos e que esse era o tempo de errar e aprender, e bem, ela não pôde argumentar contra isso. Mas eu ainda a ouvia murmurar para si mesma coisas do tipo “que tipo de mãe eu sou dando vodca para crianças? Isso não vai acabar bem...” e eu apenas a ignorava.

Vou para o lado de fora, ainda agarrando o braço de Jen e vejo na grama recém-cortada um DJ mexendo em suas coisas, tais coisas a quais eu não entendia. Música, eu realmente não sei. Eu havia feito toda a playlist da festa, ficando horas a fim para decidir quais músicas certas e na ordem certa seria bom colocar, acredito que tenha ficado boa.

— Sua festa vai ficar para a história das festas de dezoito anos, definitivamente. — Jenna sussurra em meu ouvido, a animação tão presente na sua voz que era como se fosse algo tangível.

Eu apenas rio. Não discordava dela.

Vejo o Gol de Matt parar no meio fio em frente a minha casa. Ele sai do carro rapidamente com uma embalagem pequena e de formato retangular nas mãos.

— Parabéééééns, Claire! Quem diria, dezoito anos, passou tão rápido! — Matt diz animado, me puxando para um abraço que me tirou o fôlego. — Parecia que foi ontem que eu, Jenna e você estávamos brincando no parquinho!

Nós três rimos com a lembrança e a onda de nostalgia que nos invadiu.

Continuamos rindo e relembrando tempos passados, sentando nos banquinhos da varanda e com coquetéis nas mãos, bebericando e conversando.

Às vezes Matt me lançava olhares estranhos, como se de repente ele fosse me puxar para um abraço novamente e me beijar. Eu realmente esperava que isso fosse apenas uma impressão minha, que eu estivesse achando coisa onde não existia. Se fosse a segunda alternativa eu não me surpreenderia: não seria a primeira vez que algo do tipo aconteceria.

— Vocês lembram-se daquele dia em que estávamos na praia e enterramos Matt na areia? Ele chorou feito uma menininha! — Jenna diz entre risos, fazendo Matt ficar vermelho como um pimentão.

Matt se reconstrói e assume uma postura máscula.

— Ei, parem com isso. E homem que é homem não chora feito mariquinha. — Ele mostrou os músculos do braço e logo depois começou a rir, tirando risos de mim e de Jen.

— Ok, Matt, mas você precisa assumir que você chorou de um jeito um tanto... Afeminado. — Contra-ataco, bebericando o coquetel e vendo que o mesmo já tinha acabado.

Continuamos a conversar até que carros começam a estacionar um na frente do outro no meio fio, até que depois de alguns minutos a rua estava lotada. Os vizinhos teriam que aguentar o barulho.

Jenna tinha ido pegar mais drinks. Ameaço levantar da cadeira para falar com as pessoas que haviam chegado, mas Matt segura meu pulso, fazendo-me virar para encarar seus olhos verdes azulados e me lembrar de como as coisas com ele funcionavam tão perfeitamente e tão suavemente. Suspiro. Ele parecia pensar o mesmo que eu.

— Espera, Claire. — Ele diz, soltando meu pulso. Sinto-me por um instante constrangida e mordo o lábio inferior. — Tem algo que eu quero te dar.

Ele me entrega a embalagem simples para mim que estava segurando esse tempo todo, como se esperasse o momento em que Jenna nos deixaria a sós para me entregar.

Pego a embalagem de sua mão e rasgo o papel com cuidado, curiosa para ver seu interior.

Fito, impressionada, uma foto minha e de Matt quando tínhamos sete anos. Foi o dia em que nós nos conhecemos, no parquinho.

Flashback on

— Porque você fez isso? Você é um menino mau! — Digo, com lágrimas nos olhos, fitando o belo menino de cabelos castanho claro e olhos penetrantes em minha frente. Ele havia quebrado uma boneca que acabara de ganhar de aniversário. Era um rito: todo aniversário que fazia eu tinha que ir para o parque perto da minha casa.

— Me desculpe! Eu só queria te mostrar que a sua boneca poderia dirigir a caminhonete! — Matt diz, tentando inutilmente colar com uma cola invisível a cabeça da boneca com o resto do corpo.

Via minha mãe conversando animadamente com a mãe de Matt, elas olhavam em nossa direção e riam. Aquilo me irritava profundamente, porque minha mãe estava rindo de mim?!

— Mamãe! — Intervi sua risada e ela olha em minha direção. — Mamãe, o menino malvado quebrou minha boneca!

Ela ri mais uma vez e acaricia meus cabelos ruivos que batiam no meio das minhas costas.

— Ele não é um menino mau, Claire. Ele só estava tentando brincar com você. — Minha mãe diz, ainda acariciando meus cabelos.

Suspiro algumas vezes.

— Tudo bem, mamãe. Eu devo pedir desculpas para ele, não é? — Pergunto, juntando as pequenas mãos e olhando para baixo em sinal de constrangimento.

— Sim, querida. — Ela sorri. — Mas antes vamos tirar uma foto? Afinal, é seu aniversário. Chame o seu amigo.

— Ei! Venha aqui!

Matt vem em minha direção com a boneca nas mãos.

— Vamos tirar uma foto. — Digo e o abraço fortemente.

— Digam “Xis”! — Mamãe diz e então meus olhos são cegados pelo flash da câmera.

— Ok, crianças, já podem voltar a brincar. — Mamãe diz, sorrindo.

Sorrio de volta e olho para Matt, que ainda estava tentando consertar minha boneca.

— Ei, pare com isso! Desculpe-me menino mau, ahn, quer dizer, qual é o seu nome mesmo? — Pergunto e ele se levanta.

— Meu nome é Matt. E o seu? — Ele diz e abre um sorriso lindo e infantil.

— Meu nome é Claire, mas pode me chamar de Clai, eu gosto. — Dou uma risadinha. — E venha comigo, eu tenho que te mostrar um lugar in-crí-vel! Digo a última palavra pausadamente e puxo Matt pelo braço, a fim de mostrar-lhe o meu esconderijo “secreto” no parque.

— Está vendo aquela árvore bem ali? Então, sabe que lá é um lugar mágico?...

Flashback off

— Oh, Matt, é... É lindo, obrigado. — Digo e não consigo controlar as lágrimas que começam a descer pelo meu rosto. Dou um passo em sua direção e o envolvo em meus braços, apertando seu corpo contra o meu. Ele enlaça minha cintura e apoia o pescoço em meu ombro.

— Fico feliz que tenha gostado. Ei, você está chorando? Pare agora! — Ele diz, em falso tom de raiva. Rio. — Hoje é seu aniversário, Clai, você não deve chorar.

— Mesmo? — Pergunto, confusa.

— Só de alegria, e sua maquiagem vai borrar, sei lá, não entendo muito disso. — Ele diz.

— Mas eu estou chorando de alegria, idiota. — Seco as lágrimas com a ponta dos dedos rapidamente e dou um tapa no braço do Matt.

— Ei, doeu. — Ele diz e ri. Acompanho-o. — Mas Claire, você sabe o significado do porta-retratos e da foto?

— Hm, não.

— Sabe, eu poderia ter te dado qualquer coisa: uma blusa nova, um sapato, uma bolsa... Mas eu só queria te mostrar que eu estarei aqui para qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. Desde esse dia — Ele aponta para a foto no porta-retratos em minha mão – Até hoje e sempre. Apesar de qualquer coisa, você ainda é minha irmãzinha e eu irei te proteger de tudo. Queria que guardasse e lembrasse de mim para sempre, pois eu nunca vou me esquecer de você. — Matt cora no final e coça o braço nervosamente. Abraço-o ainda mais por isso.

— Ah, Matt. Como você quer que eu não chore falando uma coisa dessas? Isso é uma atrocidade. — Digo, limpando novamente outras lágrimas que insistiam em cair.

Ele sorri largamente e me abraça mais e eu retribuo o abraço amigável, suspirando e por um segundo, esquecendo tudo a nossa volta.

                                             ***************************

Levo o presente para dentro de casa e coloco-o na mesa dos presentes, indo receber os convidados que chegaram.

Falo com todos que haviam chegado, mamãe parecia cada vez mais deslocada perto de tantos adolescentes.

— Mãe... Você sabe que se quiser pode ir para um hotel e passar a noite lendo um livro, não é? — Pergunto, acariciando seu braço.

Ela parece suspirar de alívio.

— Tem certeza, Claire? Você vai saber cuidar dos convidados, não é? — Ela pergunta, hesitante.

— Claro que sei mãe. — Digo, com vontade de revirar os olhos no final da frase.

Ela me fita por longos dez segundos e depois suspira, olhando para o teto e volta o olhar para mim, sorrindo.

— Ok, você venceu. Irei para um hotel aqui perto e volto ao amanhecer. Qualquer coisa você me liga, ok? — Ela pergunta, acariciando meu rosto.

— Sim, mamãe.

— Ok, filha. Feliz aniversário. E se cuida. — Ela diz, dando um beijo em minha bochecha, sacando sua bolsa e pegando um livro que estava com a página marcada em cima da mesa da cozinha.

Sorrio para ela.

— E obrigado, mãe. — Digo e a puxo para um abraço.

— Por nada, filha: você merece.

Vejo mamãe sair da casa e entrar em seu carro.

Suspiro e procura Jenna com os olhos pelas pessoas no gramado, achando-a rapidamente conversando com um menino. Provavelmente ele tinha um nome estranho.

— Ei, Jenna! — Grito, passando pelas pessoas, às vezes levando uns empurrões bruscos. A puxo pelo braço.

—Mamãe saiu, temos a casa toda para nós. — Sussurro em seu ouvido. No mesmo instante pude jurar que fogos de artifícios explodiram no céu, tamanha era a animação de Jen.

Ohmyfuckingod! — Jenna diz sem pausa e muito rapidamente, a frase virando apenas uma palavra. — Você está brincando? Ahhhhhh sério, podemos fazer tanta coisa e...

A voz de Jenna simplesmente se perde na confusão de luzes, na música alta que estourava meus tímpanos, mas sinceramente? Eu não ligava, pois quando meus olhos acharam os dele, nada mais fazia sentido e eu perdia totalmente a noção de tempo e qualquer outra coisa. Como ele tinha esse efeito em mim?

Seus olhos queimam os meus e todo o meu corpo parecia flutuar para o seu lado e perdurar ali para sempre.

Trish estava perfeito em um terno preto, a blusa social que ficava por dentro era de um vermelho escarlate, o colete também por dentro do terno era de um preto grafite, assim como o resto do terno e calças. Nos pés calçavam um par de sapatos sociais marrom, perfeitamente lustrados. O cabelo que, agora à noite, era de um preto profundo estava lindamente bagunçado, os olhos incrivelmente azuis penetrantes como sempre.

Ele segurava uma embalagem preta quadrada, a mão casualmente descansada no bolso da frente.

Ele olhava em minha direção, parado, no meio da multidão.

Desde a primeira vez que o vi eu já deveria ter desconfiado: não era humanamente possível alguém alcançar o nível de perfeição que Trish obtinha, realmente impossível. Cada passo que ele dava, cada sorriso e cada olhar discreto denunciava isso. E cada pequeno gesto atraía minha atenção, fazia meus joelhos cederem e se ele sorrisse mais uma vez, eu poderia me jogar aos seus pés e implorar para que sorrisse novamente.

E Jenna continuava a falar. Subitamente me sinto mal por não ter ouvido mais da metade do que ela havia falado, mas era involuntário. Argh.

— Sim! Rapidinho, Jen. — Digo, sem ao menos saber do que ela falava. Pareceu funcionar.

Sua expressão se torna duvidosa, seus olhos avaliam o lugar brevemente até que ela encontra o alvo da minha dispersão mental.

— Rá. Trish Mansen. Ok, agora faz sentido. — Ela diz e começa a rir. Fico sem graça.

— Para, Jen.

— Você está apaixonada, Claire. É hora de admitir isso para si mesma. — Ela diz, seus olhos azuis escuro avaliando os meus.

Suspiro.

— Eu não sei do que você está falando, Jen. — Digo, com ar de inocência.

Meu corpo trava quando a música começa a tocar. Eu sabia que iria me arrepender profundamente de tê-la colocado na playlist.

6 Months do Hey Monday tocava nas caixas de som, casais começavam a se formar no gramado, as luzes brilhando em seus corpos.

Everything you say

Everytime we kiss I can’t think straight

But I’m ok

And I can’t think of anybody else

Who I hate to miss as much as I hate missing you

-

Tudo o que você diz

Toda vez que nós nos beijamos eu não consigo pensar direito

Mas eu estou bem

E eu não consigo pensar em mais ninguém

Que eu odeie ter saudade o tanto quanto eu odeio sentir sua falta

Meus olhos buscam inconscientemente Trish no meio da multidão, mas não o encontro.

— Pense no que eu falei, Clai. — Jenna diz e deixa o menino o qual estava conversando anteriormente leva-la para dançar.

So please, give me a hand

So please, give me a lesson on how to steal

Steal a heart, as fast as you stole mine

As you stole mine

-

Então, por favor, me dê sua mão

Então, por favor, me dê uma lição de como roubar

De como roubar um coração, tão rápido como você roubou o meu

Como você roubou o meu

Sinto as lágrimas virem violentamente e meu peito se apertar.

Ando – praticamente corro – para dentro de casa e encho uma dose de vodca e viro tudo de uma vez, sinto o líquido se arrastar na minha garganta, queimando todo o percurso.

Começo a chorar convulsivamente, encho outra dose e faço o mesmo. A ardência diminuía à medida que eu tomava mais doses.

Na quarta dose de vodca eu já não sentia mais nada descer pela minha garganta, e eu sabia que era ai que estava o grande perigo de beber.

Eu só queria arranjar um jeito de não sentir mais isso, sentir que se eu não tivesse com Trish, nada mais faria sentido.

Eu estava começando a ficar bêbada e meus pensamentos estavam embaralhados.

— Claire?

Trish corre em minha direção, vendo-me nesse estado deplorável. Eu estava sentada com as costas encostada à parede, a garrafa de vodca em minha mãe e o copo de vidro na outra.

Trish me envolve em seus braços e tira a garrafa e o copo da minha mãe, colocando-os em cima da mesa novamente.

Ele se senta ao meu lado.

— O que aconteceu, Claire? — Ele pergunta, a voz embargada em preocupação.

— A pergunta mais certa seria por que isso tudo está acontecendo. — Rio ironicamente.

— O que exatamente?

— Ah, Trish, tudo. Eu sou um Anjo, o cara pelo qual eu estou ridiculamente apaixonada é um Arcanjo e... — A ficha cai e eu percebo o que acabara de falar: admiti em alto e bom som que estava apaixonada pelo cara ao meu lado. E pior: em sua presença. Ah, merda, como se nada pudesse piorar...

Ele apenas me olha com curiosidade e posso dizer até com uma chama – lá no fundo de seus olhos azuis – de paixão.

— As coisas também não estão fáceis para mim, Claire. Eu estou apaixonado por minha “irmã” Anjo que foi banida do céu e se qualquer outro Arcanjo com importância suficientemente grande pode destruir isso diante de meus olhos. — Ele diz, perfurando meus olhos.

Fito-o de boca aberta. Como ele conseguir dizer essas palavras com tanta naturalidade?

— eu estou acostumado com isso, Claire. Não-natural para mim é falar como humanos e com humanos. — Ele responde a pergunta em minha cabeça.

Ignoro o fato de que ele havia acabado de ler minha mente e apenas prossigo, a voz falhando ridiculamente:

— V-você está apaixonado por m-mim?

— E ainda lhe restam dúvidas? — Ele diz, um sorriso, o meu sorriso brincando em seus lábios.

Sorrio com vontade.

Jenna aparece na porta da sala.

— Claire, nós vamos dançar agora! Vamos! — Ela grita para mim, desaparecendo logo em seguida.

— Dançar? — Trish pergunta, a voz duvidosa.

— Sim, dançar. Qual é, eu sou líder de torcida. Isso é normal. — Digo, tentando parecer sexy.

— O que vocês irão dançar?

— Estilo burlesco.

Trish me lança um sorriso perverso, seus olhos pareciam brilhar em luxúria. Qual é, um Arcanjo demonstrando sinais de luxúria?!

— Trish, você é um Arcanjo, isso não é bem o que Arcanjos fazem. — Debocho.

— Eu não estou no céu, acho que na terra devo entender o porquê dos humanos serem assim, não é? Devo agir como tais.

Sua desculpa me tira uma risada.

— Ok, falso Arcanjo. Deixe-me ir, tenho uma apresentação supersexy e burlesca para apresentar. — Digo, olhando-o sensualmente.

— Me espere na primeira fileira.

Levanto-me do chão e vou para o lado de fora, as palavras de Trish ainda martelando em minha cabeça. Todas elas.

Ladies and Gentlemen, iremos agora ver uma apresentação de dança burlesca das meninas supersexys dos Fellcats! — O DJ anuncia. Jenna acena para mim.

Corro para frente das pessoas que se atumultuaram em volta de um palco de madeira.

Todas as meninas já estavam em seus devidos lugares.

Um tipo de corrimão ficava ao fundo do palco, onde as meninas estavam localizadas. Aquilo era fundamental para a apresentação.

— Seja sexy. — Jenna cochicha em meu ouvido assim que me aproximo dela.

O DJ solta a música e começamos.

(N/A: vídeo das Fellcats dançando - https://www.youtube.com/watch?v=H08sMqTEdmo)

Estalo os dedos enquanto a música continuava a tocar, a cabeça abaixada.

Depois de uma sucessão de passos rápidos, ando junto com a música para a cadeira localizada a frente do corrimão.

Sinto os olhos de Trish a todo o momento em mim, mas apenas finjo que não estou vendo e continuo a apresentação.

Todos os movimentos que fazia eu tinha plena consciência de que todos estavam olhando, e por esse motivo tentava seguir o conselho de Jen e ser o mais sexy possível.

A música segue para seu final e na última batida todos começam a aplaudir, assobiar e gritar palavras não muito bonitas.

— As Fellcats sabem mesmo como serem sensuais! Agora voltamos a nossa programação musical, que tal curtirem um pouco Cockiness, música do último álbum da Rihanna? — O DJ fala novamente, as pessoas ainda aplaudiam quando eu e as meninas descemos do palco.

— Vocês foram demais! — Uma menina cujo nome eu não lembro me diz.

— Obrigado! — Digo de volta.

Termino de receber os elogios e logo fujo para a mesa de bebidas, enchendo uma dose de vodca e virando tudo.

— Você estava perfeita, Claire. Divinamente perfeita... — Trish diz por trás de mim, sua voz acariciando minha nuca, enviando ondas de eletricidade por todo o meu corpo.

Viro-me e sorrio.

— Obrigado, Trish. — Digo, as mãos apoiadas na mesa atrás de mim.

— Disponha.

O movimento de seus lábios atraiu minha atenção e meus olhos se prenderam ali, eu não conseguia tira-los.

Passado alguns segundo, finalmente consigo tira-los de lá, apenas para fitar Trish me olhando com curiosidade.

E no momento seguinte suas mãos estão em minha nuca e ele está me puxando para um beijo desesperado e muito, muito sexy.

Sua língua acaricia ferozmente a minha, nossos lábios travando uma batalha por espaço. Minhas mãos voando para as suas costas, apertando os dedos e se ele fosse humano, provavelmente teria marcas ali.

Suas mãos descem por toda a extensão de minhas costas, apertando cada mínimo lugar que passava, parando em meu quadril.

— Trish... Por favor... — Sussurros desesperados escapavam de meus lábios assim que os seus saíram dos meus e foram para o meu pescoço, deixando um rastro de fogo e calor por onde passavam.

Puxo-o pela mão escada acima, não interrompendo o beijo Deus sabe lá como.

Assim que sinto minhas costas baterem na porta de meu quarto, chuto a porta e ela se abre. Conduzo Trish para a minha cama e ele se joga em cima de mim, minhas costas batendo rapidamente contra o colchão macio.

Envolvo seu quadril com minhas pernas e Trish continuava me beijando ferozmente, apertando meu quadril contra o dele, beijando meu pescoço, orelha e todas as partes visíveis do meu corpo em chamas.

Entrelaço meus dedos em seu cabelo e puxo-o um pouco, arrancando suspiros de Trish que mordia meu lóbulo da minha orelha, fazendo-me gemer um pouco.

Tento tirar o terno de Trish, mas ele para bruscamente, sentando-se na minha cama.

— Trish? — Pergunto, engolindo a seco.

— Claire, eu... Eu não posso fazer isso. Não agora, seria um erro. — Ele diz, se aproximando de mim e acariciando minha face corada pelo constrangimento ao pensar no que faríamos se ele não tivesse interferido e pela adrenalina que ainda corria pelas minhas veias.

— V-você tem razão, Trish. — Digo, simplesmente.

Ele parecia tão sem graça quanto eu.

— Me desculpe, Claire.

— T-tudo bem, Trish. Tudo bem... — Digo, levantando-me da cama e indo em direção à porta, sem falar mais nenhuma palavra, afinal, o que tinha para ser dito?

                             **********************

— O que?! Trish Mansen negou uma transa com você?! — Jenna diz, tentando controlar o nível de sua voz, sem muito sucesso.

—Shhh! Ele não negou, exatamente... Ele só disse que não era certo fazer naquele momento. Acho que entendo ele. — Digo, bebericando a Heineken em minhas mãos.

— Por favor, Claire! Tem quantos meses que você não transa? Oito? — Jenna cochicha, fazendo-me suspirar.

Eu havia perdido minha virgindade com Matt, e sei lá, acho que eu me arrependia.

— Argh, cala a boca, Jenna! — Digo, dando um longo gole na cerveja. — E você e o menino que te tirou para dançar? Algo a contar?

A melhor defesa é o ataque.

— Ah, ele disse que os pais não estão em casa e me chamou para dormir lá. — Ela diz com um sorrisinho no rosto. — Vamos ver no que dá, meu corpinho está quente.

Começo a rir alto.

— Haha, vai rindo mesmo, Claire. Pelo menos não sou eu que estou na seca. — Jen diz, e tento lhe dar um tapa no braço, mas ela desviado golpe e sai correndo da cozinha.

— Idiota. — Digo para o vento.

Tomo mais um gole da Heineken em minhas mãos e olho o relógio embutido na parede da cozinha: Já eram uma e trinta e seis da manhã, o tempo parecia passar cada vez mais rápido.

Bem, era hora de ir para o parque, um rito.

Pego uma grade de Heineken na geladeira e carrego para fora de casa, falo com Jen que iria ao parque e ela revira os olhos, perguntando se queria companhia, apenas falo que não e que era para ela tomar conta da casa, ela concordou com os termos.

Ando pela rua vazia da minha casa, o som da música alta ficando cada vez mais distante e eu ficando cada vez mais sozinha com meus próprios pensamentos, que à medida que me distanciava da casa, do som e das pessoas, ficam mais altos.

Suspiro antes de dar um belo gole da minha cerveja favorita, na verdade minha bebida favorita.

O salto da minha bota fazia um barulho, que há aquela hora, parecia estrondoso no asfalto gasto e cinzento. Na verdade tudo parecia gasto, cinzento e velho agora. As folhas das árvores pareciam ter perdido o tom verde vibrante que tinham ao amanhecer e entardecer. Tudo parecia errado.

Fixo a visão mais a frente e se eu não tivesse carregando uma grade de cerveja em uma mão e uma garrafa em outra eu faria uma conchinha com as mãos nos olhos a fim de enxergar melhor. Não que isso fosse melhorar alguma coisa.

Assim que chego ao parque, meus saltos afundam na areia clara. Procuro com o olhar a grande árvore – ou também conhecido como o “esconderijo” – e fito a lua rapidamente, vendo a luz que irradiava dela bater em minha pele, a mesma assumindo um tom mais pálido que o normal, meus cabelos ruivos ficavam sem cor tamanha era a luz da lua.

Sento-me na areia e coloco a grade de cerveja ao me lado, dando um último gole na garrafa em minhas mãos, colocando-a ao meu lado e abrindo outra garrafa.

Continuo fitando a lua em seu ápice, totalmente redonda e cheia de luz enquanto bebericava minha Heineken, meus pensamentos vagando para lugares desconhecidos.

Como eu poderia estar tão apaixonada por Trish desse modo?

Isso ultrapassava todos os métodos e todas as regras que eu conhecia. Ultrapassava todos os sentimentos que eu já imaginei sentir por alguém, qualquer que fosse essa pessoa. Mas acho que é esse o grande X da equação dos sentimentos: você não entender absolutamente nada para poder, de alguma maneira, entender tudo. E se algum dia você conseguir entender ou explicar esse sentimento, bem, algo está tremendamente errado.

Suspiro enquanto a luz do satélite brilhante ainda atingia minha pele, e de algum modo, aquilo me acalmava.

Procuro as constelações que eu conhecia no céu, achando a constelação de Escorpião e a famosa constelação de Orion, o arqueiro. Fico traçando os pontinhos brilhantes até poder ver claramente a constelação, onde começava e onde era seu término.

— De algum modo ele parece estar caminhando pelo céu — A voz inconfundivelmente perfeita ecoa em meus ouvidos, cada vez mais perto. — furtivamente, entre as estrelas.

Provavelmente ele deveria ter me visto juntando os pontinhos da constelação de Escorpião.

Trish se senta ao meu lado, apenas sorrio e ofereço-o uma cerveja. Ele a pega de minha mão e começa a beber. Ficamos em silêncio por longos pacíficos minutos, cada um em seus próprios pensamentos.

— Aquela estrela meio amarelada ali — Trish aponta para a parte superior à esquerda da constelação de Escorpião — É Antares, a estrela mais brilhante da constelação.

— Você gosta de Astronomia? — Pergunto, curiosa.

Ele ri antes de dar um gole da cerveja e olhar para mim com um brilho no olhar.

— Para ser sincero, amo.

Suspiro.

— Eu também. Meu pai costumava me ensinar todas as constelações e contar todos os mitos em volta de cada uma delas. A gente passava horas e horas olhando através do telescópio que ele comprou. — Um nó começa a se formar em minha garganta, tento ameniza-la com um gole de cerveja, não tendo muito sucesso.

Vejo Trish me fitar com a visão periférica, mas apenas continuo olhando para o céu cheio de pontos brilhantes.

— A melhor parte de vir pra cá todo o meu aniversário é as estrelas. — Digo, fitando o céu acima de mim. — Esse horário as luzes da cidade estão apagadas e o parque é envolto em árvores, tudo fica mais escuro e o céu fica muito mais visível.

Ele volta o olhar para o céu e dá mais um gole na cerveja.

— Você tem razão, o céu fica muito mais apreciável.

Desvio, relutante, os olhos do céu e fito Trish. Seu perfil era perfeito. Seus olhos continuavam voltados para o céu acima de nós, desse modo eu tinha uma visão clara de seu rosto. O nariz em perfeita sincronia com o queixo lindamente quadrado, o cabelo que à noite ficava negro fazia um contraste perfeito com a pele pálida. Ele estava sem o terno, apenas com a blusa social vermelha e o colete grafite. Seus olhos se voltam para os meus, perturbando e bagunçando minha mente.

— Tenho uma coisa para te dar. — Trish diz, entregando-me a caixa preta e quadrada que eu havia o visto carregar.

Olho-o com curiosidade e coloco a garrafa de cerveja ao meu lado, pegando a caixa de suas mãos. Nossos dedos se tocam um pouco e tento ignorar a faísca que passou pelo meu braço, arrepiando-me.

Abro a caixa rapidamente e fito algo desconhecido, meio retangular, revestido em camurça preto e com detalhes em dourado.

Meus olhos sondam mais um pouco o item até eu entender o que era.

Era um diário.

— Sei que você gosta de escrever e sei que você tem um diário. Espero que você tenha gostado. — Trish diz, se aproximando de mim.

— Ah, é lindo, Trish! Eu amei! — Digo e o abraço fortemente por impulso.

Seus braços se fecham em minha volta e sinto seu cheiro ao redor de mim, me acalmando de imediato.

Passam-se longos minutos e ainda estamos na mesma posição, nenhum com coragem suficiente para se soltar um do outro.

Separo-me um pouco de seu corpo apenas para poder olhar em seus olhos, sim, eu era masoquista o suficiente para tal ato.

— Trish... Eu estou apaixonada por você. — Digo, simplesmente. As palavras fluindo de meus lábios com tanta naturalidade que me espanta.

Ele sorri de um modo tão inumanamente perfeito que minha cabeça roda. Ele coloca meu rosto entre suas mãos, acariciando levemente minhas bochechas. Aproxima-se furtivamente – assim como a constelação de Escorpião parecia andar no céu – e cola seus lábios nos meus, tirando toda a minha concentração para qualquer outra coisa, qualquer que fosse ela. Nada mais importava a não ser Trish me beijando tão docemente.

Ah, Deus, como eu estava apaixonada por esse cara.

Minhas mãos sobem para sua nuca e se instalam ali. As suas descem um caminho lento pelas minhas costas, parando em minha cintura.

Seus lábios se separam dos meus, seus olhos continuam em mim.

Ele me abraça com tanta paixão que um suspiro passa por entre meus lábios cerrados, o primeiro suspiro feliz em muito tempo.

Ele me abraça e estende a garrafa de Heineken em minha direção. Pego a minha e junto as duas fazendo um barulho de vidro batendo um no outro.

— Um brinde à... Apenas um brinde. — Trish diz, um sorriso brincando em seus lábios.

Rio um pouco e dou um gole na cerveja, vendo Trish fazer o mesmo.

Continuamos bebericando nossas cervejas e conversando sobre o céu e constelações, seus braços em volta de mim era a minha única garantia de que tudo poderia ficar bem.

Ele beija minha testa, seus lábios aquecendo o lugar no mesmo instante e inesperadamente fala, sua voz como uma canção em meus ouvidos:

— Eu também estou apaixonado por você, minha Claire...


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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram? Espero que sim, reviews?
link da música do começo do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=thc1MtNagC8
link da música 6 months do hey monday: https://www.youtube.com/watch?v=g_0ICjcPZLI
link do book trailer pra quem ainda não viu: https://www.youtube.com/watch?v=f56kIkaf1UE
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