Fallen Angels escrita por Lívia Nunes


Capítulo 16
Dança das Almas


Notas iniciais do capítulo

Bem, como vocês já devem ter percebido, o nome do capítulo está no mínimo forte. Desculpe pela demora da postagem do capítulo, mas estava passando por uma fase normal de bloqueio, espero que isso não volte a acontecer. Terminei o capítulo agora e não tive muito tempo para revisa-lo então se lerem algo meio sem sentido ou um errinho de português aqui ou lá, ignorem por favor! Um beijo e espero que curtam a leitura!



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— Porque você foi tão grossa com Trish? — Jen pergunta virando-se na cadeira do carona no carro para poder me olhar.

Aperto os dedos no volante e olho firmemente para a estrada a minha frente.

Olho de soslaio para Jen, ela percebe.

— O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM VOCÊ, CLAIRE? — Ela pergunta, sua voz ecoando por todo o carro.

Eu bem que queria saber.

Engulo a seco antes de respondê-la.

— Nada Jen, eu só queria ir logo. Nós temos que nos arrumar esqueceu? — Digo em um tom de animação.

Ela me olha de relance mais uma vez e parece esquecer o assunto por hora.

— Ah sim! Eu estou tãããão animada! — Ela diz quase quicando na poltrona do Jaguar. — Fiquei sabendo que uns garotos da liga de futebol americano da nossa escola do terceiro ano também irão, isso vai ser definitivamente muito bom. — Ela diz e dá uma risadinha.

Tive que acompanha-la.

Jen começa a tagarelar sobre como os jogadores do terceiro ano eram gostosos e que um deles mostrara interesse nela. E quando pergunto o nome, isso só me faz rir mais ainda.

— E qual é o nome do malfeitor, digo, benfeitor? — Digo sarcasticamente. Jenna dá uma risadinha sem graça antes de responder.

— O nome dele é... Tyson Joshua. — Ela ri mais uma vez e olha para as suas mãos, totalmente sem graça.

Tento prender a risada histérica em minha garganta, mas ela sai e eu não conseguia parar mais de rir.

— Tyson Joshua? Sério Jenna? Outro nome estranho? — Digo por entre gargalhadas.

— Ha, ha, ha. Engraçado, Clai. — Ela diz, suas bochechas estavam ruborizadas.

— Você já viu aquele filme de terror? Joshua? Sério, se você não viu nós temos que ir a locadora urgentemente. Aposto que depois de ver esse filme você nunca mais vai querer olhar na cara desse Tyson. — Digo, ainda com vontade de rir.

Jenna pega uma folha de anúncio, amassa e joga em meu rosto.

— Cala a boca, Claire.

Rio mais um pouco antes de estacionar o Jaguar na frente da casa de Jen.

— Você vai se arrumar na minha casa? — Pergunto enquanto Jen abria a porta do carro.

— Sim, só vou pegar umas maquiagens novas e já volto.

Balanço a cabeça afirmativamente e logo Jen sai do carro, correndo para a porta de casa.

Fecho os olhos e minha mente vaga para muitos lugares, mas em todos os lugares eu encontrava lagos azuis, um céu azul, abismos azuis, olhos azuis...

— Ei Claire! Vamos! — A voz de Jenna me despertada e eu abro os olhos e procuro entender o que tinha acontecido.

— Ah, hm, sim claro. Vamos. — Digo e giro a chave, dando a partida no carro e tentando entender e repassar em minha mente sobre o que acabou de acontecer.


******************************************


— Vamos Jenna! — Grito para o banheiro enquanto Jen terminava de se arrumar.

Eu já estava pronta e eu podia até dizer que eu estava bonita.

Olho-me no espelho do meu quarto e analiso o vestido que eu havia comprado na J Crew. Tinha caído como uma luva em meu corpo, parecia ter sido feito sob encomenda para mim.

Meu cabelo estava levemente ondulado no comprimento e na raiz liso como sempre.

(cabelo da Claire: http://4.bp.blogspot.com/-reXywoFc_WA/UA9kzjjA7RI/AAAAAAAAAK4/_xuZRcns4_s/s320/ruivo.jpg)

— Ok, ok, já estou indo sua chata! — Jen grita do banheiro.

Ouço passos na escada e viro-me para a porta e vejo minha mãe entrando no quarto com uma caixinha na mão.

— Oi. Você está linda, Claire. — Minha mãe diz, parecendo sem graça.

— Ah, obrigado mamãe. — Digo e sorrio.

Mamãe se aproxima e me dá um forte abraço.

— Eu te amo ok meu bebê? — Ela diz com a voz carinhosa.

Começo a rir com o apelido carinhoso.

— Ok, também te amo, mas vou esquecer a parte do bebê.

Ela ri junto comigo.

Ela abaixa o olhar para a caixinha de camurça azul escuro em suas mãos e abre.

Fixo o olhar nas pedrinhas brilhantes de dentro da caixinha até elas tomarem forma.

Dentro da caixinha havia uma delicada pulseira prata, várias pedrinhas brilhantes pendiam da pulseira.

Era realmente muito bonito.

— Quero que você fique com isso. — Ela diz e tira a pulseira da caixinha e colocando-a em meu pulso esquerdo.

Levanto o braço até a altura dos meus olhos e com esse movimento, as pedrinhas batem uma nas outras fazendo um barulho engraçadinho.

— Ah, é lindo mãe. Obrigado! — Digo e a abraço forte.

— Eu sabia que iria gostar. Esse pulseira era da sua bisavó, ela deu para minha mãe e eu estou te dando agora. Herança de família. — Ela diz e revira os olhos.

— Ah, mãe eu adorei, sério.

Ela me abraça novamente e quando vejo seus olhos, estão marejados em lágrimas.

— Seu pai queria que nós déssemos essa pulseira para você no seu aniversário de dezesseis anos, mas... Com tudo isso, eu acabei não te dando. — Ela diz, um sorriso triste brotando em seus lábios.

Sinto uma lágrima escorrer em minha bochecha e a limpo rapidamente.

Ainda bem que minha maquiagem era a prova d’água.

Coloco uma mão em sua bochecha e limpo uma lágrima que escorregou de seus olhos.

— Mamãe tudo acontece por um motivo, à gente não sabe agora, mas nós saberemos depois.

Ela assenti, me dá um beijo no rosto e sai do meu quarto com a caixinha na mão.

Suspiro pesado e viro-me para o espelho novamente, checando se a maquiagem ainda estava em ordem.

Pelo o que parecia, estava.

Vou até o meu guarda roupa e abro a última gaveta. Enfio a mão no meio das roupas e sinto algo gelado em meus dedos. Parecia uma corrente com algum pingente...

Meu coração para por um segundo quando me lembro do que era.

Pego a corrente em minhas mãos e a fito por alguns momentos, decidindo se iria ou não coloca-la.

Abro o feixe decididamente e coloco o no meu pescoço, deixando-o cair no meio de meus seios.

— Estou pronta.

Jen aparece na porta do banheiro estonteante com o vestido azul que escolhera, em suas mãos estava sua máscara e uma bolsa de mão preta com paetês, combinando com sua máscara.

Jen havia feito uma trança lateral e deixado o resto do cabelo loiro solto. Estava muito bonita.

(cabelo da Jenna: http://1.bp.blogspot.com/-G-Yn6gzTeEw/UA9mryFeKRI/AAAAAAAAALA/yhaIAboIjIY/s320/loiro.jpg)

Queria ter pensado em algo mais elegante em meu cabelo, mas eu não tinha paciência e nem criatividade para fazê-lo.

Calço minhas sandálias e pego minha máscara.

— Ok, vamos.

Jen e eu nos despedimos de minha mãe que estava tomando chá e lendo um livro do qual não mude ler o nome no sofá da sala, que nos desejou uma boa festa.

Assim que entramos no carro, Jenna me faz uma pergunta que parecia inocente, mas que ficou martelando em minha cabeça pelo resto do caminho para a escola.

— E ai, pronta? — Ela pergunta, os olhos brilhando em expectativa.

— Acho que sim. — Digo e rapidamente volto os olhos para a estrada a minha frente, acelerando o carro o máximo que eu podia.


************************************


Assim que eu e Jen pisamos no ginásio da escola, nos entreolhamos e vemos que o nosso esforço não fora em vão.

Todos pareciam estar felizes e se divertindo muito, o ambiente estava com um ar misterioso por causa dos tons sóbrios que escolhemos para decora-lo.

Tudo estava andando perfeitamente.

Aimeudeus, com toda a certeza, essa festa foi de longe a melhor que já fizemos. — Jen diz boquiaberta olhando para o ginásio através de sua máscara.

Tive que concordar com ela.

Alguém se aproximava de nós com um vestido preto de gola alta e uma máscara prata nos olhos.

— Claire, seu vestido é lindo! — A menina diz para mim.

— Hm, obrigado. — Digo em duvida olhando de soslaio para Jen que também parecia uma interrogação de máscara e vestido.

A menina a nossa frente percebe a nossa duvida e fala:

— Sou eu gente, Jennifer! — Ela diz gritando para que nós possamos ouvi-la.

— Ahhhh, oi Jennifer! — Digo e abraço-a.

Jen a cumprimenta silenciosamente.

— Vou buscar uma bebida. — Jen diz antes de desaparecer por entre os corpos no ginásio.

— Bem, fizemos um ótimo trabalho. Está tudo perfeito! — Jennifer diz, mas eu já não estava ouvindo ela.

Um par de olhos azuis atravessam os meus do outro lado do ginásio, e mesmo com a máscara eu não tinha duvidas de quem era. Meu coração denunciava isso.

Sua boca levantou-se em um dos cantos em um meio sorriso perfeito.

Suspiro e volto os olhos para Jennifer.

— Hm, legal. Agora se você puder me dar licença... — Digo com um sorrisinho no rosto e quase corro dali, indo para a direção da mesa das bebidas.

Olho para os dois lados procurando Jen, mas ela já não estava mais lá.

Suspiro e sirvo um copo de ponche, viro tudo de uma vez e encho mais uma vez, bebericando e olhando as pessoas dançando na pista de dança. As luzes do globo a cima deles girava e soltava faíscas de luzes por toda a parte de um jeito psicodélico.

Viro-me novamente para a mesa e sirvo mais um pouco de ponche em meu copo quando sinto sua presença. Perto, muito perto, perto de mais...

— Claire.

Meu nome em sua voz ecoa em minha cabeça milhares de vezes, mostrando como minha mente estava tão vazia, mas tão cheia.

Engulo a seco e não me viro, não poderia confiar em mim mesma para olha-lo diretamente nos olhos. Não agora.

— Oi. — Digo mostrando tédio, tentando disfarçar o quão nervosa eu estava.

Beberico o ponche com as mãos trêmulas.

Ele dá uma risadinha.

Viro-me e olho em seus olhos, em seus profundos olhos.

Olho como quem olha para uma pessoa indesejada, como se eu estivesse rezando para sair logo dali.

Trish ainda estava sorrindo quando ele colocou os olhos em meu cordão que pendia no meio de meus seios.

A princípio achei que ele realmente estava olhando para os meus seios até sua expressão se tornar nervosa e até mesmo triste.

Ele continua olhando para o cordão fixamente por longos segundo e quando eu penso em perguntar o que estava acontecendo sua expressão volta ao normal como se nada tivesse acontecido.

Provavelmente eu tinha imaginado esses segundos que se passaram, minha mente gostava de me trair.

Trish estava muito bonito, não tinha percebido isso ainda.

(cabelo de Trish: http://1.bp.blogspot.com/-Kdf2BNtcAoo/UA9o6wlKIlI/AAAAAAAAALQ/lhwrOl1krVc/s320/trishh.jpg)

(roupa de Trish: http://2.bp.blogspot.com/-zyOvsb5tfFY/UA81eF23UCI/AAAAAAAAAKs/mRp3OGBmjoU/s320/trissh.jpeg)

(máscara Trish: http://imagem.buscape.com.br/guiadecompras/Fantasias.jpg?1283301795)

Sua máscara era dourada e fazia um contraste perfeito com a pele clara e os olhos azuis.

O traje formal caia perfeitamente em seu corpo esguio, ele estava deslumbrante.

Percebo que minhas mãos estavam cerradas em punho, como se para conter algo que eu sabia muito bem do que se tratava.

Balanço a cabeça mentalmente e volto meu olhar tedioso para Trish, como se tudo o que eu quisesse fazer no momento era dar meia volta e sair do mesmo ambiente que ele se encontrava.

Ele parecia estar acreditando em minha encenação.

— Você... Hm, você está esperando por alguém? — Trish diz dando uma olhada por sobre o ombro onde meu olhar estava fixo em Matt que nos olhava com interesse.

Suspiro e resolvo entrar no personagem. Se for para encenar, encenarei direito.

— Na verdade sim, Trish. Estou esperando por alguém. — Digo elevando a voz para que ele pudesse ouvir com clareza por causa do som alto.

Olho-o em desdém e reviro os olhos teatralmente, passando por ele fazendo nossos ombros se baterem.

Minha garganta começa a fechar assim que passo por Trish, minha mente roda trezentos e sessenta graus e volta à realidade em um segundo.

O que eu tinha acabado de fazer? Aliás, a pergunta correta seria: Como eu tinha feito isso?

Quando eu estava perto de Trish eu mal conseguia controlar a minha própria respiração, como eu havia feito isso? Como eu pude encenar com tanta facilidade para a pessoa que mais fazia meu próprio coração, minha própria mente me trair?

Muitas perguntas para poucas respostas, sempre assim. E isso era o que mais me frustrava.

— Arghh. — Solto um gemido baixo e grave e percebo que estava andando na direção de Matt, que agora abria um amplo e convidativo sorriso para mim.

Tento mostrar meu melhor sorriso, mas pude perceber o quanto esse sorriso foi convincente ao ver a expressão de Matt cair um pouco.

— Ei Matt. — Digo e o abraço, sentindo seu corpo se enrijecer em surpresa e depois de alguns segundo relaxar e devolver com um abraço apertado.

— Ei Clai. — Matt diz e penso ter ouvido um leve suspiro, mas deixo isso de lado.

O solto de meu abraço desajeitado e termino de beber o ponche em minhas mãos, colocando-o em uma mesa próxima.

— Venha, dance comigo! — Grito para Matt ao ouvir uma música que eu gostava começando a tocar.

Ele ri um pouco e nega com a cabeça.

— Não, melhor não, Claire. Você sabe como sou um desastre na dança. — Ele diz ainda segurando minha mão.

Eu sentia o olhar fuzilante de Trish em minhas costas o tempo todo e resistia ao impulso de me virar e banhar-me naquele mar azul.

Suspiro e volto a sorrir para Matt, zombateira.

— Ah, por favor, Matt. Venha! — Digo fazendo um biquinho e vejo nos olhos de Matt que eu já havia ganhado, ele viria.

Ele revira os olhos e segura minha mão com mais força.

— Ok, ok. Só não me culpe se eu pisar no seu pé! — Ele diz e me segue, ainda segurando minha mão, para a pista de dança no meio do ginásio.

Assim que passamos por todas as pessoas se mexendo no ritmo da música e conseguimos nos instalar exatamente no meio da pista, vários olhares curiosos seguem em nossa direção.

Eu poderia simplesmente ler em seus olhos a duvida que agora corroíam suas mentes: “O que Claire está fazendo com Matt? Ela já não tinha dado um pé em sua bunda?”. Seus pensamentos eram tão óbvios e presentes que eu poderia até sentir isso como algo físico e ao alcance das mãos.

Suspiro e volto os olhos para Matt, que por trás da bela máscara, duas orbes brilhavam em expectativa.

Começamos a nos remexer no ritmo da música e Matt deveria estar brincando ao dizer que dançava mal. Ele sabia exatamente o que fazer e quando fazer.

Eu já tinha visto milhares de vezes Matt dançar nos bailes em que tivemos em toda a nossa vida escolar, mas nunca tinha parado para perceber como ele dançava.

Nós riamos e dançávamos como loucos, tudo estava perfeito até outra música começar a tocar, essa por sua vez mais lenta e, obviamente, para se dançar a dois.

Os olhos de Matt pareciam tímidos, mas no momento em que ele tomava coragem para me chamar para dançar essa música, outra pessoa toma o seu lugar.

— Você me concederia essa dança, Claire? — Trish diz com um meio sorriso sexy e confiante no rosto.

Matt olha para Trish e seus olhos faiscavam de raiva.

— Olha aqui Trish...

— Matt, você poderia me trazer uma bebida? — Digo, interrompendo-o sem tirar os olhos de Trish que agora estavam presunçosos.

Matt ainda olhava para Trish com raiva, mas suspira em rendição e desaparece pelos corpos que dançavam a música lenta e bonita que reverberava por todo o ginásio escolar.

Suspiro e fito firmemente Trish, que ainda estava com a mão estendida, esperando pela minha.

— O que você quer, Trish? — Pergunto de forma clara e direta.

Ele dá uma risadinha e puxa-me para seus braços, passando a mão pela minha cintura e colocando as minhas na base de cada um dos seus ombros.

Nossos rostos distantes por uma fina camada de ar, sua respiração lenta e calma batia em meu rosto.

— Eu só quero essa dança com você, Claire. Nada a mais, nada a menos. — Ele diz, fazendo seu hálito girar ao meu redor. Eu podia sentir seu gosto e isso me deixava tonta.

Xingo mentalmente e tomo as rédeas da situação, endireitando o corpo e olhando-o com sarcasmo.

— Sério mesmo? Trish Mansen sem segundas intenções? Isso é diferente. — Digo como se pensasse alto, tirando minhas próprias conclusões.

Trish pisca os olhos duas vezes e vejo como seus longos cílios batem uns nos outros, como seus olhos parecem mais azuis por causa das luzes do globo que girava acima de nossas cabeças.

Suspiro pela décima vez no dia e me rendo.

Estava cansada de fingir o tempo todo, de fingir não me importar, de fingir que tudo isso não me atingia, de fingir que não queria.

Apenas espero o que Trish tem para dizer.

Ele parece ter percebido minha máscara cair e a sua também cai um pouco.

Ambos se entregando, ambos cansados de tentar reprimir o que sentíamos – se é que ele sentia alguma coisa -.

Trish prende seus olhos nos meus e tudo o que eu posso ver agora é ele como realmente é, seus sentimentos, conflitos, emoções, duvidas, tudo.

Tudo fica tão claro agora que era como ver através de águas claras e límpidas.

Trish me queria. Me queria tanto quanto eu o queria.

A única coisa que o impedia de seguir em frente era pelo mesmo motivo que me impedia de seguir em frente: medo.

Medo de que tudo isso seja ilusão e que a próxima chuva leve tudo e tudo o que aconteceu seja uma mera lembrança descartável e inútil. Medo de tudo ficar mais intenso do que já está. Medo de simplesmente viver isso.

Medo de sentir isso.

Meus lábios se entreabrem como se uma palavra se quer do que eu havia pensado fosse capaz de sair por entre meus lábios.

Minha garganta trava, eu não conseguia falar nada. Nunca conseguiria.

Nunca fui a pessoa com mais facilidade de falar sobre sentimentos, ainda mais os meus.

Os dedos de Trish apertam mais minha cintura, uma delas traça um caminho decisivo para o meu rosto, acariciando o local.

— Claire, eu sei que tudo está confuso para você, para nós, mas, por favor, não pense e nem faça nada a não ser o que você realmente queira essa noite. Você pode fazer isso? — ele pergunta com a voz rouca, baixa, apenas para eu ser capaz de ouvi-la. — Pense nisso. Se você tem certeza do que quer, me encontre daqui a quinze minutos no lago ao lado da escola. Estarei te esperando, esperando por sua escolha.

Ele acaricia mais uma vez minha bochecha e me solta, relutante, caminhando rapidamente pelos corpos que se moviam lentamente.

Minha respiração estava acelerada e cortada, eu não sabia o que fazer, o que falar, meu corpo não reagia aos meus comandos.

O que Trish queria dizer com tudo isso? Que meus sentimentos eram correspondidos? Que tudo o que aconteceu se baseou em confusão? Que nossos sentimentos iriam prevalecer e que tudo ficaria bem?

Ah, como eu queria acreditar nele, como eu queria sair correndo nesse momento e encontra-lo no lago, como eu queria simplesmente abraça-lo...

Mas... Mas eu não podia. Não era certo. Muita coisa estava faltando, o quebra cabeça estava longe de estar completo, muitas peças estavam perdidas no tempo, outras perdidas em qualquer outro lugar inalcançável.

Balanço a cabeça afastando as lágrimas que eu sabia que viriam logo em seguida, corro pelo ginásio esbarrando em várias pessoas, recebendo xingamentos como resposta. Mas eu simplesmente não me importava.

Irrompo porta a fora, a brisa calma e gélida me recebe como um abraço afável.

O que eu tinha que fazer? Trish estava me esperando e eu não sabia o que pensar, como reagir a esses sentimentos tão novos, tão estranhos e tão... Utópicos.

Utopia era uma boa colocação, eram irreais, imaginários.

Abraço meu corpo esguio e fraco, eu estava fraca, sim, eu estava.

Tão fraca...

Claire, eu sei que tudo está confuso para você, para nós, mas, por favor, não pense e nem faça nada a não ser o que você realmente queira essa noite. Você pode fazer isso?

Eu podia fazer isso? Podia me entregar? Eu estava pronta para me entregar?

As palavras de Trish me assombravam, me faziam imaginar como seria bom e reconfortante o simples fato de estar em seus braços.

Trish havia dito que não era para eu fazer nada que eu realmente queira fazer essa noite. E o que eu realmente queria?

Eu queria muitas coisas, mas o que eu mais queria era...

Então a resposta vem como ar depois de muito tempo debaixo d’água, como algodão sendo tirado do ouvido.

Trish.

Eu queria Trish como eu queria ar para respirar, eu queria Trish como eu queria viver.

Viver.

Eu queria viver com ele, viver com ele o momento, o agora e não pensar no futuro, não pensar se eu estarei arrependida ou não pela manhã, não pensar se isso será bom ou ruim.

Eu só quero estar com ele.

E isso me parecia tão óbvio e perfeito agora, que eu não conseguia entender o porquê de não ter visto isso antes.

Limpos os olhos mesmo não estando chorando e viro-me decididamente para o caminho que meus pés traçavam tão perfeitamente, como se estivessem traçando o caminho da liberdade.

A cada passo a mais, meu coração dava mil pulos de alegria e desejo, meus pés não andavam rápidos o bastante e isso me irritava.

Depois de longos segundos vejo-me frente a frente com o lago ao lado da escola, onde uma figura masculina estava de costas para mim, observando calmamente e em silêncio a lua cheia perfeita que brilhava no céu escuro. A água brilhava como se as estrelas estivessem caído ali e todas brilhassem juntas em alegria.

Um passo de cada vez, ando de encontro a Trish. Vejo ele se virar lentamente e me receber com um brilho nos olhos. Desejo, paixão, felicidade... Tudo girando e brilhando em uma única luz: seus olhos.

— Trish, eu... — tento dizer, mas sou interrompida pelo seu dedo indicador em meus lábios, calando-me.

— Você não precisa dizer nada, Claire. Você veio, é isso que importa.

Sua mão esquerda desce calmamente para a minha cintura, apertando-a. Sua outra mão faz um percurso lento e perfeito para o meu rosto, segurando-o.

Minhas mãos, desesperadas, sobem para sua nuca e se instalam ali, enrolando-se em seus cabelos que pareciam negros à noite.

Nossos rostos estavam separados por um fino véu de ar que logo é quebrado por Trish, se aproximando de mim em apenas um segundo.

Seus lábios apertam os meus calmamente, de um modo tão perfeito e suave que minhas pernas tremem e se Trish não tivesse me segurando, eu cairia.

Meus lábios moldam-se aos seus em sincronia, como se isso tivesse sido premeditado a acontecer, como se isso não fosse à primeira vez que acontecia. Nossos lábios pareciam se reconhecer, nossas almas também não negavam isso.

O corpo de Trish se molda perfeitamente ao meu como nossos lábios, nós parecíamos ser as peças que faltavam em nosso quebra cabeça complicado e todas as duvidas, receios e medos se esvaem assim que reconhecemos isso.

Suas mãos sobem para a minha nuca, me prendendo ali. Minhas mãos enroscando-se em seus cabelos que brilhavam a pouca luz da lua que nos iluminava.

Nossos lábios dançavam em uma sincronia perfeita, nada fora do lugar, nada falta e eu me sentia totalmente preenchida. Sentia-me satisfeita como nunca havia me sentindo antes. Com Trish eu me sentia protegida, segura, feliz e acima de tudo, amada.

Ele era a peça que faltava no complicado quebra cabeça que era a minha vida.

Eu não sabia como eu não tinha percebido como minha vida era tão preto no branco antes de Trish chegar, tudo me parecia tão monótono agora que eu o tinha aqui, comigo, que eu simplesmente não conseguia mais me imaginar longe disso, longe dele.

Essa era a minha realidade, e eu não queria fugir dela agora, não mais.

Trish começa a espalhar beijos por toda a minha face e suspira.

— Você não sabe por quanto tempo eu esperei por isso. — Ele diz com meu rosto entre suas mãos, seus olhos brilhando.

Nem tento reprimir a vontade de rir, rio.

— Você fala como se tivesse esperado uma eternidade para me beijar. — Digo ainda rindo.

Sua expressão fica séria por apenas um segundo até ela voltar a ficar brincalhona como antes.

— Quase isso. — Ele diz e me puxa para outro longo beijo.

Nessa vez, nossos lábios travam uma batalha silenciosa, tensão, paixão, excitação, tudo se misturando em um único beijo.

Suas mãos traçam o caminho para a minha cintura e a apertam, minhas mãos descem por suas costas e sobem novamente para a sua nuca, puxando os fios de cabelo dali.

A cada avanço do beijo, mais eu puxava-o para mim, meu corpo queria fundir-se ao seu, minha alma ansiava pela sua.

Estava tudo muito intenso.

Trish me encosta na árvore mais próxima fazendo minhas costas ficarem pressionadas pela árvore e Trish ficar em minha frente, me beijando de um jeito arrebatador.

O beijo foi diminuindo a velocidade e a ferocidade até estarmos trocando pequenos selinhos.

Trish me conduz até o banquinho que fica a frente do lago e me faz sentar ao seu lado e contemplar a perfeita vista a minha frente, a lua, a água límpida e escura como a noite, Trish ao meu lado, seus braços em volta de mim...


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Notas finais do capítulo

E ai, o que vocês acharam desse BEIJO de Trish e Claire? Eu pelo menos amei! Mereço reviews? Espero que sim! Até o próximo capítulo!