Fallen Angels escrita por Lívia Nunes


Capítulo 21
Triângulos e deixas


Notas iniciais do capítulo

Oie pessoal! Ok, vocês já podem me matar. Poderia ficar aqui explicando e explicando o porque de tanta demora para postar o capítulo, mas sério, NUNCA irei deixar Fallen Angels, definitivamente NÃO! Amo muito escrever essa história, mesmo. A única coisa que tem me desanimado é ver que muitas pessoas que comentavam em FA antes, simplesmente desapareceram e o bloqueio criativo que todo autor passa (o que é SUPER normal). Enfim e afins, apenas leiam!



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Cada célula, cada entranha de meu corpo dizia pra eu dar meia volta e ir embora.

Você não deveria estar aqui, Claire. Você não deveria sentir isso. Meu eu pensante e racional indagava, e parte de mim sabia que era verdade.

Você precisa encarar isso, Claire. É algo pelo o qual você deve e precisa passar. A parte mais emocional dizia, e a outra metade de mim sabia que isso também era verdade.

Metade de mim desejava insanamente uma coisa, e enquanto a outra metade sabia que a outra não perduraria, e que essa sim permaneceria para sempre.

I don't know why you fail me

I don't know how you dare

Stay calm now

Stay calm...


Meu despertador matinal tocava, me fazendo querer afundar ainda mais no estado de quase inconsciência.

Meu cabelo estava espalhado pelo travesseiro e a luz ofuscante de mais um dia ensolarado brilhava pela minha janela dizendo que já era hora de acordar. Enfrentar mais um dia.

Os pensamentos que tive antes de acordar estavam embaralhados uns aos outros. Há cinco minutos eu entendia perfeitamente o que se passava em minha mente, e agora, não entendia e não via sentido nas palavras pensantes aleatórias que vinham a minha cabeça.

Suspiro duas vezes antes de tocar a ponta de meus dedos do pé no chão gelado de linóleo.

Tomo uma ducha rápida e visto a primeira roupa que vejo no guarda roupa, correndo escada abaixo.

Estranhamente eu me sentia ansiosa para ir para a escola, como se algo realmente diferente fosse acontecer. Dificilmente isso iria se concretizar.

Mamãe não estava em casa – não que isso fosse novidade – o que me deixava livre de suas indagações sobre o meu mísero café-da-manhã.

Mastigo rapidamente minha barra de cereal e engulo o suco de laranja direto da caixa. Com certeza minha mãe não aprovaria isso.

Olho para o relógio embutido na parede da cozinha e me espanto quando vejo que estava quase atrasada.

— Droga. — Digo quando bato a pontinha do dedão do pé no batente da porta ao sair apressada de casa. Entro no Jaguar e suspiro, aliviada, ao sentir os cheiros do estofado de couro entrar em minhas narinas. Acelero pela estrada, vendo os pinheiros altos pela visão periférica. Alguns deles eram tão altos que eu jurava que conseguiam ultrapassar o véu fino de nuvens que caiam sobre o céu de um azul celestial. Hoje, definitivamente, era o dia mais bonito do ano.

Assim que entro no campus da escola, vejo algumas meninas dos Fellcats ensaiando a nova coreografia para as regionais na grama verde. O dia hoje ajudava e seria de extremo desgaste físico, teríamos que ensaiar praticamente o dia letivo inteiro. As regionais eram dali a duas semanas.

Suspiro mais uma vez ao sair do Jaguar.

Olhos azuis – celestiais como o azul do céu do dia de hoje – penetraram os meus e eu podia jurar que ali mesmo, em algum lugar distante, faíscas brilhantes explodiram.

Minha garganta aperta, o meu couro cabeludo se arrepia apenas por ver ele. Sentia que se ele me tocasse agora, eu entraria em combustão espontânea ali mesmo.

Infelizmente – ou felizmente – ele atravessa o campus e vem em minha direção. Meus músculos travam e eu simplesmente não conseguia me mexer, me mantendo na mesma posição de quando meus olhos encontraram os dele. Abro as mãos, balançando-as ao lado do corpo em uma tentativa frustrada de parecer normal.

— Claire. — Trish acena com a cabeça e enfia as duas mãos no bolso da calça escura Levi’s.

Passo os olhos, tentando ser rápida e minuciosa, em sua camisa de linho branca, no suéter azul marinho pendurado em seu ombro propositalmente.

Suspiro pela terceira vez desde que eu acordei.

Ele me olha em duvida.

— Ei Trish. — Digo do modo mais despreocupado que consigo.

Ele me avalia silenciosamente mais uma vez e se aproxima um passo. O ar parece desaparecer e cada nervo parece atrofiado. Tudo o que eu queria era seus lábios em meu corpo.

Começo a fechar os olhos antes mesmo dele se aproximar mais, o que incita nele um convite explicito.

Seus dedos seguram meu rosto com delicadeza, sinto seu hálito quente rodar e pairar em volta de minha face, aquecendo-me de imediato.

Quando seus lábios estavam a menos de dois centímetros de se juntarem, alguém pigarreia propositalmente ao nosso lado. Subitamente viro-me na direção do som.

Meu coração falha incontáveis batidas ao ver os olhos incrivelmente pretos, mesmo a luz do dia eu era incapaz de distinguir a pupila da cor de seus olhos. Sua pele branca fazia um contraste sinistro e exorbitante com os cabelos negros e os olhos da mesma tonalidade.

— Claire... Trish. — Caleb se dirige a Trish como se fosse forçado a fazê-lo.

Trish apenas balança a cabeça e força um sorrisinho comedido no rosto.

Eu estava entre Trish e Caleb, de todas as formas pensáveis e impensáveis. Literalmente falando.

Cada célula, cada entranha de meu corpo dizia pra eu dar meia volta e ir embora.

Você não deveria estar aqui, Claire. Você não deveria sentir isso. Meu eu pensante e racional indagava, e parte de mim sabia que era verdade.

Você precisa encarar isso, Claire. É algo pelo o qual você deve e precisa passar. A parte mais emocional dizia, e a outra metade de mim sabia que isso também era verdade.

Metade de mim desejava insanamente uma coisa, e enquanto a outra metade sabia que a outra não perduraria, e que essa sim permaneceria para sempre.

Um choque atravessa meu corpo quando, de imediato, reconheço minhas próprias palavras.

Eu as havia pensado quando estava acordando, entre a consciência e a inconsciência.

Meu corpo treme levemente, mas Trish e Caleb parecem perceber, seus olhos virando-se em minha direção.

— Ok, eu não vou participar disso, realmente não. — Digo, estendendo as mãos na frente do corpo como se me rendesse a eles.

Começo a andar em direção a porta dupla da escola, onde vários alunos entravam no momento.

A cada passo que me afastava deles, via que minhas palavras estavam totalmente erradas. Eu disse que não participaria daquilo, e mesmo falando o que eu falei, a decisão cabia a mim, somente a mim.

**************************

Parecia que eu tinha algum tipo de “controle do tempo” e tivesse apertado o play rápido de mais. Tudo tinha passado rápido de mais, na verdade. Estávamos no quarto tempo, ensaiando Romeu e Julieta para a peça antes do Spring Break.

Trish simplesmente não conseguia tirar os olhos de mim, acompanhando o menor movimento que fazia. Na maioria das vezes simplesmente ignorava e fingia que não estava vendo ele me observar minuciosamente.

Tinha me encontrado com Caleb, “por acaso”, como ele diz. O que eu realmente desconfiava, pois a cada “encontro por acaso” que eu tinha com Caleb, tinha cada vez mais certeza de que ele sabia exatamente onde eu estaria e com quem estaria.

Apenas joguei um “Você está realmente querendo entrar na minha vida, não é?” em sua cara e ele me devolveu um “Claramente, algo em você me faz querer ir mais fundo”. Apenas o ignorei e continuei meu percurso para o refeitório, logo encontrando com Jen.

— Srta. Blanc? — O Sr. Banner pergunta, me tirando da deriva repentina.

— Hm, você poderia repetir a pergunta, Sr. Banner? — Pergunto, sem graça e os outros atores da peça que se encontravam no auditório da escola caíram na gargalhada.

— Eu perguntei se você tem alguma oposição sobre as mudanças de lugares na cena da janela? — Ele diz, como se fosse bufar a qualquer momento.

— Não, não.

Trish ainda continuava a me olhar, porque ele simplesmente não olhava as paredes?!

— Certo! Vamos agora ensaiar a cena do beijo que ainda não ensaiamos.

Olho, exasperada, para Trish e ele parecia confortável com isso.

— Vamos lá: Romeu e Julieta estão em uma conversa difícil, imaginem e focalizem como se estivessem com raiva um do outro, mas não conseguissem ignorar a tensão, digamos, sexual entre ambos.

Aimeudeus, isso se encaixava tão perfeitamente com a situação. Isso definitivamente não foi ironia.

Eu lembrava perfeitamente das falas dessa cena, eram curtas e simples. Ignorei o papel e fui para frente de Trish, aproximando-me um passo. Ele fez o mesmo.

Se minha mão profana o relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio, peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência. — Trish – ou Romeu - diz, seu lábio inferior tremendo um pouco no final da frase.

Suspiro, hora de atuar – ou nem tanto -.

Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se mostrou devota e reverente. Nas mãos dos santos pega o paladino. Esse é o beijo mais santo e conveniente. — Digo com certa ironia explicita no final da frase. Todos sabiam: nesse beijo entre Romeu e Julieta não tinha nada de Santo ou conveniente.

Todos os outros atores tinham parado suas atividades para nos ver atuando, isso deveria ser algo bom.

Os santos e os devotos não têm boca? — Trish diz, aproximando-se um passo, ficando muito perto de mim.

Sim, peregrino, só para orações. — Digo, as palavras saindo meio cortadas, ofegantes, esperando pelo momento em que teria, finalmente, os lábios de Trish nos meus.

Deixai, então, ó santa! Que esta boca mostre o caminho certo aos corações. — Trish diz, falando em tom de conversa, mas gritos de desejo irrompendo no final de cada palavra.

Sem se mexer, o santo exalça o voto. — Digo, minhas mãos formigando.

Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados. — Trish diz, e finalmente, oh, finalmente seus lábios estão nos meus e tudo o que eu consigo fazer é me entregar no momento, esquecendo completamente que naquele momento, éramos apenas Romeu e Julieta. Ah sim, em minha cabeça éramos Claire e Trish.

Suas mãos passeiam fervorosamente pela minha face, e quando penetravam o caminho pelas minhas costas o sinto parar, devagar. Ele parecia estar entregue como eu estava, mas precisávamos lembrar de que estávamos no auditório, mais de vinte pessoas nos viam agora.

E o diálogo ainda não tinha acabado.

Que passaram, assim, para meus lábios. — Digo, os olhos ainda fechados com o beijo atordoante de Trish.

Pecados meus? Oh! Quero-os retornados. Devolva-os. — Trish diz, agarrando meus braços novamente e puxando-me para perto.

Beijais tal qual os sábios. — Digo, e o diálogo acaba. Trish solta meus braços, parecendo relutante e dá um passo para trás. Faço o mesmo.

Dois segundos passam e todos ali continuam em silêncio, como para digerir tudo o que tinham acabado de ver.

E logo nós somos assolados por aplausos de todos os lados. Sinto-me orgulhosa, coisa que nunca iria deixar de existir em mim da velha Claire.

Vejo Trish olhar-me de soslaio.

Sorrio com a ponta dos lábios, ele vê e sorri de volta.

*******************************

— Minha tia vai vir me buscar hoje. — Jenna diz, triste quando estávamos saindo da escola, indo em direção ao Jaguar. — Gostaria que pudesse vir conosco.

Ela faz carinha de cachorro abandonado e dou um tapa em seu braço.

— Qual é, Jenna. Pare com essa cara agora, tenho que estudar para álgebra.

Ela ri antes de faze a carinha de cachorro abandonado novamente.

— Sem essa! — Digo e dou outro tapa em seu braço.

Um Audi prata para no estacionamento e Jen acena, a mulher de cabelos longos e loira acena de volta. Aceno também quando reconheço Molly, a irmã mais nova da mãe de Jenna. Ela era bem divertida. Ela acena para mim com um sorriso no rosto.

— Tenho que ir, não me deixe de fora dos babados, por favor! — Ela diz e se afasta, virando para mim e lançando um beijo com a mão, aceno.

Volto-me para o Jaguar e quando vou sentar na poltrona do motorista vejo um papel de caderno rasgado e dobrado ao meio.

Olho para os dois lados do estacionamento praticamente vazio instintivamente antes de desdobrar o papel em minhas mãos.


Sei que sua mãe não estará em casa hoje e mesmo que você me impeça, irei ir a sua casa hoje à noite. Há coisas que você precisa saber.

Trish


Meus dedos tremem involuntariamente e fico sem saber se é por causa do vento repentino ou por causa de que Trish iria a minha casa hoje. Ele estava certo: Mamãe tinha viajado a Laguna Beach para outra das conferências de sempre, ela havia me mandado uma mensagem de texto avisando isso. Só queria saber como ele sabia isso.

Pensando bem eu realmente não queria saber.

Suspiro e enquanto acelerava de volta para casa, pensava que Trish estava totalmente enganado: Eu não o impediria de ir a minha casa.

**********************

Depois de vestir uma roupa leve e fresquinha, e de ter recebido uma mensagem de texto de Trish, dizendo que iria aparecer na minha casa lá pelas oito da noite, sento-me a mesa da cozinha, sozinha e como a macarronada que tinha pedido.

Depois de terminar, lavo o prato e o copo que sujei e me apoio na bancada da cozinha, o coração começando a palpitar mais rápido no peito, e eu sabia exatamente por qual motivo. Já eram sete e meia da noite, e a cada batida dos segundos do relógio embutido na cozinha, mais doses de desespero eram injetados em minhas veias, ficava cada vez mais difícil controlar essa... Sensação angustiante era o adjetivo mais próximo, mas não chegava nem perto. Que antítese, ou seria mesmo um paradoxo?

Suspiro, meus pensamentos estavam bagunçados de mais para me deixar pensar com alguma clareza.

Já havia estudado álgebra e já tinha gravado todas as fórmulas e equações da apostila, mas resolvo soluciona-las novamente em uma tentativa de esquecer um pouco o fato de que dentro de vinte e cinco minutos ele estaria aqui.

Minha mente foi colocada no modo automático e começo a resolver as equações sem dificuldade, o que realmente era um milagre. Então era esse o segredo para ser bem sucedida nas aulas de álgebra? Não pensar em nada? Realmente acho que é essa a fórmula de como se dar bem em álgebra ou qualquer outra coisa que envolvesse números.

Provavelmente eu não conseguiria fazer isso amanhã, então esperava usufruir totalmente da minha disposição a álgebra hoje.

A campainha me desperta das equações e me coloca de volta na realidade. Olho o relógio: oito horas em ponto.

Meu coração já tinha acelerado e entre umas batidas e outras, falhava. Fecho a apostila e o caderno e coloco-os em uma pilha arrumada na mesa da cozinha, a passos trôpegos vou até a porta. Abro-a.

Seus olhos encontram os meus e tudo se perde. Desde o sentido do nervosismo até ao meu encantamento ridículo por Caleb. Tudo parecia ridículo quando estava com Trish, era muito simples: eu o queria, ele me queria. Porque eu tinha que complicar tanto as coisas?

— Claire. — Sua voz ecoa em minha cabeça.

Abro mais a porta e faço menção para que Trish entrasse. Ele o faz.

— Oi Trish. — Digo, fechando a porta rapidamente e me virando para Trish, apenas para ver que ele estava mais perto do que o esperado.

— Nós realmente precisamos conversar. — Trish diz.

Fico entre a porta atrás de mim, Trish a minha frente e sua afirmação entre nós.


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Notas finais do capítulo

E ai pessoal? Sei que muitos irão querer me matar por ter acabado o capítulo exatamente NESSE momento, mas se eu fizesse o capítulo + a parte em que eu acabei o capítulo iria ficar SUPER longo! E sei quão cansativo às vezes é ler um capítulo muito grande, por isso que ultimamente eu tenho maneirado neles. Vocês também podem perceber que agora tem links anexados nas roupas que Claire usa, gostaram da ideia? Eu particularmente gosto quando estou lendo uma fic e o autor coloca links de cômodos, roupas dos personagens etc, deixa a história mais real! Muitos também estavam me pergunto por MP para postar uma foto do carro da Claire, aqui está:
Exterior: http://wp.zap.com.br/autos//2009/09/jaguar-recall.jpg
Interior: http://bimg2.mlstatic.com/jaguar-x-type-25-awd-prata-bagunca-automoveis_MLB-F-2894880183_072012.jpg
Enfim e afins, deixem sua opinião sobre o Jaguar, o link, se gostaram da ideia, e claro, opiniões sobre o capítulo! XX
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Tava editando a fic e vi que não deixei um aviso importante: TALVEZ (não criem expectativas ok pessoal? rs) no próximo capítulo, ALGO MAIS irá acontecer entre Trish e Claire (sim, é exatamente por esse motivo que aumentei a faixa etária da fic e adicionei nos avisos: SEXO) bem, só não sei ainda como descrever o fato em si. Não sei se vocês estão acostumados com um hentai pesadão, mas acredite, mesmo que eu descreva algo não será assim. Vai ser uma coisa bem leve, puxada para o lime*. Vai descrever o ato, mas não totalmente. Queria a opinião de vocês sobre esse assunto também (ok, chatice level insano). Enfim e afins, é isso pessoal, XX.
* = para quem não lembra o que é Lime: utilizado quando as cenas de sexo são apenas sugeridas, sem detalhes ou quando há apenas erotismo na estória.
Não que FA vá virar uma fic erótica, longe disso pessoal.