Fallen Angels escrita por Lívia Nunes


Capítulo 24
Cheiro de Doença, Morte e formol


Notas iniciais do capítulo

E ai pessoal, como foi o Natal/Ano Novo de vocês? Espero que tenha sido bem legal. O meu natal foi sei lá, estranho e diferente dos outros, meu ano novo foi super legal. Nunca fiz isso mas acho que essa é a hora certa para fazê-lo: Muito obrigada a todos vocês que acompanham a fic e sempre deixam sua opinião aqui nas reviews, vocês não sabem o quanto eu gosto disso e o quanto sou grata por vocês! Obrigado por tudo e um super obrigado especial para a Carol que recomendou a fic tem um tempinho, mas sempre me esquecia de agradece-la, fiquei muito feliz com a sua recomendação, e grata também! Bem, o que posso falar do capítulo? Finalmente vemos a relação de Trish e Claire, digamos, como realmente é. A tensão - sexual - entre os dois está bem presente nesse capítulo, haha. Enfim, vamos a leitura!



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We've all been lost for most of this life

(lost for most of this life)

Everywhere we turn more hatred surrounds us

And I know that most of us just ain't right

(most of us just ain't right)

Following the wrong steps, being led by pride

How many lives will we take

How many hearts destined to break

Nowhere to run, can't escape

Full of ourselves, tied to our fate

The end is knocking

The end is knocking

"Estivemos perdidos a maior parte da vida

(Perdidos a maior parte da vida)

Onde quer que vamos mais ódio nos cerca

E eu sei que muitos de nós não estamos certos

(Muitos não estão certos)

Seguindo os passos errados, levados pelo orgulho


Quantas vidas iremos tomar

Quantos corações destinados a sofrer

Não há lugar para correr, não dá pra escapar

Cheios de nós mesmos, presos ao nosso destino

O fim está batendo a nossa porta

O fim está batendo a nossa porta"

Cores, sons, cheiros e pessoas.

Minha mente estava uma tremenda bagunça. Não conseguia distinguir nada de nada, apenas conseguia ver um todo que não fazia o menor sentido.

Era como olhar um quadro abstrato em uma exposição, tentar entender o que o autor queria passar para você sem poder olhar na plaquinha informativa. Uma tarefa quase impossível para um leigo.

Pessoas, passos, sussurros. É o que eu ouço agora.

Sinto meu corpo parecer flutuar em uma dimensão paralela, tudo parecia mais leve que uma pena e eu sentia vontade de rir.

Sinto toda a extensão do meu corpo ser tocada por algo gelado, me fazendo arrepiar da ponta dos dedos até o último fio de cabelo. Minha pele parecia mais sensível a tudo a minha volta.

Um dos meus olhos é aberto, dando passagem a uma luz amarelada que faz minha retina queimar. Dedos experientes tocavam minhas têmporas e meu pulso.

—Ela ficará bem. Apenas a deixaremos em observação aqui no hospital por 24 horas. Ela parece ter tido uma queda de pressão brusca. Se você não tivesse chegado lá a tempo não sabemos o que teria acontecido. — Uma voz desconhecida diz, deixando meu corpo.

Que diabos eu estava fazendo em um hospital?!

Meus olhos se comprimem e piscam antes de eu conseguir, finalmente, abri-los. Minha visão demora alguns longos segundos para focalizar no teto de gesso esbranquiçado.

Olho para o lado e vejo uma enfermeira espetando a dobra de dentro do meu cotovelo, fazendo-me morder o lábio inferior com a picadinha da agulha penetrando a minha pele que parecia mais pálida que o normal.

Olho para o lado oposto de onde a enfermeira me furava e vejo Trish encostado na parede com os olhos em mim e assentindo para o médico que lhe falava algo que me parecia apenas um balbuciar de lábios. Fecho os olhos com força esperando que isso fosse um sonho. Eu odiava hospitais, cheirava a doença, morte e formol. Eu apenas... Odiava.

Antes que a enfermeira fechasse a porta, vi minha mãe com olhos desesperados vindo em minha direção no quarto, seus olhos castanhos estavam pálidos e assustados, as sardinhas nas bochechas pareciam mais visíveis – ela sempre as escondia sob uma pesada camada de maquiagem que na verdade não parecia maquiagem pelo fato do resultado sempre ficar natural.

— Claire! Ai meu deus, você está bem?! — Minha mãe diz, sentando-se na poltrona ao meu lado.

— Vou deixar vocês a sós. — Trish diz com um sorriso perfeito no rosto, saindo do quarto.

Minha mãe o olha com uma expressão devota no rosto.

— Muito obrigado, Trish. Obrigado por trazer minha filha ao hospital quando eu não pude. — Suspiro, aliviada, quando minha mãe diz o nome de Trish certo.

— Por nada Sra. Blanc.

Ouço a porta se fechar suavemente e passos leves desaparecerem no corredor.

Quando minha mãe volta o olhar para mim vejo que seus olhos estavam marejados.

Começo a falar, mas minha mãe me interrompe.

— Claire, deus, se acontecesse algo a você eu nunca iria me perdoar. — Ela diz e começa a chorar. Puxo seu rosto e o deito em meu colo, fico mexendo suavemente nos cabelos ruivos e sedosos de minha mãe. Ela chorava silenciosamente com a cabeça encostada em meu colo.

— Shh, não aconteceu nada comigo, mamãe. — Tento acalmar mamãe, mas eu também estava à beira de uma choradeira então não deve ter resolvido muito. Sinto uma lágrima intrusa descer pela minha bochecha. — Eu sei que você viaja muito a trabalho, mamãe, mas nada disso é escolha sua. É seu trabalho e você deve fazê-lo.

— Mas se Trish não tivesse chegado a tempo... E eu não estava em casa... — Mamãe diz com a voz embargada.

Suspiro baixinho e beijo a cabeça de mamãe, sentindo o cheiro de seu shampoo favorito, o que me acalma de imediato.

— Nada aconteceu, mamãe. Nada vai acontecer, fique tranquila. Eu te amo.

— Eu te amo tanto, querida.

Mamãe sobe o corpo e me abraça e era exatamente o que eu precisava naquele instante. Sinto seu coração se abrir e me abraçar, me aquecendo por dentro.

Não aguento mais e as lágrimas irrompem dos meus olhos, lágrimas guardadas há muito tempo. Lágrimas que esperavam o momento certo para escapar.

Choro por minha mãe estar triste com o acontecido, choro por Trish, choro pela minha nova vida que se iniciava, choro por não ter aproveitado a normalidade quando eu a tinha... Mas como diziam: você só dá valor depois que você o perde.

Abraço minha mãe forte, esperando que assim tudo se esvaeça e vire apenas uma neblina calma, que logo desapareceria. Espero com veemência por isso, por longos minutos quando percebo que isso nunca aconteceria, que era uma questão minha e interna, era algo com o qual eu teria que lidar o resto da minha vida.

Ao menos eu teria Trish. Eu sabia que poderia contar com ele sempre, que ele sempre iria estar ao meu lado e isso era, no mínimo, reconfortante. Saber que quando eu precisasse seus braços estariam ali para me segurar seja qual fosse o motivo, saber que ele estaria ali a qualquer momento para me dizer palavras que me fariam bem, que me faria entender as coisas de um modo simples e claro, exatamente como ele era. Trish era a única coisa que me fazia entender completamente tudo o que tinha acontecido nos últimos oito meses. Todas as duvidas, receios, medos e tristezas pelo qual eu tinha passado antes de conhecê-lo se dissiparam no momento em que eu o conheci no corredor da minha escola. Foram poucos minutos, que mesmo que na hora eu achava que era apenas mais um cara lindo e novato na County High School, no fundo do meu âmago eu sabia o que ele era na realidade, e eu sabia que minha alma sempre pertenceria a ele. Os olhos azuis celestiais e profundos provavam isso a cada segundo que eu os olhava e isso era extasiante. Ele me teria para sempre, por maiores que sejam os obstáculos que surgiria – eu sabia que surgiria, eu já tinha ido de encontro com um – eu seria sua, sempre. Caleb... Era um caso a ser pensado. Eu me sentia totalmente exposta quando estava com ele. Não sabia se era algo ruim ou bom, mas era algo intenso. E eu teria que lidar com isso, descobrir o que era aquilo que eu sentia quando estava com ele. Desconfiava que fosse apenas meu corpo me traindo. Era algo denso e difícil de respirar. Era como tentar enxergar através de uma neblina densa e cinza...

Ouço a porta abrir e vejo a enfermeira entrando novamente no aposento, seguida por Trish.

—A mocinha teve uma queda de pressão muito brusca, ela precisa mesmo descansar. — A enfermeira diz com um sorriso dócil no rosto antes de continuar. — Vou colocar algo que ajude isso no soro, dentro de alguns minutinhos ela estará dormindo como um anjo. O horário de visitas acaba daqui a quinze minutos.

A comparação casual e simples me deu arrepios, olhei de soslaio para Trish ele parecia transparecer uma calma cuidadosamente fingida. Ninguém parecia perceber isso, só eu.

Mamãe me olha mais uma vez e um pedido de desculpas estava claro em seus olhos. Sorrio e acaricio seu rosto rapidamente e vejo quando a enfermeira coloca algum remédio no soro que me apagaria logo.

Depois de alguns minutos mamãe sai do quarto me desejando um bom descanso.

Trish vem em minha direção e ele parecia ser três pessoas, minha visão já estava ficando meio embaçada e suspeitava que se eu abrisse a boca para falar qualquer coisa que fosse, apenas sairia palavras sem coesão e palavras ininteligíveis.

Sinto seus lábios nos meus rapidamente, seus olhos azuis perfurando os meus.

— Eu te amo.

E caio na inconsciência.

****************************

Acordei com uma sensação estranha.

Como se eu estivesse dormido na melhor parte do filme. Abro os olhos e minha visão estava desfocada. A única coisa que eu enxergava era a luz forte que saia da janela do quarto do hospital. As paredes de um amarelo claro pareciam tristes. Uma silhueta de cabelos escuros estava sentada na poltrona ao lado de minha cama, o tornozelo descansado no joelho em uma posição casual e confortável.

Fixo o olhar ali e à medida que meus olhos voltam ao estado normal vejo que é Trish.

— Bom dia. — Ele diz com o meu sorriso no rosto. Ele chegava aos olhos.

Involuntariamente meus lábios se abrem em um sorriso.

— Bom dia.

Ele ainda sorria quando se levanto da poltrona e veio em minha direção, beijando minha testa suavemente.

Meus pensamentos já confusos se embaralham ainda mais e eu esqueço o meu próprio nome.

— Onde, hm, onde minha mãe está? — Pergunto, a mente ainda um pouco bagunçada.

— Foi pegar umas roupas para você, o médico irá te dar alta.

Suspiro, aliviada.

Era sempre uma boa notícia saber que você não precisaria mais ficar em um hospital. Pelo menos para mim sempre era bom saber.

A porta se abre – de novo – e a mesma enfermeira de ontem entra com uma badeja bege na mão.

— Hora do café-da-manhã. — Ela diz, apertando algum botão do lado da cama e misteriosamente uma mesinha abre na cama. Era mágico.

Provavelmente essa enfermeira gordinha e de olhos simpáticos foi a melhor enfermeira que já conheci. Na verdade a única enfermeira simpática que conheci. Meu histórico de enfermeiras não era pra lá de muito bom.

Ela sai do quarto com um sorriso e novamente estou sozinha com Trish no aposento, o barulho quase inaudível do ar condicionada me acalmava.

Dou um gole do suco de morango – que parecia natural e me surpreendo quando o gosto me agrada. Eu estava com sorte.

Mordisco um pedaço do bolo e Trish me observada minuciosamente, me deixando sem graça.

— Coma direito, Claire. Seu organismo ainda não está completamente bem e você precisa de algum nutriente ai dentro. — Ele diz em tom de brincadeira.

Não era mentira, eu me sentia mais fraca e pálida que nunca. Tinha sorte que hoje era sexta-feira e eu teria dois dias pela frente para me recuperar.

Assim que termino de comer, Trish tira a bandeja da mesinha, colocando-a em cima de outra na parede em que ele havia ficado encostado na noite anterior e aperta o mesmo botão que a enfermeira apertou para a mesinha magicamente aparecer, e ela desaparece.

Ele senta na beirada da minha cama e olha para mim. Eu não conseguia desviar de seus olhos.

— Antes que você fale alguma coisa — Digo, quando percebo que ele iria falar. — Eu acredito em você. Acredito em cada palavra que você me disse ontem, não acho você um maluco apesar de que seria mais sensato se eu pensasse isso, o que me faz eu me sentir uma louca por ter acreditado tão fielmente em você. Mas se eu falasse que não havia acreditado em nada e te expulsasse da minha casa eu estaria mentindo para você e pior ainda: eu estaria mentindo para mim mesma, porque todas as minhas terminações nervosas dizem que você estava falando a verdade e não é algo que eu possa questionar, eu também sinto que é.

Puxo uma lufada de ar quando termino, fazendo minha cabeça rodar um pouco.

Sua expressão fica um pouco mais leve e ele toma meu rosto em suas mãos, fazendo eu me sentir pequena e frágil.

Ele parecia querer falar algo, mas preferiu colar seus lábios nos meus e eu me sentia tremendamente grata por isso.

Seus lábios faziam uma pressão nos meus desesperadora, como se nós tivéssemos perdido muito tempo enquanto estávamos separados – e eu concordava, feliz, com isso.

Nossas línguas se acariciavam com paixão, seus dedos trilhando um caminho tortuoso pelas minhas costas, minhas mãos puxando suavemente os cabelos da nuca, e se não estivéssemos em um quarto de hospital eu tinha medo – e gostava - do que poderia acontecer.

Somos interrompidos por um pé batendo no chão. Viro-me rapidamente para o barulho e vejo a enfermeira gordinha e de olhos simpáticos olhando para nós como se quisesse rir.

— Sua mãe já assinou os papéis da alta, você já pode ir, querida. — Ela diz com um sorriso no rosto e deixa uma bolsa em cima da cama. Reconheço a minha malinha, minha mãe deve ter trago roupas.

Minha face ainda estava tingida de vermelho pela vergonha, pego a alça da malinha rapidamente e vou para o banheiro do quarto, sussurrando um obrigado ao passar pela enfermeira que me lança um sorriso.

Tomo uma chuveirada gelada para tentar dispersar a letargia doente que se espalhava pelo meu corpo, desligo o chuveiro e seco o cabelo com um secador que minha mãe tinha deixado dentro da bolsa.

Coloco a roupa rapidamente e saio do banheiro, meu cabelo seco batia em minhas costas.

Trish me olha de um modo tão intenso que me sinto despida em sua frente, mordo o lábio inferior e os olhos de Trish são atraídos para ali.

Calço o tênis rapidamente e saio do quarto com afobação, como se eu demorasse mais cinco minutos ali eu ficaria presa eternamente naquele quarto triste.

Ando pelo corredor com Trish ao meu lado segurando minha mãe, mamãe nos vê e me abraça rapidamente e saímos do hospital.

O ar gelado que pairava no ar me assustou um pouco, me despeço de Trish com relutância, ele me dá um beijo na bochecha que faz minha face queimar, se despede de minha mãe – que ainda estava grata por ele ter me trago para o hospital – e entra dentro de seu carro, vejo ele desaparecer no final da rua. Suspiro.

Abro a porta de trás e jogo minha malinha lá dentro, fecho-a e entro no carona. O friozinho do ar condicionado me dava vontade de dormir e o tempo também ajudava nisso.

— Você parece estar cansada. — Mamãe observa, acelerando o carro pela rua.

— Sim, acho que estou.

Encosto a cabeça na janela, o vidro frio em contato com minha pele era reconfortante.

Vejo as lojas, árvores e casas passarem como um borrão pela minha janela enquanto afundava em meus próprios pensamentos.


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Notas finais do capítulo

E ai pessoal, gostaram? Eu particularmente gostei do capítulo, hehe, acho que vocês sabem o porque. Enfim, bora para as reviews? Até o próximo capítulo!