Fallen Angels escrita por Lívia Nunes


Capítulo 14
Preparativos


Notas iniciais do capítulo

Gennnnnnnnte, me desculpem tanto por ter demorado para postar o capítulo :((( mais de um mês na verdade. Vcs tem todo o direito de estarem chateados, se fosse eu a reação não teria sido diferente, mas como já expliquei, AINDA estou sem net, acabei de me mudar e minha mãe ainda não colocou a net, sim estou chateadíssima. Mas indo a assuntos mais importantes, BORA LER! bjsss nos vemos nas notas finais, tenho assuntos SERÍSSIMOS para tratar com vcs



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— Vamos Claire! — Jen grita para mim enquanto eu amarrava meu tênis com a mochila nas costas.

Olho-me no espelho uma última vez checando se minhas olheiras não estavam tão perceptíveis como eu achava.

Mal conseguira dormir essa noite. Pesadelos estranhos e coloridos invadiram minha mente por toda a madrugada. Os galhos da árvore ao lado de minha casa batendo na janela de meu quarto também não ajudaram muito, fazendo sombras do piso de linóleo do meu quarto. Jen parecia estar totalmente descansada, parecia que a chuva intensa e o barulho dos galhos batendo contra a janela não fizeram nenhum efeito negativo no sono de Jen, sorte a dela. Eu me sentia exausta tanto mentalmente como fisicamente, uma dor horrível havia se instalado em meu pescoço e eu jurava que sentia meu coração bater em minhas têmporas.

Corro para porta onde Jen a mantinha aberta, passo por ela rapidamente e Jen a fecha com força fazendo o barulho ecoar em minha cabeça.

— Espero que o Sr. Holtzman esteja de bom humor hoje. — Jen diz assim que sentamos nos nossos respectivos lugares do ônibus escolar.

Dou uma risadinha antes de responder.

— Eu também. Se ele seguir a mesma linha de raciocínio que ele estava quando “puniu” eu e Becca, estaremos em vantagem. — Faço aspas no ar com os dedos.

Jen pende a cabeça para trás e ri.

— Sério, ele realmente achou que foi o diretor mais severo possível mandando você e Becca para a detenção por terem se arrebentado no ginásio.

— Se ele continuar assim, vantagem para nós.

Nós duas nos entreolhamos e começamos a rir escandalosamente no ônibus.

Com Jen as coisas eram tão simples como respirar. Tudo era tão fácil, tudo parecia fazer mais sentido. Ela era minha alma-gêmea-amiga.

Amiga nem se aplicava a nossa relação. Era mais intensa, mais verdadeira.

Era bom saber que eu tinha alguém que eu poderia contar de verdade, falar tudo o que se passava e eu de alguma forma sabia que poderia contar com ela para qualquer coisa, para a vida toda.

— Respira fundo, vai dar tudo certo. — Jen diz para mim, inspirando e expirando tentando fazer eu imita-la.

Estávamos na frente da porta do Sr. Holtzman depois de duas horas intensas e cansativas de treino com os Fellcats, agora era a chance de conseguir persuadir o Sr. Holtzman a nos deixar a fazer a festa. Ele precisava deixar.

— Ok, ok. Vamos logo com isso. — E giro a maçaneta da porta bruscamente.

Jen me lança um olhar de censura antes de passar pela porta que eu mantinha aberta.

Fecho ela atrás de nós.

O Sr. Holtzman nos olhava como se nós tivéssemos cometido a gafe de comer o prato de entrada com o garfo menor em um jantar de gala.

— Sr. Holtzman se segure na cadeira, pois temos uma proposta muito boa. — Limpo a garganta antes de continuar: — Tanto para o senhor quanto para nós. E quando digo nós digo de uma forma muito abrangente.

Ele entrelaça os dedos embaixo do queixo e faz sinal com a cabeça para que nós nos sentássemos nas duas cadeiras vagas na frente de sua mesa cheia de livros e papeis com letras minúsculas.

— Comecem. — Ele diz secando com um pano branco pequeno e quadrado as pequenas gotículas de suor que estavam em sua testa branca que parecia brilhar com a luz da sala e aumentar sua calvície.

 Jen me olha rapidamente e toma a dianteira da situação: era ela que tinha um dom de persuasão, não eu.

Ela se inclina sobre a mesa e apoia os dois cotovelos na madeira de carvalho, gesticulando com as mãos enquanto falava.

— Bem Sr. Holtzman, Claire não estava errada quando falou da proposta que teria bons grados nos dois lados, tanto no seu quanto no nosso. Sabemos que o senhor aprecia muito uns dias de folga para poder ficar com sua família não é? — Jen diz, fazendo uma pergunta retórica e só agora me fazendo perceber o porquê de seu poder de persuasão ser tão bem sucedido na maioria das situações: ela deixava mais claro o que a pessoa iria ganhar caso aceitasse a proposta e ofuscava o que ela iria ganhar com isso, assim a pessoa pensava que iria se dar melhor na situação, mas no final das contas iria ser melhor para ambos os lados.

Eu não pensava nisso como uma forma de enganação ou mentira, afinal, as duas pessoas iriam se dar bem.

— Claro. — O Sr. Holtzman concorda com a cabeça e se inclina na direção de Jen, subitamente interessado.

— Pois bem, como o senhor já sabe, eu e Claire somos do comitê geral da CHS, e bem, pessoas do comitê geral geralmente fazem festas e como o Spring Break está bem próximo pensamos em dar uma festinha para os alunos irem entrando no ritmo das férias, e claro, o senhor iria sair ganhando muito na história, um dia de folga não é nada mal. — Jen termina o discurso com um piscar demorado de olhos e um dar de ombros convencional, como se ele mesmo já deveria ter se dado conta disso.

O Sr. Holtzman pende a cabeça para trás e solta uma gargalhada que ecoa por todo o cômodo cheio de estantes e livros.

Eu e Jen nos entreolhamos e depois fitamos o Sr. Holtzman sem entender o motivo da gargalhada.

— Vocês realmente acham que eu deveria deixar vocês fazerem uma festa logo depois da presidente do comitê geral da County High School ter ficado na detenção por motivos de violência física? Isso é uma piada não é? — Ele diz nos olhando como se a qualquer momento fosse cair na gargalhada novamente.

Abro a boca para argumentar os motivos de ter brigado com Becca quando sinto a mão de Jen em meu braço que segurava firmemente o apoio da cadeira. O toque foi leve, mas restritivo.

Fecho a boca novamente e deixo Jen retomar as rédeas da situação.

— Seu eu fosse o senhor eu reconsideraria seus motivos de não nos dar permissão para fazer a festa, afinal, fiquei sabendo que amanhã é o aniversário de seu filho e acho que todo pai quer estar presente nessa data tão especial e não estar em uma escola lidando com adolescentes meio... Incontroláveis. — Jen pronuncia a última palavra vagarosamente e com um ar de que queria falar algo pior, mas não falou por mera cortesia.

Vejo os olhos do Sr. Holtzman se arregalarem, mas logo voltarem a suas orbes normais.

Ele afrouxa um pouco o colarinho do terno e novamente seca a testa com o mesmo pano branco pequeno e quadrado.

Jen continuava olhando para ele com o mesmo olhar de: “E ai, vai perder essa oportunidade? Se você perder, você é um babaca”.

O Sr. Holtzman nos olhava severamente, os olhos passando de mim para Jen, de Jen para mim em um ciclo sem fim até que seus olhos relaxam um pouco e ele suspira, secando novamente a testa.

— Certo, digamos que eu deixe vocês fazerem a festa, quando ela irá se realizar? — O Sr. Holtzman diz.

Jen dá um sorrisinho vitorioso antes de responder.

— Se o senhor nos permitisse fazer a festa, ela seria daqui a dois dias. Nós iriamos usar o dia letivo de amanhã para preparar a festa, assim você ficaria livre para o aniversário de seu filho e no dia seguinte seria a festa, dia letivo normal e somente a noite a festa iria ser realizada.

O Sr. Holtzman ficou nos fitando  por intermináveis minutos e quando eu já estava prestes a me levantar e ir embora derrotada por não ter conquistado a minha meta, o diretor levanta da mesa e convida Jen para um aperto de mão.

Jen olha para a mão do Sr. Holtzman em duvida, mas a aperta.

— Foi um prazer fazer um acordo com vocês, meninas. A festa está liberada, amanhã vocês não terão aula e poderão usar o tempo livre para os preparativos. — O Sr. Holtzman diz largando a mão de Jen e estendendo-a para mim, aperto-a decidida, fazendo dancinhas de alegria internamente.

Jen me olhava com faíscas de alegria nos olhos e com toda a certeza sabia que quando nós colocássemos o pé para fora da sala do Sr. Holtzman, ela iria pular e dizer como o seu poder de persuasão era precisamente perfeito.

E eu não iria discordar.

— Obrigado Sr. Holtzman pela oportunidade e voto de confiança. O senhor não irá se decepcionar. — Falo, dando um meio sorriso agradecido e decidido.

O diretor abre um sorriso de orelha a orelha parecendo ficar dez anos mais jovem.

Quando eu e Jen saímos da sala do diretor Holtzman, olhamos uma para outra e depois de alguns segundos começamos a pular e gritar e festejar no corredor vazio.

— Acho melhor você levar um balde de água Claire, porque esse baile vai pegar fogo. — Jen diz e começa a gargalhar. Não aguento e a acompanho.

Fizemos a dancinha maluca da vitória e batemos o nosso quadril um no outro e corremos para o refeitório logo depois que a barriga de Jen roncou alto, fazendo-nos gargalhar mais ainda.

O dia já tinha começado bem, só esperava que ele permanecesse assim por pelo menos, o resto da semana.

Acordo totalmente disposta e ansiosa por dar uma festa daqui a menos de vinte e quatro horas.

Ontem na escola eu e Jen espalhamos folhas com o nome, local, traje e hora da festa por todos os murais e paredes da escola, todos também já pareciam bastante animados.

Levanto-me da cama e ouço minha mãe cantarolar hey jude dos Beatles na cozinha enquanto preparava, pelo que posso deduzir pelo cheiro, waffles.

Tomo um banho demorado quase dormindo na banheira quente quando minha mãe entra no quarto para dizer que o café da manhã já estava pronto, fazendo-me escolher um short jeans escuro e uma blusa regata azul.

Arrumo meu cabelo rapidamente, deixando eles mais lisos do que o normal, batendo no final de minha cintura, passo um gloss nos lábios e desço as escadas de dois em dois degraus.

 — Bom dia, querida. — Mamãe diz, estalando um beijo rápido em minha bochecha enquanto colocava um waffle em meu prato, logo servindo meu copo com suco de laranja.

— Bom dia mãe. — Digo enquanto passava o jornal ao meu lado para ela que se sentava em sua cadeira a minha frente, bebericando seu chá.

Ela pega o jornal de minha mão e me olha de soslaio.

— O que? — Pergunto com cara de interrogação.

Ela respira fundo antes de responder.

— É que a mãe do Matt esteve aqui ontem.

Engasgo com o suco de laranja e juro que o suco quase saiu pelo meu nariz.

— O que? Como assim? O que ela veio fazer aqui? — Pergunto desesperada.

— Eu não entendi direito, Sarah disse que Matt estava preocupado com você, pois você anda conversando com um tal de Pish, Dish, eu não lembro o nome. — mamãe responde franzindo o cenho.

A raiva borbulha dentro de mim e me controlo para não machucar os dedos de tanta força que eu apertava os meus dedos ao redor do copo de vidro, que naquele momento parecia facilmente quebrável e indefeso, tamanha era a minha raiva.

Fecho os olhos e respiro uma, duas, três vezes até estar um pouco mais controlada e encarar os olhos em duvida de minha mãe.

— É Trish mãe, Trish Mansen. — As palavras escorregam de minha boca involuntariamente, me arrependendo no mesmo instante de ter falado alguma coisa.

Ela ergue uma sobrancelha e da um longo gole em seu chá antes de cruzar as mãos embaixo do queixo.

Engulo a seco.

— Então você realmente o conhece. — Mamãe diz em tom de concordância, como se eu já tivesse deixado explícito no que eu disse, óbvio.

Engulo a seco pela milésima vez naquela manhã.

— N-na verdade, sim. Ele é ótimo. — Digo, gaguejando tanto que deixo a frase totalmente desarticulada.

Ele é ótimo? Deus, de onde eu tinha tirado isso.

Ele é mais que ótimo. O pensamento me vem a cabeça como se fosse de outra pessoa. Balanço a cabeça tentando afastar esse pensamento.

Mamãe continuar a me olhar fixamente como se estivesse esperando eu completar uma coisa não terminada.

— Ele é um cara legal, mamãe. Matt deve estar com ciúmes, eu não sei, talvez ele ainda não tenha entendido que nós terminamos, terminamos de vez. — Digo mais racionalmente com um dar de ombros no final tentando mascarar a raiva que ainda parecia queimar minha mente.

Engulo rapidamente os waffles em meu prato e termino o suco, pulando de minha cadeira e estalando um beijo na bochecha de minha mãe, querendo escapar logo dessa conversa constrangedora.

Finjo olhar para um relógio imaginário em meu pulso.

— Tenho que ir mãe, estou atrasadíssima.

Ela ri alto enquanto eu corro em disparada para a porta, raciocinando ir a pé para escola quando a voz de minha mãe me surpreende, fazendo-me parar no meio do caminho e girar para encara-la.

— Tem uma surpresinha para você na garagem, acho que você vai precisar dele hoje. — Ela diz, jogando para mim um objeto não identificado que pego por reflexo, e fito as chaves prateadas em minha mão incrédula.

Olho para minha mãe de olhos arregalados.

— Sério? Você está brincando! — Digo, a incredulidade logo sendo substituída pela alegria enquanto corro de volta para ela, sentando-me em seu colo e a abraçando fortemente.

Ela ri.

— Acho melhor você olhar o que é antes de cantar vitória.

Agora era a minha vez de rir.

— Oh, não vai me dizer que você me comprou uma bicicleta motorizada que precisa de chaves? — Digo ironicamente, saindo de seu colo e agarrando as chaves em minha mão com força.

— Agora tenho que ir mãe, não estava brincando quando disse que estava atrasada.

Ela da um gole em seu chá antes de responder.

— Quando você chegar teremos tempo suficiente para conversar, não vá pensando que você se livrou de mim. Ah, não se esqueça de pegar sua carteira de motorista na gaveta da cômoda, creio que você vai precisar dela.

Dou uma gargalhada nervosa e aceno para ela antes de sair pela porta, agradecendo a todos os deuses por ter me livrado daquela conversa. Momentaneamente.

Dirigia com um sorriso de orelha a orelha pela a estrada secundária de Fell County para a casa de Jen em meu Jaguar prateado, meu carro.

Era tão bom falar isso!

Disco o número de Jen em meu celular sem tirar a atenção da estrada e logo ouço atender.

— Daqui a menos de cinco minutos estarei na porta de sua casa. — Digo ainda sorrindo.

— E eu posso saber como você vai fazer isso? — Ela pergunta e ouço a porta de seu armário se fechar e ela se movimentar com pressa enquanto estava comigo no telefone.

— Acho que você está ocupada se arrumando, vou desligar porque também estou ocupadíssima dirigindo. — Digo dando uma risadinha no final.

Ouço Jen gritar do outro lado da linha telefônica.

— Adeus ônibus escolar! — Ela grita e posso chutar, batendo palmas não sei como.

Rio junto com ela.

— Ok, estou virando na sua esquina.

— Certo, estou indo para a porta.

Desligo a ligação e paro na frente da casa de Jen, saindo do carro tendo o cuidado de não bater a porta mais que o necessário.

— Ok baby, pode deixar que não irei deixar ninguém machucar você. — Digo enquanto acaricio o capô do Jaguar.

— Sério que você está falando com um carro, Clai? — Jen diz antes de ver o carro e dar outro grito e me abraçar fortemente.

Pulo junto com ela.

Aimeudeus, isso sim é um carro. — Ela diz enquanto inspeciona cada centímetro do carro. — Perfeito.

— OK, ok, é melhor nós irmos que o Jaguar já está ficando constrangido com sua inspeção.

— OK, vamos.

Ela da uma risadinha e entra pela porta do carona e eu pela do motorista enquanto eu acelero o motor, fazendo os pneus cantarem partida no asfalto molhado.

— Claire eu não tenho ideia de como pendurar essas cortinas aqui. — Jennifer diz em tom de lamuria para mim, que estava ocupada pintando a mesa de preto e praticamente com a roupa toda manchada.

Reviro os olhos e tento procurar Jen com os olhos pelas várias pessoas no ginásio da escola, Cliff e Jannet fazendo a playlist que passei para eles, parecendo tensos e interessados com o rosto preso na tela do notebook. Becca e seus súditos se pendurando em cima das cadeiras para colocarem os lustres no teto do ginásio, o que não era uma tarefa das mais fáceis e vários outros alunos fazendo várias outras coisas, tinha a impressão de que o resultado seria ótimo. Logo acho Jen indo na direção de Cliff e Jannet para revisar as músicas, grito seu nome e ela diz algumas palavras para Jannet que começa a se afastar enquanto ela vem em minha direção.

Ela olha para meu short que já foi branco e no momento está com várias manchas escuras e ri.

Trish passa por nós e acena rapidamente com a cabeça, parecendo totalmente focado em decorar as paredes com os fios dourados e vermelhos.

Suspiro e logo me volto para Jen, que tinha parado subitamente de rir e me encarava com um olhar do tipo: “Sério isso?”.

Bufo e faço um sinal com a cabeça para ela me seguir.

— Olha isso — Digo e mostro-lhe Jennifer tentando pendurar a cortina vinho em uma das enormes janelas do ginásio esportivo.

Jen revira os olhos e procura em seu cinto-super-que-sempre-te-ajuda-nas-festas que resumindo, se tratava de um cinto marrom com vários bolsos, e dentro dos bolsos várias ferramentas do tipo tesouras, cola quente, elásticos e tudo que você precisasse para montar uma festa.

Ela abre um dos bolsinhos e franze o cenho.

— Hmm, a minha cola quente acabou, mas tenho certeza de que na despensa da escola deve ter alguns tubos — Ela me passa um chaveiro com, o que parecia, mais de cem chaves e grita por sobre o ombro: — Aproveita e pega uma pistola de cola quente para mim, obrigado Clai e te adoro.

Jen desaparece na direção de Travis e o resto dos jogadores de futebol da escola que riam escandalosamente e carregavam mesas e cadeiras para dentro do ginásio e ainda ouço Jen gritar algo do tipo para eles: “Vocês são uns brutamontes que só servem para carregar peso, andem logo com isso e coloquem as mesas perto das cortinas...”.

Dou uma risadinha e me viro para a fora do ginásio, passando ao lado de Trish que me olha e me lança um sorriso lindo que chega a seus olhos, mas eu apenas o olho e viro-me para frente, ignorando-o totalmente.

Sinto seus olhos fuzilarem minhas costas até eu chegar a porta dupla do ginásio e entrar no corredor vazio e meio escuro da CHS.

Balanço a chave em minhas mãos enquanto ando pelos corredores da escola tentando me lembrar de onde ficava a despensa da escola.

Ainda estava abismada comigo mesma por ter ignorado com tanta facilidade o cara que vinha perturbando os meus sonhos noturnos e posso completar com pesar, diurnos.

Viro a esquerda e logo acho a porta pesada e velha que dá para a despensa da escola onde muitas vezes tinha me escondido para dar uns amassos com Matt.

Tenho dificuldade para achar a chave certa para destrancar a fechadura dentre tantas outras e mais dificuldade ainda para conseguir girar a chave certa na maçaneta enferrujada, mas conseguido e logo que a porta se abre sou assolada por um cheiro de mofo horroroso.

Há quantos milênios ninguém entrava nessa despensa?

Reviro as prateleiras a procura da pistola de cola quente e mais os tubinhos, mas não acho.

Praguejo silenciosamente e viro-me para a porta da despensa, pensando como iríamos colar as cortinas sem a cola quente quando dou de cara com um peito bem definido coberto por uma blusa fina preta e eu não precisava levantar o olhar para saber quem era, o formigamento dos meus pés até o último fio de meus cabelos denunciava isso.

— Está procurando isso? — A voz, aquela voz reverbera por todo o corredor, poderosa, intensa, me causando calafrios.

Engulo a seco e tento ignorar o formigamento em meu corpo, tendo um pouco de sucesso, cruzando os braços sobre os seios.

Olho nos olhos azuis de Trish e vejo que ele está com a pistola de cola quente e os tubinhos nas mãos com uma expressão de quem se diverte.

— Sim, eu estava procurando por essas coisas, agora se me dá licença... — Não termino a frase, passando pelo seu lado e pegando as coisas de suas mãos, a palma da minha mão encostando levemente na sua, o bastante para meu corpo tremer como se eu tivesse acabo de levar um choque.

— Acho que não. — Ele diz e segura com força os objetos em sua mão impedindo-me de pega-las e se vira para me encarar, perto demais, perto demais, perto demais...

E quando vejo, estou pressionada no pequeno espaço entre Trish a minha frente e os armários a minhas costas.

Droga.

Seus lábios, tão pertos, tão pertos, se eu me esticasse um pouco mais...

— Porque você está me ignorando? — Trish questiona, fazendo seu hálito quente dançar em meu rosto.

Aspiro profundamente aquele cheiro inebriante ficando embriaga por alguns segundo antes de tomar as rédeas da situação.

Endireito os ombros e o olho sem desviar a atenção de seus olhos profundamente azuis.

— Eu não estou te ignorando, Trish. Talvez você apenas esteja tendo essa sensação por estar acostumado demais a ter atenção, por estar acostumado a todas as garotas estarem aos seus pés. — Digo sorrindo de um jeito sarcástico, tentando mascarar a tremedeira que ameaçava consumir todo o meu corpo no mais mínimo pisar falso.

Ele coloca a pistola e os tubinhos nos bolsos de trás de sua calça jeans surrada, apoia as duas mãos nos armários dos dois lados de minha cabeça, pende a cabeça para trás e ri de um jeito que só faz a minha vontade de beija-lo cada vez maior.

— O que? — Eu pergunto retomando minha faixada e com uma expressão perplexa no rosto.

— Então é assim que você me vê? — Ele pergunta com os olhos azuis brilhando mais que nunca.

Endireito as costas apoiadas nos armários do corredor e cerro as mãos em punho querendo demonstrar irritação, mas o motivo real por trás desse ato era evitar a tremedeira ficar mais clara para ele.

— É claro que é, você transmite... Superioridade. — Digo e logo fico corada por ter sido tão idiota e ter inventado qualquer palavra e ter saído essa que não fazia sentido nenhum.

Ele tira as duas mãos dos dois lados de minha cabeça e dá um passo para trás, me deixando aliviada e triste ao mesmo tempo.

Meus sentimentos por Trish eram tão paradoxais que me deixavam confusa da maioria das vezes.

Ele abre as minhas mãos cerradas em punho e coloca nelas a pistola e os tubinhos e dá as costas para mim.

— É bom saber que as pessoas acham isso de mim, Claire. — Ele diz por sobre o ombro com um toque de ironia na voz antes de desaparecer virando o corredor de volta para o ginásio.

Xingo Trish de todos os nomes horrivelmente possíveis por novamente ter saído com a última palavra, como ganhador enquanto eu trancava a despensa.

Não se podia ganhar todas as batalhas e não era por que eu havia perdido uma a guerra também estava perdida.

Mas enquanto eu andava de volta para o ginásio, tinha a leve impressão de que quando se tratava de Trish, eu já tinha perdido a guerra há muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Bem, como havia dito nas notais iniciais, tenho assuntos sério para tratar com vcs.
Como sou muito curta e grossa, ou seja, sem rodeios vou direto ao ponto: Tenho ainda poucas reviews para o tanto de capítulos que já postei.
Gente, sei como é chato vc estar lendo uma fic, e deixar reviews nela (sei que maioria dos leitores dessa fic deixam reviews, e deixo bem claro: ISSO NÃO É PARA VCS!), e a autora fica pedindo e pedindo reviews mas muitos daqui ainda não escrevem fics e não sabem como isso é um combustível para nós!
Não quero mais ser chata, por isso essa é a última vez que aviso aqui, se esse aviso não surtir o efeito imaginado, pararei de postar essa minha fic aqui, arranjarei outros meios, deus lá sabe e quero agradecer de CORAÇÃO à todos os meus leitores fiéis que me fazem rir e querer responder suas reviews, VCS NÃO SABEM COMO FICO FELIZ LENDO SUAS REVIEW! Um beijo da Lívia.