Fallen Angels escrita por Lívia Nunes


Capítulo 13
Sorte no jogo, azar no amor


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês, uhu!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/215539/chapter/13


Eu sabia o que tinha que fazer hoje.

Aliás, eu sabia o que eu não podia fazer hoje.

As coisas simplesmente não podiam continuar como estavam, eu tinha que fazer alguma coisa, eu precisava fazer alguma coisa, decerto algo estava errado, tremendamente errado e eu tinha a obrigação de saber o que era e tentar, pelo menos, contornar a situação.

E o que estava errado era Trish, ah, isso eu tinha certeza. Na última semana eu estava tentando fingir que ele não existia, que ele não significava nada para mim, mas eu sabia que de alguma forma, eu estava absolutamente errada, ele tinha se aproximado de Becca mais do que ele devia, mais do eu queria. Sim, eu sou egoísta e isso é uma coisa que vem da antiga Claire e que provavelmente faz parte de mim.

E eu não me importava, se isso fizesse eu conseguir as respostas que eu queria, isso não me importava, não me atrapalharia.

Eu tinha menos de duas semanas para fazer minha vida andar de alguma forma, o Spring Break estava cada vez mais próximo, e isso significava tia Liza, e tia Liza significava longe de Fell County, e longe de Fell County significava longe de Trish, e bem, longe de Trish significava longe das minhas respostas – e muito provavelmente uma dor tremenda no coração que eu vinha guardando nos últimos dias.

Levanto-me da cama, desenrolando o edredom de minhas pernas, suspiro e olho meu reflexo no espelho a frente de minha cama, vendo Jen dormir, os olhos levemente fechados, suas duas mãos pousadas uma na outra em seu rosto, seu peito subir e descer calmamente, ressonando de leve, os cabelos loiros espalhados em volta de seu rosto pálido de uma maneira bonita. Vendo Jen agora, se eu não a conhecesse diria que ela um anjo.

Que idiota.

Volto meus olhos para o meu próprio reflexo no espelho, meus cabelos ruivos meio bagunçados em volta de meu rosto ainda mais pálido que o de Jen, as bochechas levemente coradas e os olhos brilhando de expectativa em um tom diferente de verde.

Hoje seria diferente, o dia tinha que ser diferente, eu iria ser diferente dos outros dias que tinham se passado, então eu teria que começar meu dia de uma forma diferente.

Dou um gritinho de susto quando o despertador do meu criado mudo começa a tocar histericamente, Jen se assusta rola para o canto da cama e cai no chão com um baque grave.

Começo a rir e ela aparece no pé da cama mexendo no cabelo com cara de sono e do tipo: “mas que merda está acontecendo aqui?”.

Começo a rir mais ainda.

— A qual é Clai, você está rindo especificamente do que? Só porque eu cai da cama por causa do maldito do seu despertador?

Jogo a cabeça para trás e rio histericamente até a barriga doer.

Jen revira os olhos e levanta do chão, e vai para o banheiro do meu quarto.

— Já sei o que irei te dar no seu próximo aniversário; um despertador novo. — Jenna grita por sobre o ombro, fechando a porta do banheiro atrás de si.

Ainda rindo, vou para o armário e pego um short jeans, e moletom cinza caído em um ombro.

Depois que Jen e eu terminamos de nos arrumar, fomos para a cozinha e comemos apenas uma barra de cereal, Jen pegou uma diet, falando que estava prestes a começar uma dieta.

— Pega uma diet para mim, quero entrar na próxima estação com o corpinho da Britney Spears. Quando ela ainda tinha um corpo bonito, claro. — Jen diz, apoiando-se na bancada da cozinha e desembrulhando o pacotinho da barra de cereal. — Iria ser D-E-M-A-IS se você me acompanhasse na dieta, Claire, ai no final da dieta nós podíamos comparar o resultado e quem ganhasse a outra iria ter que pagar uma prenda, ou alguma coisa do tipo.

Dou uma risadinha enquanto mastigava minha barra de cereal.

— Não obrigada, Jen. Nós já fizemos uma coisa muito parecida com isso e eu acabei tendo que dar um beijo na bochecha do Riley Lohan, Mr. Nerd., e isso foi na quinta série, não quero nem imaginar o que você iria pedir para eu fazer se eu perdesse e estou muito satisfeita com o meu peso, parece que o treino mais puxado nos Fellcats está começando a surtir efeito.

Agora era a vez de Jen cair na gargalhada, ela riu por dois longos minutos que eu achava que nunca iriam acabar.

— Isso foi muito engraçado, você tinha que ter visto a sua própria expressão logo depois de ter dado um beijo na bochecha do Mr. Nerd pedindo bala para “desinfetar” seus lábios, foi... Peculiar. — Jen diz, imitando o sotaque britânico do Sr. Banner, me fazendo rir até a barriga doer.

Eu sempre gostei de sotaque britânico, sempre achei muito charmoso, mas quando se tratava do sotaque britânico do Sr. Banner, bem, as coisas eram diferentes. Ele parecia forçar o sotaque, fazendo-o parecer um idiota querendo cobrir sua nacionalidade.

Quando escutamos a buzina do ônibus escolar na frente de minha casa e percebemos que ele já estava buzinando há muito tempo, quase nos engasgamos com o cereal e corremos para a porta, ao mesmo tempo em que eu corria com a minha mochila eu tentava colocar minhas sapatilhas no pé e Jen não parava de gritar falando que perderíamos o nosso ônibus.

E foi ai que aconteceu a coisa mais estranha que alguém se podia imaginar. Ouvir vozes, achar que conhece uma pessoa em algum tipo de vida passada sendo que a conhece há apenas alguns dias não eram nada comparado ao que tinha acontecido diante de meus olhos.

Enquanto eu lutava para tentar colocar uma sapatilha com uma mochila nas costas com gritos e buzinas em meu ouvido, eu tentei alcançar inutilmente a outra sapatilha que estava do outro lado da sala, perto da porta e eu apenas pensei, pensei que seria muito bom se minha sapatilha estivesse ao meu lado e por mínimos milésimos de segundos eu fechei os olhos e pensei isso, tentando fazer isso com a mente como se fosse um extinto, um sexto sentido.

E bem, a sapatilha se moveu e quando eu abri os olhos ela estava aos meus pés, como se estivesse ali há muito tempo.

Fito de olhos arregalados a sapatilha, logo olhando para onde ela estava perto da porta e novamente olhando para a sapatilha aos meus pés, tentando entender de uma forma lógica como aquilo tinha acontecido.

Bem... Eu poderia simplesmente ter imaginado aquilo, talvez ela tenha estado aos meus pés o tempo todo.

— O que você está fazendo Claire? Nós vamos perder o ônibus! — Jen grita com a porta aberta.

Pisco os olhos e pareço voltar à realidade, coloco a outra sapatilha no pé e corro para a porta, tentando esquecer o que tinha acabado de acontecer ali.


               *              *                *               *                *


O sinal da troca para a última aula tocava histericamente, fazendo meus tímpanos doerem de uma forma intensa.

Xingo baixinho enquanto me levantava de minha cadeira e ia para a porta.

Passo pelas pessoas atumultuadas no corredor da troca de sala, os armários sendo batidos com força, pessoas falando alto, outras rindo alto.

Ótimo. Aula de Literatura agora, provavelmente o professor iria falar a aula inteira sobre Shakespeare por causa da peça que se aproximava, nós já tínhamos começado a ensaiar – Sim, eu tinha conseguido o papel de Julieta e ah, adivinha quem para o papel de Romeu? Isso mesmo, Trish Mansen. -, mas hoje felizmente não era dia de ensaio, era apenas nas segundas e sextas depois da escola e infelizmente, amanhã teria ensaio e mais uma vez teria que aguentar Becca nos ensaios com aquelas blusas cheia de decotes, quase querendo enfiar a cara de Trish nos próprios seios, devo deduzir.

E olha que ela nem estava na peça, o Sr. Banner e a Sra. Stevens tinham autorizado Becca nos ensaios para “auxiliar” eles, como uma “auxiliar de diretores”, como se ela fizesse alguma coisa, tudo o que ela fazia era nos intervalos dos ensaios ficar sorrindo feito uma idiota para Trish e jogando o cabelo para lá e para cá, igual a uma vadia.

E Trish parecia bem interessado na “auxiliar”.

— Argh. — Sussurro, alto o suficiente para Jenny Donavan olhar para o lado e me encarar feito uma idiota, e eu juro que por uma fração de segundos eu cogitei a ideia de dar um soco na cara dela.

— O que foi? — Pergunto, apoiando a mão que não estava segurando o livro na base da cintura.

Jenny revira os olhos e joga o cabelo loiro falso para trás, passando por mim indo para a sua próxima aula.

Volto meus olhos para o meu armário e olho novamente o horário, vendo que agora não era aula de Literatura – o que eu agradeci mentalmente – e sim de educação física. Ok, agora eu entendia a parte do “não comemore antes da hora”.

Suspiro e guardo o livro de Literatura no armário novamente, praguejando internamente por essa aula também ser com Trish.

Há uma semana eu provavelmente iria comemorar por ter aula com Trish agora, mas as coisas tinham mudado e bem, eu não gostava muito de ter aulas com Trish Mansen. A) por mais que eu esteja em uma fase de esquecimento, eu não podia ignorar o frio estranho na barriga quando eu via ele e ignorar a sensação de eletricidade quando nossos olhos se encontravam B) ele era um idiota C) Becca também estava na mesma aula que eu e Trish de educação física D) Becca era uma idiota E) Eles eram idiotas F) motivo A.

Era uma lista sem fim.

Suspiro mais uma vez e vou em direção ao ginásio, suspirando pelo que pude perceber a cada cinco passos que eu dava.

Quando entro no ginásio, vejo uma aglomeração na quadra, alguns se alongando, outros em suas panelinhas conversando entre si enquanto o professor Hathaway escrevia algo em seu inseparável “caderno de anotações o qual vocês deveriam ter medo”. Palavras do próprio Sr. Hathaway.

Corro para o vestuário e troco de roupa rapidamente, colocando um short azul escuro que eu achava muito curto e muito apertado e uma blusa branca que pareciam fazer meus seios maiores do que eram.

Ajeito a blusa, tentando faze-la parecer menos decotada do que era. Eu não era Becca e não gostava de coisas me apertando só para chamar a atenção de algum menino, mas também não posso mentir falando que eu nunca fiz isso.

Desisto de ajeitar a blusa e deixo como está, trocando as sapatilhas por tênis, checando meu cabelo no espelho como se ele não tivesse como em todos os outros dias; Ruivo, liso na raiz e à medida que ia descendo pelos meus seios, iam criando cachos que paravam no final de minhas costas.

Suspiro pelo que parecia a milésima vez no dia e saio do vestiário, andando pelo ginásio enquanto meus olhos procuravam inconscientemente Trish, e acabo me arrependendo do que vejo quando o acho: Becca rindo e passando a mão nos cachos castanhos e Trish rindo junto com ela, ambos mais perto um do outro do que eu gostaria.

A raiva queima dentro de mim parecendo algo vivo, se alojando em meu coração e me fazendo ver tudo vermelho.

Cerro as mãos em punho e fecho os olhos me acalmando, totalmente recuperada abro os olhos novamente para me deparar com a mesma cena.

Pestanejo mentalmente e viro-me para onde Matt e um pessoal que eu conhecia estavam.

Entro na conversa facilmente quando somos interrompidos por um apito, e logo pela voz grave e alta do Sr. Hathaway.

— Eu sei que vocês já devem estar cansados por causa das provas que sei que tiveram nas duas aulas anteriores, e é por esse motivo que hoje iremos jogar! — Sr. Hathaway diz, fazendo os alunos gritarem animadamente. — Para dar uma aliviada no estresse iremos jogar beisebol misto, o time não poderá ser formado apenas por meninos ou apenas por meninas, ambos os sexos terão de estar em um mesmo time, assim torna o jogo mais dinâmico e divertido. Então vamos lá, quem irá tirar os times venha para frente.

Algumas pessoas cochicham e o grupo com que eu estava falando me incentiva a tirar o time, vou para perto do professor Hathaway e vejo Becca sair pelo meio dos alunos com um sorrisinho debochado nos lábios vindo em minha direção, parando em minha frente.

— Acho que é com a gente, Blanc. — Becca diz, baixo o suficiente para apenas eu escutar.

— Ok, pelo critério de ordem alfabética Becca pode escolher um jogador para o seu time. — o Sr. Hathaway diz.

— Trish. — Becca diz, olhando para trás onde Trish estava, dando um sorrisinho metido para mim.

— Matt. — Digo, cruzando os braços junto ao peito.

— Jessica. — Becca diz, Jessica indo para o seu lado do campo.

— Stevie. — Digo, Stevie me dando um sorriso amigável, balançando seu cabelo curto preto.

Quando todos os alunos já foram escolhidos, dividimos o campo e começamos a jogar.

Becca começa arremessando e eu rebatendo. Posiciono-me em minha base e ela me olha com desprezo, arremessando a bola na minha direção parecendo um tanto com raiva. Rebato a bola com toda a força que posso, e ela voa na direção contrária que estava vindo, fazendo um estrondo alto ecoar pelo ginásio.

— Strike! — O Sr. Hathaway grita animadamente.

Trish corre para pegar a bola que tinha ido bem longe e não penso duas vezes: corro o mais rápido que posso pelas bases, querendo fazer um home rum.

Meu cabelo batia em meu rosto e eu olhava para trás, tentando ver se Trish já tinha conseguido agarrar a bola, pelo que parecia eu tinha arremessado a bola com muita força e ela continuava voando pelo enorme ginásio.

Acelero até meus calcanhares doerem e me jogo na base em que estava, batendo as costas no chão. Olho para trás e vejo que Trish está com a bola na mão, olhando para mim com os olhos arregalados, a boca quase escancarada.

O Sr. Hathaway me olha com um sorriso enorme nos lábios e apita.

Home Rum! Claire chegou à base de início antes que Trish pegasse a bola. — O professor diz, fazendo os integrantes de meu time pularem e gritarem.

— Uhu! — Stevie grita, vindo me ajudar a levantar.

— Claire está melhor que muito cara por ai. — Diz Josh, sorrindo de um jeito meio estranho, como se essa possibilidade fosse muito remota.

— É isso ai garota! — Matt diz, pegando em minha mão esquerda enquanto Stevie pegava a minha mão direita, ambos me levantando.

Matt me abraça e logo me solta quando o Sr. Hathaway apita.

Olho na direção de Becca e vejo-a me olhando com raiva antes de se virar e me dar às costas.

Trish me olhava como se me sondasse, como se eu tivesse feito algo inacreditável.

Quanto machismo, como se uma garota não pudesse ser melhor que um garoto em beisebol.

Ignoro a vontade súbita de revirar os olhos.

O jogo andava do modo como eu esperava: Eu tinha escolhido os alunos que eu achava que eram melhores no beisebol, e bem, eu tinha acertado. Becca também tinha escolhido várias pessoas boas – Trish era uma delas, ele era muito bom no beisebol -, mas acredito que as minhas escolhas superaram as dela.

Nós estávamos três pontos a mais do que o time de Becca e o jogo estava quase no final quando novamente vi a chance de fazer outro home rum. Era novamente a minha vez de rebater, e quando vi que por mais que Trish tenha arremessado incrivelmente bem, com graciosidade, força e velocidade, eu consegui rebater no mesmo nível.

Vi a bola voar para o outro lado da quadra e enquanto Jessica do time de Becca corria para pegar a bola, eu corria para a próxima base depois da que eu estava.

Vi de relance Becca olhar para mim, mas não dei importância, mas quando me aproximei da quarta base Becca correu em minha direção como se estivesse tentando pegar a bola e com o ombro me empurrou para fora do caminho.

Seu ombro esbarrou no meu com força e eu caio no chão gelado do ginásio, batendo novamente as costas no chão, dessa vez com o dobro da força com que eu tinha caído da última vez.

Um gemido de dor passa pelos meus lábios serrados, e logo a dor é substituída pela raiva.

Levanto-me do chão enquanto Becca olhava para mim com um sorriso de satisfação nos lábios.

— Opa, acho que sem querer esbarrei em você. — Becca diz, arregalando os olhos dramaticamente.

Aproximo-me de Becca e olho nos seus olhos, quase podendo ver o brilho de um medo repentino brilhar neles, logo sendo disfarçado com indiferença.

— Você é doida ou o que Becca? — Eu grito em sua cara, olhando-a nos olhos.

— Se liga garota eu não fiz nada, a culpa não é minha se você não sabe correr ser tropeçar nas suas próprias pernas. Pare de dar um passo maior que as pernas, Claire. Conselho de amiga. — Ela diz sorrindo cinicamente, se aproximando de mim e baixando a voz, para que apenas eu escutasse e sussurra no meu ouvido: — Acho que o mesmo se aplica a Trish, você sabe do que eu estou falando: você nada, nada e morre na praia. Totalmente ridícula.

Suas palavras me atingem como uma faca no meu coração, rasgando de dentro para fora, minha têmpora começa a latejar e meu coração acelera drasticamente, como um presságio de uma tempestade.

E que tempestade.

A raiva se junta à dor em uma mistura macabra, resultando em ódio puro.

— Eu sinto pena de você, Becca. — Digo alto para todos ali ouvirem, mascarando todo o ódio em palavras envenenadas. — Sério, eu sinto muita pena de você, desse ser inútil e desprezível que você é tentando provocar raiva e mágoa nas pessoas para poder mascarar a sua raiva e a sua dor. Acho que todos aqui sentem pena de você.

Becca abre a boca para falar algo, mas a fecha novamente ficando vermelha de raiva. Literalmente.

Dou as costas para ela e vou à direção do meu time, que todos estavam calados e olhando para mim com olhos espantados, logo sendo substituídos por expressões de satisfação.

— Meeeeeeeeeenina, você tirou as palavras da minha boca. — Melodie diz logo dando uma gargalhada.

O Sr. Hathaway não interferiu em nenhuma vez e isso não me impressionou, ele mesmo dizia que coisas de alunos eram coisas de alunos e não se envolveria nunca, apenas se o ocorrido se dizia respeito a sua aula ou/e a sua pessoa.

O jogo se retoma e continuamos de onde tínhamos parado, Trish arremessa a bola novamente e eu rebato com a mesma força, e do mesmo jeito, com a adrenalina ainda correndo nas minhas veias, corro novamente pelo ginásio, tentando fazer um home rum.

E novamente Becca me joga no chão, com a mesma expressão de desprezo total.

Mas agora eu não tinha mais tempo ou paciência para falar com Becca, a raiva estourou novamente em mim como uma bomba relógio, Becca tinha se aproximado mais e no mesmo segundo suas mãos estavam em meu cabelo, puxando-me novamente para o chão.

Minhas mãos voam para o seu cabelo e nós rolamos no chão da quadra, fico por cima de Becca e solto as mãos de seu cabelo, dando um tapa em sua bochecha direita, deixando a marca de minha mão ali.

Becca grita de raiva e sinto sua unha arranhar a pele do meu braço, fazendo a raiva não estourar e sim explodir dentro de mim.

Olho para o meu braço, agora com a marca da unha de Becca em minha pele, uma linha vermelha que me dava mais raiva.

— Você não devia ter feito isso. — Digo, dando-lhe outro tapa na cara.

— Sua vadia! — Becca grita, se debatendo debaixo de mim, e no outro segundo era eu que estava por baixo dela.

Todos os outros alunos estavam estáticos, como se ainda tivessem em choque, tudo tinha acontecido muito rápido e até o professor estava nos olhando com olhos arregalados de raiva.

Quando Becca ia me dar um tapa na cara, seguro sua mão por reflexo, puxando-a para baixo novamente, mas ela me da um tapa na cara mesmo assim com a mão livre.

Fico por cima de Becca novamente e eu estava totalmente desvairada.

— Você — Um tapa. — não deveria — Outro tapa — nunca ter — Mais um tapa — feito isso. — Epa, outro tapa.

— Segurem elas! — O Sr. Hathaway grita, correndo em nossa direção.

Sinto braços fortes envolvendo minha cintura, puxando-me para longe de Becca.

Debato-me como uma criança birrenta nos braços de Matt que me carregava para longe de Becca, que estava com a cara vermelha e o cabelo todo arrepiado. Eu não deveria estar muito diferente dela, mas eu não me importava, tudo o que eu queria era bater em Becca até ela não lembrar mais do próprio nome.

— Me solta Matt! — Grito, me contorcendo nos braços de Matt.

Becca também estava sendo carregada para longe de mim, os braços de Trish envolvendo sua cintura reta me deixou enjoada.

— Ei Jack Chan, pare de birra e fica quietinha porque a coisa já tem preta para você. — Matt sussurra em meu ouvido, não conseguindo me deixar menos furiosa.

Becca tinha parado de fazer birra e estava sorrindo daquele jeito ridiculamente metido para mim nos braços de Trish, fazendo-me querer socar a cabeça dela na parede.

Trish me olhava como se fosse começar a gargalhar a qualquer momento, seus braços ainda pousados em volta de Becca.

Minha fúria se esvai e só o que sobra é a dor no peito constante, porque ele estava fazendo isso comigo? Como se não bastasse ter que conviver com ele cinco dias por semana ainda teria que aturar isso?

Por favor, onde estava a justiça quando nós precisávamos dela?

“Ninguém nunca te falou isso? A vida não é justa”, pois é Isabella Swan, você estava tremendamente certa.


              *               *              *                    *               *


— Você é demais Clai, daria tudo para ter visto Becca levar uma surra sua. — Jen diz, tomando sua coca diet no horário do almoço.

Depois de nos separarmos, eu e Becca fomos para a sala do Diretor Holtzman e bem, acho que ele foi bem caridoso na punição.

— Isso que as senhoritas fizeram é totalmente inaceitável, e por esse motivo vocês ficarão duas horas a mais depois da saída na detenção. — O Sr. Holtzman diz, apoiando os cotovelos na mesa de madeira de carvalho – pelo que pude deduzir – e cruzando as mãos por baixo do queixo, olhando-nos severamente.

Eu tive vontade de rir de alegria daquele momento, achava que iria pegar pelo menos uma semana de suspensão ou até mesmo expulsão imediata e com essa noticia eu tive vontade de cantar de alegria, mas não o fiz.

Olho pelo canto dos olhos Becca ao meu lado e pude perceber que ela também estava tão feliz quanto eu pela notícia, que o Diretor Holtzman achasse que estava sendo “tremendamente severo”, eu não me importava, na verdade gostava muito.

— Becca foi idiota por ter me chamado de vadia, ela é louca. — Digo, mastigando meu sanduíche de peito de peru.

— O que? Ela te chamou de vadia?! — Jen diz, levantando-se da cadeira.

Pego sua mão e a empurro para baixo, fazendo-a sentar-se na cadeira novamente.

— Jen, acalme-se, pode acreditar que eu a fiz engolir cada puxão de cabelo, cada arranhão, cada xingamento que ela falou para mim.

Nós duas rimos.

— Eu queria taaaaanto ter visto isso. Para ser sincera eu acho que nasci para ver Becca tomando uma surra daquelas de você.

— Se você quer saber eu agradeço por você não estar lá: Você provavelmente não iria aguentar e ia bater nela mais do que eu mesma e por mais idiota que Becca seja não queria ver ela em um hospital.

Nós duas nos olhamos sérias por alguns segundo logo caindo na gargalhada só de pensar em Becca toda enfaixada em uma cama de hospital com aquele vestido horroroso de hospital azul.

Conversamos sobre amenidades e logo o sinal bateu novamente e o almoço acabou.

Peguei meu livro de física e corri para a aula, esperando que tudo acabasse logo para estar em casa novamente.


O sinal da última aula bateu e se eu não tivesse que ir para a detenção, estaria tremendamente feliz.

Recolho meus livros da mesa e corro para o corredor, pegando minha mochila em meu armário e enfiando apenas meu caderno, celular e chaves nele, logo saindo do corredor tumultuado e indo para a sala da detenção, que na verdade era uma sala comum que ficavam os alunos que tinham feito algo e um professor que ficava dentro da sala para que ninguém fizesse nada inescrupuloso, tipo colocar fogo na sala.

Sento-me na segunda cadeira da segunda fileira ao lado da porta e pego meu caderno, desenhando coisas aleatórias que vinham a minha cabeça na última folha do caderno.

Quando volto à realidade vejo que a sala já estava cheia, pelo menos uns dezesseis alunos estavam na sala, jogando bolinhas de papel uns nos outros, outros desenhando como eu, outros ouvindo música nos fones de ouvido.

Mordo o lábio inferior e quando olho para o que eu estava desenhando fico estática.

Um par de olhos me fitavam do meu caderno, pareciam tão reais, tão profundos que fiquei vários minutos fitando eles. Fecho o caderno com força e o guardo na mochila, encostando a cabeça na mesa.

Como eu queria estar em casa.

Gemo baixinho e apenas espero os minutos passarem lentamente pelo relógio embutido acima do quadro, o tic tac irritante ecoando em minha mente sem parar.

Pego meus fones de ouvido e coloco uma playlist lenta e calma, para tentar abafar todos os meus pensamentos perturbados.

Hoje foi um dia diferente, mas não no sentido diferente que eu queria, mas não deixou de ser diferente.

Diferente porque A) Trish e Becca pareciam cada vez mais próximos, o que não me alegrava nenhum pouco B) Eu tinha brigado com Becca, isso era uma coisa meio rotineira, mas agressão física não era tão comum C) Eu estava rindo mais do que nos outros dias D) A dor normal em meu coração parecia ter inflado a níveis máximos E) Eu estava suspirando mais do que nos outros dias.

E eu só queria que a dor aqui dentro parasse, ou pelo menos que eu aprendesse a controla-la. Isso era tão depressivo que eu mesma não me aguentava mais.

Abro os olhos e vejo Becca escrevendo em seu caderno, parecendo não prestar atenção em mais nada.

Levanto mais um pouco a cabeça e vejo que na verdade ela está com a atenção voltada para o celular, o caderno tampando a visão da Sra. Swank, assim ela podia fazer o que estava fazendo com o celular sem ter o aparelho tomado pela professora.

Mordo o lábio inferior novamente e apoio as costas no encosto da cadeira, querendo enxergar o que Becca estava fazendo.

Pelo que pude perceber ela estava trocando mensagens com alguém.

Meu coração para quando ela envia a mensagem e aparece o nome na tela: Trish Mansen.

Meu coração parece voltar a bater agressivamente, machucando minhas costelas.

Por que eu estava com tanto ciúmes? Não tinha motivos para isso!

Por quê?

Por quê?

A pergunta se repetia em minha cabeça como uma torneira mal fechada, pingando como ácido em minha mente.

Fecho os olhos e sinto minha garganta se fechando e meus olhos começando a arder.

Meus olhos se prendem ao relógio na parede: Faltavam cinco minutos para eu fugir desse pesadelo, qualquer lugar no momento era melhor que ficar aqui vendo Becca trocar mensagens de amor com Trish.

Prendo e solto o ar incontáveis vezes até o sinal bater e eu praticamente pular da cadeira e correr para fora da sala, não parando de correr até chegar ao estacionamento vazio.

Respiro o ar puro e fecho os olhos, tentando clarear minha mente, tentando esquecer a minha vida.

— Claire?

Prendo o ar nos pulmões quando ouço aquela voz, aquela voz que fazia minhas pernas ficarem bambas e meu coração bater mais forte, dissipando – ou atiçando – o choro que subia pela minha garganta.

Abro os olhos e estou afogando-me no azul.

Azul. Azul. Azul, é só o que consigo ver.

Seus olhos estavam dentro dos meus e nada mais importava, ele estava olhando diretamente para mim, ah como eu tinha sentido falta disso.

Nada do que eu tinha dito ou feito importava agora, eu não ligava para o fato de ter dito para ele mesmo indiretamente que não queria mais falar com ele, nada mais importava quando seus olhos estavam dentro dos meus, quando nossos rostos estavam tão pertos um do outro.

Azul...

Esses olhos eram tão familiares!

Reviro minha memória em busca da resposta que eu queria, que na verdade eu já sabia e a verdade cai sobre mim como neve no deserto, como um bastão de beisebol sobre o meu estômago cheio de borboletas.

Seus olhos eram azuis como águas do Caribe.

Minha garganta fecha e meus joelhos cedem, logo batendo contra o chão do estacionamento.

Como eu pude ser tão burra e não ter lembrado? Os olhos da voz, os olhos de Trish!

O que estava acontecendo?

Como ele podia ter exatamente os mesmos olhos que a voz?

Será que Jen estava certa? Será que Trish era a voz?

E se fosse como ele conseguia falar comigo telepaticamente?

O que estava acontecendo?

— Claire? Você está bem? Claire fale comigo! — Trish grita, ajoelhando-se ao meu lado e segurando minhas mãos frias.

Minha garganta estava apertada e seca, eu queria falar com Trish, mas eu não conseguir, minha voz estava perdida dentro de mim e eu não conseguia acha-la.

Trish solta minhas mãos e segura meu rosto fazendo-me olha-lo diretamente em seus olhos novamente, nossos narizes quase roçando um no outro.

Pisco várias vezes tentando clarear a mente, fracassando.

— S-seus olhos... V-você tem os mesmo olhos a... A voz. — Digo, minha voz falhando no momento mais impróprio, saindo mais esganiçada na última palavra.

A expressão de Trish endurece seus olhos virando duas pedras de gelo azuis, sinto suas mãos tencionarem em meu rosto.

Sua indiferença faz o bolo em minha garganta aparecer novamente e meus olhos arderem como nunca, minha visão estava embaçada e eu senti a primeira lágrima quente escorrer pelo os meus olhos, deixando uma trilha quente e amarga em minha bochecha.

— Por favor... Por favor, diz que eu não imaginei tudo, diz que isso tudo não foi uma mentira! — Eu grito com a voz rouca, minhas mãos apertando a gola de sua camisa branca.

Sua expressão se suaviza e seus olhos derretem novamente dentro dos meus.

Trish me puxa para dentro de seus braços e encostei minha cabeça em seu ombro. Ele me envolveu com seus braços e subitamente me senti segura, me senti completa, me senti em casa.

Seu cheiro rodou em volta de mim e isso me acalmou.

Ficamos por vários minutos naquela posição, eu poderia ficar para sempre daquele jeito que eu não me incomodaria e ele também parecia estar... Feliz com aquilo.

Levanto minha cabeça apenas para fitar seus olhos, tão profundos, tão lindos, tão azuis, tão familiares que eu queria me afogar neles.

Trish olhava-me de modo intenso e quase tenho um colapso quando ele baixa o rosto para ficar do mesmo nível que o meu, seus olhos me consumindo, sua boca meio aberta fazendo seu hálito quente bater no meu e fazendo minha cabeça girar.

Trish se inclina na minha direção e eu mordo o lábio inferior nervosamente, os olhos de Trish escorregam para os meus lábios e ele se prende ali por longos segundos até se voltarem para os meus olhos novamente, como se estivesse em duvida.

Meus dedos se apertam ainda mais na gola de sua camisa e as mãos de Trish em minha cintura trilham de volta para o meu rosto deixando um caminho quente onde suas mãos passaram, ele pega meu rosto em suas mãos e acaricia minhas bochechas e claro, elas ruborizam.

Ele separa mais os lábios para falar algo, mas fecha novamente.

Ele se inclina mais um pouco na direção de meus lábios e eu fecho os olhos, suspirando.

— Trish! — Becca grita, acenando em nossa direção, eu e Trish olhamos para Becca simultaneamente e depois nos olhamos, meus olhos escorregam para baixo e eu fico sem ter o que dizer.

Levanto-me do chão e limpo a parte de trás de meu short, Trish levantando-se também e olha na direção de Becca e eu poderia chutar, com uma expressão de raiva.

— A gente se vê, Trish. — Digo, forçando um sorriso no rosto, mas Trish percebe.

Viro-me para a saída da escola e sinto as mãos dele em volta de meu pulso esquerdo, fazendo-me virar para olha-lo.

— Não Claire, não vá. — Ele diz, e me pergunto se ele disse isso para eu ficar porque ele me levaria para casa ou se ele estava falando de um modo mais abrangente tipo: “não vá, não pare de falar comigo novamente”.

Becca já tinha se aproximado e olhava para mim com raiva, seus olhos passando de Trish para mim infinitamente.

— O que ela está fazendo aqui, Trish? — Becca pergunta, colocando as duas mãos em seu quadril estreito.

Engulo a seco e quando vou responder Trish me interrompe.

— Nada que lhe diz respeito, vamos Claire. — Trish diz, escorregando a mão de meu punho e entrelaçando seus dedos nos meus.

— Como assim? Você não vai me levar para casa? — Becca grita, correndo atrás de nós.

Trish para de andar e se vira para Becca que também para de correr.

— Acho que Jessica também estava na detenção ela tem um carro, vá de carona com ela.

Gargalho internamente apenas para não quebrar o clima tenso que tinha se instalado entre Becca e Trish.

Becca fica vermelha de raiva nos olha de cima a baixo, joga os cachos castanhos para trás e nos dá as costas rebolando de volta para a escola.

Quando ela já estava a uns bons dez metros de distância, solto nossas mãos e o olho como quem diz: “o que aconteceu aqui?”.

Ele da uma gargalhada antes de me responder.

— Ela já estava me enchendo o saco, ela é possessiva.

Dou uma risadinha e ando ao seu lado resistindo ao impulso de entrelaçar nossas mãos novamente.

— Se tratando de Becca nada mais me surpreende.

Trish achava que o nosso quase beijo tinha me distraído do que eu tinha falado para ele, de começo realmente me distraiu – quem não se distrairia com o cara mais gato e gostoso da face da terra quase te beijando que atire a primeira pedra -, mas agora eu lembrava-me claramente do que tinha acontecido.

O caminho para minha casa é silencioso e quando eu estava prestes a quebra-lo percebo que já havíamos chegado a minha casa.

Engulo a seco e fito o painel do carro sem realmente enxergar e olho para Trish, virando-me em sua direção.

— Espero que você não tenha se esquecido do que eu te perguntei, e não, não foi uma pergunta retórica. Você não precisa me responder agora, mas sou toda a ouvidos quando você decidir abrir o jogo comigo. Enquanto isso não acontece... Bem, eu não sei o que fazer. — Digo sem saber o porquê de ter sussurrado tudo, como se se eu falasse mais alto, a serenidade fosse me escapar, o que estava quase acontecendo.

Trish olha para mim por longos minutos até finalmente assentir e voltar os olhos para o painel.

— E obrigada pela carona.

Ele me olha mais uma vez e mostra-me um sorriso lindo, mas era o sorriso errado, pois não chegava ao seus olhos, seus olhos estavam tristes e em duvida.

Mostro-lhe o melhor sorriso que posso e saio do carro, fechando a porta como sempre com força demais.

Ando rapidamente pelo jardim e entro em casa, trancando a porta ao passar por ela.

Finalmente em casa.

Fecho os olhos e quase sorrio, mas me lembro do que tinha acabado de acontecer no carro e a vontade súbita de sorrir desaparece com tanta rapidez com que apareceu.

Tiro a sapatilha com os próprios pés e vou para o meu quarto, vendo uma Jenna impaciente sentada em minha cama e lixando as unhas da mão. Jen levanta o olhar para mim e da um sorrisinho diabólico, o que só poderia resultar em algo... Grandioso. Para dizer pouco.

Ela corre em minha direção e me da um abraço rápido, me puxando de volta para a cama, fazendo-me sentar nela.

— Que bom que você chegou, tenho uma ideia bri-lhan-te.

Quando Jen falava separando as sílabas significavam duas coisas: ou a noticia era muito ruim ou muito boa. No momento eu estava apostando da segunda opção.

— E eu posso fazer parte dessa ideia bri-lhan-te? — Arregalo os olhos dramaticamente, pronunciando as sílabas devagar.

Ela bate as mãos e solta um gritinho animado.

— Eu estava pensando aqui sozinha antes de você chegar que seria muito legal se a CHS tivesse uma festinha para animar antes do Spring Break.

Agora sim eu estava gostando, tinha acertado e a noticia era boa. No mínimo.

Um sorriso cresce em meus lábios e Jen solta uma risadinha.

— Eu sabia que você iria gostar da ideia. — Ela diz, se inclinando mais em minha direção, e eu sabia que agora ela iria começar com os detalhes.

— Bem, eu estava pensando em algo clássico, algo que nós não fazemos há muito tempo. — Ela para e eu aceno com a cabeça fazendo-a prosseguir: — Eu pensei em algo lindo e clássico como um baile de máscaras.

Jen levanta uma sobrancelha e levanta levemente a ponta dos lábios em um sorriso do tipo: “E ai?”.

Sorrio abertamente e em minha cabeça já estava imaginando o ginásio de nossa escola todo coberto com cores bem neutras e bem cult, do tipo vinho, branco, preto e dourado.

— Jenna, você é a melhor amiga e conselheira e promotora de eventos que qualquer garota poderia ter.

Ela pende a cabeça para trás e ri animadamente.

— Eu sei, baby.

Dou uma gargalhada, mas logo paro quando me lembro de um empecilho que era, bem, um grande empecilho.

— Jen, acho que temos um probleminha. — Digo, mordendo o lábio inferior e levantando a ponta dos lábios em um sorriso sem graça. Jen me olha em suspeita. — Ok, ok. Acho que probleminha é eufemismo; temos um problemão.

— O que é agora, Claire?

— Bem, acho que depois do ocorrido de hoje com Becca ele não irá aceitar a nossa proposta de festa mesmo que seja uma coisa boa, tipo uma despedida por causa do Spring Break.

Jen arregala os olhos e me olha tipo: “Você está brincando né?”.

— Por favor, Claire. O Sr. Holtzman é uma peça descartável, nós o dobramos facilmente e sem problema nenhum. — Ela diz, tirando os olhos de mim e voltando a lixar a unha de seu polegar.

— Tem certeza, Jen? Acho que o Sr. Holtzman não irá aceitar a proposta. Pelo menos não tão facilmente.

Jen para a lixa no meio do caminho e me olha novamente, com cara de que iria pular no meu pescoço a qualquer momento.

— Claire, você realmente acha que o Sr. Holtzman vai nos barrar de fazer uma festa só por causa da briga com Becca? É até meio óbvio que ele vai deixar, porque você sabe: sempre quando nós fazemos uma festa na CHS nós ficamos sem aula por um dia inteiro para os preparativos e ele não seria idiota o suficiente para perder uma oportunidade de não olhar para a nossa cara por um dia inteiro. E nós somos do comitê da CHS, nós sabemos o que é bom para a escola e para os alunos. — Jen diz, voltando a lixar a unha, terminando o discurso com o levantar da sobrancelha direita, querendo dizer algo do tipo: “Viu? Simples assim”.

Suspiro e sorrio para Jen, agradecida.

— Sério, eu não deveria ser presidente do comitê geral da CHS, você merece esse cargo mais que eu.

Jen me olha novamente e sorri.

— Acho que não, baby. Prefiro ficar com o cargo de vice mesmo sabe Jenna presidente do comitê geral da County High School não combina muito. — Ela termina de falar e solta uma gargalhada, me fazendo rir também.

— Você não existe, sério.

— Existo sim, amiga. Existo tanto que iremos fazer uma festa de abalar que vai colocar a County High School abaixo com a nossa festa com o tema: O baile de Máscaras. — Jen diz, gesticulando o tema da festa como se fosse um Game Show.

Bagunço seu cabelo loiro reluzente.

— Mas você quer fazer o baile bem clássico mesmo? Do tipo “as máscaras caem à meia-noite” e tudo mais? — Digo, pegando um esmalte e começando a pintar a minha unha do indicador.

— Claro né, Claire. Um baile de máscaras precisa ser clássico, se não é clássico não é um baile de máscaras. — Ela diz, como se fosse uma coisa tão óbvia que qualquer pessoa deveria saber.

— Ok, então nós precisamos falar com o Sr. Holtzman amanhã mesmo, nós não temos muito tempo até o Spring Break, e também não podemos fazer a festa bem em cima das férias, provavelmente as pessoas irão viajar alguns dias antes.

Jen pensa um pouco antes de responder.

— Você tem razão, amanhã mesmo iremos falar com ele. Espero que meu poder de persuasão ainda esteja perfeito como sempre. — Jen diz e levanta novamente a sobrancelha direita e volta os olhos para a lixa em suas mãos.

Jogo a cabeça para trás e rio.

Eu também esperava que o poder de persuasão de Jen estivesse perfeito, afinal, iriamos precisar dele no dia seguinte.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como já postei os dois capítulos em que vim trabalhando esses últimos dias, provavelmente irei ficar sem postar por uma semana, não estou prometendo nada, mas assim que o outro capítuo estiver completo, tento posta-lo aqui o mais rapidamente possivel. Um bjo e vamos para as reviews!