Fallen Angels escrita por Lívia Nunes


Capítulo 19
Reencontro e incidente


Notas iniciais do capítulo

E ai pessoal, como vão? Bem, acredito que não demorei tanto para postar o capítulo, e acredito que por mais que ele esteja meio sem ação, está bem revelador sobre a relação Claire-Caleb, que vocês irão saber de quem se trata nesse capítulo. Aqui está a lista das músicas que eu ouvi para fazer o capítulo:
Flightless Bird, American Mouth - Iron & Wine
Naked as we came - Iron & Wine
Cinder And Smoke - Iron & Wine
Fever Dream - Iron & Wine
Each Coming Night - Iron & Wine
Closer - Travis
Turning Page - Sleeping At Last
Lucky - Colbie Caillat feat. Jason Mraz
Northern Wind - City and Colour
Silver and Gold - City and Colour
Sem mais delongas, vamos a leitura!



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O suor fazia os fios de cabelo de minha nuca grudar em minha pele exposta.

Meu coração batia ruidosamente.

O ar em volta de mim pairava denso, pesado de se respirar. O que acabara de acontecer não fazia sentido e eu mal havia tido tempo para tentar compreender.

O despertador em minha cabeceira me libera da letargia e eu saio da cama, ainda grogue e com a mente turbulenta.

Tomo um banho rápido e revejo o que posso fazer em um sábado de manhã.

Nada me vem a cabeça.

Suspiro pesadamente e fecho a porta do guarda roupa com raiva, o barulho ecoa por todo o cômodo em uma imensidão de segundos. O celular toca e eu corro para pega-lo. Atendo no terceiro toque.

— Alô?

Wake up sleepyhead! — Jenna grita do outro lado da linha.

—Azure Ray, sério? — Digo em tom de deboche.

— Vi umas músicas dela e amei! Já ouviu? — Jenna pergunta.

— Sim, mas para que você me ligou mesmo as — Olho para o relógio na cabeceira rapidamente. — sete e meia da manhã?

Jen dá uma risadinha.

— Desculpe, mas você já olhou pela sua janela? Se ainda não, olhe agora.

Inconscientemente viro-me para a janela e fico abismada quando vejo o céu totalmente azul, manchado apenas com algumas nuvens brancas. O amarelado do sol entrava pela minha janela e acariciava minha pele.

Fito a luz passar de um dedo para outro em minha mão.

— O. Céu. Está. Perfeito. Praia. Agora! — Digo pausadamente, dando ênfase em cada palavra.

— É exatamente isso que estava pensando, só nós duas, praia, surfistas gatos e limonada. Já estava precisando de um bronzeado.

— Ok, passo ai daqui a trinta minutos.

Depois de se despedir rapidamente, Jen desliga a ligação.

Pego meu biquíni branco novo que esperava um dia ensolarado para ser usado e troco de roupa rapidamente. Penteio o cabelo e prendo-o em um coque alto, alguns fios escapando dele. Suspiro e desisto de tentar prender o cabelo.

Passo um gloss rápido e coloco short jeans lavado com uma blusa solta branca que deixava um ombro a mostra.

Jogo dentro de uma bolsa grande celular, carteira, documentos e protetor solar.

Desço a escada de dois em dois degraus.

— Mãe? — Pergunto indo em direção a cozinha e vejo mamãe com um jornal sobre a mesa e uma xícara de café ao lado.

— Bom dia, querida. — Ela diz com a voz sonolenta e dá um longo gole em seu café.

— Bom dia, mãe. — Digo e deposito um beijo em sua bochecha esquerda.

Abro a geladeira e pego o suco de laranja, colocando-o em um copo.

— Vai sair com Jenna? — Mamãe pergunta com os olhos voltados para o jornal. As pernas cruzadas.

— Sim, algum problema?

— Não, claro que não. É até bom que você saia hoje, vou ter que ir ao Briot’s, Jude está precisando de ajuda com algo.

Novidade.

Mamãe carregava desde sempre o restaurante em que era sub dona nas costas, sozinha. O dono não fazia nada a não ser comer sua macarronada e ficar cada vez mais gordo. Já estava velho o suficiente para se aposentar e eu ainda me questionava o porquê dele não faze-lo.

Mamãe falava que ele já estava resolvendo a papelada para passar o estabelecimento para o seu nome, que dali a alguns meses – ou anos – ele se aposentaria e o Briot’s seria oficialmente seu. Digno, mamãe que fazia tudo acontecer naquele lugar.

— Ah sim, não chegarei muito tarde. — Digo entre um gole e outro do suco de laranja.

— Certo, qualquer coisa me ligue.

Mães.

— Claro, até mais. — Digo, saio da cozinha em direção a porta da frente e dando outro beijo na bochecha de minha mãe.

Pego a chave do Jaguar na cômoda da sala antes de sair porta a fora.

Depois de alguns segundos estou dando a partida no carro, indo de encontro a casa de Jen.

                                      ***********************

Aimeudeus, você viu aquele surfista? — Jenna diz olhando na direção de um surfista loiro, bronzeado e de olhos azuis por trás de seu óculos escuro.

Ajeito meu Ray Ban no rosto antes de responder, categoricamente:

— Bonitinho, mas prefiro aquele ali. — Digo e aponto para outro surfista que acabara de sair da água, os pingos desciam pelo abdômen perfeito se perdendo em algum lugar depois disso... Os cabelos negros faziam um contraste com a pele clara, os olhos eram escuros e de onde eu estava, não conseguia distinguir onde terminava ou começava a pupila.

— Nossa, que gaaaaaato. — Jenna diz seguindo meu olhar.

Um frio diferente desce por minha espinha quando reconheço quem era em uma batida de coração.

A forma. No meu quarto. Engulo a seco. Não poderia ser.

Como isso podia estar acontecendo?

A forma em meu quarto era uma ilusão criada por mim mesma, não tinha como ser verdade!

Mesmo se fosse, como uma pessoa normal poderia desaparecer diante de seus olhos?

Não, não tinha como isso ser verdade. Mas se era, isso não era nada bom.

— Claire para a terra! — Jenna diz balançando a mão diante de meus olhos.

— Vou comprar algo para beber. — Levanto bruscamente e vejo Jen me olhar em duvida.

— Hm, ok. — Ela responde ainda em duvida, mas vira-se para frente e começa a folhear uma revista da Vogue.

Enfio uma nota de dez dólares no bolso e vou em direção a uma lojinha de bebidas do outro lado da rua, em frente a praia.

Sinto olhos fuzilando minhas costas e tento ignorar a vontade súbita de olhar para trás e ver por mim mesma quem era.

Mas não consigo.

Quando entro na loja, assim que o sininho da porta toca ao abrir, viro-me para trás e vejo os mesmos olhos que me fitaram em meu quarto me avaliando através do vidro.

Um arrepio silencioso passa por meu corpo como uma onda elétrica.

Volto os olhos para a bancada e pego o primeiro refrigerante que vejo, pago para a mulher de expressão rabugenta e que me chamava silenciosamente de louca atrás do balcão e saio da loja.

Enquanto abria com dificuldade a lata de refrigerante sinto alguém se aproximar em minha frente, não levanto o olhar achando que a pessoa iria desviar de uma desvairada que andava apressadamente pela calçada, xingando e tentando abrir uma lata de refrigerante, mas ele não o faz.

Bato de frente com a pessoa que vinha em direção contrária a que eu ia.

— Droga. — Eu realmente já estava cansada de bater de frente com as pessoas.

Olho para cima apenas para fitar algo que eu já sabia: dois orbes pretas me fitando com curiosidade.

— Desculpe, e-eu estava distraída. — Minha voz falha ridiculamente.

A forma alta e esguia a minha frente dá um meio sorriso típico bad boy de filmes clichês que faz meu coração falhar uma batida.

— Eu sei disso. — Ele diz e o movimento de seus lábios pronunciando as palavras me tira a atenção. — Sou Caleb, a propósito.

Caleb estende a mão e eu a pego sem hesitar, o contato quente de sua mão na minha é estranho e bom.

— Claire. — Digo em algum tipo de torpor.

— Sinto que já vi você em algum lugar... — Ele diz e se eu não observasse bem, não veria um pingo de sarcasmo na frase.

Dou um meio sorriso.

— Acontece.

— Na verdade você me lembra muito uma pessoa, Claire. — Ele diz e vejo um traço de nostalgia em sua expressão, que logo volta ao normal, sarcástico e desencanado.

Fico sem saber o que dizer.

Não sabia o porquê de estar diante de algo que, sinceramente, eu não fazia a mínima ideia do que se tratava e estar tão pacífica, tão calma.

O que eu sentia quando estava com Caleb era intenso, e eu não conseguia saber por que diabos isso estava acontecendo!

Isso era ridiculamente inacreditável, se isso não estivesse acontecendo comigo mesma eu não acreditaria, é impossível de se acreditar em algo assim, na verdade.

Eu ouvia vozes – uma voz em específico -, sentia algo grande e arrasador por Trish (que eu desconfiava ser a voz que se comunicava comigo há algum tempo). Acordo e vejo uma forma se comunicar comigo e, ah, eu me sentia terrivelmente atraída por ele, que, no entanto, estava aqui em minha frente conversando animadamente.

 Minha vida tinha virado do avesso e a única coisa que eu poderia fazer é sentar e assisti-la ser destruída aos poucos.

Volto para a realidade e fito mais uma vez os traços de Caleb, duros e perfeitos.

— Hmm, tenho que voltar, tenho uma amiga me esperando na praia. — Digo segurando com força a lata de refrigerante, fazendo minhas articulações doerem.

— A loira?

— Sim.

— Ah, sim. Acabei de me mudar pra cá, acredito que nos veremos novamente. — Ele diz como se tivesse certeza disso.

— Seja bem vindo a Fell County: a cidade que todos ficam fazendo o que você faz. — Digo balançando as mãos ao redor de nós.

Ele dá uma risada grave antes de voltar os olhos para mim.

— Não ligo para as pessoas, a única pessoa que me importo que saiba o que eu faço está esmagando uma lata de refrigerante nas mãos. — Ele diz com olhos intensos.

 Minha expressão trava e eu não conseguia mover um músculo se quer.

Eu tinha ouvido isso mesmo?

Longos segundos se passam enquanto eu tento digerir o que eu tinha acabado de ouvir, Caleb ainda me fitava com a expressão divertida. Ele estava gostando da minha confusão interna.

— Acho que sua amiga está te procurando. — Ele diz com os olhos fixos em um ponto acima de meu ombro direito.

Sigo seu olhar e vejo Jen com os olhos cerrados por trás do óculos escuro tentando me achar do outro lado da rua.

Grito seu nome, mas havia muitas pessoas ali e dificilmente ela me ouviria.

E é então que tudo acontece simultaneamente.

Jen avança um passo para atravessar a rua e seguir para a loja de bebidas que eu tinha ido, provavelmente para me procurar, mas um carro vinha em alta velocidade e ela ainda não tinha percebido.

Só o que tenho tempo de fazer é empurrar as pessoas e correr em sua direção.

— Jenna, NÃO! — Grito, correndo na direção de Jen.

Forço meus pés para frente, tentando correr o mais rápido que eu podia, meus calcanhares doíam, mas eu não me importava.

Estico o braço em sua direção quando estava a menos de cinco metros de distância de Jen quando a coisa mais estranha acontece, muito mais estranho que o incidente com as minhas sapatilhas.

Jenna, não atravesse, não, você não pode. Penso inconscientemente, como se tentasse passar esse pensamento para ela.

Subitamente vejo Jen piscar os olhos e dar um passo para trás, voltando para a calçada.

Suspiro aliviada, mas horrivelmente cansada, como se eu tivesse corrido por duas horas seguidas sem descanso.

Sinto um liquido quente em meus lábios e levo os dedos ali e vejo que meu nariz estava sangrando, minha cabeça doía horrivelmente.

O que estava acontecendo comigo?

Uma mão aparece em minha frente, estendendo-me um lenço branco. Pego-o e limpo o nariz rapidamente.

— Está acontecendo... — Ouço Caleb sussurrar para si mesmo em tom vago.

— O que? — Digo, virando-me para ele novamente.

— Hm, nada, tenho que ir. Foi um prazer conhece-la, Claire. — Ele diz rapidamente e dá as costas para mim, logo saindo de minha visão.

Jogo o lenço na lixeira mais próxima junto com o refrigerante quente em minhas mãos.

Sigo de volta para onde Jen estava, e assim que sento ao seu lado novamente ela me olha com o cenho franzido.

— Onde você estava? Se perdeu no meio do caminho? — Ela diz sarcasticamente.

Quase isso.

— Me encontrei com, hm, um conhecido. — Digo, ajeitando o Ray Ban em meu rosto.

— Então tá.

Jen ainda parecia desconfiada, mas eu não podia contar pra ela ainda. Não aqui.

Eu só queria curtir um pouco um sábado comum, como uma adolescente comum, com problemas comuns, o que parecia se tornar cada vez mais difícil.

Claire, não confie nas aparências.

A voz ecoa repentinamente em minha mente, me deixando tonta.

Isso estava ficando cada vez mais estranho, a voz ultimamente só se manifestava quando... Bem, quando eu estava com Caleb. Será algum tipo de aviso? Caleb poderia me fazer algum mal? Eu não conseguia acreditar nisso, era impossível. Por mais que Caleb parecesse um típico bad boy, algo nele me parecia certo, como se eu o reconhecesse de algum lugar escondido em minha mente. Eu só não havia achado esse lugar ainda, mas eu encontraria uma maneira de conciliar tudo, entender tudo, e principalmente, dar um jeito nisso tudo.

Inclino a cadeira para trás e deixo o sol acariciar meu rosto, deixando a luz penetrar nos meus poros e assim talvez, me fazer ver tudo com mais clareza.


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Notas finais do capítulo

E ai pessoal, gostaram? Espero que sim, até o próximo capítulo! XX