Fallen Angels escrita por Lívia Nunes


Capítulo 12
Esclarecimento


Notas iniciais do capítulo

UHUUUUUUUUUUUUUUUUU, eai galera? Estou super mega hiper ultra feliz por poder estar postando aqui para vcs antes do esperado, acredito que vcs estão curiosos para com o que irá acontecer agora mas bem, chega de papo e vamos ao que interessa! Eu escrevi dois capítulos por agora e estou trabalhando no terceiro desde que fiquei sem net, e podem creditar, é MUITA coisa para mim.
Os capítulos que irão se seguir são sequencias de esclarecimentos, ia passar spoiler agorinha mesmo mas dei delete e pronto kkk, bora ler!
Nos vemos nas notas finais ;*



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—Pronto, já falei com a minha mãe, irei dormir na sua casa hoje. — Jen diz totalmente feliz.

Isso era bom, não aguentava mais esconder tantas coisas de Jen e também uma hora ela iria ficar sabendo de tudo, ninguém nunca sabia quando o “rádio corredor” iria atacar outra vez. A escola inteira já parecia saber o que estava acontecendo comigo e com Trish.

Como assim o que estava acontecendo comigo e com Trish?! O que eu estou pensando? Não estava acontecendo nada comigo e com Trish! Nada!

Já fazia cinco dias desde o episódio perfeito – e desastroso – da aula de Literatura, o dia em que eu e Trish tínhamos interpretado Romeu e Julieta, o dia em que eu tinha falado para ele que eu não podia mais continuar com isso – o isso que eu nem se quer sabia o que era direito -, e também foi daquele dia em diante que Trish não fala mais comigo, me ignora como se eu fosse um cachorro sarnento, e também está dando uma atenção mais que ridícula para Becca.

Sim, eu estou com ciúmes.

— E você não vai deixar me escapar nada Claire Stephanie Blanc. — Jen diz, me tirando de meu blá blá blá interno, me surpreendendo e me deixando irritada ao mesmo tempo por ter falado meu nome inteiro. Eu não gostava dele todo.

— Argh. Ok, Jen.

Andamos lentamente até a frente do campus da escola, onde nós costumávamos esperar o ônibus.

Jen parecia estar impaciente para chegarmos logo em casa, batendo o pé em um ritmo irritante no chão.

— Ahh, para com esse barulho Jen! — Grito, irritada.

Jen me olha em duvida e para de bater com o pé no chão.

— Obrigada.

— Bem, você pode ir adiantando alguma coisa. — Ela diz com tom persuasivo.

— O que você quer saber Jen?

— Hmm, como você está, o que está se passando pela sua cabecinha, o porquê de você andar tão irritadiça ultimamente, coisas que toda melhor amiga precisa saber.

A olho realmente surpresa.

Ela em nenhum momento se quer tocou no nome de Trish, pude ver em seus olhos também apenas preocupação comigo, amor e abrangência.

—Hm, é, hm, e você não quer saber nada sobre Trish? —Pergunto meio sem jeito.

Jen sorri e me abraça de lado, acariciando o meu ombro.

— Clai, eu não vou te pressionar a nada, muito menos pressiona-la se você não quiser falar nada. Sou sua amiga e estou aqui para te ajudar, e não para deixa-la ainda mais apreensiva.

A olho meio em espanto, no momento esperava que ela estivesse imensamente curiosa sobre Trish, mas me surpreendeu – não que isso fosse alguma novidade – novamente.

Jen era a amiga que qualquer pessoa daria a vida para ter.

Mostro-lhe um sorriso aberto e sincero e a abraço com vontade.

— Ah Jen, você é a melhor amiga de todas e você sabe disso.

Ela ri de um jeito que me fez sentir coisas agradáveis, como se tivesse voltado na infância, me fazendo sentir como se estivesse em casa.

— Eu sei disso baby, agora vamos o ônibus está virando a esquina.

Viro-me para a direção em que Jen apontava com o queixo e vejo o ônibus se aproximando.

— Ok, vamos.


                *             *                 *                       *


— Mãe? Você está em casa? — Grito, destrancando a porta da frente e entrando seguida por Jen.

Antes de virmos para a minha casa, Jen resolvera ir a sua casa pegar umas roupas e acabamos ficando lá até anoitecer conversando sem perceber as horas, seus pais haviam acabado de nos deixar na frente de casa.

Tiro meu tênis rapidamente, colocando-os ao lado da porta.

— Mãe?

Subo a escada ouvindo Jen atrás de mim, coloco minha mochila em cima da mesa de estudos e desço a escada.

Um papel estava cuidadosamente dobrado em cima da mesa de centro da sala, com o meu nome escrito pelo que pude perceber com a caligrafia de minha mãe.

O pego e leio-o rapidamente.

Querida, desculpe, desculpe por não ter te avisado antes. Me sinto tão culpada! O Sr. McKinley me falou de última hora que estava tendo um congresso gastronômico em New Orleans e nenhum de nossos sócios havia ido e ele me prometeu pagar o dobro se eu fosse ao congresso além de ganhar uma oportunidade profissional que não pude recusar. Desculpe-me filha! Você não sabe o quanto a mamãe queria que não fosse assim, por favor, não fique chateada comigo, é meu trabalho. Prometo que quando chegar vamos fazer um passeio de mãe e filha para podermos conversar sobre isso certo? Eu te amo filha, irei ficar três dias fora, liguei para a mãe de Jenna e ela a deixou dormir com você por esses três dias, assim você não dorme sozinha.

Um Beijo e te amo, Mamãe.



Hm, ótimo.

Não que eu estivesse surpresa com esse bilhete, claro que não.

Era normal minha mãe sair a trabalho assim, sem aviso prévio. E por mais que isso me chateasse profundamente, eu entendia minha mãe.

Desde que papai havia morrido, minha mãe dava duro para poder sustentar a enorme casa em que morávamos, e era agradecida por ter conforto.

Mas isso não tirava o meu direito de ficar chateada ou magoada, seja lá o que for.

Mas precisava entender, e era o que eu sempre fazia. Pelo menos Jen iria dormir aqui por três dias, daria tempo suficiente para contar tudo o que deveria para ela.

— O que foi Claire? — Jen pergunta se aproximando.

— Hm, nada. Minha mãe irá ficar fora por três dias e você vai ficar aqui, isso não é legal? — Digo fingindo entusiasmo.

Como isso era ruim.

Jen ainda não tinha relaxado, e pude ver em seus olhos que ela não havia acredito nenhum pouco em meu entusiasmo.

Começo a ouvir um barulho estranho, como se fosse um suspiro misturado a soluços e de repente Jen me envolve em seus braços e fica sussurrando para mim que tudo ficará bem e só quando coloca a mão nos olhos percebo que estou chorando e que o barulho estranho estava vindo de mim e de meu choro escandaloso.

E eu nem sabia direito o porquê de estar chorando assim, na verdade tinha anos que eu não chorava desse jeito.

Foi então que percebi que era o acúmulo de tudo, de sentimentos, sensações, acontecimentos, tudo e isso só realmente veio a tona quando comecei a chorar descontroladamente.

Tudo parecia estar conspirando contra mim ultimamente. A morte de meu pai do nada vir à tona e eu ficar depressiva mesmo ele tendo morrido há dez anos, a voz que costumava me atormentar, Trish e agora a minha mãe.

Era muita coisa para processar, muita coisa para lidar.

Qual é, eu tinha só dezessete anos! Tinha vontade de sair correndo pela rua dizendo: Ei, eu tenho dezessete anos, não era para isso tudo estar acontecendo comigo, é muita coisa para lidar!

Aperto o rosto contra o pescoço de Jen e a abraço fortemente, encharcando sua blusa.

— Ei, ei Clai olhe para mim. — Jen diz, colocando meu rosto entre suas mãos e me fazendo olha-la diretamente em seus olhos azuis escuros, transbordando compreensão e benevolência, limpando as lágrimas que caiam sem parar pelos meus olhos com a ponta dos dedos. — Eu estou aqui ok? Conte comigo sempre amiga, agora me diz tudo o que está te sufocando.

E foram essas palavras que me libertaram totalmente, e não foi por causa de choro ou soluços que me fizeram não falar tudo o que estava preso em minha garganta, tudo o que estava me enforcando.

Falei sobre absolutamente tudo para Jen: O quanto estava sofrendo com a morte de meu pai por mais que isso tivesse acontecido há dez anos, a voz, Trish e tudo o que ele me fazia sentir, minha embolação com Matt, as complicações com Becca, minha mãe, tudo.

Tudo o que senti vontade de falar na hora eu falei.

Jen ouvia atentamente tudo o que eu dizia, assentindo em alguns momentos para dizer que entendia e acariciando meus ombros enquanto eu mexia com as mãos sem parar.

— Então quer dizer que aquele cordão que você guarda no fundo de sua gaveta foi à voz que você estava ouvindo? — Jen pergunta imensamente compreensiva.

— Como você sabe sobre o cordão? — Digo querendo parecer com raiva, mas tudo o que passou pelo os meus lábios foram palavras fracas.

— Amiga, eu conheço o seu guarda-roupa mais que você mesma, isso não é um bom esconderijo se você quiser esconder algo de mim.

— Hm, bom saber disso.

Jen da uma risadinha e logo para, me olhando com ternura.

— Fico muito feliz mesmo Clai por você ter me contado tudo o que está acontecendo com você e não entendo o porquê de você não ter me contado nada disso antes, eu nunca iria julgar você por causa da voz ou qualquer outra coisa, nunca.

— Você não acha que eu sou uma maluca que ouve vozes e age de modo estranho?

— Claro que não Clai, minha avó também costumava ouvir vozes quando ela era viva, e isso não mudou o amor que eu sentia por ela, e nunca a achei louca, na verdade ela era muito sábia Claire. — Ela diz com emoção e nostalgia nos olhos e na voz.

A abraço fortemente e suspiro.

— Obrigado Jen, obrigado por tudo, obrigado por ser a melhor amiga de todas.

Ela ri e me larga para olhar em meus olhos e jogar seus fios lindamente dourados para trás.

— Acho que isso é um dom.

Dou uma risada e minha barriga ronca de fome.

— Bem, que tal nós pedirmos uma pizza, e comer sorvete de chocolate enquanto falamos mal dos garotos? Geralmente funciona e muito.

Dou outra risada e bagunço seu cabelo perfeitamente alinhado.

— Claro, estava pensando agora mesmo em o que poderíamos comer sem que demorasse muito.

— Ótimo! Vou pedir a pizza enquanto você vai comprar o sorvete, certo?

— Certo.

Levantamos do sofá e Jen se dirige ao telefone embutido na parede da cozinha, discando o número da pizzaria mais próxima, provavelmente a Pizza’s County.

A ouço pedir a pizza enquanto pegava as chaves da garagem para poder pegar minha bicicleta que geralmente não usava.

Eu precisava de um carro urgentemente. Minha mãe prometerá me dar um esse ano ainda, falando que tinha medo de me deixar dirigir, pois o índice de acidentes na cidade havia aumentado drasticamente, e foi por esse exato motivo que os pais de Jen também não haviam comprado um carro para ela.

Esse era um dos motivos ruins de ter mães que eram amigas de longa data.

Ouço a voz de Jen - tentando argumentar com o atendente o porquê de eles não poderem dividir a pizza em dois sabores – se distanciar quando saio de casa e vou para a garagem.

Ando em silêncio até a garagem, apenas com o barulho da relva debaixo de meus chinelos que eu havia pegado na porta, obviamente eram da minha mãe.

Abro a porta da garagem e tiro minha bicicleta de lá, trancando a novamente quando ouço um barulho estranho nas árvores ao lado da minha casa.

Viro-me rapidamente para a direção do barulho e fito com dificuldade as árvores escuras sendo iluminadas apenas pela luz da lua, sendo que o poste de energia estava com a luz fraca e piscava, parecendo queimar a qualquer instante.

Monto na bicicleta com um movimento rápido querendo logo sair dali.

Eu havia me esquecido de como era bom andar de bicicleta, sentindo o vento gelado bater em meu rosto, parecendo levar as tristezas e temores, parecendo lavar minha alma.

Pedalo com facilidade pelas ruas de Fell County, o mercado mais próximo de minha casa ficava a dois quilômetros que se tornavam pequenos ao andar de bicicleta.

Por todo o percurso eu parecia me sentir vigiada, como se algo estivesse espreitando por entre as árvores, observando cada mínimo movimento que fazia.

Pedalo mais rápido e quando vejo as luzes do mercado fico mais calma.

Desço da bicicleta com cuidado e a encosto na frente do mercado.

Assim que entro, uma lufada de ar quente me invade, logo fazendo gotas de suor aparecerem em minha testa.

Ando pelos corredores a procura do sorvete de chocolate, da marca que eu e Jen costumávamos comprar sempre para essas “festinhas” que nós fazíamos, logo o achando na parte dos frios.

O pego e quando me viro fico estática, sem realmente saber o que fazer, o que pensar.

O pote de sorvete escorrega pelos meus dedos subitamente molhados de suor, caindo no piso claro do mercado, espalhando minúsculas partículas de gelo pelo piso.

Trish estava de costas para mim, olhando uma prateleira com produtos e marcas que não pude perceber, meus olhos estavam vidrados em sua figura perfeita.

Às vezes eu podia jurar que ele andava me seguindo, sério, ele sempre aparecia nos lugares mais inusitados e me achava, sempre. E isso parecia estar acontecendo mais constantemente que nunca.

Engulo a seco e me abaixo para pegar o pote de sorvete caído no chão, e quando me levanto, adivinha quem vejo parado na minha frente, me fitando com aqueles olhos ridiculamente perfeitos? Ah sim, Trish, isso mesmo.

Seus olhos me fitavam com curiosidade, e posso me atrever a dizer até bem... Quentes.

Um frio gelado passa pelos tubos de ar embutidos no teto do mercado, fazendo-me enrolar mais ainda em meu casaco. Meus dedos tremiam, e eu segurava mais firmemente no pote de sorvete, fazendo as articulações de meus dedos doerem.

Mas eu não me importava, não me importava com a dor em meus dedos quando os olhos de Trish perfuravam os meus, fazendo toda a dor sumir, e só o que restava era aquela eletricidade ridícula pairando sobre nós, minha respiração acelerava inconscientemente como se isso fosse uma salvação para o meu súbito nervosismo.

Argh, como eu era idiota!

— Ás vezes eu posso jurar que você está me seguindo, Trish. — As palavras escorregam pelos meus lábios e falo sem ao menos ter pensado nelas.

Ele pende a cabeça para trás e da uma risada confortável, como se essa alternativa fosse totalmente descartável.

— Então você acha que eu sou um psicopata que segue garotas indefesas e depois as mata a sangue frio? — Ele diz, olhando profundamente em meus olhos, seus olhos brilham rapidamente e depois voltam ao normal, apenas curiosos.

— Iria mentir se eu falasse que isso nunca passou pela minha cabeça. — Digo com a voz subitamente forte, mascarando o oceano de nervosismo que se apossava de mim.

Ele ri mais uma vez e balança a cabeça.

— Pode ficar tranquila; não sou um assassino em série, e muito menos irei machucar meninas indefesas.

— Eu posso não ser tão indefesa quanto pareço Trish, meu pai já me ensinou como usar uma arma e tenho uma mira muito boa. — Digo, querendo parecer ameaçadora, mas o máximo que consegui transparecer foi uma menina fraca e idiota.

Ele ri mais uma vez, me irritando totalmente.

Solto um suspiro irritado e dou as costas para Trish, deixando-o rindo sozinho.

Enquanto andava para o caixa, sinto Trish segurar meu pulso, fazendo-me virar para encara-lo.

— Ei, desculpa Claire, não era minha intenção ser inconveniente. Eu fui um tremendo idiota, desculpe-me. — Ele diz, ainda segurando meu pulso direito, olhando em meus olhos intensamente, ele parecia estar arrependido.

Mas eu não iria cair aos seus pés e aceitar suas desculpas rapidamente, ele foi um idiota completo. Eu não era igual as prováveis garotas que ele já teve algum tipo de envolvimento, não iria me jogar aos seus pés como outra qualquer; eu não era outra qualquer por mais que cada célula, cada músculo, cada partícula de mim implorasse para que eu me jogasse em seus braços por ele ser tão perfeito, tão incrível, tão surreal... Argh, já estava acontecendo de novo.

Reconstruo minha expressão, vestindo uma máscara de indiferença.

— Você é um idiota Trish, é melhor eu ir embora logo assim você pode continuar rindo de mim, mas, por favor, não o faça na minha cara; você não sabe o quanto isso me irrita.

Digo e o olho mais uma vez, vendo sua expressão surpresa, logo sendo substituída pelo ódio.

Dou as costas para Trish e sigo para o caixa, sem coragem de olhar para trás e ver seus olhos cheios de raiva, mas eu podia senti-los fuzilando cada centímetro de minhas costas.


            *                *              *                 *                 *


Depois de alguns minutos chego em casa, tinha pedalado o mais rápido que podia para o sorvete não derreter, mesmo achando essa possibilidade impossível pelo fato de estar tão frio lá fora que meus músculos quase travaram na hora de pedalar, eu precisava urgentemente de um carro.

Assim que entro em casa, vejo Jen sentada à mesa, escrevendo em seu caderno.

Ela levanta o olhar para mim, logo reconhecendo a carranca de raiva que havia se infiltrado em minha expressão, parecendo ser permanente.

— Você demorou. — Ela diz, ainda me observando.

Um rugido irritado passa pelos meus lábios, tiro o chinelo e o deixo ao lado da porta, vou para a cozinha e ouço Jen me seguir silenciosamente.

— O que foi Claire? Pode desembuchar.

Coloco o pote de sorvete no freezer e viro-me para encarar Jen, que me sondava minuciosamente, os braços cruzados ao peito.

Vou para a sala de jantar, tiro o casaco e o coloco apoiado na cadeira e sento-me nela, colocando as mãos dos dois lados da cabeça.

Jen senta-se na cadeira a minha frente.

— Eu me encontrei com Trish no mercado. — Sussurro, olhando para a madeira da mesa.

— E?

— E que eu percebi que ele é um idiota! — Explodo, minhas mãos escorregando para o meu colo, apoio minha cabeça da madeira da mesa, sentindo o frio passar para a minha testa imediatamente.

— Por quê? Algo nessa história toda está meio que boiando, tem alguma coisa que você não me contou, Clai? — Ela diz, inclinando a cabeça para tentar fitar meus olhos.

É claro que tinha uma parte – essencial – que eu não havia contado para Jen, a parte em que eu sabia, tinha quase certeza de que eu já conhecia Trish, de algum lugar, de algum tempo em que eu não me lembro.

Suspiro e resolvo contar logo para Jen, guardar isso para mim mesma provavelmente só pioraria as coisas.

— Eu sei que pode soar estranho Jen, mas você precisa confiar em mim. — Digo, levantando o olhar para encontrar seus olhos azuis escuros me fitando com benevolência e colocando as mãos em cima da mesa novamente.

Ela pega minha mão esquerda e a segura gentilmente.

— Claire, conte-me, eu nunca vou te julgar, você é minha melhor amiga.

— Eu... Eu acho que conheço Trish, eu não sei. Sempre quando o vejo, parece que não tem apenas uma semana que eu o conheço, parece que eu já o conheço há muito tempo e eu não sei o que fazer. É como se... É como se minha alma o reconhecesse. — Solto as palavras que tanto me sufocavam, ficando surpresa comigo mesma ao perceber que eu nem tinha falado tanta coisa e já parecia ter tirado um fardo terrível de minhas costas.

Ela apenas suspira e aperta mais minha mão.

— Eu já sei o que fazer Claire.

— E eu posso saber do que se trata especificamente?

— Não que eu goste muito dessa alternativa, mas é a única coisa em que consigo pensar no momento; nós vamos ir para a casa da sua tia nas férias.

Suspiro.

Ah, titia Elizabeth.

Minha tia Liza – como ela gostava de ser chamada – era uma das pessoas que eu mais amava no mundo, ela tinha suas próprias crenças – que incluía sálvia, lavanda, incensos de cheiros muito bons e outras coisas mais -, e eu a amava muito.

Eu só não conseguia entender como Jen dizia que a primeira vez que ela a viu sentiu calafrios, eu não entendia, ela era uma das pessoas mais gentis e amáveis que eu conhecia.

— Nós vamos quando? No Spring Break? — Digo, já me sentindo entusiasmada só de pensar em ver tia Liza novamente.

— Bem, é a única data boa para nós irmos.

Aperto seus dedos que estavam em volta dos meus e sorrio para ela.

— Obrigado Jen, obrigado por ser a melhor amiga que toda garota gostaria de ter.

Ela sorri e revira os olhos, jogando os fios incrivelmente loiros para trás.

— Baby, você sabe; sou especialista em ajudar as pessoas.

Nós duas começamos a ri e o clima parece ficar mais leve.

O resto da noite foi leve e muito, muito divertida.

Nós tomamos sorvete, falamos sobre Trish, Matt, Becca, Brittany, Marcie, Jennifer e provavelmente todas as pessoas da County High School.

Vimos seriados, filmes, comemos muito, e logo fomos dormir.

E foi nesse exato momento em que Jen me surpreendendo com uma pergunta totalmente fora de contexto, me deixando totalmente surpresa.

Quando estávamos arrumando a minha cama para dormir, Jen me olha e pergunta:

— Clai, você acha que Trish pode ser a voz?

Meu corpo trava e por alguns instantes, eu esqueço como se falo, logo liberada do choque, respondo:

— Eu não sei Jen, eu realmente não sei mais em que acreditar.

E logo depois quando já estávamos deitadas em minha cama, provavelmente com Jen já dormindo, a pergunta dela fica rodando minha cabeça, suas palavras se encaixando como em um quebra cabeça macabro e começando a fazer sentido para mim. Será? Eu não consigo pensar em uma resposta coerente o suficiente para calar as perguntas que se formavam mais ainda em minha cabeça, pois o cansaço já tinha me carregado e eu estava à deriva.

Talvez amanhã algo mude. Talvez amanhã algo mude. Talvez amanhã algo mude. Talvez...




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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam? Espero que tenham curtido, e bem, como eu já declarei tudo o que tinha para falar nas notas iniciais só o que tenho para dizer aqui é que já tem mais capítulo e já pode passar pro próximo, vamos lá!